quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AS CIVILIZAÇÕES QUE OS EUROPEUS DESTRUÍRAM

O Grande "Achado" da história!

Captura de Atahualpa por Francisco Pizarro

1-É possível nomear aquele que já tem nome?

2- É possível colocar-se como deus diante dos homens e ditar seus caminhos?

3-É possível chegar a uma terra e dizer que a História começa com a sua chegada, como se os nativos estavam estáticos; sem idioma, cultura ou organização própria como se estivessem parados no tempo e só começassem a se movimentar com a chegada do europeu?

4-É possível destruir culturas que em muitos aspectos supera a sua?


R-Os Espanhóis mostraram para a humanidade que sim!

Quando os europeus chegaram ao continente que denominariam América (A popularidade trazida pelas narrativas das viagens de Américo Vespúcio converteu-o num dos autores mais vendidos à época. Foi o cartógrafo Martin Waldseemüller quem primeiro nomeou o novo continente de América em sua homenagem em 1507).

Eric o vermelho (Eiríkur rauði). Xilogravura frontispício de 1688 Icelandic publication of Arngrímur Jónsson's Gronlandia (Greenland). Fiske Icelandic Collection.

Agora que sabemos porque nosso continente traz um nome de um europeu ao invés de um nome de um herói ou deus nativo, vamos olhar um pouco para o homem que foi Ele chegou à costa do atual Canadá e EUA, aonde denominaram a terra de o primeiro europeu a chegar a América, no ano 1000 dc Erik o Vermelho um Viking. Vinland devido ao grande número de vinhas ali encontradas, mas devido à distância impediu que realizassem um contato mais freqüente com o continente. O ponto do continente onde mais permaneciam é hoje a denominada Ilha da Groenlândia aonde na época chegaram a cultivar cereais em toda parte sul da ilha devido ao clima local mais ameno que o atual.

Malinche e Cortés in Tlatelolco. Codex da História de Tlaxcala (s.XVI)

Agora falaremos de quem oficialmente segundo eles mesmos foram os primeiros europeus a chegarem na nomeada América, falaremos de Colombo e sua chegada ao novo continente, e sua repercussão no mundo que pensavam na época ser bem menor e isso se dava não só na Europa em relação ao restante da Ásia e África, mas também aqui na América onde os povos nativos não se conheciam em sua totalidade.

O desembarque de Colombo é um símbolo de um grande processo, cuja conseqüência é a globalização da humanidade. Segundo o autor Miguel Leon Portilla nós americanos só podemos comemorar esse acontecimento e não celebrar, porque nesse processo houve abusos e a morte de 50 milhões de nativos. O mesmo número de mortos que houve na II Guerra Mundial.

Engraçado ninguém lembrar disso? Mas devemos comemorar, pois não podemos permitir que esse fato horrendo ocorrido com os nativos caia no esquecimento.

Outro problema a ser abordado é alguns conceitos inseridos pelos europeus aos nativos, como certas terminologias errôneas.

Quando Colombo teve o primeiro contato com os nativos chamou-lhes de “Índios”. Essa denominação surgiu porque se julgou terem chegado às Índias e por isso passou a se chamar de índios aos habitantes da região. Uma denominação errada que não foi corrigida mesmo depois de descobrirem que não estavam nas Índias, pois não se deram ao trabalho de respeitar a designação que cada povo tinha e mantiveram a sua absurda nomenclatura.

No período colonial, índio para o espanhol era aquele que deveria trabalhar nas minas, cidades e fazendas, ser reconhecido como índio era sinônimo de trabalho compulsório para aqueles de sangue e cor de pele que consideravam inferiores, bem apropriado para o colonizador espanhol branco.

Cortés e a Malinche com Monctezuma em Tenochtitlán. Facsimile (c. 1890) Lienzo de Tlaxcala.

Dentro do mesmo problema temos a designação de “altas culturas” que era aplicada pelos europeus somente aos povos da Confederação Asteca e ao Império Inca que sobrepujaram outros povos das suas respectivas regiões. Enquanto o correto é que todas as sociedades americanas que passaram pelo processo de adoção da agricultura extensiva e da revolução urbana deveriam receber essa designação.

Abordando a terminologia altas culturas da outra forma da se uma impressão de dominação política dos Astecas e Incas sobre os outros povos. Tanto Astecas como os Incas, no período anterior as suas expansões, eram tribos no mesmo estágio cultural que seus vizinhos e em certo momento, chegaram a estar a eles subordinados. Por um processo especifico, e numa expansão rápida, passaram a subjugar, dominar e tributar outros povos, outrora seus iguais.

Desta forma identificar somente Astecas e Incas como as altas culturas é esquecer a rede de dominação e tributação construída por estes Estados, além de referir-se a culturas que se tornaram hegemônicas e dominantes a partir de uma expansão militar, e não por uma suposta sofisticação cultural própria e autônoma.

Outro termo avassalador para aqueles que almejam o respeito aos nativos da nomeada América é o Pré-Colombiano, pois essa expressão supõe que estas sociedades não têm História e que, no máximo, a História se inicia com a chegada do europeu civilizado e culto. Posicionando como marco da História da nomeada América é a chegada de Colombo e com ele veio a forma civilizada de viver.

Quando estudamos o Império Inca (América do Sul) e Asteca (América Central) nos é revelado a existência de sociedades extremamente complexas e hierarquizadas com mitologia e religião próprias a sua realidade.

A Confederação Asteca tem sua origem na cultura mãe da civilização meso-americana a cultura Olmeca (um exemplo de sua cultura é o centro cerimonial de La Ventana) e seus predecessores. Os mexicas provenientes do norte instalaram-se no vale do Anahuac em 1168 as margens do lago Texcoco e assimilaram para sua cultura muito da cultura Olmeca. O conflito pela terra com as cidades vizinhas leva-os lentamente a vitórias consecutivas onde foram edificando templos, casas, palácios, aquedutos e montou-se uma burocracia estatal e hierarquizou-se a religião. Sua economia baseava-se no modo de produção tributário que exige que as comunidades aldeãs extraiam da terra o alimento necessário para sua auto-sustentação e a manutenção da Classe-Estado. Teotihuacán era sua capital e era composta por um conjunto arquitetônico ligado por diversas estradas. O fim de sua civilização veio com a chegada de Hernando Cortes um navegado Português a serviço da coroa espanhola que esteve no México em 1519, em expedição onde submeteu os Astecas tornando-se governador geral do México em 1521. Praticou uma serie de castigos aos nativos da região, tornando-se famoso por suas crueldades.

Conquistadores espanhoís massacraram o glorioso Império Inca

Falaremos um pouco sobre o Império Inca que não foi nada mais nada menos que o sucessor de culturas anteriores, períodos em que as autoridades centrais conseguiram controlar as comunidades das montanhas e costeiras. O Horizonte (Império) Primitivo era centrado em Chavín de Huantar um templo nas montanhas lestes que teve seu apogeu a uns 3000 anos atrás, quando influenciou outras colônias da região. No Horizonte (Império) Médio temos Tiahuanaco perto do lago Titicaca na Bolívia e Huari no atual Peru, ambos foram verdadeiras colônias urbanas de Estados de vasta extensão há 2500 anos atrás. No Período Intermediário Tardio que corresponde aos séculos imediatamente anteriores a expansão inca, tinha sido um tempo de guerras. A expansão inca daria se por meio de 8 comunidades que procediam da região Colha próxima do lago Titicaca, de língua aimará. Apos submeterem as populações locais de língua quíchua concentraram esforços em dominar o vale onde construiriam sua futura capital.

O Império Inca, respeitando as antigas funções das comunidades aldeãs chamadas ayullus, incorporou militarmente outros estados impondo uma unidade política, econômico-social e religiosa, justificando a denominação de Império. A ideologia transmitida pelos incas aos povos submetidos referia-se ao soberano como filho do sol que lhe outorgava proteção divina. Sendo assim o Império Inca era apresentado desta forma: os historiadores oficiais escreviam duas historias; uma para a hierarquia e outra para o povo. Na segunda versão se excluía tudo o que pudesse diminuir o respeito e a fidelidade ao soberano, a História foi deliberadamente falsificada para divinizar o inca e tornar sua vontade a dos deuses.

Fato interessante em relação às conquistas incas é a apropriação e adaptação de costumes e técnicas de outros povos a sua sociedade. Aquilo que encontrassem em uma cultura que fosse ser útil ao Império eles utilizavam, um exemplo é o sistema de correio e o sistema numérico através de cordas que foram assimilados da cultura Chimu pelos incas conquistada.

A partir de Cuzco o Império estava dividido em duas partes subdivididas em quatro. Nas regiões rebeldes os incas designaram governadores para substituir o senhor natural.

O Império organizava sua economia pelo sistema de Mita que correspondia ao serviço prestado ao inca nas mais diferentes formas. Como na função de soldados, na agricultura, no trabalho de pedreiros, todos eles constituíam dispêndio de energia em beneficio do Estado, devidos, em proporções diferentes, por quase todos os grupos étnicos incorporados pelos incas (Tahuantinsuyo: Quatro cantos).

Não havia doação ou pagamento de qualquer coisa com seus próprios recursos se não contarmos as terras cultivadas em beneficio do Estado. Os únicos itens cedidos em espécie ao estado eram fornecidos por aqueles que não haviam constituído família. A real grande renda do Estado consistia na prestação de energia e tempo gasto em beneficio do Estado num grande numero de empreendimentos.

Outra política utilizada pelos incas para manter o controle sobre os povos conquistados era o reassentamento que funcionava num sistema de deportação da população local para outro local e suas fazendas eram concedidas aos mitmacs (povos fieis aos incas e que manteriam a região sob vigilância e controle dos incas).

Esse processo foi intensificado com a expansão rápida, pois a necessidade de povos fieis em meio a recém conquistados se fazia necessária. Para contabilizar a produção os incas utilizavam os quipos, longos cordões aos quais eram amarrados cordõezinhos onde se faziam diferentes tipos de nós, como sinais que eram usados tanto na contabilidade como para registrar fatos históricos.

O Império Inca, igual ao Asteca ou ao Maia, era um sistema econômico-politico-ideologico que tinha como base o modo de produção tributário avançado, baseado na exploração da comunidade aldeã por uma classe-Estado, formada por sacerdotes, guerreiros e burocratas.

O socialismo no Império Inca como proposto por diversos autores não passa de uma ilusão, pois se o socialismo é o ato pelo qual todos os bens de uma sociedade são distribuídos de modo eqüitativo entre todos os seus membros isso não se refere ao Estado inca onde na região do Titicaca o Estado exigia 80 mil cabeças (lhamas, Guanacos, Vicunhas e Alpacas) por ano para cada 15 mil tributados. Se isso corresponde a um sistema socialista não compreendo como devo denominar um sistema opressor.

O conquistador Espanhol Francisco Pizarro foi o carrasco dos incas, pois em 1530 desembarcaram em San Mateo e atingiram Cuzco, apoderando-se da cidade e capturando o inca Atahualpa, que ficou prisioneiro como refém. Os espanhóis assassinaram traiçoeiramente Atahualpa, originando lutas, que terminaram coma a vitória dos conquistadores. Pizarro recebeu o título de marquês com jurisdição até os confins da nação inca. Sua crueldade e orgulho desmedidos empanaram suas qualidades militares e seu arrojo.

Quando chegaram no continente que seu egocentrismo nomeou América os europeus somente queriam três coisas metais preciosos, especiarias e expandir a fé cristã. Todos esses três itens em detrimento de qualquer coisa ou até mesmo pessoas que se opusessem a eles ou simplesmente estavam no caminho deles. Não pouparam crianças, idosos e mulheres nesta devastadora jornada da ganância.

Quando abordamos os quesitos de metais preciosos e especiarias nossos invasores não tinham a menor idéia de respeito à natureza como também não tinham pelos nativos. Agora quando falamos de expansão da fé Cristã não podemos aceitar como dizem alguns autores que a religião legitimou toda a barbárie e usando da Bíblia esses autores se valendo de trechos isolados colocam o Homem Cristão servo de um Deus Antropocêntrico que permite ao mesmo utilizar a natureza como quiser até mesmo destruí-la por completo, não vou citar versículos, mas é notório ao mais leigo cristão praticante que as Sagradas Escrituras jamais legitimam a destruição da criação de Deus. É algo contraditório com a natureza divina e sua própria palavra.

Os espanhóis mataram, estupraram, torturam e mutilaram em nome de sua própria ganância, em nome de sua luxuria, em nome da coroa e de seus reis. Tudo o que fizeram foi simplesmente porque sabiam que sairiam impunes que não havia nada nem ninguém para os impedir, pois o que faziam segundo o conceito que a eles foi dado era em nome do progresso do reino do povo desse reino que os receberia como heróis por mais desumanos que fossem. A fé pode ter sido uma mola propulsora que levou o homem às terras distantes, mas nunca legitimou a desumanidade e a destruição da natureza.

Os eurocentristas (aqueles que consideram ter sido benéfica a chegada dos europeus ao novo continente e que esse continente não era civilizado) ignoram qualquer possibilidade do surgimento na América de algum povo civilizado.

Desconhecem que, enquanto os camponeses morriam de fome durante o feudalismo europeu, Estados centralizados construíam na América complexas obras hidráulicas, controlavam o tempo através do calendário, conseguiam alimentar decentemente todo o povo, que possuíam aposentadoria, pública e gratuita, ou que as primeiras universidades envolvidas com a tecnologia da produção de alimentos surgiram fora da Europa ocidental.

Partindo desse pensamento supomos que o sentimento Europeu em relação aos povos nativos era de medo, por encontrar tão vasto conhecimento e riquezas pertencentes a pessoas que pensavam tão diferentes e estavam tão distantes do mundo Europeu e possuíam ciência, tecnologia e organização social superior a sua.

Os americanistas encontraram nas instituições sociais existentes antes da chegada dos Europeus idéias defendidas na Europa pelos iluministas como: preocupação cientifica, modificação social, critica a realidade existente, luta contra o poder e o obscurantismo. Muitos dos ideais de reciprocidade, liberdade, fraternidade e solidariedade, perseguidos pelos homens da Revolução Francesa, lemas esquecidos nas comemorações européias estavam presentes entre astecas, maias e incas.

Sem sombra de dúvidas as sociedades existentes no continente denominado pelos europeus América não eram o paraíso na terra no qual os Espanhóis esperavam encontrar, pois a exploração dos camponeses pelas classes que controlavam o Estado era algo comum entre os povos astecas, maias e incas.

Mas essa mesma classe que explorava também protegia as comunidades contra ataques exteriores, fome, doenças ou frio sendo capazes de organizar as estruturas produtivas para conseguir alimentar decentemente milhões de pessoas, fato que nenhum Estado moderno latino-americano baseado nos moldes dos “desenvolvidos” e “cultos” europeus conseguem repetir hoje.

Com certeza ainda temos muito o que aprender com os nativos, pois se tivéssemos seguido o modelo desses povos a América Latina poderia ser um diferencial no mundo do capitalismo “selvagem”. Mostrando ao mesmo que o modelo socioeconômico e cultural europeu não é o senhor da verdade e muito menos da igualdade.

Autor: Leandro CHH

Você quer saber mais?

Peregalli, Enrique, A América que os europeus encontraram / 2000 Atual,

A conquista da América Latina vista pelos índios : relatos astecas, maias e incas / 1984 Vozes,

León-Portilla, Miguel, A conquista da América Latina vista pelos índios : relatos astecas, maias e incas / 1985 Vozes,

Clare, John D.,
Astecas : vida cotidiana / 2002 Melhoramentos,
Jennings, Gary, Orgulho Asteca / 2002 Record,

Lemos, Maria Teresa Toríbio Brittes. Corpo calado : imaginários em confronto / 2000 7Letras,

Ganem, Roberto. Senk Rá : perigosa busca na terra dos Incas / 1999 Melhoramentos,

Ribeiro, Pedro Freire. O soldado Pedro de Cieza de León e o império incaico / 2000 EDUERJ,

Dziekaniak, Leon Hernandes. Machu Picchu : viagem à cidade sagrada dos Incas / 1999 L&PM,

Rossi, Geraldo Abud, Machu Picchu : na trilha dos Incas / 2001 Artes e Ofícios,

Daniel, Antoine B. Os Incas, volume um : a princesa do sol / 2001 Objetiva,

Arquivo secreto do Vaticano publica pedido de divórcio de Henrique 8º

Pedido de anulação contribuiu para cisma entre católicos e anglicanos

O Arquivo Secreto do Vaticano anunciou que irá publicar cópias da carta de 1530 em que nobres e religiosos ingleses pedem ao papa para anular o casamento do rei inglês Henrique 8° com Catarina de Aragão para que ele pudesse se casar com Ana Bolena.

O documento original, arquivado no Vaticano com o nome de "Causa Anglica - O atribulado caso matrimonial de Henrique 8°", contribuiu para desencadear o cisma entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica.

O original e um fac-símile, a partir do qual serão feitas outras cópias, foram apresentados para a imprensa na última terça-feira, na sede do Arquivo Secreto do Vaticano.

O lançamento oficial das cópias do documento está marcado para o dia 24 de junho, durante as comemorações dos 500 anos da ascensão de Henrique 8º ao trono da Inglaterra.

O texto é considerado uma das páginas fundamentais da história inglesa. Nele, 85 nobres e religiosos ingleses se dirigem ao papa Clemente 7° pedindo a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão, a primeira das seis esposas de Henrique 8°.

Para se casar com Catarina, o rei da Inglaterra, que subiu ao trono em 1509, já tinha pedido uma autorização especial do pontífice, porque ela era viúva de seu irmão.

Cópias

A primeira cópia da carta vai ser dada ao papa Bento 16, que deve visitar a Inglaterra até o final do ano. As demais publicações serão vendidos a museus, institutos de cultura e colecionadores privados.

Os interessados deverão desembolsar cerca de R$ 130 mil para comprar uma das cópias e, provavelmente, comprometer-se a expô-la a um público mais amplo.

Até agora, o documento podia ser visto apenas por chefes de Estado ou outras autoridades em visita oficial ao Vaticano.

Segundo o diretor do Arquivo Secreto do Vaticano, monsenhor Sergio Pagano, o dinheiro arrecadado com as vendas vai ser usado para restaurar parte do acervo da instituição, um dos mais ricos do mundo.

Cisma

A carta ao papa foi redigida em duas cópias, ambas assinadas pelos nobres e religiosos com os tradicionais lacres. Uma delas está no Arquivo Secreto Vaticano e a outra no arquivo Nacional de Kew, na Inglaterra.

Um trecho do documento, publicado pela imprensa italiana, mostra que os nobres ingleses já previam a possibilidade de que uma resposta negativa do papa pudesse agravar a situação já delicada da Igreja Católica na Inglaterra.

"Mas se (o papa) não quiser fazê-lo (anular o casamento de Henrique 8º), menosprezando as exigências dos ingleses, eles se sentiriam autorizados a resolver a questão sozinhos e procurariam soluções em outro lugar. A causa do rei é a causa deles. Se (o papa) não intervir ou demorar a agir, a condição deles se tornará mais grave, mas não irresoluta: os remédios extremos são sempre os mais desagradáveis. Mas o doente quer sobretudo sarar", diz o documento.

O cisma entre os anglicanos e a Igreja Católica ocorreria quatro anos mais tarde, em 1534.

Conservação

Pedido de anulação de casamento de Henrique 8º enviado ao papa Clemente 7º (Scrinium/Divulgação)

Selos do documento estão em bom estado de conservação

Segundo os técnicos da editora que vai publicar as cópias para a Santa Sé, o texto de propriedade do Vaticano está em excelentes condições.

"No pergaminho (do Vaticano) estão pendurados lacres magnificamente conservados, enquanto o documento que ficou na Inglaterra está em estado de conservação precário. Em algumas partes chega a ser ilegível e não há nenhum lacre", diz um comunicado da editora.

O pergaminho com os 85 lacres, emoldurados em metal e unidos por uma fita de algodão e seda de 40 metros de comprimento, pesa 2,5 kg.

Arquivo secreto

No Arquivo Secreto Vaticano, criado em 1610, são conservados mais de 2 milhões de documentos relativos a 800 anos de história, em um espaço de 85 quilômetros de prateleiras.

Usado sobretudo pelo papa e pela Cúria romana, o arquivo secreto foi aberto aos estudiosos e pesquisadores a partir de 1881.

Além de documentos sobre a história cristã, o arquivo possui importante material sobre a história dos vários países.

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Tempestade desenterra estátua romana em Israel.

Embora danificada, escultura tem sandálias esculpidas com delicadeza

Uma tempestade que atingiu a cidade israelense de Ashkelon revelou uma estátua romana que estava enterrada havia séculos.

A escultura feminina de mármore branco foi encontrada por um transeunte depois que uma tempestade na costa israelense derrubou parte de um rochedo.

A obra tem 1,2 m de altura e pesa 200 kg. Segundo a autoridade que cuida das antiguidades de Israel, a estátua tem entre 1,8 mil e 2 mil anos.

A porta-voz da entidade, Yoli Schwartz, disse que, embora sem os braços e a cabeça, a estátua conta com "sandálias delicadamente esculpidas" e intactas.

O órgão de antiguidades já levou o achado para uma série de testes e estudos.

Por outro lado, a tempestade danificou outros sítios arqueológicos, como o porto romano de Caesarea. As autoridades devem visitar a área para avaliar os danos.

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Alemanha reduz Forças Armadas e suspende serviço militar obrigatório

Os líderes da coalizão de governo da Alemanha concordaram em suspender o serviço militar obrigatório a partir de julho próximo e em reduzir o contingente. A decisão marca uma mudança profunda para o país.

As lideranças do governo de coalizão da Alemanha concordaram em suspender o serviço militar obrigatório a partir de 1° de julho de 2011. A proposta do ministro da Defesa, Karl Theodor zu Guttenberg, foi aceita durante as conversações realizadas a portas fechadas na noite desta quinta-feira (9/12) em Berlim.

A União Democrata Cristã (CDU), da chanceler Angela Merkel, e seu partido-irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU), já haviam aprovado a ideia em suas convenções, realizadas nas últimas seis semanas. O Partido Liberal (FDP), parceiro de coalizão, já tinha incluído a proposta em seu programa de governo, divulgado durante as eleições parlamentares do ano passado.

O próximo passo será a aprovação de um projeto de lei, a ser preparado durante uma reunião de gabinete na próxima quarta-feira, para posteriormente ser levado à aprovação do Parlamento alemão.

Menos soldados

O plano prevê ainda a redução do contingente militar dos quase 250 mil soldados, que os país possui atualmente, para 185 mil. Destes, 170 mil seriam soldados profissionais, com voluntários compondo o restante. O governo espera economizar com a reforma até 8,3 bilhões de euros.

Reforma foi proposta pelo  ministro GuttenbergBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Reforma foi proposta pelo ministro GuttenbergEntretanto, a suspensão do serviço militar obrigatório pode criar alguns problemas novos. O serviço comunitário prestado por aqueles que se recusam a servir as Forças Armadas também seria prejudicado.

Instituições sociais e de assistência temem que a medida leve à falta de pessoal, já que essas entidades dependem em grande parte da mão de obra de jovens que cumprem o serviço civil como alternativa ao serviço militar obrigatório. A suspensão significa também que o número de estudantes tende a crescer, o que eventualmente causaria problemas para as universidades.

O período do serviço militar obrigatório na Alemanha fora encurtado em 2010, ficando com a duração de seis meses. A obrigatoriedade aplicava-se apenas aos rapazes. As mulheres podiam ingressar nas Forças Armadas alemãs, a Bundeswehr, como profissionais ou voluntárias, não sendo obrigadas a se alistar.

A proposta apresentada pelo ministro da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, é uma das maiores reformas da história da Bundeswehr. Será a primeira vez que não haverá alistamento militar obrigatório desde a reintrodução do serviço militar, em 1957. A exigência do serviço militar permanece, porém, prevista na Lei Fundamental (Constituição) alemã, podendo ser reativada, caso necessário.

Durante a Guerra Fria, a Bundeswehr tinha cerca de 500 mil soldados, e o chamado Exército Nacional do Povo, da Alemanha Oriental, dispunha de cerca de 170 mil homens. Após a queda do Muro de Berlim, o exército oriental foi dissolvido e parcialmente integrado às forças da Alemanha reunificada. Estas foram inicialmente reduzidas a 370 mil integrantes, sendo enxugadas paulatinamente nas décadas seguintes.

MD/dpa/ap/rtr
Revisão: Alexandre Schossler

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Europa no difícil caminho para a liberdade e a democracia

Brasil amplia presença nos países africanos de língua portuguesa

Presença das novelas brasileiras nos países africanos de língua portuguesa é só o lado visível de um fenômeno que tem também aspectos econômicos e políticos: o crescente interesse do Brasil pelas ex-colônias de Portugal.

Quem anda pelas ruas de Maputo, capital de Moçambique, pode facilmente ouvir jovens usando gírias tiradas de novelas da Globo, como "Eu sou chique, bem!" e "Tá podendo!".

Nas bancas de jornais de Luanda, capital de Angola, revistas especializadas em televisão estampam atrizes brasileiras na capa, como Taís Araújo e Juliana Paes.

Também em Luanda é fácil encontrar franquias de redes populares no Brasil, como Bob's, Mundo Verde e O Boticário. Isso sem falar nos templos da Igreja Universal do Reino de Deus, presente em todos os países africanos de língua portuguesa.

As novelas da Globo, as lanchonetes do Bob's e os templos da igreja de Edir Macedo são apenas a face visível de um fenômeno relativamente recente: a crescente presença brasileira nas antigas colônias portuguesas na África. Além do visível aspecto cultural, essa presença possui um viés econômico e outro político.

Relações econômicas priorizam Angola e Moçambique

Atriz Taís Araújo na capa de uma revista de AngolaBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Atriz Taís Araújo na capa de uma revista de Angola

O lado econômico é especialmente forte na relação com Angola – cuja independência, em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer. Apenas quatro anos depois, a Petrobras chegava ao país africano, hoje o terceiro maior produtor de petróleo da África.

Mas, segundo o site da petrolífera, foi só recentemente – a partir de novembro de 2006 – que a empresa passou a atuar de forma mais agressiva em Angola, como operadora em três blocos de exploração de petróleo.

Também forte em Angola é a Construtora Norberto Odebrecht, que está no país desde 1984, quando iniciou a construção da hidrelétrica de Capanda, com capacidade de geração de 520 megawatts.

Hoje a empresa atua em diversos setores, como a construção de rodovias e em projetos de pavimentação, saneamento e urbanização, empregando mais de 24 mil pessoas.

"As relações do Brasil com Angola são muito mais intensas e muito mais antigas", afirma o sociólogo alemão Gerhard Seibert, do Centro de Estudos Africanos de Lisboa. "Mas Moçambique também desempenha um papel econômico cada vez maior."

Na província de Tete, no centro de Moçambique, a mineradora brasileira Vale está investindo 1,3 bilhão de dólares para extrair carvão de uma das maiores minas não exploradas do mundo. A produção anual deverá chegar a 11 milhões de toneladas a partir de dezembro de 2010 e empregar 1,5 mil pessoas. O contrato foi assinado em 2007.

Brasil busca papel maior no cenário internacional

No aspecto político, Seibert vê uma clara mudança na política brasileira para a África com a chegada à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2003.

Lula foi o presidente brasileiro que mais viagens fez à África – foram dez até o final de 2009, incluindo todos os países de língua portuguesa, alguns mais de uma vez. Também no seu governo, o número de países africanos nos quais o Brasil possui representação diplomática passou de 18 para 34.

Na opinião de Seibert, essa valorização da África na política externa brasileira segue objetivos econômicos: a busca de mercados para produtos e empresas brasileiras e a garantia de matérias-primas.

Mas há, também, objetivos políticos: "As relações com a África fazem parte de uma política externa que tenta dar um papel maior ao Brasil no contexto internacional, e isso inclui a ambição de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU".

Para o especialista, a África é só uma parte da política externa "mais expansiva" adotada pelo governo Lula. Ela inclui ainda a maior presença do país em fóruns internacionais como o G20 ou as reuniões com os países BRIC (Rússia, Índia e China).

Já Lula apresenta sua política africana como o pagamento de uma dívida, afirmando que o Brasil tem um compromisso moral e ético com o continente, uma referência ao passado escravagista brasileiro. O presidente gosta de repetir que o Brasil é o país com a maior população negra fora da África.

Estudar no Brasil

As frequentes visitas à África trouxeram popularidade a Lula no continente, o que, somado ao mundo idílico apresentado em várias novelas televisivas, acaba por reforçar uma imagem positiva do Brasil.

Primeiro-ministro Maria Neves estudou na FGVBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Primeiro-ministro Maria Neves estudou na FGV

"A imagem que temos do Brasil é muito boa, até porque a mídia que vem do Brasil são as novelas", conta o universitário são-tomense Edileny Lima de Souza, que estuda administração de empresas na PUC em Porto Alegre.

O guineense Francisco Ialá, que cursa Direito na mesma universidade, diz que também no seu país a imagem do Brasil é muito boa. "As novelas que mais passam na Guiné-Bissau são as brasileiras. Toda a cultura brasileira influencia a Guiné-Bissau."

Ambos encontraram um Brasil diferente do que aquele que conheciam pela televisão. "As novelas brasileiras não retratam a situação como ela é. É mais glamour, praia e coisas boas, sem os problemas de infraestrutura, desigualdade e preconceito. São coisas que eu vivenciei e não esperava", diz Edileny

Edileny e Francisco estão entre os quase 4 mil africanos selecionados para estudar no Brasil entre os anos de 2000 e 2009. Eles receberam uma bolsa de estudos do programa PEC-G, do Ministério das Relações Exteriores.

Na África, os principais beneficiados pelo programa são os países de língua portuguesa, Cabo Verde e Guiné-Bissau à frente. A maioria dos estudantes volta ao seu país de origem. Estudar no Brasil é algo comum entre os cabo-verdianos – até o primeiro-ministro do país, José Maria Neves, estudou na Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos anos 1980.

Para Edileny e Francisco, o Brasil desempenha um importante papel no ensino superior. "Para os países lusófonos em desenvolvimento, o Brasil desempenha um papel importante na formação de quadros profissionais", diz Edileny, que afirma: "Volto para São Tomé porque quero ajudar meu país a crescer."

Autor: Alexandre Schossler

Revisão: Roselaine Wandscheer


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Lula diz em Lisboa que Brasil pode alavancar economia portuguesa.

Países firmam acordos, entre outras coisas, para impulsionar a língua comum

O Brasil vive no século 21 um momento mágico e excepcional de crescimento econômico e o potencial de que dispõe o país pode contribuir para alavancar a economia portuguesa, afirmou o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento da 10º Cúpula Luso-Brasileira na noite desta quarta-feira (19/05).

As relações entre Portugal e o Brasil ganharam novo fôlego com a assinatura de cinco acordos institucionais e dois na área empresarial, que deverão ter forte impacto econômico. No final da sessão plenária, foram rubricados acordos e memorandos de entendimento abrangendo as áreas de luta contra a dopagem, igualdade de gênero, tecnologia para a exploração de hidrocarbonetos na bacia do Atlântico, energias renováveis e meio ambiente.

Portugal oferece aos brasileiros seus conhecimentos no domínio do saneamento básico. No plano empresarial, ganhou destaque a parceria entre a Petrobras e sua congênere portuguesa Galp, com um suporte financeiro de 350 milhões de euros em projetos tecnologicamente avançados de produção de biocombustíveis. Um salto qualitativo sublinhado por Lula.

"Além de produzir um combustível limpo, nós vamos recuperar áreas degradadas, gerar empregos. Uma parte desse óleo será utilizada pela Petrobras numa refinaria lá mesmo, no estado do Pará, para atender a região norte do país, mas a grande parte vai ser refinada aqui em Portugal", disse Lula.

Em tempos de crise, que obrigam à adoção de medidas duras, o presidente brasileiro questionou a falta de uma governança global, já que as dificuldades são globais. E assegurou que o potencial que o Brasil tem pode ajudar a alavancar a economia portuguesa.

"Passamos por uma fase de afirmação dessa cooperação econômica. E os tempos exigem de nós um empenho nesse domínio. Eu quero que saiba, senhor presidente, do empenho de todas as empresas portuguesas e do governo português para receber investimentos brasileiros e também para afirmar investimentos português no Brasil", disse o primeiro-ministro português, José Sócrates, no Palácio das Necessidades.

Apesar das diferenças, atualmente são poucos os desacordos que marcam as relações entre os dois países. Ainda por resolver está a contenda entre a Portugal Telecom e a Telefônica, que quer comprar da empresa portuguesa a participação desta na Vivo, no Brasil. Mas, por outro lado, Bruxelas acaba de dar luz verde aos projetos da Embraer, fabricante aeronáutica brasileira, que quer construir duas unidades em Évora.

Ainda durante a visita, que deve ser a última que Lula faz a Portugal como chefe de Estado e de governo, teve bastante espaço o componente cultural. Os dois países acordaram impulsionar o Plano de Ação para a Promoção, Difusão e Projeção da Língua Portuguesa.

Antes do encontro com Sócrates, o presidente brasileiro foi recebido pelo seu homólogo, Cavaco Silva, com quem, pouco depois, participou da cerimônia de entrega do Prêmio Camões de 2009 ao poeta e romancista cabo-verdiano Arménio Vieira.

Autor: João Carlos (np)
Revisão: Rodrigo Rimon

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Reconhecimento do Estado palestino gera especulações sobre interesse brasileiro .

Mahmud Abbas e Lula em encontro em março de 2010

Para alguns especialistas, posição brasileira não muda nada. Outros veem interesse do Brasil em se firmar como líder internacional independente dos EUA. Há quem sustente que o país queira vender armamento aos palestinos.


Agosto de 2011 é o prazo que os líderes palestinos fixaram como limite para criar suas instituições oficiais e requerer às Nações Unidas o reconhecimento da Palestina como Estado livre e independente, caso as negociações de paz com o governo israelense fracassem completamente.

Há meses a Autoridade Nacional Palestina (ANP) sonha em receber o aval da ONU e assim obter respaldo legal para declarar como palestinos os territórios da Cisjordânia, da Faixa de Gaza – atualmente governada pela organização radical islâmica Hamas – e de Jerusalém Oriental, zona ocupada por Israel em 1967 e anexada ao seu território posteriormente. Apoio moral é o que não falta à ANP.

A Argentina seguiu os passos do Brasil e se juntou, nesta segunda-feira (06/12), a mais de cem países que já reconheceram o Estado palestino. No último 4 de dezembro, o presidente da ANP, Mahmud Abbas, agradeceu a Lula o reconhecimento do Estado palestino, que deverá incluir os territórios ocupados entre 5 e 10 de junho de 1967, durante a guerra dos Seis Dias.

O governo israelense condenou, nesta terça-feira, a decisão de Brasília e de Buenos Aires, alegando que uma solução definitiva do conflito entre israelenses e palestinos – inclusive a instauração de um Estado palestino – só poderia ser fruto de um acordo satisfatório para ambas as partes.

Impacto

"Eles estão destruindo as bases do processo de paz", disse o porta-voz do Ministério israelense das Relações Exteriores, Yigal Palmor, salientando que os anúncios da Argentina e do Brasil não alteram em nada a situação territorial e não promovem a conciliação entre as partes no conflito.

Jorge Gordin, pesquisador do Instituto Alemão para Estudos Globais e Regionais (Giga), tem uma opinião semelhante. "É normal que Israel encare isso como um assunto de vida ou morte, mas não acredito que as posturas da Argentina e do Brasil venham a ter consequências. Se é que isso terá algum efeito, será mais negativo do que positivo, podendo tornar Israel e Estados Unidos ainda mais intransigentes do que são nesse assunto."

O congressista norte-americano Eliot Engel, presidente do subcomitê para o Hemisfério Ocidental da Câmara dos Representantes, criticou o reconhecimento do Estado palestino pelo Brasil. Para Engel, essa não é a maneira de "se obter respaldo como poder emergente ou de se transformar em membro permanente do Conselho de Segurança da ONU". Na visão do político democrata, a posição brasileira em relação ao presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, revela uma "imagem muito obscura" do Brasil.

Já Wolfgang Hein, pesquisador do Giga e – juntamente com Oz Aruch – coautor da análise A política da América Latina para o Oriente Médio: entre Israel e Irã, vê a situação de outra perspectiva.

América Latina e Oriente Médio

"A importância que o Brasil dá às suas relações comerciais com os Estados árabes, incluindo o Irã, não deve ser vista como um empecilho nas trocas econômicas com Israel. A maioria dos países europeus tem boas relações econômicas tanto com Israel como com os Estados árabes", diz Hein.

Ainda segundo Wolfgang Hein, as relações exteriores das nações da América Latina são muito heterogêneas: assim como Chile, Colômbia e México se alinharam com a política norte-americana para o Oriente Médio, nações como Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e Equador cooperam estreitamente com o Irã e fazem frente a Israel. Argentina e Brasil, por sua vez, defendem seus próprios interesses e cultivam relações harmoniosas com ambos.

Jorge Gordin ressalta que ainda é muito cedo para esclarecer todas as razões do reconhecimento do Estado palestino por parte do Brasil e da Argentina neste momento. Por um lado, os anúncios de Lula e da presidente argentina, Cristina Kirchner, aconteceram apenas alguns dias depois que Abbas lhes havia pedido apoio e alguns meses depois da visita do líder árabe. Por outro, a rápida ascensão do Brasil como economia emergente consolidou sua posição como ator político global e exacerbou o interesse de seu governo em articular uma política exterior própria.

Ego brasileiro

"Mais uma vez, só posso descrever cenários possíveis neste momento. Mas Israel possivelmente acha que a Argentina só quer ficar bem com o Brasil, enquanto o Brasil – sim – teria verdadeiros motivos estratégicos para reconhecer o Estado palestino.

Afinal, o governo brasileiro quer assumir uma postura diferente e independente da dos Estados Unidos na política internacional, aponta Godin. Há poucos meses, Lula se apresentou a si mesmo como 'a ponte entre o Irã e o Ocidente'.

Mas será que o Brasil só quer mesmo massagear o próprio ego como "global player"? Será que também não teria chance de participar do processo de reconstrução da Palestina?

Para Hein , "isso pode ser de interesse do Brasil e dos outros países do Mercosul." Outro indício é o fato de o presidente do Uruguai, José Mujica, ter aderido e reconhecido o Estado de Israel junto com o Brasil e a Argentina.

"Mas levando-se em consideração o fato de a União Europeia e até os Estados Unidos estarem comprometidos com esse processo há anos, haveria apenas um pequeno lugar a ser ocupado. Em comparação com as possibilidades de comércio e troca econômica que oferecem os Estados árabes, as que ofereceriam a Palestina como Estado independente não seriam especialmente atraentes", conclui o pesquisador.

Tudo como antes

"Eu diria que, mais do que na reconstrução, o Brasil estaria interessado em vender armamento aos palestinos. O Brasil é um dos grandes exportadores mundiais de armas de médio calibre", arrisca Gordin, deixando no ar a impressão de que, num conflito tão complexo como o que envolve Israel e Palestina, não existem mediadores inocentes nem mostras de solidariedade altruístas.

Em todo o caso, as repercussões do apoio dado pela Argentina e pelo Brasil à causa palestina ainda estão por vir. "Estaríamos diante de um grande marco se, nos próximos dois meses, outros países decidissem reconhecer o Estado palestino; e se fossem potências europeias, a situação se complicaria ainda mais para os Estados Unidos", especula Gordin.

Hein não concorda com seu colega: "Essas mostras de apoio podem fortalecer um pouco a posição dos palestinos em suas negociações com Israel, mas, mesmo que a Palestina seja reconhecida como Estado independente, sua situação não mudaria muito de um dia para outro.

Diante da proporção das disputas entre israelenses e palestinos, não somente no que diz respeito a território, os Estados Unidos e Europa deverão continuar servindo de mediadores, bem como diversos outros países, como Índia e Paquistão. Os problemas no Oriente Médio prometem se manter os mesmos, com a diferença de que a ANP poderia se sentar à mesa de negociações como representante de um Estado internacionalmente reconhecido."

Autor: Evan Romero-Castillo

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Os brancos que se entendam.

Essa expressão nasceu de uma pendenga ocorrida no comando militar do Rio de Janeiro do século 18 e remonta a uma das primeiras punições por racismo no Brasil. Segundo o folclorista Luiz da Câmara Cascudo, certo dia o capitão do Regimento dos Pardos do Rio de Janeiro, Manuel Dias de Resende, foi queixar-se a seu superior por ter sido desrespeitado por um soldado. Diante da reclamação, o major Melo, comandante do Regimento, nada fez a não ser desprezar: “Vocês são pardos, lá se entendam!”. “No século 18, era comum esse tipo de divisão racial entre os regimentos”, diz Célia Azevedo, historiadora da Unicamp.

Ofendido novamente, o capitão Manuel recorreu a dom Luís de Vasconcelos e Souza, vice-rei (governador) da província entre 1779 e 1790. O governador logo mandou prender o major que não levara a reclamação a sério. Sem entender por que estava sendo preso, o major Melo perguntou: “Preso, eu? E por quê?” A resposta foi na mesma medida: “Nós somos brancos, cá nos entendemos”. Com o passar dos anos, a frase tomou a forma atual.

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Disputa por Cuiabá causou massacre.

No século 19, grupo de brasileiros matou centenas de portugueses

por Anselmo Carvalho Pinto

Era meia-noite de 30 de maio de 1834 quando Cuiabá foi tomada pelo som de cornetas e tiros de arcabuzes. Saindo do Campo do Ourique, no centro da capital de Mato Grosso, 80 homens começaram a invadir e saquear casas. A ordem era matar os portugueses e arrancar suas orelhas como troféu. Ao amanhecer, centenas de pessoas estavam mortas. A rebelião ficou conhecida como Rusga. “O movimento se expandiu pelas redondezas”, diz a historiadora Elizabeth Siqueira, autora de História de Mato Grosso.

O massacre foi motivado pela mudança no comando do país, três anos antes. Em 1831, dom Pedro I (1798-1834) voltou para Portugal e deixou o filho, de 6 anos. Até que dom Pedro II (1825-1891) alcançasse a maioridade, o Brasil seria comandado por regentes. A situação inspirou conflitos em vários locais. Cuiabá se dividiu entre liberais brasileiros e portugueses conservadores. O levante liberal foi bem-sucedido. O grupo permaneceria no governo até 1842, quando começou um período de alternância de poder.

Assassinato sem culpado
Morte do presidente da província é mistério

Pouco antes da Rusga, a Regência quis impedir que os liberais pegassem em armas. Para isso, assumiu a presidência da província João Poupino Caldas. Liberal moderado, ele tentou barrar a rebelião, sem sucesso. Em setembro de 1834, foi afastado.

O novo gestor, Antônio Pedro de Alencastro, prendeu e processou os líderes do motim (leia ao lado). Mas foi seu antecessor, Poupino, quem assinou o processo contra os colegas de partido. Em 1836, ele decidiu deixar Cuiabá. No dia da despedida, foi morto pelas costas com uma bala de prata. O autor do disparo nunca foi encontrado. Pouco depois, começou a circular na cidade uma quadrinha anônima: "No dia nove de maio/ Depois da Ave Maria/ Matei Coronel Poupino/ Fiz tudo o que queria".

Líderes inocentados
Nenhum deles foi para a cadeia

Pascoal Domingues de Miranda
Juiz de direito. Julgado no Rio de Janeiro, foi considerado inocente e se estabeleceu na cidade.

José Alves Ribeiro
Fazendeiro próspero da região, também foi inocentado no Rio. Depois, voltou para Cuiabá.

Caetano Xavier da Silva Pereira
Major da Guarda Nacional, liderou os revoltosos e acabou julgado inocente.

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Martin Luther King: A agonia de um rei em depressão

Um dos maiores heróis americanos, Matin Luther King enfrentou a injustiça de uma nação. Mas, por trás do poderoso líder, havia um homem infiel e deprimido, que vivia à sombra do suicídio.

por Adriana Maximiliano

Quando foi avisado de que tinha ganhado o prêmio Nobel da Paz, em 14 de outubro de 1964, Martin Luther King Jr. estava sob o efeito de tranqüilizantes, sozinho num quarto de hospital em Atlanta. Sua mulher, Coretta Scott King, ligara para dar a notícia. Logo depois, o quarto foi inva­dido por fotógrafos. Os jornais do dia se­­­­­guin­te diriam que King tinha sido inter­nado três dias antes, sofrendo de febre e exaustão. Uma meia verdade. Aos 35 anos, ele estava lá por causa de um problema que o acompanhava desde criança: a depressão.

A imagem de King que se eternizou é a do pastor, líder político e pacifista que lutou pela igualdade entre negros e brancos nos Estados Unidos. Um homem corajoso e otimista. Mas ele também era frágil e vulnerável. “Durante entrevistas que fiz com amigos de Martin Luther King, seu comportamento deprimido foi citado inúmeras vezes. Ele chegou a questionar em alguns momentos se sua vida valia a pena. Mas essas histórias de desespero não ganharam os jornais na época porque a imprensa não costumava noticiar dramas desse tipo como faz hoje”, diz o escritor americano Taylor Branch, que passou um quarto de século estudando a vida de King e, no ano passado, lançou At Canaan’s Edge (“À beira de Canaã”, inédito no Brasil), o último volume de uma trilogia sobre o líder.

Entre 1965 e 1968, nos anos finais de sua vida, King estava numa encruzilhada. Depois da vitória contra as leis racistas dos Estados Unidos, o líder se envolveu com causas como a luta contra a Guerra do Vietnã. Ao fazer isso, perdeu o apoio de vários aliados, fossem eles negros ou brancos. Enquanto isso, seus constantes casos extraconjugais eram usados pelo FBI (a polícia federal americana) para desestabilizar seu casamento e aprofundar sua depressão. O objetivo era tirar King da vida pública – ou mesmo fazê-lo dar cabo da própria vida. Em meados dos anos 60, o homem que enfrentara todo o racismo de uma nação estava encurralado, ameaçando sucumbir ao próprio sofrimento.

No caminho, uma Rosa

Nascido em 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, no estado da Geórgia, King vivia com os pais, os irmãos e a avó materna, Jennie Williams. Quando o menino tinha 5 anos, ela sofreu um desmaio em casa. King não suportou a idéia de que Jennie pudesse ter morrido. Subiu as escadas correndo e se jogou por uma janela do segundo andar. Sua mãe, Alberta, o encontrou no quintal, estatelado no chão – o pequeno King só abriu os olhos depois que disseram que Jennie estava bem. A cena se repetiria sete anos depois, em maio de 1941. Ao saber que sua avó tinha sofrido um ataque cardíaco, voltou correndo para casa e encontrou a família chorando. King se jogou pela mesma janela, sobrevivendo de novo. Mas, dessa vez, a avó estava morta. O menino passou diversas noites em claro, chorando sem parar.

O lado depressivo do garoto contrastava com as boas condições de sua família. Martin Luther King pai, pastor da Igreja Batista, era o negro mais bem pago de Atlanta. Nascido Michael, ele trocara o nome para Martin Luther em 1935, homenageando o fundador do protestantismo. A mudança se estendeu ao filho, que acabaria herdando também a vocação religiosa. Aos 19 anos, Martin Luther King Jr. se formou em Sociologia no Morehouse College, a melhor escola para negros de Atlanta. Em 1954, depois de se doutorar em Teologia pela Universidade de Boston, King se tornou pastor batista em Montgomery, no Alabama.

Nos anos 50, King já estava envolvido na luta pelos direitos dos negros: era do comitê executivo da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês). Nos estados americanos do Sul, como o Alabama, os negros eram cidadãos de segunda classe. Não podiam votar, eram proibidos de entrar em certos clubes, lojas e igrejas e, no transporte público, tinham que dar preferência aos brancos.

Em 1º de dezembro de 1955, toda essa discriminação foi posta em xeque por uma inofensiva costureira negra de 42 anos. Cansada e com dores nos pés depois de um dia de trabalho, Rosa ­Par­ks se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco. Foi presa. Ao saber da notícia, King e outros líderes da NAACP transformaram o caso de Rosa no estopim da luta contra a desigualdade racial que ficaria conhecida como o Movimento pelos Direitos Civis. No dia seguinte, os negros de Montgomery iniciaram um boicote aos ônibus, sob a liderança do quase desconhecido pastor de 26 anos. Foram necessários 382 dias até que, em 21 de dezembro de 1956, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarasse inconstitucional a segregação racial nos transportes públicos do país.

Durante o boicote em Montgomery, viajando cerca de 25 dias por mês, King se tornara respeitado em todo o Sul dos Estados Unidos. Em contrapartida, tinha sido preso, criticado por membros de sua igreja e acordado inúmeras vezes de madrugada por telefonemas com ameaças. Diante disso, King não escondia a importância do apoio da esposa. Ele e a musicista Coretta haviam se conhecido em Boston, em 1952. O casamento rendeu quatro filhos ao casal, mas não era um modelo a ser seguido. Desde o primeiro momento, o pastor foi infiel. Quando estava longe de casa, King se encontrava com várias amantes.

Um sonho de liberdade

Apesar do fim da segregação no transporte público, o racismo continuava em várias instituições dos Estados Unidos. Após o boicote de Montgomery, Martin Luther King continuou trabalhando por reformas. Seguidor declarado de Mahatma Gandhi, ele promovia manifestações pacíficas como boicotes, greves e passeatas, pontuadas por seus poderosos discursos. Em 1957, ele ajudou a fundar a Conferência da Liderança Cristã Sulista (SCLC, na sigla em inglês), instituição que presidiu até a morte.

Diversas organizações iam surgindo para engrossar o Movimento pelos Direitos Civis. O problema é que elas muitas vezes acabavam entrando em conflito entre si. Uma das principais polêmicas era a doutrina de não-violência de King. No início dos anos 60, ela ainda soava bem, mas já não convencia os que estavam cansados de apanhar da polícia. O líder muçulmano Malcolm X, por exemplo, não hesitava em dizer que os negros deviam responder com violência à brutalidade das autoridades. King, entretanto, tinha boas razões para preferir o pacifismo: ele fazia com que a violência vista no noticiário fosse protagonizada pela polícia. Assim, o público americano tendia a simpatizar cada vez mais com a causa da SCLC – e a doar dinheiro para a instituição.

Em abril de 1963, King lançou uma campanha para acabar com a segregação nos banheiros e lanchonetes de Birmingham, no Alabama, então considerado o mais racista dos municípios americanos. Durante uma passeata na cidade, o pastor acabou preso. A cadeia não era novidade para King – ao todo, foram mais de 20 prisões –, mas, daquela vez, o presidente John Kennedy interveio diretamente por sua libertação. O prestígio do pastor estava no auge. Em 28 de agosto, King liderou a Marcha sobre Washington, que reuniu mais de 200 mil pessoas na capital americana. Diante delas, disse estar feliz por fazer parte da “maior manifestação pela liberdade” da história dos Estados Unidos. Essas palavras foram o início de um dos mais pungentes discursos de todos os tempos, que ficaria conhecido como “Eu tenho um sonho”. Por 16 minutos, King hipnotizou a multidão enquanto dizia sonhar com o fim da discriminação racial, evocando desde a Bíblia até a Declaração de Independência americana. Foi ovacionado.

A eloqüência de King chamou a atenção de todo o país. Inclusive a do FBI. Em um documento secreto escrito após a Marcha, ele foi apontado pelo órgão como “um potencial messias, capaz de unificar e eletrificar o movimento nacionalista negro”. O relatório citava uma prova inequívoca do carisma de King: sua nomeação, pela revista Time, como o Homem do Ano de 1963 – honraria inédita para um negro. A conclusão do documento não deixava dúvidas: era preciso acabar de uma vez com a influência do pastor.

Vitória e angústia

O assassinato do presidente John Kennedy, em 22 de novembro de 1963, fez King ter um mau pressentimento sobre a morte. “É o que também vai acontecer comigo. Esta sociedade está doen­te”, disse ele a um amigo logo após o atentado, de acordo com Taylor Branch. Sem dúvida, King era um alvo potencial da ira alheia. Afinal, ele não era só um líder pacifista negro. Era o maior ativista de esquerda dos Estados Unidos.

Durante todo o ano de 1964, o excesso de trabalho, as ame­a­ças anônimas e as intrigas en­tre as organizações negras fizeram King sair de cena. Segundo Branch, o líder se tornou assíduo freqüentador do hospital St. Joseph – onde, inclusive, receberia a notícia do Nobel. “Ele pediu para ser internado lá pelo menos uma dezena de vezes, porque só assim podia ficar sozinho e descansar à base de pílulas para dormir”, afirma. Mas, em 2 de julho, King interrompeu o isolamento para viver outro mo­mento de glória em Washington: a cerimônia em que o presidente Lyndon Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis, que tornou inconstitucional toda a legisl­a­­­ção segregacionista dos Estados Unidos.

A euforia pela conquista histórica não significou o fim do Movimento pelos Direitos Civis. Faltava ainda garantir que os negros do Sul pudessem votar sem restrições. Isso motivou King a promover mais uma grande marcha, partindo da cidade de Selma em direção a Montgomery, em março de 1965. A polícia tentou parar os manifestantes, que resistiram sem violência até conseguir che­gar ao destino final. Cinco meses depois, a Lei do Direito ao Voto foi aprova­da pelo Con­­gresso, a­ca­­­­­­­­­bando com os en­­traves legais para os negros nas eleições.

Dez anos depois do início do boicote aos ônibus, o Movimento pelos Direitos Civis havia conseguido, ao menos em termos de legislação, igualar negros e brancos nos Estados Unidos. A vitória poderia ter garantido a King dias de felicidade. Mas sua vida privada estava em frangalhos. No início de 1965, quando ele ainda estava preparando a marcha de Selma, Coretta tinha recebido um pacote com uma fita e uma carta anônima. As gravações traziam conversas de King com amigos e mulheres, em que a infidelidade do pastor ficava clara – Coretta estava acostumada a denúncias e amea­ças, mas jamais tinha recebido uma fi­ta comprometedora com a voz do marido. Já o texto da carta que acompanhava a gravação dizia que King era “uma vergonha para todos nós negros”. No fim, o autor sugeria que ele cometesse o suicídio: “Você se acabou. King, só resta uma coisa a ser feita. Você sabe o que é. Só existe uma saída. É melhor você pegá-la antes que seu lado nojento, anormal e fraudulento seja revelado para a nação”.

A carta e a gravação não tinham sido obra de um membro do movimento negro. Elas eram um golpe baixo da campanha do FBI contra King. Diálogos sobre adultério haviam sido obtidos com gravadores colocados na casa e no escritório de King, além de grampos em telefones de quartos de hotel. Os agentes federais sabiam que, por causa da depressão crônica, King seria capaz de se matar num momento de crise. A fita era uma tentativa de fazer com que isso acontecesse – essa tenebrosa estratégia foi posteriormente admitida por William C. Sullivan, ex-diretor-assistente do FBI, num depoimento dado ao Senado americano em 1975.

A explosiva fita acabou chegando às mãos de políticos, religiosos e jornalistas. A idéia de suicídio não foi levada adiante, mas a depressão do líder se agravou. “King reclamou que suas pílulas para dormir não estavam fazendo mais efeito”, escreveu Taylor Branch em At Canaan’s Edge. Em público, se limitou a fazer um mea-culpa nas entrelinhas de seus sermões na igreja, dizendo coisas como: “Eu nunca me coloquei como um grande modelo, mas tenho que fazer o melhor possível para redimir a mim mesmo e a América.”

Memória americana

Depois da aprovação da Lei do Direito ao Voto, a vida política de King precisava de uma nova causa. Ainda em 1965, ele decidiu usar o Movimento pelos Direitos Civis para se opor à Guerra do Vietnã, em que os Estados Unidos haviam acabado de entrar. King foi atacado por todos os lados, incluindo amigos e inimigos. Ninguém queria que ele se metesse com o conflito – que ainda não tinha se torna­do um evidente beco sem saída. King mu­­dou o discurso e apostou na chamada Campanha dos Pobres.

A luta contra a pobreza nem de longe contava com a simpatia que King arrebanhara para a questão racial. Ativistas próximos do líder achavam que o melhor seria se preocupar em fortalecer as conquistas dos negros no Sul do país. A falta de resultados em suas novas lutas aumentou o desalento de King. Duas semanas depois de completar 39 anos, pressionado por Coretta, ele finalmente resolveu admitir um de seus casos extraconjugais. Ainda assim, a esposa foi capaz de seguir ao lado dele.

Em 4 de abril de 1968, King estava em Memphis, no Tennessee, para apoiar uma greve de lixeiros. Sua liderança estava desgastada, assim como sua capacidade de sonhar com um país mais justo. A desilusão dava o tom do sermão que ele começou a escrever naquela tarde, intitulado “Por que a América deve ir para o inferno”. O texto ficou inacabado. Às 18h01, enquanto conversava com amigos na sacada do Lorraine Motel, King levou um tiro no pescoço. Hospitalizado, morreu por volta das 19h. Cinco dias depois, o pastor foi enterrado em Atlanta, num funeral acompanhado por 300 mil pessoas. O suposto assassino foi capturado, mas o crime nunca foi esclarecido (veja quadro acima).

Após sua morte, Martin Luther King Jr. virou nome de ruas, escolas e bibliotecas e ganhou um feriado nacional nos Estados Unidos (a terceira segunda-feira do mês de janeiro). Em 2008, deverá ser inaugurado seu memorial no National Mall – a esplanada em Washington, próxima à Casa Branca, onde foi feito o discurso “Eu tenho um sonho”. Além do líder negro, apenas os ex-presidentes Thomas Jefferson e Abraham Lincoln conquistaram honraria semelhante.

O King eternizado no panteão dos heróis americanos, entretanto, não é o mesmo que foi morto em Memphis. Em tempos de invasão do Iraque, a história do King que protestou contra a guerra e a pobreza tem sido deixada de lado. O historiador americano David J. Garrow, autor de um premiado livro sobre o pastor – Bearing the Cross (“Carregando a cruz”, inédito no Brasil) –, não estranha esse esquecimento. “Os Estados Unidos preferiram a imagem romantizada de um homem doce e otimista. Principalmente porque o King dos anos finais ainda seria um estorvo até hoje, no governo de George W. Bush.

Os quase aliados

Quatro líderes e suas relações controversas com King

Ralph Abernathy

Amigo e braço direito de King, o reverendo sabia falar com os negros humildes – o pastor se dava melhor com os intelectuais. Mas Abernathy não era tão leal: quando King ganhou o Nobel, ele achou que merecia metade do dinheiro. Acabou faturando bastante ao lançar uma autobiografia cheia de fofocas sobre a vida sexual de King. Morreu em 1990.

John Kennedy

Graças ao apoio de King, o democrata conquistou os votos da comunidade negra e foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1960, derrotando o rival Richard Nixon por uma diferença de menos de 1%. Em agradecimento, Kennedy apoiou o Movimento pelos Direitos Civis. Antes de ser assassinado, em 1963, teria convencido King a não fazer um discurso muito crítico ao governo na marcha de Washington.

Malcolm X

O objetivo de ambos era o mesmo: combater a discriminação. Mas, enquanto King optava pelo pacifismo, Malcom X defendia que os negros reagissem com violência. Essas diferenças impediam acordos entre os dois, que só se encontraram uma vez, em 1964. No ano seguinte, Malcolm X foi morto a tiros (King morreria da mesma forma, com a mesma idade: 39 anos).

Lyndon Johnson

Vice de Kennedy, assumiu a presidência em 1963 e a manteve nas eleições de 1964. Johnson negociou com King a elaboração das leis dos Direitos Civis e do Direito ao Voto, aprovadas em seu governo. Mas, quando o ativista se pronunciou contra a Guerra do Vietnã, o presidente parou de colaborar com ele – e chegou a chamá-lo de “pastor hipócrita”. Johnson deixou o cargo em 1969 e morreu em 1973

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