segunda-feira, 27 de julho de 2015

Introdução aos Estudos Históricos.





O quê é História? História é o que o historiador diz do passado. O passado é diferente de História, toda História é uma construção baseada na interpretação do passado que é feita pelo historiador e os fatos passados podem ser vistos de maneiras diferentes (interpretações).

Tempo Histórico: Tentar compreender o outro de acordo com seu tempo, ou seja, colocar-se na visão do individuo que vivia os acontecimentos tratados naquele período da História. Não podemos entender a visão de um legionário romano do século VI como se ele fosse um soldado do exército do Brasil. Temos que nos colocar no tempo e espaço do individuo histórico.

Fatos Históricos: Marcam a transição de um período para outro. Exemplo: 476 d.C, a queda do Império Romano do Ocidente marcou o inicio da Idade Média (476 d.C – 1492 d.C). Em 1789, a Revolução Francesa marcou o fim da Idade Moderna (1492 d.C, queda de Constantinopla – 1789 d.C, Revolução Francesa) e inicio a Idade Contemporânea (1789 d.C – dias atuais). Não existe uma divisão certa da História o que existe são rupturas e continuidades. Os povos que avançam primeiro se viam no dever de inserir os atrasados no seu meio, o que houve na colonização europeia na África e na América.

Dois argumentos da Teoria História: A História constitui um dentre uma série de discursos a respeito do mundo. Esses discursos não criam o mundo, mas dão significado ao mundo. A parte do mundo que a História investiga é o passado. Passado e História são coisas diferentes. Dada à distinção entre Passado e História, como conciliar as duas coisas?  O historiador tenta entender o passado, mas o objeto de investigação está ausente na maioria de suas manifestações, pois só restam vestígios do passado. Contudo, pode muito bem ser que esse esclarecimento sobre a distinção entre passado e História pareça coisa vã. Talvez você pense: “E daí? Que importância tem isso?” Permita-me oferecer um exemplo de por que é importante entender a distinção entre passado e História:

Passado e História: O passado já aconteceu. Ele já passou, e os historiadores só conseguem trazê-lo de volta mediado por veículos muito diferentes, de que são exemplo os livros, artigos, documentários, filmes etc., e não como acontecimentos presentes. O passado já passou, e a História é o que os historiadores fazem com ele quando põem mãos à obra. A História é o ofício dos historiadores. Quando os historiadores se encontram, a primeira coisa que perguntam uns aos outros é: “No que vocês estão trabalhando?” Esse trabalho, expresso em livros, periódicos etc., é o que você lê quando estuda História. Isso significa que a História está, muito literalmente, nas estantes das bibliotecas e de outros lugares. Assim, se você começar a fazer um curso de História espanhola do século XVII por exemplo, não vai precisar ir ao século XVII nem à Espanha; com a ajuda de uma bibliografia (Uma bibliografia é uma lista estruturada de referências a livros ou outros documentos, designadamente artigos de periódicos, com características comuns, como por exemplo, o mesmo autor ou o mesmo assunto), vai, isto sim à biblioteca. É ali que está a Espanha do século XVII, catalogada, pois aonde mais os professores poderiam mandar você estudar? Claro, você poderia ir a outros lugares onde é possível encontrar outros vestígios do passado – por exemplo, aos arquivos espanhóis. Mas, aonde que vá, sempre terá de ler/interpretar. Essa leitura não é espontânea nem natural. Ela é aprendida (ou seja, dotada de significado) por outros textos. A História (historiografia) é uma construção linguística intertextual (feita por meio de vários textos, vindo de fontes diferentes).

Não quero dizer com isso que nós simplesmente inventamos histórias sobre o mundo ou sobre o passado. Pelo contrário ainda que tenhamos essa vasta gama de interpretações, também possuímos o estudo de campo na História, aonde o historiador vai de encontro a locais históricos, sítios arqueológicos e áreas de patrimônio histórico e cultural aonde o mesmo tem acesso a fontes matérias, mas não existirá uma interpretação do passado 100% neutra, pois cada historiador possui suas linhas pensamento e influências de sua própria realidade.


Pré-história do Rio grande do Sul


O perfil geográfico do Rio Grande do Sul foi formado por sucessivas transformações que iniciaram há cerca de 600 milhões de anos. Esse território já foi um mar, já foi um deserto, e em várias regiões aconteceram soterramentos massivos por derrames de lava. Crê-se que somente há dois milhões de anos a geografia se definiu mais ou menos como hoje a conhecemos, quando se fixou a faixa arenosa do litoral. A vida na pré-história do Rio Grande do Sul foi rica em espécies animais e vegetais.

Há apenas cerca de 12 mil anos antes do presente (AP) iniciou a ocupação humana, com a chegada de grupos de caçadores-coletores vindos do norte.Várias regiões da América do Sul nesta época já haviam sido povoadas, algumas ao que parece desde alguns milênios antes, por populações de origem asiática. A tese predominante é que elas tenham originalmente cruzado o Estreito de Behring, no extremo norte da América do Norte, que então estava seco por causa de uma glaciação global, migrando em seguida para o sul, ocupando neste percurso muitos espaços ao longo de gerações.

Os pioneiros que chegaram no território do Rio Grande do Sul encontraram uma região bastante diferente da que hoje vemos. Em 12 mil anos AP, a glaciação, que cobrira de gelo toda a Patagônia (região ao sul da Argentina atual) e esfriara o clima global, começava a regredir, e o clima da região, mais seco e frio do que no presente, se aquecia e umedecia. No entanto, provavelmente a neve ainda caía na região todos os invernos. O nível do mar subia, ao derreter o gelo glacial que se acumulara no mundo, e inundava a planície litorânea. A vegetação local provavelmente era esparsa, composta principalmente de savanas, com matas apenas nas terras altas e nas margens dos rios. A fauna local também era outra, composta de muitas espécies gigantes, como os milodontes, gliptodontes e toxodontes.

A penetração humana deu-se aparentemente através da fronteira oeste, ao longo do rio Uruguai, onde o estado hoje faz divisa com a Argentina e o Uruguai. No município de Alegrete, localizado nesta área, às margens do rio Ibicuí, foi encontrado o sítio arqueológico com vestígios humanos mais antigo do estado, cuja datação o situou com 12.770 anos. Esses primeiros povos, que compartilhavam de uma mesma cultura material, conhecida como tradição Umbu, viviam da caça e da coleta nas planícies do pampa, entre seus campos abertos e matas ciliares. Eram nômades, e devem ter estabelecido acampamentos temporários de acordo com a abundância sazonal de determinados recursos naturais, seguindo rotas de migração de animais ou épocas de amadurecimento de vegetais comestíveis.

Deixaram registros relativamente pobres. Os sítios arqueológicos incluem vestígios de assentamentos, restos de alimentação como ossos de animais e sementes, além de adornos pessoais e artefatos líticos como pontas de flecha e lança em pedra lascada, boleadeiras, cortadores, raspadores e outras ferramentas. Sua cultura predominou por cerca de 11 mil anos, ainda que exibisse adaptações regionais ao variado cenário do território, que se compõe de diferentes tipos de ecossistemas.

Deve ser lembrado que as mudanças climáticas que a região atravessou ao longo de milênios determinaram importantes modificações na composição da flora e da fauna, às quais as populações humanas precisaram se adaptar, e isso se refletiu em variações em seus costumes e culturas. Durante o ótimo climático, um período de importante elevação nas temperaturas globais ocorrido a partir de 6 mil anos AP, esses povos passaram a colonizar as matas das serras e a subir o planalto. Aparecem gravuras rupestres e ferramental adaptado ao trabalho com madeira, especialmente machados bifaciais. Formava-se ali a chamada tradição Humaitá.

Enquanto isso, se completava a conquista do litoral, formando-se uma cultura específica, a tradição Sambaqui, adaptada à vida junto ao mar e nas planícies costeiras. São característicos dessa tradição os depósitos de conchas, carapaças de crustáceos e restos de peixes que lhe deram o nome, os sambaquis, onde também são encontrados enterramentos e artefatos indicativos de sua associação com o mar, tais como anzóis e pesos de redes. Também se encontram indícios de práticas agrícolas rudimentares, sugerindo que eram sedentários pelo menos em parte do ano. Outras características que os distinguem são os assentamentos sobre colinas artificiais baixas, conhecidas como cerritos, formadas em zonas alagadiças da planície costeira.

Por volta de 3 mil anos AP o clima esfriou novamente e se estabilizou em uma condição semelhante à do presente, produzindo novas adaptações na vida selvagem e nas culturas humanas que floresciam. Nas serras e no planalto, onde o clima permaneceu relativamente frio, com nevadas e geadas frequentes, os povos da tradição Humaitá, que colonizaram a área durante o ótimo climático, precisaram se adaptar, aparecendo então típicos abrigos subterrâneos cobertos de palha, que podiam se organizar em aldeias com várias unidades.

Pouco mais tarde, coincidindo com o início da era cristã, chega a segunda grande onda humana a atingir a região, composta de indígenas Guaranis procedentes da Amazônia. Cogita-se que eles também devem ter sido impelidos à migração pelas mudanças climáticas globais. Eles tinham uma desenvolvida cultura agrícola, domesticavam animais e dominavam a técnica da terracota e da pedra polida. Colonizaram os vales florestados da depressão central, o litoral e parte das serras, evitando porém as regiões mais altas e frias, e pouco avançaram sobre o pampa, já que preferiam climas mais quentes e o ambiente florestal a que estavam acostumados no norte, mas sua influência cultural foi mais ampla. Seus sítios se distinguem das outras tradições pela forma dos assentamentos, em aldeias mais estáveis e estruturadas, e pela abundância de artefatos em pedra polida como pontas de flecha, machados, maceradores, e vasos em cerâmica de diferentes formatos e decoração, técnicas que se observa doravante aparecer nos sítios de outros grupos. A sua influência também se revelou na expansão da agricultura.

Outro grupo a descer do norte junto com os guaranis foi o dos Jês, de cultura similarmente desenvolvida, deixando uma marca maior no planalto, onde primeiro influenciaram os povos da tradição Humaitá e logo os suplantaram. Mas quando o Brasil foi "descoberto", em 1500, quase todos os índios do estado, que somavam de 100 mil a 150 mil na estimativa dos estudiosos, já eram Guaranis ou estavam misturados a eles. Os grupos menos afetados por essa invasão foram os Jês do planalto médio, e os Charruas e Minuanos, do pampa.