segunda-feira, 26 de julho de 2010

TODOS TEM O DIREITO DE TER ACESSO AO CONHECIMENTO!

Arqueologia Para Todos


INCLUSÃO! ENTENDA ESSA PALAVRA.

USP FAZ TRABALHO PIONEIRO NO BRASIL.




MAE lança programa que permite acesso de deficientes visuais ao acervo e aos conhecimentos gerados pelo museu.
O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP lançou no dia 9 de junho o Programa de Atendimento ao Público Especial. Com um kit multissensorial desenvolvido em três dimensões sobre a arqueologia brasileira, deficientes visuais poderão manusear peças em proporções pequenas para entender como são as atividades desenvolvidas pelos arqueólogos e também saber como viviam os homens do sambaqui, que há milhares de anos habitavam o litoral e mangues brasileiros.
Segundo o professor Camilo de Mello Vasconcellos, coordenador do projeto, o MAE está sempre preocupado em buscar diversificar o seu público visitante, e por isso procurou, como desafio, atuar junto ao público especial, para quem até então nada havia sido programado. “Estamos seguindo a tendência contemporânea de abrir os espaços museológicos para segmentos de visitantes que também devem ser integrados à sua política cultural e educacional.”




Camilo Vasconcellos, Amanda Tojal e Daise Tarriconi


Para Vasconcellos, o kit multissensorial foi pensado e concebido pela equipe de educadores da instituição como mais um instrumento que visa a não apenas divulgar aspectos do conhecimento arqueológico relativo às sociedades indígenas que viveram no território brasileiro, mas principalmente propiciar momentos de maior proximidade com o público que apresenta dificuldades para fruir o conhecimento pela observação visual.
“Foram pensados recursos específicos”, explica Carla Gilbertoni Carneiro, educadora do MAE. “A partir de maquetes táteis que representam sítios arqueológicos, mostramos aspectos do trabalho do arqueólogo no campo e no laboratório de pesquisa, objetos originais encontrados em escavações e, também, disponibilizamos informações em áudio para serem desfrutadas em outros ambientes.”
Também compõe o kit um caderno de apoio em tinta (letras grandes para deficientes visuais com alguma capacidade de visão) e braile, contendo um texto científico que explicita conteúdos a respeito da arqueologia brasileira.
Maria Beatriz Borba Florenzano, vice-diretora do MAE, acredita que a partir dessa proposta original e enriquecedora “tanto o museu como o público especial saem renovados de uma experiência que é, antes de tudo, de apropriação e democratização do conhecimento que pertence a todos e a todos deve ser oferecido, descoberto e construído coletivamente”.




Kit Multissensorial Arqueologia


Visitas – Para visitar a maquete que compõe o kit multissensorial, Carla explica que serão compostos grupos de no máximo 20 pessoas. O grupo de visitantes contará com o auxílio dos educadores do museu para descobrir, num primeiro momento, ao tocar os elementos da maquete, informações sobre os sambaquis e seu entorno, entender o contexto ambiental em que viveram os sambaqueiros, qual o tipo de construção realizada por esses índios que compunham o litoral brasileiro do sul da Bahia até Santa Catarina e como se alimentavam, entre outras informações.
No segundo momento da visita, vão tocar um sambaqui original (depósitos de materiais orgânicos e calcários utilizados pelos índios como locais de sepultamento), sentir a terra, as conchas e os ossos de pequenos animais. No terceiro momento os visitantes entrarão em contato com o sítio arqueológico num sambaqui. Os personagens da maquete apresentam todo o material utilizado pelos arqueólogos, como pás, baldes e máquina fotográfica. Depois vão para o registro do desenho (croqui), que é o mapa da escavação em alto relevo. Em seguida, serão levados para o laboratório, onde estão as peças encontradas no sítio arqueológico, finalizando com o material de apoio em áudio CD, com texto narrado e publicação em braile tinta (letra ampliada).




Marcio P Santos e Carla Carneiro


A responsável pelo desenvolvimento da maquete, Dayse Tarricone, especialista em materiais multissensoriais e interativos, explica que todos os elementos da maquete foram desenvolvidos em escala reduzida proporcional ao tamanho original. “Para desenvolver um trabalho como esse, sempre há um estudo prévio e procuro ter contato com um indivíduo com a deficiência, no caso a visual, para entender todos os processos da linguagem.”


Marcio Pereira dos Santos, educador social do cursinho do Instituto de Psicologia, com visão parcial desde o nascimento, presente no lançamento do programa, achou a ideia muito original e importante para quem tem problemas de visão. “Com um material como esse temos a possibilidade de entender os processos históricos e pensar que podemos fazer isso em outras instâncias do conhecimento”, ressalta.
Acessibilidade – Para apresentar o programa, foi organizada no dia 9 de junho uma mesa-redonda que contou com a presença do coordenador da Ação Educativa do Museu do Futebol, Laerte Machado Junior, e da coordenadora da Ação Educativa da Pinacoteca, Amanda Tojal. Eles falaram sobre esses dois museus e como é realizado o trabalho com o público especial.


Machado explicou que o Museu do Futebol, embora seja composto por 90% de imagens, sempre procurou pensar em formas de atividades que permitissem a acessibilidade sensorial. Citou como exemplo os jogos imantados em relevo, como o quebra-cabeça tátil retratando a imagem de jogadores de futebol e reproduções em relevo.
Amanda afirmou ser importante sempre procurar trabalhar a questão da acessibilidade a partir de uma ação educativa permanente, para que essa ação não se torne apenas uma atividade pontual vinculada a uma única exposição. “Vale ressaltar que a questão da acessibilidade tem aumentado nos últimos dez anos e, hoje, escolas, transporte público, vias públicas, hospitais mostram-se preocupados em desenvolver ações permanentes para uma melhor acessibilidade dos diversos públicos especiais.”


VOCÊ QUER SABER MAIS?


http://espaber.uspnet.usp.br/jorusp/?p=9637


MARTINS, Estevão C. de Rezende. Memory and Identity: how societies construct and
administer their past? In: (org.). Memória, identidade e historiografia. Textos de História: Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UNB, Brasília: UNB, vol. 10. n. 1-2, p. 11-13, 2002.


KESTELOOT, Chantal. Mémoire et identité: comment les sociétés construisent et
administrent leur passé? Commentaire introductoire. In: MARTINS, Estevão C. de Rezende (org.). Memória, identidade e historiografia. Textos de História: Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UNB, Brasília: UNB, vol. 10, n. 1-2, p. 125-132, 2002.


HELENE, André Frazão; XAVIER, Gilberto Fernando. Como as memórias criam a personalidade. ComCiência. SBPC/LABJOR, 2004.