quarta-feira, 2 de junho de 2010

OS MISTÉRIOS DA ESFINGE.

Esfinge: a guardiã dos mortos


A maior escultura de pedra do mundo ressurgiu das areias do deserto depois de milênios protegendo as tumbas dos faraós
A Grande Esfinge de Gizé impressiona. Primeiro, por seu tamanho – com 72 metros de comprimento e 20 metros de altura, ela é a maior escultura de pedra do mundo. Depois, pelos mistérios que cercam sua origem.

A criatura, com cabeça de homem e corpo de leão, foi moldada em pedra calcária há 4500 anos (há uma teoria que aumenta essa idade para incríveis 10 mil anos). Provavelmente foi esculpida por ordem do faraó Quéfren para simbolizar seu poder e sabedoria. Hoje ela guarda a entrada do complexo das pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, no planalto de Gizé, perto do Cairo. O local também é chamado de necrópole.

Os egípcios chamavam a esfinge de shesep-ankh, que significa “imagem viva”. Os gregos traduziram erradamente para sphigx, que significa “atar, ligar” – já que s unem um elemento animal (nem sempre é o leão) a um elemento humano.

MARAVILHA ENTERRADA

Embora tenha resistido, a escultura está distante da maravilha que foi no passado. A cor original,o nariz e a barba sumiram, os olhos foram danificados e há grandes rachaduras em sua superfície.


Por volta de 1400 a.C., o faraó Thutmosis já havia percebido seu desgaste e teria sido o primeiro a mandar restaurá-la. Ele registrou o feito numa estela (bloco de pedra) que ainda está entre as patas dianteiras da criatura. Outros faraós também fizeram restaurações, mas foi a natureza quem mais colaborou para a conservação da esfinge. “Ela ficou enterrada sob as areias do deserto do Saara e, durante séculos, foi poupada”, diz o egiptólogo Júlio Gralha, professor de História Antiga e Medieval na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

A partir da década de 1920, a esfinge foi desenterrada. A escultura começou então a erodir sob os ventos e a umidade do ar. Várias tentativas de restauração feitas de 1955 a 1987 só pioraram a situação. Antigos blocos de pedra foram substituídos por novos, alterando sua forma. Para cobrir as rachaduras, foram utilizados gesso e cimento. Resultado: a esfinge rejeitou as novas camadas de pedra e argamassa, e grandes pedaços começaram a ruir. Foi necessária mais uma década de trabalhos, concluídos há oito anos, para corrigir os erros de restauração.

Os especialistas optaram por submeter a rocha original a um tratamento. “Eles decidiram agir como os antigos e foram em busca de pedras semelhantes àquelas utilizadas nos tempos
dos faraós”, afirma Gralha. Mas o monumento não está livre de ameaças – como as substâncias contidas no ar poluído do Cairo e as vibrações no solo causadas pelo crescimento da capital. Sem falar do eterno espírito de porco de saqueadores e turistas do passado e do presente.

AMEAÇA DO ALÉM


Na mitologia egípcia, o leão aparece como guardião dos lugares sagrados, como as tumbas dos faraós. A Esfinge de Gizé seria o próprio Quéfren transformado em deus, depois de sua morte, protegendo a necrópole. Nela há uma inscrição que diz: “Eu protejo a capela do teu túmulo. Eu guardo tua câmara mortuária. Eu mantenho afastados os intrusos. Eu jogo os inimigos no chão e suas armas com eles. Eu expulso o perverso da capela do sepulcro. Eu destruo os teus adversários em seus esconderijos, bloqueando-os para que não possam mais sair”.

CURIOSIDADES

Fanático religioso teria arrancado o grande nariz do monumento 122 anos antes do descobrimento do Brasil
As esfinges egípcias tinham três formas básicas: a androsfinge (corpo de leão e cabeça de gente), a criosfinge (corpo de leão e cabeça de ovelha) e a hierocosfinge (corpo de leão e cabeça de falcão). Essas palavras são gregas. Não se sabe que nome os egípcios davam, na época, a esses tipos de escultura.

CADÊ O NARIZ?

Também não se sabe onde a Esfinge de Gizé perdeu o nariz, de 1 metro de largura. Segundo lendas, ele teria sido arrancado por balas de canhão da artilharia de Napoleão Bonaparte. Mas desenhos do monumento feitos em 1737 já ilustravam a estátua sem o órgão. O historiador egípcio al-Magrizi, do século 15, atribui o vandalismo a Muhammad Sa’im al-Dahr, um fanático religioso que, em 1378, ao ver camponeses deixando oferendas à esfinge na esperança de aumentar suas colheitas, teria destruído a parte mais frágil da obra.



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