quinta-feira, 7 de novembro de 2013

NARCOTRÁFICO: A Nova Guerra do Ópio ou George Soros e o Império Britânico pela legalização das drogas.


O aparato internacional em prol da legalização das drogas, patrocinado e financiado por George Soros, acelerou a marcha para impor à América Latina a política do império britânico de descriminalização e legalização das drogas, alegando que "fracassou" a guerra contra o narcotráfico, e que se necessita de um novo "paradigma contra a proibição".
(EIR) - Já no México, o Conselho de Coordenação Política da Câmara de Deputados aprovou com unanimidade a proposta do deputado Fernando Belaunzarán do PRD, para levar adiante um "debate nacional" sobre a legalização da maconha. Entre os meses de maio e agosto de 2013, a Câmara de Deputados realizará audiências sobre esse tema e convidará a participar um grande número de "especialistas" de todas as partes do país.

De modo mais amplo, a IV Conferência Latino-americana de Política sobre as Drogas, sediada em Bogotá, Colômbia, de 5 a 6 de dezembro, teve como principal patrocinador a Open Society Institute de George Soros, e trouxe organizações não-governamentais (ONGs) e as organizações da "sociedade civil" de diversos lugares do hemisfério para que promovam a legalização das drogas. O homem de Tony Blair na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos, animou aos participantes do evento lançando a ideia de que é necessário um paradigma "anti-proibição", supostamente para reduzir as mortes e a violência causada, segundo ele, pela guerra contra o narcotráfico.

Todo esse debate vai direto ao núcleo da política de genocídio e despovoamento da rainha britânica: destruindo a mente humana - especialmente as mentes dos jovens - argumentando que as sociedades "democráticas" só podem desenvolver-se quando "se respeita" o direito de pessoas de destruir o seu potencial criativo como se fosse uma questão de "direitos humanos". Como levantou o líder de uma organização não-governamental colombiana, "é impossível conceber um mundo sem drogas" e, portanto, o Estado deve garantir que o seu consumo "seja o menos prejudicial possível." A abstinência não é uma opção, somente a "redução de danos" é a opção.

Entre aqueles que "convocaram" esta reunião há todo um rebanho de instituições financiadas por Soros: a Aliança para a Política de Drogas, o Escritório de Washington sobre a América Latina (que é favorável às drogas) e do Instituto Transnacional. Mas a conferência também arrastou grupos, tais como a instituição de caridade católica Caritas Alemanha, a Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC sua sigla em Inglês), e da Organização Pan-Americana da Saúde, entre outros. O bem conhecido grupo de choque de Soros, a Associação Cívica de Intercâmbios da Argentina, foi um dos principais organizadores.

Uma das estrelas do evento foi o ministro das Relações Exteriores da Guatemala, Edgar Gutiérrez Girón, que agora é o enviado especial para a política de drogas da Organização dos Estados Americanos (OEA), e que está promovendo a política para legalizar o tráfico de drogas que propõe seu presidente, Otto Perez Molina. Cabe ressaltar que o carro-chefe da monarquia britânica, da Fundação Beckley, escolheu Guatemala como a única sede estrangeira baseado de sua fundação fora da Inglaterra, obviamente, para melhor coordenar a política de legalização das drogas de Otto Perez Molina. Seus escritórios na Guatemala começaram a operar no verão de 2012.

Victor Ivanov: bancos globais precisam mais de drogas do que os carteis de drogas.

17 de dezembro de 2012 - O chefe da Agência Federal de Controle de drogas da Rússia, Victor Ivanov, que se realizou na semana passada uma visita de três dias a Boston, Massachusetts, durante a 7 ª Sessão do Grupo de Trabalho sobre Controle de Drogas ilegais, que opera sob a comissão presidencial bilateral EUA-Rússia. Em um discurso público que deu após a reunião e, em resposta a uma pergunta de EIR, Ivanov apresentou seu argumento devastador apontando que o "beneficiário final" do narcotráfico que mata milhões de pessoas todos os anos é o sistema bancário internacional, que busca voraz por liquidez.

A reunião do Grupo de Trabalho foi realizada na Biblioteca Presidencial John F. Kennedy, e foi presidida pelo Ivanov, e seu colega dos EUA, o diretor do Instituto Nacional de Controle de Drogas, Gil Kerlikowske. De acordo com o portal eletrônico AFCD, entre autoridades russas que participaram do evento esteve o primeiro vice-diretor do Rosfinmonitoring, a agência russa responsável por monitorar transações financeiras. O programa da reunião incluiu o narcotráfico como tal, as medidas para reduzir a demanda, o combate à lavagem de dinheiro de drogas e a promoção virtual de entorpecentes. A onda recente de medidas a favor da legalização nos EUA não foi contemplada oficialmente no programa, embora Ivanov falasse sobre a influência de "novos modelos de quase-cultura de drogas." Ivanov citou várias operações conjuntas bem sucedidas entre a AFCD e a Agência Antidrogas dos EUA (DEA, por sua sigla em Inglês) com as forças anti-drogas no Afeganistão entre 2010 e 2012 como exemplos da importância da cooperação internacional no combate ao narcotráfico.

Na quarta-feira dia 12, Ivanov e Kerlikowske lideraram uma reunião pública com o tema "Drogas e Segurança", realizada no Centro Belfer da Universidade de Harvard.

Em seu discurso, Ivanov disse que "o mundo inteiro está coberto de rotas de tráfico de drogas e de infra-estrutura logística para a transferência e venda". A matéria-prima da droga é produzida em alguns países, mas no tráfego de várias há dezenas de países envolvidos. No mundo de hoje, disse ele, "qualquer processo social pode ser visto longe do fluxo de drogas, nem os políticos, militares e até mesmo os culturais, porque estão sendo constantemente desenvolvidos modelos quase-culturais a favor das drogas".

Ivanov mencionou casos mais escandalosos de lavagem de narco-dinheiro, do banco Wachovia e HSBC, e mostrou a sua agora famosa apresentação de slides sobre a enorme bolha financeira que está esmagando a economia real. Aqui enfatizou que os bancos internacionais necessitam dos fluxos criminais do dinheiro do narcotráfico mais que os carteis necessitam dos bancos.

Victor Ivanov explicou esta idéia, em resposta a uma pergunta de Myles Robinson e a Executive Intelligence Review, sobre o tráfico de drogas como a realização do sistema financeiro. Ivanov disse:

"Se vemos o componente financeiro dos crimes do tráfico de drogas, há, de fato, diversas áreas. Considere um país produtor, Afeganistão. Produz heroína vendida em mercados estrangeiros estimados em cerca de US$ 100 bilhões por ano. Não mais que cerca de US$ 4 bi permanece no Afeganistão, enquanto o resto representa vendas externas. Agricultores no Afeganistão recebem cerca de US$ 1,5 bilhões. O Talibã leva cerca de US$ 150 milhões. Todo o resto é vendido nos países de distribuição ou nos países de trânsito, mas o resultado é que o beneficiário final é o sistema bancário global. Todo esse dinheiro não fica dormindo debaixo do travesseiro de alguém, ele vai para o sistema bancário.”

"Se vemos uma pirâmide que mostra a distribuição do fluxo de narcóticos, podemos ver que no nível da distribuição têm uma vasta camada, em seguida, o trânsito regional envolvendo os cartéis de drogas, e acima são os fluxos globais de drogas. Considerando a distribuição de dinheiro envolvido, temos exatamente as proporcionalidades para ao contrário. A pirâmide se volta de ponta cabeça. Aqui você pode ver que a menor parte do dinheiro permanece no Afeganistão e então acima estão se multiplicando esse dinheiro de origem criminosa."

"Assim, o produtor, que recebe uma quantidade relativamente pequena de dinheiro, organiza essencialmente instabilidade do processo de exportação, o dinheiro do crime e crescimento do próprio crime organizado. Se a comunidade global está preocupada com o que acontece, mas não concentra seus esforços aqui no ponto da pirâmide, mas aqui [onde é global], então nós temos que ver que isso representa uma enorme sombra projetada em uma grande região do mundo, e é claro que é extremamente difícil eliminar este problema. Mas, se desde o início, focamos nossos esforços em direção ao centro da questão [apontando para a área de produção], em ovos de pato Koshchey o imortal [um monstro de histórias infantis russas que só pode ser morto entrando em sua "morte", que reside em uma agulha no ovo de um pato] e agarrá-lo e esmagá-lo, então nos libertaremos por completo do dinheiro do crime."

"No entanto, estamos trabalhando em todas as áreas ao mesmo tempo. E, no mesmo sentido, há também a questão de interceptar os fluxos de dinheiro e capturar os criminosos seguindo o rastro do dinheiro através do sistema bancário, que circula e se lava. Mas esta é uma tarefa trabalhosa, porque o nível de capturas não é superior a 1% do dinheiro que é lavado. Isso tem a ver tanto com o sigilo bancário e da forma como está organizada em torno do sistema financeiro. Assim estamos trabalhando muito estreitamente com os nossos parceiros americanos, o que nos permite compreender aspectos específicos das fases de lavagem de dinheiro, e tentar perseguir de forma mais eficaz".

Os britânicos lançam uma nova onda de propaganda a favor das drogas

08 de dezembro de 2012 - A Condessa de Wemyss e March (Amanda Feilding), George Soros, e o não tão virgem bilionário Sir Richard Branson - patrocinaram um filme intitulado "Quebrando o Tabu", que Branson espera que fará pela legalização da drogas em geral que o aquecimento global pelo filme de Al Gore, "Uma Verdade Inconveniente", ou seja, atrelar a opinião popular por trás de uma mentira que leva à morte da massa espécie humana. (NdT: os articuladores da NOM parecem interessados em pseudo-soluções ao problema de aquecimento, o que acaba levando muitos a aceitar a hipótese negacionista, outra ala da mesma propaganda).

O filme de uma hora, produzida pelo filho de Branson para distribuir  no Youtube, com um site e uma petição em favor da legalização das drogas patrocinada pela Fundação Beckley - a senhora do "trepanação" Feilding, o consumidora LSD - se apresentou pela primeira vez em Londres em 05 de dezembro, e na noite seguinte se apresentaou na sede do Google em Nova York. Sua intenção manifesta e forçar os governos em todo o mundo a parar a guerra às drogas, e em vez disso se tornem parte do tráfico de drogas no Império Britânico, sob o nome sofista de "regulação" da produção, do tráfico e no consumo de drogas.

O filme é apoiado por polidas retóricas de agentes britânicos nas guerras culturais ao longo de décadas, e foi construído em torno de impacto tão incrível e esmagador que um "grupo de líderes mundiais" está pedindo publicamente aos governos para acabar com a guerra às drogas e, para participar do programa do Império Britânico. Esse "grupo" consiste simplesmente dos presidentes e outros "notáveis" que formaram a comissão para a reforma da política de drogas, financiado e dirigido pelo britânico traficante especulador George Soros. Dois presidentes, por sua vez se juntaram a eles, em primeiro lugar, o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, um discípulo orgulhoso de seu bom amigo e conselheiro de Tony Blair, e o presidente da Guatemala Otto Perez Molina, controlado pela condessa Feilding.

A propaganda da Beckley Foundation destaca que o presidente Bill Clinton também se juntou a esta campanha. Em uma entrevista para o filme, Clinton renegou uma decisão importante que ele tomou como presidente, de rechaçar o acordo de Wall Street para legalizar o cartel de drogas das FARC - que foi negociado em junho de 1999 por Richard Grasso, presidente da Bolsa de Valores em Nova York, com o apoio de Madeleine Albright no Departamento de Estado - e em vez do governo proporcionar ao governo da Colômbia o apoio necessário para recuperar o controle soberano de seu país, que estava nas mãos de traficantes de drogas. O "Plano Colômbia", adotado por Clinton, que agora ele afirma que não funcionou, salvou a desintegração iminente que Colômbia a enfrentava.

Rússia, e em particular, Victor Ivanov, diretor anti-drogas, observou no filme como a mosca na sopa da debandada global de drogas, por causa da pressão que se faz para os Estados Unidos e outras potências ocidentais adotem uma posição dura sobre a política de drogas como a chave para ajudar o Afeganistão. Ivanov disse em uma entrevista que está incluída no filme, as potências ocidentais, juntamente com a Rússia, devem emular o programa de sucesso do Plano Colômbia. Esta pressão da Rússia, que foi tomada com apreço por sectores-chave dentro das Forças Armadas dos EUA, enfurece os produtores do filme, em que oficiais do Exército britânico tinham sido enviados ao Afeganistão, denunciam irritados a mera menção em atacar o comércio de ópio.

A condessa britânica é a promotora de drogas para a rainha

A edição de domingo do jornal londrino The Observer publicou em 25/11/2012 uma generosa reportagem para promover a condessa britânica, Amanda Feilding, que lidera a campanha mundial para a legalização das drogas, sobre os ombros de outros agentes da coroa como George Soros. Feilding, condessa de Wemyss e march, é o fundador da Fundação Beckley, uma instituição britânica de "caridade" (sic) dedicada à legalização das drogas, cujo papel na campanha da monarquia britânica foi lançado na edição da revista EIR de 05 de setembro de 2008, " British Oligarchs Run Soros Addiction Drive" (Oligarcas britânicos dirigem a campanha de Soros pelo vício) e novamente identificado na EIR edição de 16 de novembro de 2012, no artigo intitulado "British Empire's Policy: Obama Victory Sweeps In Drug Legalization” (Política do Império Britânico: A vitória de Obama abraça a legalização das drogas).

A Arca da Aliança - Perdida ou Escondida?


De acordo com a Bíblia, a arca da aliança possuía fortes poderes e continha os dez mandamentos e outros artefatos, como o cajado de Arão que floreceu e o maná que caia dos céus. Poderia uma tribo de refugiados do Egito, vagando pelo deserto, ter construído uma arca tão elaborada com seus lindos trabalhos em ouro e madeira? E quanto aos seus poderes, porque os Israelitas sempre a levava em combate? E se essa arca poderosa existiu, onde ela está agora? Se ela foi encontrada, o que nos espera quando sua tampa for aberta? Sua idade é de pelo menos 3.500 anos.

Os Prós e os Contras

Segundo o Dr. Michael Chandler, "ela é uma ficção, como a sua busca em Indiana- Jones e os caçadores da Arca Perdida.", porém, já o Doutor, Escritor e Arqueólogo Grant Jeffrey "existem provas arqueológicas e históricas, que a Arca da Aliança existe examente como descritas no Êxodo e na Bíblia." O professor de Ciências Antigas Jordan Maxwell diz que "A arca de Noé (não seria a 'Arca da Aliança'?), se é que ela existiu, que estava no templo de Salomão em Jesrusalém, em 586 a.C. quando o templo foi destruído, tenha sobrevivido de alguma forma. E se existiu, já está perdida a muito tempo, e pelo fato de ter ouro ela deve ter sido desmontada".

A Arca, ela existiu?

Segudo o Dr. J. Randall Price, autor do livro "Ready to Rebuild the Temple" diz que "existem evidências documentadas apoiando a existência do Rei Salomão e da renomada arca da Aliança de Israel." Mas será que havia a tecnologia necessária para a construção da arca? Certamente sim. A Bíblia nos diz que o povo de Israel quando saiu do Egito, levou consigo os pertences, ídolos de ouro, do Egito, pois até hoje, o ouro vale muito. Mas de onde saiu a idéia de uma arca para colocar os objetos sagrados? Na minha viagem ao Egito, que aconteceu em Julho de 2008, fui ao Museu Egípcio do Cairo, e vi a arca de Anúbis, que era quase igual a arca bíblica da aliança, transportada por varais e quase sempre recoberta por ouro por dentro e por fora. A única diferença é que em vez de dois querubins em cima da arca, ficava uma estátua do deus egípcio Anúbis. A função era quase a mesma levar e guardar em seu interior objetos sagrados de seu deus. Essa arca foi descoberta anos depois de Moisés no Egito. Na tumba de Tucancâmon. Provavelmente, pela estadia dos judeus por mais de 300 anos no egito como escravos tenham influenciado a cultura do País.

Onde ela está?

Com a recente descoberta do palácio da rainha de sabá em Aksum, norte da Etiópia, um antigo tópico arqueológico voltou à tona: Onde está a arca da alinça? Para Helmut Ziegert, arqueólogo alemão responsável pela descoberta, há grande probabilidade de esse edifício ter abrigado o utensílio mais sagrado do santuário israelita.
Uma tradição entre os etíopes afirma que devido a seu valor sentimental com a rainha de Sabá, Salomão a teria presenteado com o objeto. Ziegert encontrou um altar no palácio que o levou a supor que a arca deve ter ficado um tempo por ali. Essa informação não recebe nenhum apoio bíblico. Toda a hipótese repousa apenas na suposta credibilidade da tradição etíope.
Agora segundo os Etíopes, ela está na igreja de Santa Maria, onde só os poderosos entram, como a rainha Elizabeth II. Provavelmente seja um objeto parecido com a arca da alinça, mas provavelmente não é.Outra probabilidade é sugerida no filme "Indiana-Jones e os caçadores da Arca Perdida" e que segundo Steven Spielberg, ela estaria em Tânis. Ela teria chegado lá graças ao faraó Sheshonk, o Sisaque de 2 Crônicas 12:2), que numa campanha para encher os cofres egípcios que estavam vazios foi até Jerusalém e saqueou a cidade por volta de 925 a. C. Porém, se a arca estivesse de fato em mãos estrangeiras, seríamos informados pelo texto bíblico, como é o caso em 1 Samuel 4, quando ela foi capturada pelos filisteus.

Como pensavam os kamikazes

Nem fanáticos, nem voluntários - os jovens pilotos suicidas japoneses foram vítimas da hierarquia militar e de um projeto tão ousado quanto estúpido para tentar reverter uma invasão que não chegou a acontecer.


Após quase quatro horas no ar, a pequena esquadrilha de cinco Mitsubishi A6M Zero avistou navios norte-americanos próximos à Ilha de Samar, nas Filipinas. Pelo rádio, o tenente Yukio Seki anunciou aos oficiais em terra: "Melhor morrer que viver como um covarde". Os aviões se dividiram em direção aos navios, descendo a até poucos metros acima do mar para evitar o fogo antiaéreo. Seki e outro piloto tentaram um ataque ao porta-aviões USS White Plains. Atingidos, o parceiro caiu no mar e o líder saiu soltando fumaça, desviando rumo ao USS St. Lo, outro porta-aviões. Eram 10h47 de 25 de outubro de 1944 quando o avião de Seki se desintegrou no convés do St. Lo. O caos tomou conta: uma série de explosões estremeceu o navio de 156 m. Os feridos foram primeiro baixados com cordas ao mar, depois simplesmente atirados do convés. Em 30 minutos, o incêndio atingiu o paiol principal e o porta-aviões sofreu uma explosão catastrófica, indo a pique. Ao preço de um piloto japonês, morreram 140 americanos.


Nem pelo Japão, nem pelo Imperador.

Nove dias antes, o vice-almirante Takijiro Onishi, velho aviador naval que havia se oposto ao ataque a Pearl Harbor, convocou uma reunião de oficiais. Como comandante da Primeira Frota Aérea da Marinha Imperial Japonesa, anunciou seus planos de defesa: "Só existe uma forma como nossa força minúscula será eficiente num grau máximo. É organizar unidades de ataque suicida compostas de caças A6M Zero armados com bombas de 250 kg, com cada avião devendo colidir num mergulho contra um porta-aviões inimigo... O que vocês acham?"

Os militares conheciam bem a gravidade da situação. Na Batalha do Mar das Filipinas pela posse das Ilhas Marianas, em apenas dois dias, 19 e 20 de junho de 1944, os japoneses perderam cerca de 600 aviões, num episódio que ficou conhecido entre os pilotos americanos pelo sarcástico título de Great Marianas Turkey Shoot, a "Grande Caçada ao Peru das Marianas". Quando os japoneses começaram a guerra em Pearl Harbor, em dezembro de 1941, os Mitsubishi AM6 Zero eram um grande desafio aos norte-americanos, por serem mais ágeis e manobráveis. A introdução do F6F Hellcat, em 1943, muito superior ao Zero ou qualquer outro avião japonês, além do uso de radar, novidades táticas e simples vantagem numérica, fruto de uma indústria intacta, destruíram qualquer chance de os japoneses disputarem o domínio aéreo dos EUA. Na Batalha de Formosa, entre 10 e 20 de outubro de 1944, os japoneses perderam mais 500 aviões. "Quando Onishi chegou às Filipinas, descobriu que tinha menos de 100 aviões operacionais", afirma David Sears em At War with the Wind (sem tradução). Sears descreveu o que se passou a seguir na reunião: "Ali estava a oportunidade de apagar a vergonha. Sacrificar um piloto e um avião pela destruição de um navio com uma equipe de 3 mil homens e mais de 50 aviões. Ainda que o estado de espírito entre a plateia de Onishi provavelmente variasse entre entusiasmo feroz, resignação estoica e puro terror, os que finalmente falaram pediram para organizar as forças eles mesmos". Os oficiais fizeram os preparativos, mas nenhum foi voluntário. Coube ao tenente Seki, um instrutor de voo, liderar o primeiro ataque. Daí a provocação em suas palavras: seus superiores eram os covardes que ficaram vivos.

Não foi a única rebeldia do primeiro kamikaze. O tenente foi entrevistado pelo jornalista Onoda Masahi, em preparação para a avalanche de propaganda oficial que se seguiria. Masahi planejava incluir em seu texto o lado humano dos pilotos, e conseguiu: "Se é uma ordem, eu vou. Mas não irei morrer pelo imperador ou pelo Império Japonês. Vou morrer por minha amada esposa. Se o Japão perder, ela pode acabar estuprada pelos norte-americanos. Estou morrendo por quem mais amo, para protegê-la", afirmou Seki, que foi além. "O futuro do Japão é sombrio quando se é obrigado a matar um de seus melhores pilotos." Obviamente, nada disso foi publicado pela imprensa japonesa. O tenente e o resto de sua esquadrilha ganharam placas comemorativas no santuário de Yasukini, o que os tornava, dentro do xintoísmo oficial do Estado, espíritos guardiães da pátria, semideuses honrados pela visita do imperador duas vezes por ano - assim como todos os outros 3 843 pilotos que se seguiriam a eles. Não há consenso sobre o número exato de pilotos suicidas, estes são de Kyomi Morioka, da Universidade de Tóquio. O santuário lista 5 843.


A cultura da morte e seus descontentes

O bushidô, o caminho do samurai, sempre foi um componente importante da cultura japonesa, codificado em clássicos do Período Tokugawa (1603-1867) como Hagakure, de Yamamoto Tsunemono e O Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi. Mas seus ensinamentos se destinavam, um tanto obviamente, aos samurais - categoria que foi extinta no início da Era Meiji (1868-1912). Em 1899, o economista, diplomata e escritor Inazo Nitobe lançou, em inglês, Bushido: The Soul of Japan (sem tradução no Brasil). Destinado a apresentar o Japão ao mundo, quando traduzido para o japonês tornou-se a maior expressão do novo regime. Nitobe, cristão que havia estudado nos EUA, transformou o que eram ideais de uma classe guerreira na ideologia de um Estado militarista, que assumiria feições claramente fascistas nos anos 20.

É de imaginar que Seki não gostaria de saber que sua imagem destemida, reproduzida em inúmeros artigos de jornal e peças de propaganda, serviria para promover tal ideologia, a senha para o suicídio de milhares de compatriotas. Muitos kamikazes eram adeptos convictos do culto à morte promovido pelo Estado. Mas a relutância irreverente de Seki estava longe de ser raridade. Em entrevista a AVENTURAS NA HISTÓRIA, em 2008, o sobrevivente Tokio Mao mostrou suas próprias razões: "Não, nada de glória ao imperador. Era acabar com a guerra. E ter uma morte com honra!" Os diários desses pilotos, mais vítimas que algozes do Império, revela personalidades muito mais complexas, perturbadas pela ideia de morte. Alguns eram inimigos declarados do sistema político do Japão.

A imagem dos kamikazes no Ocidente, um bando de fanáticos se matando pelo seu deus-imperador, que frequentemente é comparada aos homens-bomba islâmicos contemporâneos, é fruto de uma "parceria" entre a propaganda japonesa e a imprensa ocidental. Os japoneses da época recebiam apenas as partes "construtivas" dos relatos kamikazes, geralmente seus testamentos, escritos para serem lidos por autoridades após a morte - que contêm loas ao imperador, ao yamato damashii (o espírito japonês), e poesias de morte mencionando a sakura, a flor de cerejeira, o símbolo nacional cujas pétalas, que caem em poucos dias, significavam a fragilidade da vida do soldado - um sentido em grande parte construído pelo Estado, segundo a antropóloga Emiko Ohnuki-Tierney, da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), autora de livros sobre os kamikazes. Ela rejeita a comparação com os homens-bomba islâmicos. "Os kamikazes eram soldados de uma nação em guerra, não indivíduos. Eram recrutados, não voluntários, que recebiam ordens para morrer. E nunca foram usados contra alvos civis."

Do outro lado do Pacífico, a imprensa dos EUA trouxe os primeiros relatos dos kamikazes em abril de 1945, após meses de censura pelos militares. Os jornalistas não só inflaram a imagem de fanatismo como, de certa forma, criaram a expressão. O nome das unidades era tokubetsu kõgekitai (unidade de ataque especial), geralmente abreviado para tokkõtai. As unidades da marinha ganhavam o nome de shinpu tokubetsu kõgekitai. Shinpu quer dizer "vento divino", as tempestades que salvaram os japoneses da invasão mongol duas vezes, em 1274 e 1281 - a Marinha japonesa acreditava que os pilotos suicidas salvariam o país dos novos mongóis, os norte-americanos, bárbaros sem cultura que acabariam com o país, tornando o sacrifício uma questão mais de morrer antes, de forma gloriosa, que depois, acuado dentro das próprias fronteiras. "Kamikaze" é a leitura em japonês popular dos mesmos ideogramas, que não era usada pelos japoneses, mas pelos militares americanos. A imprensa ocidental tornou o termo tão popular que hoje ele é usado no Japão.


Um passo adiante

A imensa maioria dos kamikazes era formada por estudantes, recrutados de universidades antes do início da ação, principalmente a partir de dezembro de 1943, quando 6 mil foram removidos das salas de aula em apenas três dias. Antes ou depois do início do programa, ninguém era convocado para se suicidar. A posição oficial do governo japonês era que todos os kamikazes eram voluntários. "A operação tokkõtai era uma garantia de morte e o alto oficialato japonês, hipocritamente, decidiu não torná-la um programa oficial da Marinha ou Exército, onde ordens eram dadas em nome do imperador", escreveu Emiko em Kamikaze, Cherry Blossoms and Nationalism. Mesmo para quem se voluntariava, a decisão estava longe de ser uma alternativa totalmente livre.

O treinamento era brutal. A tropa apanhava por qualquer motivo. Para "formar o caráter" ou simplesmente por causa da inveja dos sargentos, que consideravam os soldados universitários filhinhos de papai. Entre as razões para apanhar estava não saber recitar o Decreto Imperial ao Soldado, que terminava com palavras sombrias: "Entendam que a obrigação é mais pesada que as montanhas, mas a morte é mais leve que uma pluma". Segundo o relato do historiador e sobrevivente Irokawa Daikichi, no Ano-Novo de 1945, ele não conseguiu sentir o gosto do zoni, a sopa de bolinhos de arroz com que os japoneses costumam comemorar a passagem - porque só percebia o gosto de sangue na própria boca. "Batiam em meu rosto tão forte e frequentemente que meu rosto não era mais reconhecível."

Finalmente, com o espírito quebrado, chegava o dia de se "voluntariar". Os soldados eram chamados a uma sala onde ouviam um discurso patriótico sobre o valor de se sacrifícar pelo imperador. Então eram postos de pé e pedia-se aos voluntários para darem um passo a frente. Raramente alguém desafiava as pressões da autoridade, da ideologia martelada em suas mentes desde a infância e a culpa de continuarem vivos enquanto seus companheiros iam para a morte. O estudante Kenjiro Kuroda se recusou, apenas para ver seu nome publicado na lista de voluntários no dia seguinte, enquanto seu oficial se gabava que todos em sua companhia haviam se candidatado. O cristão Ryu Yamada relatou que foi simplesmente forçado, o que ele considerou um assassinato. E isso não era incomum. "Muitos pilotos kamikazes, tanto no Exército quanto na Marinha, eram apontados como membros de esquadrões suicidas sem sequer ter a chance de se tornarem voluntários. Desses jovens, se esperava que seguissem tais ordens como qualquer outra", afirma o historiador William Gordon, da Universidade Wesleyan (EUA).


A vida dos mortos

Quando o piloto era designado para um grupo tokkõtai, recebia um breve treinamento específico. Ele devia saber quais partes dos navios atingir, principalmente os porta-aviões, os alvos prioritários. A instrução mais importante era para não fechar os olhos na hora de mergulhar - muitos kamikazes atingiam a água ao ceder ao instinto. Depois disso, eram meses de espera até que chegasse o momento do voo fatal.

Ainda que a propaganda japonesa mostrasse os pilotos sempre serenos e sorridentes em seus momentos finais, a verdade tinha uma face bem mais humana (veja os depoimentos ao longo desta reportagem). Os pilotos frequentemente caíam em depressão e lutavam internamente para racionalizar suas decisões.

Quando chegava o dia do voo para a morte, os pilotos ganhavam um brinde de saquê, amarravam a hachimaki (faixa) na cabeça, e talvez também o senninbari, um cinto costurado por mil mulheres, cada uma dando um ponto - espécie de amuleto de "corpo fechado" do soldado japonês. Levavam ainda a bandeira japonesa, uma espada e uma pistola - para o caso de falharem e terem de evitar a captura com o suicídio. Se estivesse na época da florada, carregavam ramos de cerejeira. E escreviam poesias, seguindo o exemplo dos samurais condenados a cometer seppuku, o suicídio honroso.

E então decolavam. A maioria pilotava seu próprio Zero, carregado com uma única bomba de 250 kg. Mas foram usados outros modelos de aviões, inclusive bombardeiros com a tripulação completa, além de torpedos tripulados, os kaiten. Nunca era uma viagem tranquila e sem escalas direto para a morte. Assim que detectavam os japoneses no radar, caças norte-americanos partiam dos porta-aviões, mais rápidos, bem armados e em maior número. Os kamikazes até podiam tentar lutar e às vezes contavam com a escolta de caças regulares. Mas, em geral, o melhor que podiam esperar é que o avião resistisse o suficiente para explodir no convés do navio inimigo.

Os japoneses tinham outras cartas. Em 12 de abril de 1945, o destróier Mannert L. Abele estava acompanhado por dois navios de transporte a 130 km a noroeste de Okinawa. Sua função era patrulhar o oceano por radar, justamente para impedir ataques de pilotos kamikazes. No começo da tarde, acabou cercado por aviões japoneses e destruiu quatro que tentaram investir contra ele. Às 14h40, enquanto as baterias estavam distraídas com a última investida kamikaze, um estranho objeto apareceu no céu e mergulhou contra o Mannert, acelerando de forma inimaginável.


Vítimas do sucesso

As baterias antiaéreas simplesmente não conseguiram acompanhar o movimento do bólido, que penetrou na câmara do motor e explodiu, matando a equipe e fazendo o destróier perder o controle de todos os seus sistemas, inclusive o dos armamentos. Um minuto depois, outro objeto idêntico atingiu o navio no casco lateral, partindo-o o em dois e levando ao fundo do oceano a maior parte de sua tripulação.

O Mannert L. Abele foi a primeira vítima do Yokosuka MXY7 Ohka, a tecnologia mais avançada das forças kamikazes. Era uma bomba voadora pilotada, movida a foguete, lançada de bombardeiros Mitsubishi G4M. Podia chegar a 1 040 km/h, levando uma carga explosiva de 1,2 mil kg, quase cinco vezes mais que um kamikaze convencional. O Ohka era impossível de ser interceptado, mas estava longe de ser uma arma milagrosa. A pesada e frágil "nave-mãe" tinha que chegar perto do alvo, já que o Ohka só tinha autonomia para 36 km de voo. Um piloto tinha mais chances de morrer ainda preso nas asas do bombardeiro ou, pior, ser lançado longe demais do alvo, para um voo curto e inútil rumo à morte solitária no oceano. Assim, apenas três outros navios partilhariam o destino do Mannert L. Abele.

Não que os pilotos de aviões convencionais tivessem uma chance muito melhor. As ações nas Filipinas, quando os Estados Unidos ainda não estavam preparados para os ataques, teve apenas 20,8% de acertos - 41% dos aviões suicidas deram meia-volta por falta de combustível, tempo ruim ou simplesmente por não encontrar o inimigo. Em toda a guerra, 11,6% dos 3,3 mil aviões kamikazes acertaram seus alvos, contra 27,5% que voltaram à base. Os kamikazes que retornavam sofriam humilhação dos oficiais, com a habitual violência física, até voar para a morte novamente um outro dia - o fato explica o "mistério" por que usavam capacete e por que é absurda a lenda que afirma que eram fechados com solda na cabine do avião.

Durante toda a guerra, 47 navios norte-americanos foram afundados, pela estimativa do historiador William Gordon. Apenas três deles eram porta-aviões, todos de escolta, relativamente pequenos, desprotegidos e desimportantes. Segundo dados da Força Aérea dos Estados Unidos, 4,9 mil marinheiros foram mortos pelos kamikazes e outros 4,8 mil, feridos.

Os efeitos da campanha são bastante discutíveis. "Acredito que os ataques kamikazes fizeram a maioria dos norte-americanos mais determinada a derrotar o Japão. Especialmente durante a Batalha de Okinawa, alguns poucos marinheiros sofreram mentalmente pelos contínuos ataques suicidas contra navios dos EUA, dia após dia, mas quase todo o pessoal da Marinha tinha moral alta para continuar a derrubar aviões japoneses não importasse quantos fossem enviados", diz Gordon.

A partir de julho de 1945, a intensidade das ações kamikazes diminuiu. Os japoneses começaram a se preparar para a invasão americana, e sua principal arma seriam contra-ataques suicidas. Eles esperavam afundar 400 navios em caso de aproximação - algo não totalmente infundado, já que partiriam de uma distância muito mais próxima, e os últimos modelos do Ohka, movidos a jato em vez de foguete, podiam decolar de terra e tinham maior autonomia.

Mas a invasão nunca ocorreu. Em 26 de julho, os Estados Unidos, Grã-Bretanha e China lançaram a Declaração de Potsdam, ameaçando o Japão de "completa e total destruição" caso não se rendesse. E mostraram o que queriam dizer em 6 de agosto, quando três bombardeiros B-29 cruzaram céus desimpedidos, já que quase todos os aviões japoneses estavam reservados para a ação kamikaze. E assim Hiroshima viveu a maior ação de terror já vista na história. Três dias depois, o mesmo ocorreu em Nagasaki.

A campanha kamikaze tornou o Japão a "vítima ideal" para a bomba atômica. "Os americanos não podiam acreditar que os pilotos japoneses se matavam para destruí-los. Isso deu a eles a crença que os inescrutáveis japoneses não se renderiam até o último cair morto, dando a `desculpa¿ para as bombas atômicas, o que é bem documentado", afirma Emiko Ohnuki-Tierney. "A decisão do presidente Harry Truman de lançar as bombas atômicas me parece adequada por causa das perdas que os japoneses, especialmente por aviões kamikazes e outras armas suicidas, infligiriam aos aliados se tentassem invadir o Japão", diz Bill Gordon.

Em 15 de agosto, o imperador Hirohito anunciou a rendição. Ao ouvir a notícia, o almirante Matome Ugaki vestiu um uniforme sem insígnias e decolou num Yokosuka D4Y. Pelo rádio, transmitiu seu último recado. "Farei um ataque em Okinawa, onde meus homens caíram como flores de cerejeira. Lá irei colidir meu avião e destruir o inimigo arrogante, no verdadeiro espírito do bushido, com firme convicção e fé na eternidade do Japão Imperial. Confio que os membros de todas as unidades sob meu comando irão superar todas as dificuldades do futuro e prosperar na reconstrução de nossa grande pátria, que ela viva para sempre. Longa vida ao imperador!" Ugaki foi encontrado no dia seguinte, nos destroços de seu avião numa praia. É provável que o último kamikaze tenha sido abatido sem atingir seu alvo. No dia seguinte, o inventor da operação kamikaze, Takijiro Onishi, cometeu seppuku. Em sua carta de suicídio, pediu desculpas a todos os quase 4 mil japoneses que se mataram em vão.


Hachiro Sasaki, o marxista: 23 anos, 14 de abril de 1945.

Formado em economia pela Universidade de Tóquio, Sasaki acreditava que a guerra se justificava por ser contra os Estados Unidos e Inglaterra, sedes do capitalismo. Antes de sua última missão, ganhou o privilégio de visitar os pais, mas não contou a eles que havia se voluntariado para uma missão suicida. Como todos os pais de pilotos kamikazes, dias depois eles receberam uma caixa vazia contendo um papel com o nome do filho, e nada mais - os "restos mortais".

"De certa forma, não consigo ficar eufórico com as notícias das vitórias japonesas. Eu sinto ansiedade. Queria saber o que acontecerá ao capitalismo após a guerra. (...) O poder do velho capitalismo é algo do qual não podemos nos livrar facilmente, mas se ele pode ser esmagado pela derrota na guerra, transformaremos um desastre em algo positivo. (...) Lembro-me que os trabalhadores ficam desencorajados ao perceber como os chefes os exploram. Sinto-me tolo por me orgulhar de meu talento como piloto. Os que escaparam por não se qualificarem devem ser os realmente inteligentes."


Ichizo Hayashi, o cristão: 23 anos, 12 de abril de 1945

A história da única experiência de administração comunista do Brasil: Natal, no Rio Grande do Norte, foi governada por revolucionários, na única experiência de administração soviética no Brasil.


Ilustração Sergio Bergocce

Durante quatro dias, o Brasil viveu a experiência de um governo comunista. Foi em 1935, em Natal, no Rio Grande do Norte. Após um levante militar ocorrido no Batalhão do Exército, a capital potiguar caiu nas mãos dos rebeldes, que destituíram os governantes locais dos seus cargos - incluindo o governador do estado e a Assembleia - e assumiram o poder com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), liderado por Luís Carlos Prestes. Sob o lema "pão, terra e liberdade", os revolucionários almejavam dar o pontapé inicial para a instalação de um regime soviético no Brasil.

O levante começou na manhã de 23 de novembro, um sábado. O dia em Natal, que contava com cerca de 40 mil habitantes, começou calmo e prometia poucas novidades. A principal notícia era a formatura de um grupo de contabilistas do Colégio Santo Antônio no Teatro Carlos Gomes, à noite, que contaria com a presença do governador Rafael Fernandes.

No quartel militar do 21º Batalhão de Caçadores (21º BC) o dia também corria tranquilo até que chegou a informação de que o general Manuel Rabello, comandante da 7ª Região Militar, no Recife, havia autorizado o licenciamento de alguns cabos, soldados e tenentes que estavam com tempo vencido na carreira militar e a expulsão de outros, acusados de envolvimento em incidentes de rua ocorridos dias antes em Natal, incluindo assaltos a bondes.

O documento com a ordem de expulsão precipitou um movimento que estava sendo articulado havia vários dias entre lideranças militares e sindicatos locais junto com membros do PCB estadual. O objetivo era apoiar a revolução nacional que estava sendo preparada pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), no Rio.

"Havia uma preparação para o levante sob a direção do Partido Comunista, que atuava no 21º Batalhão de Caçadores e em vários sindicatos locais. Eles apenas aguardavam as orientações do comitê central", afirma Homero de Oliveira Costa, professor de ciências políticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e estudioso da insurreição de Natal. Somando-se a isso, Costa lembra que a cidade já vivia momentos de tensão política desde o ano anterior. "O Rio Grande do Norte teve uma das mais tumultuadas eleições do país, com diversos conflitos de ruas, assassinatos, prisões e repressão. Isso criou uma situação muito tensa no Estado, e em Natal em particular", diz.

Os acontecimentos daquele sábado se precipitaram de tal maneira que não houve tempo nem de avisar a ANL, cujos líderes (incluindo Prestes) aguardavam o melhor momento para eclodir a revolução em nível nacional. Em função das expulsões ordenadas pelo comando militar no Recife, o PCB estadual e os integrantes do Batalhão decidiram dar início ao motim naquele mesmo dia.


Por volta das 19h30, um grupo de militares rebeldes, liderados pelo sargento Quintino Clementino de Barros, rendeu os oficiais de plantão do quartel e, com fuzis apontados para a cabeça dos soldados, ordenaram: "Os senhores estão presos em nome do capitão Luís Carlos Prestes". Não houve resistência e, a partir daí, os revolucionários, liderados por Quintino e apoiados por grupos civis organizados (como o sindicato dos estivadores, que era muito forte na cidade), tomaram o quartel e ocuparam locais estratégicos: o palácio do governo, a Vila Cincinato - residência oficial do governador -, a central elétrica, a estação ferroviária e as centrais telefônica e telegráfica.

Informado sobre a confusão e a organização dos amotinados ainda na cerimônia dos contabilistas, o governador e demais autoridades civis e militares fugiram e se esconderam na casa de aliados, inclusive na do cônsul da Itália no Rio Grande do Norte. No quartel da Força Pública, cuja sede ficava próxima ao batalhão rebelado, ensaiouse uma resistência legalista com policiais fiéis ao governo, vencida pelos militares rebeldes, no momento mais organizados e bem-armados.

Na manhã seguinte, Natal estava completamente dominada. Na residência do governador, sede dos rebelados, formou-se uma junta provisória de governo, autodenominada Comitê Popular Revolucionário, que era formada pelo sapateiro José Praxedes (secretário de Abastecimento); sargento Quintino Barros (Defesa); Lauro Lago (Interior e Justiça); estudante João Galvão (Viação); e José Macedo (Finanças), este último funcionário dos Correios e Telégrafos.

Em seguida, o Comitê Revolucionário começou a tomar medidas práticas. A primeira foi um decreto com a destituição do governador do cargo e a dissolução da Assembleia Legislativa "por não consultar mais os interesses do povo". As tarifas de bondes foram extintas e o transporte coletivo tornou-se gratuito. Na segunda-feira, o comércio e os bancos não abriram. À tarde, foi ordenado o saque dos cofres da agência do Banco do Brasil e Recebedoria de Rendas. O dinheiro foi confiscado em nome do governo revolucionário e parte dele distribuído à população, que adorou a novidade, mesmo sem ter muita noção do que estava acontecendo.


Pura farra

"A população confraternizava com os rebeldes. Era mais uma festa popular ou um carnaval exaltado, do que uma revolução", explica o historiador Hélio Silva em seu livro 1935 ¿ A Revolta Vermelha. "Casas comerciais foram despojadas de víveres, roupas e utensílios domésticos que aquela gente não podia comprar. Houve populares que, pela primeira vez, comeram presunto", de acordo com o historiador.

Um dos líderes do movimento, João Galvão, relatou posteriormente o que aconteceu naqueles dias: "O povo de Natal topou a revolução de pura farra. Saquearam o depósito de material do 21º BC e todos passaram a andar fantasiados de soldado. Minha primeira providência como 'ministro' foi decretar que o transporte coletivo seria gratuito. O povo se esbaldou de andar de bonde sem pagar".


Para se comunicar com a população, um avião foi confiscado no aeroporto e sobrevoou a cidade despejando milhares de folhetos. No curto período em que se mantiveram no poder, os revolucionários também distribuíram o primeiro ¿ e único ¿ número do jornal A Liberdade, impresso nas oficinas da Imprensa Oficial do Estado. Nele, foi publicado o expediente do novo governo e um manifesto, inspirado no programa do PCB e sob o lema "todo poder à ANL".


Cada um por si

Segundo o professor Homero Costa, o pouco tempo em que permaneceram no poder impediu que os revolucionários tomassem outras medidas práticas. "Houve boatos de que na Vila Cincinato estavam distribuindo alimentos à população, o que levou muita gente a se deslocar para lá, mas não era verdade", diz Costa.

Mesmo assim, algumas medidas típicas de regimes de exceção foram tomadas naquele começo de semana, como salvo-condutos para circulação nas ruas e ordens para que o comércio e os bancos funcionassem normalmente, o que, claro, não aconteceu. "Os comerciantes foram orientados a negociar como de costume, sem estocarem alimentos para elevar os preços. Caso isso ocorresse, os estoques seriam confiscados pelo governo", diz Elias Feitosa, professor de história do Brasil do Cursinho da Poli, lembrando que alguns gêneros alimentícios, como o pão, também tiveram o preço reduzido.

O levante não ficou restrito a Natal. Houve uma interiorização do movimento no Rio Grande do Norte rumo a Mossoró e à divisa com a Paraíba. "Foram formadas três 'colunas guerrilheiras' que ocuparam 17 dos 41 municípios do estado, destituindo prefeitos e nomeando outros", diz Homero Costa. Pequenas localidades, como São José de Mipibu, Ceará Mirim e Baixa Verde foram ocupadas sem resistência e os prefeitos substituídos por simpatizantes da ANL. Agências bancárias e do governo (as coletorias de renda) foram saqueadas e o dinheiro enviado para a capital. Na terça-feira, a intentona potiguar começou a revelar sua fragilidade com a movimentação de tropas do Exército da Paraíba e de Pernambuco rumo a Natal para debelar o movimento e restabelecer a ordem.

Em uma localidade chamada Serra do Doutor, um dos grupos da ANL foi preso por tropas leais a Getúlio Vargas. Informados de que tropas federais entrariam em Natal e com a possibilidade de bombardeamento aéreo, os líderes do "governo revolucionário" fugiram na base do cada um por si. Um deles, Praxedes, viveu foragido durante anos. Os demais foram capturados e enviados para o Rio de Janeiro com outros presos políticos, como o escritor Graciliano Ramos.

O mesmo aconteceu nas cidades do interior. Com a fuga, os militares enviados pelo governo federal não tiveram dificuldades de controlar a situação. O governador Rafael Fernandes foi reconduzido ao cargo e, a partir de quarta-feira, dia 27 de novembro, a vida voltou ao normal na cidade que, durante cerca de 90 horas, abrigou, como escreveu Hélio Silva, "o primeiro, único e fugaz governo soviete na história do Brasil."


No mesmo dia em que o "governo comunista" era encerrado no Rio Grande do Norte, o movimento tenentista deflagrava, no Rio de Janeiro, uma insurreição para derrubar o presidente Getúlio Vargas e instaurar um regime comunista no Brasil. Liderado por Luís Carlos Prestes, o levante ficou conhecido como Intentona Comunista, ou Revolta Vermelha. Os amotinados se rebelaram em vários regimentos e batalhões do Rio, mas foram rapidamente sufocados pelas forças de segurança nacional.

A insurreição estava sendo preparada desde o ano anterior. No final de 1934, Prestes, que estava na União Soviética havia três anos, retornou ao Brasil para organizar a revolução comunista. Acompanhado de sua mulher, Olga Benário, militante do partido comunista alemão, eles desembarcaram clandestinamente com os nomes falsos de Antônio Villar e Maria Villar. Além do casal, vieram outros estrangeiros para ajudar na revolução. Entre eles, o argentino Rodrigo Ghioldi e sua mulher, Carmen; o casal alemão Elisa Sabarowski e Arthur Ewert; os belgas Lion Valle e sua mulher, Alphonsine; o alemão Franz Gruber e o norte-americano Victor Allen Baron.

A invenção do alfabeto cirílico: letras que dividem um continente. O cirílico marca as fronteiras culturais e religiosas da Europa.


Em 863, quando os missionários Cirilo e Metódio chegaram à Grande Morávia, a terra ainda estava crivada de flechas e esqueletos. Tinham sido convidados pelo príncipe Rastislav, um eslavo que havia sido posto no trono pelos francos, herdeiros do império de Carlos Magno, e se recusava a cumprir seu papel de marionete. Cinco anos antes, após décadas de combates sangrentos, pilhagens, traições e alianças instáveis, o príncipe havia conseguido um reino só para si, que englobava o território das atuais Repúblicas Checa e Eslováquia. Ele queria que os missionários, que eram irmãos, traduzissem a Bíblia para o eslavo. Cirilo e Metódio perceberam que não tinham instrumentos para a tarefa, pois alguns fonemas não se adequavam às letras ocidentais. Assim, decidiram que precisavam de um alfabeto próprio, que não usasse nem letras gregas nem latinas. Quando deram início à tarefa monumental, não tinham a menor ideia de que se tratava do primeiro passo para criar uma forma diferente de expressão - que acabaria dividindo a Europa para sempre.

Língua bárbara

São Cirilo e seu irmão criaram o glagolítico (do antigo eslavo glagol, "palavra"), com 41 letras e cujo A, simbolicamente, é uma cruz. O príncipe Rastislav queria ser cristão, mas dispensava a tutela dos francos, e o trabalho dos irmãos missionários era uma maneira de se aliar ao Império Bizantino. Constantinopla era a cidade rival que nunca aceitou completamente a primazia do papado em Roma. Pregar em língua bárbara e, pior ainda, usando um alfabeto incompreensível irritou os francos - que competiam com os ortodoxos pela conversão dos eslavos.

Os irmãos foram chamados a Roma para se explicar e ganharam as bênçãos do papa Adriano II para pregar aos eslavos em sua própria língua. Cirilo adoeceu e morreu em Roma, em 869, enquanto seu irmão continuou a missão entre os eslavos. Mas a situação não era mais a mesma. Rastislav havia sido capturado pelos francos e morreria na masmorra em 870. Ainda assim, Metódio prosseguiu desimpedido até o ano de sua morte, 885, quando ascendeu um novo papa, Estevão V, um italiano que assumiu o trono sem esperar a confirmação do imperador dos francos, Carlos III.

Numa manobra para se proteger, o papa cedeu à pressão dos francos e proibiu as missas em língua eslava e o uso do novo alfabeto, mas os padres continuaram trabalhando e criaram uma versão com formas mais familiares aos leitores de grego ou latim. Era o cirílico, batizado em homenagem ao santo que nunca escreveu uma única linha nele - e que acabaria substituindo o glagolítico.

O cirílico teria acabado se dependesse de Roma. Mas os fiéis eslavos se tornaram protegidos do clero bizantino. Em 1054, o patriarca de Constantinopla foi excomungado por um bispo enviado pelo papa. Pagou na mesma moeda e excomungou o bispo. Foi o Grande Cisma do Oriente, que separou para sempre as igrejas Católica Romana e Ortodoxa. Os eslavos que celebravam a missa em sua própria língua ficaram do lado dos bizantinos. Assim, surgiria a grande divisão do mundo europeu, espécie de "cortina de ferro" medieval, refletida em minúsculas diferenças teológicas, mas um abismo cada vez maior em cultura, alianças políticas, história militar e arquitetura. Após a expulsão dos discípulos de Cirilo e Metódio, os eslavos da Morávia se tornaram católicos e passaram a escrever usando o alfabeto latino, como ainda hoje fazem os checos e eslovacos da região, assim como os também católicos croatas e poloneses.



Mapa: Luciana Steckel

Atração do Ocidente

Cristãos ortodoxos, como ucranianos, russos, sérvios e bielo-russos, adotaram o cirílico. Mesmo os romenos, que falam uma língua latina, mas são ortodoxos, escreveriam em cirílico até o século 19. "Por uma questão de cultura e de religião, não haveria razões de passar do cirílico para o latino", afirma Aurora Bernardini, da Universidade de São Paulo (USP).

O cirílico tornou-se um elemento de identidade nos países ortodoxos. Mas é claro que o resto da Europa ainda causava fascínio. Quando o czar Pedro I (1672-1725) tentou modernizar a Rússia, o que, para ele, significava aproximá-la da Europa católica e protestante, forçou oficiais do governo e do Exército a cortar a barba e usar roupas ocidentais, chegando até mesmo a estabelecer um insólito imposto sobre barbas, em 1703, para forçar os cidadãos a aderirem à moda - entre cristãos ortodoxos, o pelo facial era símbolo de devoção, já que os monges faziam (e ainda fazem) votos de jamais se tosarem.

Em 1708, o czar aplicou suas ideias ao alfabeto, introduzindo a "escrita civil", em oposição à religiosa, tradicional. Pedro chamou tipógrafos da Holanda para uma grande reforma, que removeu várias letras obsoletas e acentos gráficos, e deu ao cirílico sua forma atual, com serifas e desenho geométrico, bastante próximo ao latino. Também foram introduzidas as minúsculas e, algumas décadas depois, a letra cursiva.

Com pequenas alterações, o cirílico de Pedro I era usado na Rússia durante a Revolução de 1917. Uma nova reforma foi imposta em 1918, removendo outras três letras. Mas alguns bolcheviques tinham planos mais ambiciosos. Um artigo anônimo no jornal Izvestia, em março de 1919, afirmava: "Devemos adotar o alfabeto latino, que é mais simples e elegante, da mesma forma que mudamos do calendário russo [juliano] para o europeu [gregoriano] e adotamos o sistema métrico". O autor, segundo o historiador romeno Ion Siscanu, era provavelmente Nikolai Bukharin ou Anatoly Lunacharsky, dois dos maiores ideólogos da revolução bolchevique. "A questão da latinização não era uma ideia nova na Rússia", afirma Siscanu. "Os debates sobre a escrita começaram no Império Russo."


Palavras nacionais

Em 1923, os inguchétios receberam uma notícia de Moscou. A língua do povo seminômade finalmente passaria a contar com escrita, no novíssimo "alfabeto de outubro", que seria imposto também aos vizinhos Azerbaijão, Cazaquistão, Ossétia e Chechênia. Essa escrita "revolucionária" vinha a ser apenas as velhas e familiares letras latinas. No começo dos anos 30, 50 das 72 línguas com versão escrita na União Soviética usavam o latino, e não o cirílico de Moscou. "O alfabeto latino era um instrumento para estender a revolução socialista a uma escala mundial", afirma Siscanu. O que os intelectuais soviéticos acreditavam é que a revolução, se quisesse ser internacional, deveria abandonar o cirílico. Não apenas as letras os isolavam de seus colegas continentais, mas o cirílico era também a escrita da Igreja Ortodoxa e do velho Império Russo, que chegou a tentar impô-lo à Polônia, no século 19.

A busca pela identidade de William Shakespeare


Intrigas, paixões, discórdias e polarizações. O que parece descrição de uma peça de William Shakespeare é, ironicamente, parte dos tons shakespearianos do debate sobre a identidade do autor de sua obra. Duvidar que o filho de um fabricante de luvas de Stratford-Upon-Avon é o mesmo gênio por trás de clássicos como Hamlet e Romeu e Julieta não é novidade. Mas os últimos anos trouxeram uma intensificação de argumentos. Em 2011, Hollywood embarcou de vez na onda cética com Anônimo. Pelo argumento do filme, Shakespeare era apenas o testa de ferro do verdadeiro escritor talentoso, Edward de Vere, o 17o Barão de Oxford. Em abril deste ano, o contra-ataque veio na forma de Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, uma coleção de ensaios reunindo alguns dos mais renomados estudiosos da obra do bardo na forma de um detalhado desmanche dos argumentos dos que duvidam da versão oficial dos fatos.

Assim como Montéquios e Capuletos, a questão da autoria também se divide em clãs tão passionais como os dos amantes da tragédia. Stratfordianos são os que defendem o status quo. Os oxfordianos advogam a causa de De Vere. O cenário se complica porque existem subdivisões entre os céticos, desde os que acenam com candidatos mais polêmicos a autor das peças e sonetos, como o poeta Francis Bacon, a acadêmicos que apenas levantam dúvidas sobre a história oficial - como é o caso de Bill Leahy, coordenador de um programa de pós-graduação em estudos autorais de Shakespeare da Universidade de Brunel, em Londres. "Existem razões suficientes para questionarmos se William Shakespeare de Stratford-Upon-Avon foi capaz de produzir esse imenso volume de peças e sonetos. Isso por si só é uma razão para estimularmos o debate e o estudo, cumprir nosso dever como acadêmicos", afirma o expert em literatura do Período Elizabetano (o reinado de Elizabeth I, entre 1558 e 1603).

O problema é que colegas de Leahy não costumam receber com seriedade argumentos questionando a linha oficial. Stanley Wells, presidente do Shakespeare Birthplace Trust, a ONG que cuida do legado do poeta em Stratford-Upon-Avon, classifica o ceticismo como mera teoria conspiratória. Wells guardou mágoa especialmente do grupo de acadêmicos, atores e intelectuais que assinaram um manifesto online com apoio às teorias anti-stratfordianas. "Esse questionamento absurdo deixou de ser obra de amadores para se infiltrar em círculos mais sérios e isso é preocupante", afirma Wells, autor de vários livros sobre a obra de Shakespeare.

Mas há razão para dúvidas? O problema é a falta de documentos sobre William Shakespeare. O pouco que se sabe sobre o homem que nasceu em Stratford é que viveu entre 1564 e 1616 e ganhou dinheiro trabalhando como ator, sócio do Globe Theatre em Londres e até como comerciante de grãos. Nenhum de seus manuscritos sobreviveu. O mais importante documento ligado a ele é o Primeiro Folio, uma antologia impressa de 36 peças publicadas em 1623 com a assinatura de Shakespeare e o mais antigo retrato do homem de Stratford.

Poucos registros

Para alguém tão prolífico com a pena, a ausência de uma profusão de documentos ajuda a alimentar o ceticismo. Ainda mais porque um dos poucos registros deixados por William Shakespeare são seis assinaturas em que seu sobrenome, por sinal, é soletrado de maneiras diferentes, o que faz com que muitos anti-strat-fordianos usem as discrepâncias como evidência de que o filho do fabricante de luvas não teria cacife para produzir tamanho material. "Há estudos mostrando que o autor das peças e sonetos teria um vocabulário composto de 17 mil a 29 mil palavras. Me parece um pouco improvável que alguém com origens mais humildes no Período Elizabetano tivesse capacidade intelectual de produzir tamanha obra", afirma o jornalista Mark Anderson, autor de Shakespeare by Another Name ("Shakespeare com outro nome", em tradução livre), livro de 2006 que defende a causa de De Vere.

Oxfordianos têm boas suas razões para defender o barão. O argumento principal é que só alguém como De Vere, com enorme trânsito na corte, poderia exibir o conhecimento sobre bastidores da nobreza que tanto permeia as peças de Shakespeare envolvendo reis e aristocratas. Mais interessante é o fato de que o barão viveu na mesma Itália que é palco de alguns dos mais populares textos shakespearianos, como a Verona de Romeu e Julieta e a cidade de O Mercador de Veneza, funcionando como uma espécie de embaixador de Elizabeth I.

"Parece-me um nível de conhecimento fora de comum para alguém que, de acordo com o que há de registros oficiais, jamais saiu da Inglaterra, enquanto existe extensa evidência da passagem de De Vere pela Itália. Ele esteve nas dez cidades que Shakespeare cita em sua obra", diz Anderson. O barão também foi um notório mecenas das artes, dono de duas companhias teatrais, além de escrever poemas. Mas De Vere morreu em 1604 e as peças continuaram aparecendo. Uma delas foi A Tempestade, que de acordo com estudiosos se baseou em um famoso naufrágio de 1609, envolvendo uma missão de povoamento enviada aos territórios hoje conhecidos como Estados Unidos.

Céticos também apontam para a mediocridade do testamento de Shakespeare. Escrito em linguagem nada poética, o documento sequer menciona livros, poemas ou as 18 peças que ainda não tinham sido publicadas na época de sua morte. Seu funeral tampouco foi registrado com grandes demonstrações públicas de emoção, e a primeira homenagem escrita só veio justamente na capa do Primeiro Folio.

"É essa falta de conexões do homem com a obra que tem de ser abordada. Todos os autores importantes contemporâneos de Shakespeare deixaram o que se pode chamar de trilha de papel. Cristopher Marlowe é um exemplo, embora sua produção tenha sido bem menor que a do bardo. Também incomoda que um homem tão letrado como Shakespeare não tenha escrito um grande volume de cartas, ainda mais quando foi morar em Londres e deixou a família em Stratford", diz Bill Leahy. No entanto, o próprio Leahy concorda com uma questão crucial. Diferentemente dos tempos modernos, o papel no século 16 não era um produto barato, apesar de a invenção da imprensa por Gutemberg ter derrubado em mais de 300 vezes os custos de produção de um livro. Documentos e afins eram "reciclados", o que também ajuda a explicar, por exemplo, a ausência de materiais como o histórico escolar de Shakespeare.

Isso porque para alguns acadêmicos também há um conflito de classes na discussão. Paul Edmondson, um dos diretores do Birthplace Trust e que coeditou Shakespeare Sem Sombra de Dúvida, critica o que vê como preconceito na causa oxfordiana. "O que mais me incomoda em tudo isso é termos que combater o argumento de que alguém da classe trabalhadora não poderia ter produzido literatura de alto nível. Isso não é apenas historicamente incorreto, mas preconceituso", diz Edmondson.

Coautoria

Uma das experts recrutadas para o livro foi Carol Chillington, pesquisadora da Universidade de Warwick especializada na história do sistema educacional do Reino Unido. É dela que vem uma preciosa análise do currículo das escolas secundárias do Período Elizabetano. De acordo com seus estudos, alunos desses estabelecimentos não só tinham uma grade de disciplinas que incluía o latim, mas também uma lista de leitura de obras clássicas que hoje equivaleria a de uma ementa universitária.

Outro trunfo dos stratfordianos é uma análise feita pelo linguista David Kathman, especialista em dialetos arcaicos do inglês. Seu veredito é que os textos estão repletos de regionalismos relacionados a Warwickshire, onde fica Stratford-Upon-Avon. "Também temos análises de padrão métrico dos versos escritos por De Vere e por Shakespeare que revelam a impossibilidade de uma mesma pessoa ter escrito ambos", afirma Edmondson.

A polêmica ajudou a revelar detalhes interessantes não apenas sobre William Shakespeare, mas também sobre seus métodos de trabalho. Há um ano, duas acadêmicas da Universidade de Oxford, Laurie Maguire e Emma Smith, publicaram um estudo em que provaram que Shakespeare não escreveu sozinho a peça Tudo Está Bem Quando Termina Bem - a dupla até nomeou o escritor e dramaturgo Thomas Middleton como coautor. Smith garante que não foi um "a-rá" para os céticos, mas uma mostra de como entender a questão da autoria.

"O estudo ajuda a mostrar um quadro em que autores escreviam de modo muito mais colaborativo no Período Elizabetano do que se pode imaginar hoje. Trabalhavam de uma forma bem diferente do que imaginamos e romantizamos", afirma Smith. Mais do que celebridades, escritores do século 16 tinham um perfil mais operário, em que a quantidade ditava o ritmo. Companhias teatrais recorriam a diversos autores para chegar ao texto final de peças. E eles não tinham pudor em pegar emprestado trabalhos alheios. "A noção atual de plágio não se aplica a eras passadas. A apropriação era muito mais tolerada."

Os dois clãs concordam em um ponto: o debate não tem data para acabar. "A não ser que alguém encontre algum documento perdido, não se poderá dizer ao certo, mas nem por isso podemos deixar de questionar pontos duvidosos da versão oficial dos fatos, mesmo que firam interesses financeiros", afirma Bill Leahy. Graças a Shakespeare, Stratford-Upon-Avon recebe 5 milhões de visitantes por ano. Emma Smith, que não participou do projeto stratfordiano comandado por Edmondson, acredita que o questionamento tende muito mais à excentricidade do que a ameaça vista pelo Shakespeare Trust. "A reação exacerbada só serviu de munição para quem fomenta teorias conspiratórias. O meio acadêmico deveria aceitar que uma figura tão poderosa quanto William Shakespeare não teria como deixar de ser alvo de ideias de fantasia."

Quem são os candidatos ao posto de maior poeta e dramaturgo inglês

Cristopher Marlowe