terça-feira, 5 de outubro de 2010

PORQUE ME ODEIAS?

PORQUE ME ODEIAS?
Por Plínio Salgado.



“Quero personificar singularmente em ti, patrício, o estado de espírito de outros, como tu mesmo, que de maneira tão cruel e agressiva, investem contra mim e contra aqueles que me acompanham neste esforço por edificar um Brasil Cristão, digno dos nossos antepassados e dos nossos descendentes. Quero fazer-te algumas perguntas, que a ti mesmo responderás sinceramente, naqueles instantes – se ainda os tens – em que a consciência do Homem se ergue, como um clarão, pairando acima das paixões e de todas as confusões perturbadoras da
serenidade da alma. Sim; a ti mesmo, e não a mim, nem a alguém, responderás honestamente, porque talvez não tiveste ainda ocasião de te propor as questões que agora te proponho, a fim de te ajudar, no segredo mais recôndito do teu coração, a raciocinar com justiça, deduzindo a verdade que, sendo uma só, pela sua unidade se torna o liame das almas, ligando-as pelo
sentimento de confraternidade que gera a Paz, a única Paz verdadeira. Em primeiro lugar, te perguntarei: tu me conheces realmente? Já me viste; já me ouviste, numa conversa cordial? Homens injustos pintaram-me aos teus olhos como um indivíduo rancoroso e violento, de áspera catadura e palavra contundente, inacessível a qualquer objeção e eriçado contra qualquer ponderação. Asseguro-te que esse retrato não é meu. Quem o diz são aqueles que, não me conhecendo antes, conheceram-me depois, manifestando-se surpresos e espantados pela total diferença entre a pintura feita pelos maus e a realidade que lhes foi posta diante dos olhos. É possível, portanto, que tenhas visto aquele retrato deformado e abstruso, como as imagens refletidas em espelhos côncavos ou convexos, desses com que se divertem as multidões nas feiras; mas nunca me viste no original. Pergunto-te, se tal caso se dá, o seguinte: achas justo,
achas honesto, lançares o veredicto do teu julgamento sobre um homem que pensas conhecer pelo fato de teres visto um retrato que não é o dele, um retrato confeccionado pelos seus inimigos? Como podes formar uma idéia de alguém com quem nunca falaste? Se o fizesses, verias em mim um modesto brasileiro, cuja simplicidade não provém de uma atitude estudada, mas exprime o próprio modo de ser dos caboclos humildes da nossa terra. Porque o que existe em mim é o que se pode encontrar em nossos patrícios do sertão: o amor a tudo o que se chama brasilidade, o apego as nossas tradições, o sentimento familiar e patriarcal inerente ao teor de vida das cidades do interior, o instinto de defesa da Nacionalidade e da Religiosidade patrícias, resultando tudo naquele senso de equilíbrio e de justas medidas ao qual repugna a demagogia que envenena as turbas e as agitações perturbadoras do ritmo tranqüilo e fecundo do trabalho nacional. É isto o que sou e como tal me conhecem os que me viram e ouviram os que observaram a minha vida de homem particular e de homem público. Se não me observaste a fundo, como podes emitir um juízo a meu respeito? E se o teu juízo não se baseia em realidades experimentalmente colhidas, por que te apóias num julgamento falso a tal ponto de me odiares sem me conheceres e odiares os que trabalham comigo, sem aprofundar no exame dos motivos que determinaram a adesão desses brasileiros às idéias que prego? Dirige estas perguntas a ti mesmo, confidencialmente, silenciosamente, e deixa que te responda não a tua paixão política, mas a tua consciência. As idéias que prego... Sabes quais são elas? Não me venhas dizer que sabes, pelo fato de haveres lido o que dizem delas aqueles homens sem consciência que as deturpam, deformam e até as substituem por outras idéias que nunca estiveram nem no meu
pensamento nem nas minhas palavras. A fonte verdadeira das idéias que prego e que propagam os meus companheiros neste apostolado cívico-político em que nos empenhamos, não pode ser outra senão os documentos em que expomos a nossa doutrina. Há mais de quarenta anos trabalho por nossa Pátria, e, trabalhando por ela, trabalho por ti, patrício, e pelos teus filhos. Nesse árduo labor, tenho procurado demonstrar, preliminarmente, que a crença em Deus e nos destinos sobrenaturais do Homem deve ser o fundamento de toda a ordem social. Responde-me, sinceramente: achas que, por esse motivo, meus companheiros e eu devemos ser odiados?
Se ainda acreditas que uma sociedade, uma pátria, um governo só pode realizar justiça e produzir administração honesta, tomando a Deus e aos destinos superiores do Homem como base de toda a sua ação, pergunto-te: como podes detestar-me e detestar os meus correligionários que outra coisa não fazemos senão proclamar e propagar essa verdade? Merecemos o teu ódio pelo fato de crermos em Deus e na existência, imortalidade, liberdade e responsabilidade da alma humana?
Acreditando em Deus que nos traçou leis imprescritíveis e na existência da alma do homem, logicamente pugnamos pela Liberdade, sem a qual o mesmo Homem não poderia escolher o seu caminho. O corpo do Homem, sendo matéria, não é livre, porque está sujeito às leis físicas, mas o Espírito do Homem é livre, porque independe da sujeição da matéria. Logicamente todo aquele que afirmar ser o Homem apenas um ser físico, de cujo mecanismo orgânico em funcionamento decorre uma inteligência mortal, simples superestrutura (como dizem os comunistas), todo aquele que se manifestar desse modo, materialista, não pode dizer que defende a liberdade humana. Só os espiritualistas podem e devem pugnar pela Liberdade. Essa a razão pela qual meus amigos e eu nos batemos pela Liberdade contra toda a espécie de despotismo, entre
cujas formas avultam o Estado Totalitário, seja o nazista, seja o comunista. Pergunto-te, agora, patrício: merecemos ser odiados por andarmos pregando a Liberdade contra a Opressão? Enquanto não sabias disso, podias justificar o teu ódio na falsidade que te apresentaram como realidade. Mas desde este momento em que chegaste a esta linha do meu escrito, já não tens direito de crer que meus correligionários e eu somos contrários à Liberdade. Seria um contra-senso em homens espiritualistas, um absurdo que a tua inteligência não pode aceitar. Medita sobre esse fato e responde a ti mesmo, com a mão na tua consciência. Depois, com absoluta imparcialidade, dirige-te a ti mesmo todas as perguntas que deixo implícitas neste artigo e outras que uma voz recôndita te formulará no íntimo do teu ser e responde patrício. Sim; responde enquanto é tempo e vem enquanto é possível. Porque se não responderes logo e não vieres ao meu chamado amigo, talvez que seja tarde para evitares as desgraças que pairam como uma nuvem ameaçadora sobre a tua Pátria, a tua Família e tua própria Pessoa!”. Nota: - Este foi o último artigo de Plínio Salgado, publicado no “Diário de São Paulo” em 14 de dezembro de 1975,
uma semana depois do seu falecimento, aos quase 81 anos de idade, na cidade de São Paulo.

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