sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Os Deuterocanônicos nas bíblias protestantes antigas - A História que os protestantes não querem saber.




Há alguns meses, publicamos duas matérias mostrando como Bíblia de Genebra e a KJV (bíblias protestantes antigas) traziam os livros deuterocanônicos entre seus livros (embora como apêndice), mas que mostravam e referenciavam as citações que os autores do Novo Testamento faziam a estes 7 livros rejeitados pelo protestantismo.

A seguir estão as referências que várias outras bíblias protestantes inglesas antigas faziam aos livros deuterocanônicos mostrando que os livros e autores do Novo Testamento os citavam da mesma forma que as KJV e Genebra. Fizemos uma seleção de apenas algumas passagens dos deuterocanônicos que são referenciadas nos textos do Novo Testamento destas bíblias, são elas: Baruc 3, 38; Sabedoria 2; Sabedoria 7, 26, Eclesiástico 24, 29 e II Macabeus 7.
Bibia de Myles Coverdale
Deuterocanônico => NTNT => Deuterocanônico
Bar 3, 38 faz referências a João 1
Sabedoria 2 a Mateus 27
Sabedoria 7 a Hebreus 1
João 1, 14 faz referência a Baruc 3
Mateus 27, 43 a sabedoria 2
Hebreus 1, 3 a Sabedoria 7
Bíblia de Mateus 1537 
Judite, Tobias, sabedoria sem ref.
Baruc 3, 38 a João 1

A Bíblia de Taverner 1539 
Sabedoria 2 a Mateus 27
Sabedoria 7 a Hebreus 1:3
Baruc 3, 38 a João 1
A Grande Bíblia 1541
Baruc 3:38 a João 1
Mateus 27, 42 a Sabedoria 2
João 1, 14 a Baruc 3, 38

A Bíblia dos Bispos 1568 
Baruc 3:38 a João 1
Mateus 27, 40 a Sabedoria 2
João 1, 14 a Baruc 3
Hebreus 1, 3 a Sabedoria 8 (sic)
A bíblia de Genebra 1560
N/A
Mateus 27, 43 a sabedoria 2
João 6, 35 a Eclesiástico 24, 29
Hebreus 1, 3 a Sabedoria 7, 26
Hebreus 11, 35 Referência 2 Macabeus 7
A bíblia de Genebra 1583 
Sabedoria 2, 18 a Mateus 27, 42
Sabedoria 7, 26 a Hebreus 1, 3

João 6, 35 a Eclesiástico 24, 29
Hebreus 1, 3 a Sabedoria 7, 26
Hebreus 11, 35 referencia 2 Macabeus 7
A Bíblia do Rei Tiago 1611 
Sabedoria 2, 18 a Mateus 27, 42
Sabedoria 7, 24 a Hebreus 1:3
Baruc 3, 38 a João 1, 14
Mateus 27, 4 a Sabedoria 2, 18
Hebreus 1, 3 a Sabedoria 7, 26
Hebreus 11, 35 a 2 Macabeus 7

CONCLUSÃO

 A Verdade dos fatos testifica que embora hoje os protestantes neguem que o Novo Testamento cita os livros deuterocanônicos em seus textos, as bíblias protestantes antigas referendam isso e ainda traziam as referências claras mostrando que os autores estavam citando textos destes livros. Assim sendo qualquer protestante que queira negar o óbvio, não nega só a argumentação católica, mas também as próprias versões das bíblias protestantes antigas.

PARA CITAR

MICHUTA, Gary. Apologistas Católicos.  Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/614-os-deuterocanonicos-nas-biblias-protestantes-antigas-a-historia-que-os-protestantes-nao-querem-saber>. Desde:  10/09/2013. Tradutor: Rafael Rodrigues

Livro de Sabedoria

Um dos escritos deuterocanônicos do Antigo Testamento, colocado na Vulgata entre o Cântico dos Cânticos e Eclesiástico.
TÍTULOS

Os títulos mais antigos atribuem o livro a Salomão, o representante hebreu da sabedoria. Na tradução siríaca, o título é: "O Livro da Grande Sabedoria de Salomão"; e no latim versão antiga, o título diz: "Sapientia Salomonis". Os primeiros manuscritos gregos - o Vaticanus, o Sinaiticus, o Alexandrinus - tem uma inscrição semelhante e a dos Padres ocidentais e orientais dos três primeiros séculos geralmente falam de "Sabedoria de Salomão", quando se referindo a quem inspirou o escrito, embora alguns deles usem neste contexto honorífico denominações, tais como ele Theia Sophia (sabedoria Divina), Panaretos Sophia (Toda a virtuosa sabedoria). Na Vulgata, o título é: "Liber Sapientiae", "Livro da Sabedoria". Nas versões não católicas, o título comum é: "Sabedoria de Salomão", em contraposição ao Eclesiástico, que normalmente é intitulado: "a sabedoria de Jesus, o Filho de Sirach".

CONTEÚDO


O livro contém duas partes gerais, os nove primeiros capítulos tratam da Sabedoria sob o seu aspecto mais especulativo e os últimos dez capítulos relacionados com a sabedoria de uma perspectiva histórica. A seguinte linha de pensamento do autor é a especulativa (caps. I-ix). Dirigindo-se aos reis, o escritor ensina que a impiedade é alheia à Sabedoria e castiga aos tribunais da morte (i), e ele expõe e refuta os argumentos contrários dos ímpios: segundo ele, o estado de espírito dos ímpios é contrário ao destino imortal do homem; sua vida está presente apenas no aspecto mais feliz do que o justo; e seu destino final é uma prova incontestável da loucura de seu percurso (ii-v). Ele então exorta os reis de procurar Sabedoria, que é preciso mais para eles do que para o mais comum dos mortais (vi, 1-21) e descreve sua própria experiência feliz na busca e posse da sapiência, que é o esplendor de Deus e é concedida por Ele aos suplicantes sinceros  (vi, 22-VIII). Ele se junta a oração (ix) pelo qual ele próprio pediu que a Sabedoria e Espírito Santo de Deus pudessem ser revelados a ele, e que termina com a reflexão de que os anciãos foram guiados pela Sabedoria - Uma reflexão que faz uma transição natural para a revisão da história antiga de Israel, que constitui a segunda parte de sua obra.  A linha de pensamento do autor nesta parte histórica (ix-xix) também podem facilmente serem apontadas. Ele elogia a sabedoria de Deus (1) para suas relações com os patriarcas de Adão a Moisés (x-xi, 4); (2) para a sua justa, e também misericordiosa, conduta para com os habitantes idólatras do Egito e Canaã (xi, 5-xii); (3) no contraste com a loucura total e a consequente imoralidade da idolatria sob suas diversas formas (xiii, xiv); finalmente, (4), para sua discriminada proteção a Israel durante as pragas do Egito, e na travessia do Mar Vermelho, uma defesa que foi estendido para todos os tempos e lugares.

 

UNIDADE E INTEGRIDADE


A maioria dos estudiosos contemporâneos admite a unidade do Livro da Sabedoria. Todo o trabalho é permeado por um único e mesmo propósito geral, o de dar um aviso solene contra a loucura da impiedade. Suas duas principais partes estão intimamente ligadas por uma transição natural (ix, 18), que não tem de modo algum a aparência de uma inserção editorial. Suas subdivisões, o que pode, à primeira vista, ser considerado diferente para o plano primitivo do autor, são, quando analisada de perto, partes integrantes deste plano: este é o caso, por exemplo, com a seção relativa a origem e as consequências da idolatria (xiii, xiv), na medida em que esta seção é conscientemente preparado pelo tratamento do escritor da sabedoria de Deus nas suas relações com os habitantes idólatras do Egito e Canaã, na imediata subdivisão anterior (xi, 5 xii). Não só não há rupturas observáveis na realização do plano como as expressões favoritas, se convertem na fala e as palavras individuais se encontram em todas as seções da obra, e apresenta uma prova de que o Livro da Sabedoria não é uma mera compilação, mas uma unidade literária.
A integridade da obra não é menos certa que sua unidade. Cada examinador imparcial da obra pode ver facilmente que nada nela sugere que o livro chegou a nós de outra forma do que em sua forma primitiva. Assim como em Eclesiástico, Sabedoria não tem feito nenhuma inscrição semelhante aos que se abram os livros de Provérbios e Eclesiastes; mas é evidente que, no caso da Sabedoria, como no caso de Eclesiástico, esta ausência não é sinal necessário de que a obra é fragmentada desde o começo. Tampouco pode o livro da Sabedoria ser considerado com razão como mutilados no final, ao apresentar seu último versículo, finaliza-se adequadamente para o trabalho segundo foi previsto pelo autor. No que diz respeito a algumas passagens da Sabedoria que alguns críticos têm tratado mais tarde como interpolações cristãs (ii, 24; iii, 13; iv, 1; xiv, 7), é claro que foram estas passagens, como se afirma, sua presença não faria viciar a integridade substancial da obra, e ainda, examinando atentamente, que geram um sentido perfeitamente conforme a estrutura judaica da mente do autor.

 

LINGUAGEM E AUTORIA


Sobre a opinião do antigo título: "Sabedoria de Salomão"; alguns estudiosos têm imaginado que o Livro da Sabedoria foi composto em hebraico, como as outras obras atribuídas a Salomão pelo seu título (Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos). Para fundamentar esta posição apelou-se para os hebraísmos do trabalho; aos seus paralelismos, uma característica distinta da poesia hebraica; ao seu uso constante de partículas simples de ligação (kai, de, gar, oti, etc.), as articulações normais das frases em hebraico; às expressões gregas rastreáveis, como eles pensavam, as más versões de um original hebreu, etc. Engenhosos como estes argumentos podiam parecer, eles não provam nada mais que o autor do Livro da Sabedoria foi um hebreu, escrevendo em grego com uma distinta adição de espírito judeu. Já em São Jeronimo (Praef. En libros Salomonis), foi considerado que não era hebreu, mas grega era a língua original do Livro da Sabedoria, e este veredicto é tão poderosamente confirmado pelas características literárias de todo o texto grego, que pode muito bem saber que a teoria de um antigo original hebraico, ou de qualquer outra origem que não grego, jamais deveria ter sido mantida a sério.
É claro que o fato de que todo o Livro da Sabedoria foi composto em grego exclui sua autoria salomônica. É verdade que, escritores eclesiásticos dos primeiros séculos comumente assumem esta autoria com base no título do livro, aparentemente confirmado por aquelas passagens (ix, 7, 8, 12; cf. vii, 1, 5, viii, 13 , 14, etc), onde quem fala é claramente o rei Salomão. Mas esta visão da questão nunca foi unânime na Igreja Cristã Primitiva, e no decorrer do tempo, foi sugerida uma posição intermediaria entre a sua afirmação e sua rejeição absoluta. O Livro da Sabedoria, dizia-se, na medida em que é de Salomão, uma vez que se baseia em obras salomónicas que agora estão perdidos, mas que foram conhecidos e utilizados por judeus helenistas séculos após a morte de Salomão. Este ponto de vista intermediário é apenas uma fraca tentativa de salvar alguma coisa da autoria salomônica conforme se afirmou em épocas anteriores. "É uma suposição que não tem argumentos positivos a seu favor, e que, em si, é improvável, uma vez que pressupõe a existência de escritos Salomônicos de que não há nenhum traço, e que teria sido conhecida apenas para o autor do livro da Sabedoria "(Cornely-Hagen," Introd. nos Libros sacros, Compendium ", Paris, 1909, p. 361). Hoje em dia, é livremente admitido que Salomão não é o autor do Livro da Sabedoria, "que foi atribuído a ele, porque seu autor, através de uma ficção literária, fala como se ele fosse o Filho de Davi" (Vigouroux, "Manuel Biblique", II, n. 868 Ver também o aviso prefixo do Livro da Sabedoria, na actual edição da Versão de Douai). Além de Salomão, o escritor a quem a autoria do trabalho tem sido mais frequentemente atribuída é Philo, principalmente no terreno de um acordo geral em relação às doutrinas, entre o autor da Sabedoria e Philo, o célebre filósofo judeu de Alexandria (d. Sobre AD 40).
A verdade do assunto é que as diferenças doutrinais entre o Livro da Sabedoria e dos escritos de Philo são tais que se evite uma autoria comum. O tratamento alegórico de Philo das narrações bíblicas é totalmente alheio a estrutura da mente do autor do Livro da Sabedoria. Seu ponto de vista da origem da idolatria entra em conflitos em vários pontos com a do autor do Livro da Sabedoria. Sobretudo, sua descrição da sabedoria Divina revela como a concepção, o estilo e a forma de apresentação, numa fase posterior, do pensamento do Alexandrino do que a encontrada em Sabedoria. A autoria da obra foi por vezes atribuída a Zorobabel, como se este líder judeu pudesse ter escrito em grego; o alexandrino Aristóbulo (Séc II aC.), como se este cortesão pudesse ter investido contra os reis conforme o Livro da Sabedoria (vi, 1; etc); e, finalmente, a Apolo (Hch 18:24), como se isso não fosse uma mera suposição contrária à presença do livro na Cânon Alexandrino. Todas estas variações acerca da autoria provam que o nome do autor é desconhecido (cf. o anuncio de prefixo a Sabedoria na versão Douay).

LOCAL E DATA DE COMPOSIÇÃO


Quem examina atentamente o Livro da Sabedoria pode facilmente ver que o seu autor desconhecido não era um judeu palestino, mas um judeu Alexandrino. Monoteísta como o escritor tem toda a sua obra, ele evidencia uma familiaridade com o pensamento grego em termos filosóficos (he calls God "the Author of beauty": 13:3; styles Providence pronoia: 14:3; 17:2; speaks of oule amorphos, "the formless material" of the universe, after Plato's manner: 11:17; numbers four cardinal virtues in accordance with Aristotle's school: 8:7; etc.), que é superior a qualquer coisa encontrada na Palestina. Seu excelente grego, suas alusões políticas, a coloração dos detalhes locais, sua clara censura a idolatria egípcia, etc. Alexandria, como um grande centro de população judia e pagã, onde o autor sentiu-se chamado a dirigir a sua eloquente advertência contra a esplêndida e aviltante indiferença ao politeísmo e epicurismo com que muitos de seus colegas judeus tinham sido gradualmente e profundamente influenciados. E esta inferência a partir de dados internos é confirmada pelo fato de que o Livro da Sabedoria não é encontrado no Canon do Antigo Testamento Palestino, mas sim no Alexandrino. Teria se originado na Palestina a sua poderosa acusação de idolatria e seu exaltado ensino relativo à vida futura teria naturalmente obtido para ele um lugar dentro do Canon dos judeus da Palestina. Mas, como ele foi composto em Alexandria, o seu valor foi devidamente apreciado e seu caráter sagrado reconhecido apenas pelos conterrâneos do autor.
É mais difícil determinar a data do que o lugar da composição do Livro da Sabedoria. É universalmente admitido que, quando o escritor descreve um período de degradação moral e injusta perseguição sob governantes injustos que estão ameaçados de julgamentos pesados, ele tem em vista a época de Ptolomeu IV ou Philopator (221-204 aC), ou Ptolomeu VII Physicon (145 -117 aC), pois é somente sob estes depravados príncipes que os judeus egípcios tiveram que suportar a perseguição. Mas é reconhecidamente difícil decidir qual destes dois monarcas, o autor da Sabedoria tinha realmente em vista. É até possível que o trabalho "foi publicado após o desaparecimento desses príncipes, pois de outro modo não teriam aumentado sua raiva tirânico" (Lesêtre, "Manuel d'Introduction", II, 445).

 

TEXTO E VERSÕES


O texto original do Livro da Sabedoria é preservado em cinco manuscritos unciais (o Vaticanus, o Sinaiticus, o Alexandrinus, o Ephremiticus, e o Venetus) e em dez cursivas (dois dos quais são incompletos). Sua forma mais precisa é encontrado na Vaticanus (século IV), na Venetus (século VIII ou IX), e a letra cursiva 68. As principais obras críticas sobre o texto grego são as de Reusch (Frieburg, 1861), Fritsche (Leipzig, 1871), Deane (Oxford, 1881), Sweete (Cambridge, 1897), e Cornely-Zorell (Paris, 1910). Dentre as versões antigas da Vulgata, que apresenta a versão latina antiga ligeiramente revista por São Jerônimo. É em geral uma estreita e rigorosa tradução do original grego, com adições ocasionais, algumas das quais provavelmente apontam para leituras primitivas que já não existem no grego. A versão siríaca é menos fiel, e do armênio mais literal, que a Vulgata. Entre as versões modernas, a tradução alemã de Siegfried na de Kautzsch "Apocryphen und Pseudepigraphen des AT" (Tübingen, 1900), e a versão francesa do Abbé ponteira (Paris, 1905), merecem uma menção especial.

 

DOUTRINA DO LIVRO


Como poderia se esperar os ensinamentos doutrinários da redação deste texto deuterocanônico são em essência, as dos outros livros inspirados do Antigo Testamento. O Livro da Sabedoria fala de apenas um Deus, o Deus do universo, e do Senhor dos hebreus. Este Deus é "Aquele que é" (xiii, 1), e sua santidade é totalmente oposta ao mal moral (i, 1-3). Ele é o mestre absoluto do mundo [xi, 22 (23)], que Ele criou para fora da "matéria informe" [xi, 18 (17)], uma expressão platônica, que em nada afirma a eternidade da matéria, mas aponta de volta para o estado caótico descrito em Gênesis 1: 2. Um Deus vivo, Ele fez o homem à Sua imagem, criando-o para a imortalidade (ii, 23), de modo que a morte entrou no mundo só através da inveja do diabo (ii, 24). Sua Providência (pronoia) estende-se a todas as coisas, grandes e pequenos [vi, 8 (7); xi, 26 (25); etc], tendo um cuidado paterno de todas as coisas (xiv, 3), e, em particular, do Seu povo escolhido (xix, 20, ss.). Ele se faz conhecer aos homens através da Sua maravilhosa obra (xiii, 1-5), e exerce sua misericórdia para todos eles [xi, 24 (23), xii, 16; xv, 1], seus próprios inimigos incluído (xii, 8 ss.).
A ideia central do livro é a "Sabedoria", que aparece no trabalho sob dois aspectos principais. Na sua relação com o homem é a sabedoria aqui, como em outros livros sapienciais, a perfeição do conhecimento mostrando-se em ação. É particularmente descrito como residente apenas em homens virtuosos (i, 4, 5), como um princípio solicitando a vontade do homem, como dentro de um dom de Deus (vi, 14, ss.) (Vii, 15; viii, 3, 4), e como concedidas por Ele aos suplicantes sinceros (viii, 21-ix). Através de seu poder, o homem triunfa sobre o mal (vii, 30), e através da sua posse, podem-se garantir para si as promessas de ambos no presente e da vida futura (viii, 16, 13). A sabedoria é para ser valorizada acima de tudo (vii, 8-11; viii, 6-9), e quem a despreza está condenado à infelicidade (iii, 11). Em relação direta com Deus, Sabedoria é personificada, e sua natureza, atributos e operação são nada mais, nada menos do que divino. Ela está com Deus desde a eternidade, o parceiro de Seu trono, e o participante dos Seus pensamentos (viii, 3; ix, 4, 9). Ela é uma emanação de Sua glória (vii, 25), o brilho eterno de Sua luz e o espelho de Seu poder e bondade (vii, 26). A Sabedoria é única, e ainda pode fazer tudo; embora imutável, ela faz novas todas as coisas (vii, 27), com uma atividade superior a qualquer movimento (vii, 23). Quando Deus formou o mundo, esteve presente a Sabedoria (ix, 9), e ela dá aos homens todas as virtudes que eles precisam em cada estação e condição de vida (vii, 27; VIII, 21, x, 1, 21; xi) . A Sabedoria também é identificada como a "Palavra" de Deus (ix, 1, etc), e é representada com eminencia com o "Espírito Santo", a quem uma natureza divina e as divinas operações são igualmente atribuídas (i, 5-7; vii, 22, 23, ix, 17). Doutrinas exaltadas como estas estão em uma conexão vital com a revelação do Novo Testamento sobre o mistério da Santíssima Trindade; enquanto outras passagens do Livro da Sabedoria (ii, 13, 16-18; xviii, 14-16) encontram o seu cumprimento em Cristo, a "Palavra" encarnada, e "a Sabedoria de Deus". Em outros aspectos também, nomeadamente no que diz respeito à sua doutrina escatológica (iii-v), o Livro da Sabedoria apresenta uma preparação maravilhosa para Revelação do Novo Testamento. Os escritores do Novo Testamento parecem perfeitamente familiarizados com os escritos deuterocanônicos (cf. Mateus 27: 42-43, com a Sabedoria 2: 13-18; Romanos 11:34, com a Sabedoria 9:13, Efésios 6: 13-17, com sabedoria 5: 18-19; Hebreus 1: 3, com a Sabedoria 07:26, etc). É verdade que para justificar sua rejeição do Livro da Sabedoria do Canon, muitos protestantes afirmam que em 8: 19-20, o seu autor admite o erro do pré-existência da alma humana. Mas esta passagem discriminada, quando vista à luz do seu contexto, produz um sentido perfeitamente ortodoxo.

PARA CITAR 

GIGOT, Francis. Livro da Sabedoria - Enciclopédia Católica, Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/740-livro-da-sabedoria>. Desde: 21/10/2014 Tradução: Adriano Dias.

2º Livro dos Macabeus

2º LIVROS DOS MACABEUS (Makkabaion B; Liber Secundus Machabaeorum).

Conteúdo
O segundo livro de Macabeus não é, como o nome pode sugerir, uma continuação do primeiro, mas abrange parte do mesmo assunto. O livro (II, 20 XV, 40) é precedido por duas cartas dos judeus de Jerusalém para seus correligionários egípcios (I, 1-II, 19). A primeira (I, 1-10a), datada do ano 188 da era Seleucida (ou seja, 124 a.C), além das manifestações de boa vontade e uma alusão a uma carta anterior, não contém nada além de um convite para os judeus do Egito para comemorarem a festa da Dedicação do Templo (instituído para comemorar a sua reinauguração, I Macabeus 4, 59; 2 Macabeus 10, 8). O segundo (I 10b-II, 19), que não tem data, é do “senado” (gerousia) e Judas (Machabeus) para Aristóbulo, o preceptor ou conselheiro de Ptolomeu (D.V Ptolomeu) (Philometor), e para o judeus no Egito. Ele informa os judeus egípcios da morte de Antíoco (Epifânes) enquanto tentava assaltar o templo de Nanea, e convida-os a juntarem-se aos seus irmãos palestinos na celebrando da festa da dedicação e da recuperação do Fogo Sagrado. A história da recuperação do fogo sagrado é, então, descrita, e em conexão com ela,  a história da clandestinidade do profeta Jeremias do tabernáculo, a arca e o altar do incenso. Depois de uma oferta de enviar cópias dos livros que Judas tinha recolhido após o exemplo de Neemias, que repete o convite para celebrar as duas festas, e conclui-se com a esperança de que os dipersos de Israel em breve poderão estar reunidos na Terra Santa.
O livro em si começa com um prefácio elaborado (II, 20-33), em que o autor depois de mencionar que o seu trabalho é um epítome da história maior em cinco livros de Jason de Cirene, afirma o motivo de ter scrito o livro, e comenta sobre os respectivos deveres do historiador e do resumista. A primeira parte do livro (III-IV, 6) refere-se a tentativa de Heliodóro, primeiro-ministro de Seleuco IV (187-175 a.C), de roubar os tesouros do templo na instigação de um certo Simão, e os problemas causados através deste último indivíduo para Onias III. O resto do livro é a história da rebelião Macabeana até a morte de Nicanor (161 a.C), e, portanto, corresponde a I Mac., I, 11-VII, 50. Seção IV, 7-X, 9, lida com o reinado de Antíoco Epifânio (1 Macabeus 1: 11-6: 16), enquanto a seção x, 10-xv, 37, registra os acontecimentos dos reinados de Antíoco Eupator e Demétrio I (1 Macabeus 6: 17-7: 50) . II Macabeus conseguinte, abrange um período de apenas 15 anos, 176-161 a.C. Mas, enquanto o campo é mais estreito, a narrativa é muito mais abundante em detalhes do que I Macabeus. E envolve muitos detalhes, por exemplo, nomes de pessoas, que não são encontrados no primeiro livro.

Objetivo e Características
Na comparação entre os dois livros de Macabeus, é claramente visto que o autor do segundo não, como o autor do primeiro, escreve a história apenas para familiarizar os leitores com os eventos que agitam do período com o qual ele está lidando. Ele escreve a história com vista à instrução e edificação. Seu primeiro objetivo é exaltar o Templo de Jerusalém como o centro de culto judaico. Isto é resultado das dores que ele o levam a exaltar em todas as ocasiões a sua dignidade e santidade. Isto é “o grande templo”, (ii, 20), “os mais renomados” e “o mais sagrado em todo o mundo” (ii, 23; v, 15), “o grande e santo templo” (xiv, 31 ); Até mesmo príncipes pagãos estimam-o como dignos de honra e glorificam com grandes presentes (iii, 2-3; V, 16; xiii, 23); a preocupação dos judeus no tempo de perigo foi mais para a santidade do Templo do que para suas esposas e filhos (xv, 18); Deus o proteje por interposições miraculosas (iii, XIV, 31 sq.) E pune os culpados de sacrilégio contra ele (iii, 24 sq .; ix, 16; xiii, 6-8; xiv, 31 sq .; xv, 32) ; se Ele permitiu que fosse profanado, foi por causa dos pecados dos judeus (v, 17-20). É, sem dúvida, com este projeto que as duas cartas, que não têm outra ligação com o livro, foram prefixadas para ele. O autor, aparentemente destinada seu trabalho especialmente para os judeus da Dispersão, e mais particularmente para aqueles do Egito, onde um templo cismático tinha sido erigido em Leontopolis cerca de 160 a.C. O segundo objectivo do autor é exortar os judeus a fidelidade à Lei, imprimindo-lhes que Deus ainda está consciente de sua aliança, e que Ele não os abandonará, a menos que primeiro eles o abandonem; as tribulações que enfrentam são um castigo por sua infidelidade, e cessará quando se arrependem (iv, 17; v, 17 e 19, vi, 13, 15, 16; vii, 32, 33, 37, 38; viii, 5, 36; xiv, 15; xv, 23, 24). Pois a diferença de objetivo corresponde a uma diferença de tom e de método. O autor não está satisfeito com os fatos meramente relativos, mas comenta livremente sobre pessoas e atos, distribuindo elogios ou culpa, pois podem merecer quando julgados do ponto de vista de um verdadeiro israelita. A intervenção sobrenatural em favor dos judeus é enfatizada. O estilo é retórico, as datas são relativamente poucas. Como já foi observado, a cronologia da II Macabeus, é ligeiramente diferente da de I Macabeus.

Autor e Data
II Macabeus é, como já foi dito, uma epítome de um trabalho maior feito por um certo Jason de Cirene. Nada mais se sabe deste Jason exceto que, a julgar pelo seu conhecimento geográfico exato, ele deve ter vivido durante algum tempo na Palestina. O autor da epítome é desconhecido. Desde o destaque que ele dá para a doutrina da ressurreição dos mortos, foi inferido que ele era um fariseu. Alguns até já sustentaram que seu livro era um escrito partidário farisaico. Este último, sustentado por poucos, é uma afirmação sem fundamento. II Macabeus não fala mais severamente de Alcimus que i Macabeus e o fato de que ele menciona os sumos sacerdotes, Jason e Menelau, por nome não prova mais que ele seja um escrito partidário farisaico do que a omissão de seus nomes na I Macabeus prova que ser uma produção dos saduceus. Jason deve ter terminado o seu trabalho logo após a morte de Nicanor, e antes do desastre ultrapassou Judas Macabeus, pois ele não só omite aludir à morte daquele herói, mas faz a declaração, o que seria visivelmente falsas se ele tivesse escrito mais tarde, que depois a morte de Nicanor Jerusalém sempre permaneceu na posse dos judeus (XV, 38). O epítome não pode ter sido escrito antes da data da primeira carta, que é de 124 a.C.
Quanto à data exata há grande divergência. Na suposição muito provável que a primeira carta foi enviada com uma cópia do livro, este último seria de aproximadamente da mesma data. Ele não pode, em qualquer caso, ser muito mais tardio, já que a demanda de uma forma abreviada da história de Jason, a que alude o autor no prefácio (II, 25-26), deve ter surgido dentro de um tempo razoavelmente curto após a publicação do referido trabalho. A segunda carta deve ter sido escrita logo após a morte de Antíoco, antes das circunstâncias exatas sobre a questão tornarem-se conhecidas em Jerusalém, portanto, cerca de 163 a.C. Que o Antíoco lá mencionado é Antíoco IV e não Antíoco III, como muitos comentaristas católicos mantém, é claro pelo fato de que sua morte está relacionada em conexão com a celebração da Festa da Dedicação, e que ele é representado como um inimigo da os judeus, o que não é verdade se fosse a respeito de Antíoco III.

Língua Original
As duas cartas que foram dirigidas aos judeus do Egito, que conheciam pouco ou nada de hebraico ou aramaico, foram com toda a probabilidade escritas em grego. Que o próprio livro foi composto na mesma língua, é evidente a partir do estilo, como São Jerônimo já comentou (Prol. Gal.). Hebraismos são em menor número do que seria esperado, considerando o assunto, enquanto expressões e construções gregas são muito numerosas. A origem helenística de Jason, e a ausência no epítome de todos os sinais de que iriam marcá-lo como uma tradução, são suficientes para mostrar que ele também escreveu em grego.

Historicidade
O Segundo Livro dos Macabeus é muito menos pensado como um documento histórico por estudiosos não-católicos do que o primeiro, embora Niese saiu fortemente recentemente em sua defesa.
As acusações levantadas contra as duas cartas não precisam, no entanto, nos preocupar, a não ser na medida em que elas afetam a sua autenticidade, daqui por diante. Estas cartas estão em pé de igualdade com os outros documentos citados em I e II Macabeus; o autor não é, portanto, responsável pela veracidade do seu conteúdo.
A seguir estão as principais objecções com algum fundamento real: (1) A campanha de Lysias, que eu Macabeus, IV, 26-34, coloca no último ano de Antíoco Epifânio, é transferido em II Macabeus XI, para o reinado de Antíoco Eupator; (2) Os ataques judeus em tribos vizinhas e as expedições para a Galiléia e Gileade, representadas em II Macabeus V, tal como decorre da rápida sucessão após a reinauguração do templo, são separados em II Macabeus e colocado num ambiente histórico diferente (viii, 30; x, 15-38; xii, 10-45); (3) O relato feito em II Macabeus IX, difere da de I Macabeus VI em relação à morte de Antíoco Epifânio, que é falsamente declarado como tendo escrito uma carta aos judeus.; (4) A imagem dos martírios em VI, 18-VII, é muito colorida, e é improvável que Antíoco estivesse presente para eles.
Para essas objeções que podem ser respondidas brevemente: (1) a campanha de que fala II Macabeus XI, não é a mesma que a relatada em I Macabeus IV; (2) Os eventos mencionados em VIII, 30 e X, 15 sss, não são narrados em I Macabeus V. Antes da expedição em Galaad (XII, 10 ss) Pode ser considerado como estando fora de seu contexto histórico adequado, que teria que provar que I Macabeus invariavelmente adere a ordem cronológica, e que os eventos agrupados em cap. V ocorreram em rápida sucessão; (3) As duas narrativas da morte de Antíoco Epifânio diferem, é verdade, mas elas se encaixam muito bem uma na outra. Considerando o caráter de Antíoco e a condição em que estava no momento, não é de todo improvável que ele escreveu uma carta aos judeus; (4) Não há nenhuma razão para duvidar de que, apesar da forma retórica a história dos martírios é substancialmente correta. Como o local onde ocorreu é desconhecido, é difícil vê porque razão a presença de Antíoco é negada. Deve notar-se, além disso, que o livro revela um conhecimento exato em uma infinidade de pequenos detalhes, e que são muitas vezes apoiados por Josefo, que não tinha conhecimento dela. Mesmo seus detratores admitem que a porção anterior é de grande valor, e que em tudo o que se relaciona com a Síria o seu conhecimento é extenso e minuto.

Texto e Versões Gregas
O texto grego é normalmente encontrado nos mesmos manuscritos como I Macabeus; ele está faltando, no entanto, no Cod. Sinaiticus, a versão latina na Vulgata é a de Itala. Uma versão mais antiga foi publicada por Peyron e novamente por Ceriani a partir do Codex Ambrosianus. Um terceiro texto latino é encontrado nos manuscritos de Madrid, que contém uma versão antiga do I Macabeus. A versão siríaca é muitas vezes uma paráfrase, em vez de uma tradução.

BIBLIOGRAFIA

GIGOT, Spec. Introd., I (New York, 1901), 365 sq.;
CORNELY, Introd., II (Paris, 1897), I, 440 sq.;
KNABENBAUER, Comm. in Lib. Mach. (Paris, 1907);
PATRIZZI, De Consensu Utriusq. Lib. Mach. (Rome, 1856);
FRÖLICH, De Fontibus Historiae Syriae in Lib. Mach. (Vienna, 1746);
KHELL, Auctoritas Utriusq. Lib. Mach. (Vienna, 1749);
HERKENNE, Die Briefe zu Beginn des Zweiten Makkabäerbuches (Freiburg, 1904);
GILLET, Les Machabées (Paris, 1880);
BEURLIER in Vig. Dict. de la Bible, IV, 488 sq.;
LESÊTRE, Introd., II (Paris, 1890);
VIGOUROUX, Man. Bibl., II (Paris, 1899), 217 sq.;
IDEM, La Bible et la Critique Ration., 5th ed., IV, 638 sq.;
SCHÜRER, Hist. of the Jewish People (New York, 1891), II, iii, 6 sq.; 211 sq.; 244 sq.;
FAIRWEATHER in HASTINGS, Dict. of the Bible, III, 187 sq.;
 NIESE, Kritik der beiden Makkabäerbücher (Berlin, 1900);
GRIMM, Kurzgefasstes Exeg. Handbuch zu den Apokryphen, Fasc. 3 and 4 (Leipzig, 1853, 1857);
KEIL, Comm. über die Bücher der Makkabäer (Leipzig, 1875);
KAUTZSCH (AND KAMPHAUSEN), Die Apokryphen und Pseudepigraphen des A. T. (Tübingen, 1900).

FONTE

BECHTEL, Florentine. Estudo Sobre o Livro de Macabeus. The Catholic Encyclopedia. Vol. 9. New York: Robert Appleton Company, 1910.  Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/762-estudo-sobre-os-livros-dos-macabeus>. Desde . Tradução: Rafael Rodrigues.

Livro de Judite

HISTÓRIA

Nabucodonosor, rei de Nínive, envia seu geral Holofernes para subjugar os judeus. O último assedia-os em Betúlia, uma cidade à beira do sul da planície de Esdrelon. Achior, o amonita, que fala em defesa dos judeus, é maltratado por ele e enviado para a cidade sitiada para aguardar sua punição feita por Holofernes. A fome mina a coragem dos encurralados e eles resolvem se rendem, mas Judite, uma viúva, repreende-os e diz que vai deixar a cidade. Ela vai para o acampamento dos assírios e Holofernes cativo pela sua beleza, e finalmente, tira proveito da intoxicação do general para cortar-lhe a cabeça. Ela retorna para a cidade inviolada com a cabeça como um troféu, e um ataque, por parte dos judeus, resulta no alvoroço dos assírios. O livro termina com um hino ao Todo-Poderoso feito por Judite para comemorar sua vitória.

O TEXTO

O livro existe em versões gregas e latinas distintas, dos quais o último contém, pelo menos, oitenta e quatro versos mais do que o posterior. São Jerônimo (Praef. in Lib.) Diz que ele traduziu do caldeu em uma noite, “magis sensum e sensu, quam ex verbo verbum transferens” (com o objetivo de dar sentido para o senso em vez de aderir rigorosamente à letra). Ele acrescenta que o seu códice diferia muito, e que ele exprime em latim só que ele pode entender claramente o caldeu.
Duas versões hebraicas são conhecidas atualmente, uma longa com praticamente idêntica ao texto grego, e uma curta, que é totalmente diferente; vamos voltar a este último quando discutirmos a origem do livro. O caldeu, do qual São Jerônimo fez a nossa atual versão da Vulgata, não é recuperável, a menos que sejam identificados como a versão hebraica já mencionada acima. Se este for o caso, podemos medir o valor da obra de São Jerônimo, comparando a Vulgata com o texto grego. Nós ao mesmo tempo descobrimos que São Jerônimo não exagerou quando disse que ele fez a sua tradução apressada. Assim, uma comparação entre os versículos VI, 11, e VIII, 9 mostra-nos uma certa confusão em relação aos nomes dos anciãos de Betúlia - uma confusão que não existe na Septuaginta, onde também X, 6, deve ser comparados. Novamente em IV, 5, o sumo sacerdote é Eliachim, cujo nome mais tarde se transforma em Joachim (XV, 9) - uma mudança permitida, mas um pouco enganadora: a Septuaginta é consistente em usar Joachim. Algumas das afirmações históricas na Septuaginta diretamente conflitam com as da Vulgata; por exemplo, o décimo terceiro ano (Vulgata) de Nabucodonosor se torna o décimo oitavo na Septuaginta, que também adiciona um longo discurso do rei para Holofernes. São Jerônimo também tem frequentemente condensou do original, sempre na suposição de que a Septuaginta e a versão mais hebraica realmente representavam o original. Para dar apenas um exemplo:
Septuaginta (2, 27): “E, descendo para a planície de Damasco no momento da colheita do trigo, e consumiu todos os seus campos, seu gado e seus rebanhos entregou a destruição, as suas cidades foram devastadas por ele, e os frutos de suas planícies férteis espalhadas por ele como palha, e atingiu todos os seus homens jovens com a ponta da espada”.
Vulgata (2, 17): “E depois destas coisas que ele caiu na planície, no dia da colheita, e ele queimou toda a plantação de milho no fogo, e ele fez com que todas as árvores e vinha  fossem cortadas.
No que diz respeito à versão Septuaginta do Livro de Judite note-se que ela chegou até nós em duas versões: Codex Vaticanus ou B por um lado, e Códice Alexandrino com Códice Sinaiticus, do outro.
HISTORICIDADE

Católicos com muito poucas excepções aceitam o livro de Judite como uma narrativa de fatos, e não como uma alegoria. Mesmo Jahn considera que a genealogia de Judite é inexplicável sobre a hipótese de que a história é uma mera ficção (“ntroductio”, Viena, 1814, p. 461). Por que fazer a genealogia de uma pessoa fictícia através de quinze gerações? Os Padres já olhavam para o livro como histórico. São Jerônimo aceita a pessoa da mulher valente como figura histórica (Ep. LXV, 1).
Contra esta visão tradicional, existem, deve ser confessado, existem muitas sérias dificuldades, devido, como Calmet insiste, a condição duvidosa e disputada do texto. As demonstrações históricas e geográficas no livro, como temos agora, são difíceis de entender:
• Nabucodonosor aparentemente nunca foi rei de Nínive, pois ele chegou ao trono em 605, enquanto que Nínive foi destruída certamente o mais tardar em 606, e depois que os assírios deixaram de existir como um povo; 

• A alusão em I, 6, a Erioque, Rei dos Elicianos, é suspeita; somos lembrados de Arioque de Gênesis 14, 1. A Septuaginta faz dele o Rei do Elumaens, presumivelmente, os elamitas,
• O personagem de Nabucodonosor é dificilmente aquele delineado para nós nos monumentos: na escrita da casa indiana, por exemplo, seus sentimentos são notáveis para a modéstia de seu tom. Por outro lado, é preciso lembrar que, como diz Sayce, os “Reis assírios eram mais descaradamente mentirosos sobre os seus monumentos”; 

• O nome Vagao, ou Bagoas na Septuaginta, para o eunuco de Holofernes é sugestivo do Bagoses, que, de acordo com Josephus (Antiguidades, XI, VII, 1), poluiu o templo e para o qual aparentemente temos uma referência no recentes-papiros descobertos em Assuan;
 • A mistura de nomes babilônicos, gregos, persas no livro deve ser observada;
 • A genealogia de Judite como consta na Vulgata é uma mistura: dado que nos três principais códices gregos é talvez melhor, mas varia em cada um. Ainda assim, é uma genealogia histórica, embora mal-conservada;
 • Um quebra-cabeça geográfico é apresentado pela Vulgata de II, 12-16; A Septuaginta é muito superior, e deve-se notar que toda esta versão, especialmente no Codex B, temos os detalhes mais interessantes que nos são fornecidos (cf. particularmente I, 9; II, 13, 28-9). A Septuaginta também nos dá informações sobre Achior que falta na Vulgata; parece que é insinuada no VI, 2, 5, que ele era um efraimita e um mercenário contratado por Moad;
• Betúlia em si é um mistério: de acordo com a Septuaginta era grande, tinha ruas e torres (VII, 22, 32), e resistiu a um longo cerco às mãos de um grande exército. A sua posição, também, é afirmado com minúcia; ela estava na borda da planície de Esdrelon e guardava a passagem para Jerusalém; mas nenhum vestígio da existência de tal lugar é encontrado (a menos que aceitemos a teoria da Conder, “Manual”, 5 ª ed, 239 p.).;
• Os nomes, Judite (judia), Achior (irmão de luz), e Betúlia (Bethel, ou seja, Jerusalém, ou talvez do hebraico que significa “virgem” -? Na versão mais curta hebraica de Judith não é chamado de “a viúva”, mas “virgem”, ou seja, Betúlia), soa um pouco como nomes simbólicos do que daqueles locais históricos ou de pessoas;
• No discurso de Judite a Holofernes existen (XI, 12, 15) uma aparente confusão entre Betúlia e de Jerusalém;
 • Enquanto os eventos são encaminhados para o tempo de Nabucodonosor, e, portanto, para o encerramento da monarquia hebraica, que parecem ter em V, 22, e VIII, 18-19, uma alusão ao momento posterior à Restauração;
• Não há rei na Palestina (IV, 5), mas apenas um sumo sacerdote, Joachim ou Eliachim; e IV, 8; XI, 14; XV, 8 (septuaginta), o Sinédrio é aparentemente mencionado;
• o livro tem um persa e ainda um grego disfarce, como é evidenciado pela recorrência de nomes como Bagoas e Holofernes.
Estas são sérias dificuldades, e qualquer estudante católico deve estar preparado para enfrentá-las. Há duas maneiras de proceder.
(a) De acordo com o que podemos chamar crítica “conservadora”, estas aparentes dificuldades cada uma pode ser harmonizada com a visão de que o livro é perfeitamente histórico e trata com fatos efetivamente ocorridos. Assim, os erros geográficos podem ser atribuídos aos tradutores do texto original ou a copistas que viveram muito tempo depois que o livro foi composto e, conseqüentemente, ignoraram os pormenores referidos. Calmet insiste que o Nabuchodonosor biblico é falado no livro, enquanto em Arphaxad, ele vê Phraortes cujo nome, como Vigoroux (Les Livres Santos et La Critique Rationaliste, iv, 4 ª ed.) mostra, poderia facilmente ter sido deturpado.
Fulcran Vigoroux (1900), no entanto, de acordo com as descobertas na Assíria, identifica Nabucodonosor com Assur-bani-pal, o contemporâneo de Phraortes. Isso lhe permite referenciar os eventos para o tempo do cativeiro de Manassés sob Assur-bani-pal (2 Crônicas 33, 11 cf. Sayce, “igher Criticism and the Verdict of the Monuments”, 4th ed., p. 458). É defendido ainda que a campanha conduzida por Holofernes é bem ilustrada nos registros de Assur-bani-pal que chegaram até hoje. E esses fatos, sem dúvida, dão uma explicação da aparente alusão ao cativeiro que, segundo o livro, foi realmente uma restauração, mas sob Manassés, não sob Esdras. A referência, também, ao Sinédrio é duvidosa; o termo é usado gerousia dos “antigos” em Lv., IX, 3, etc. Por fim, a identificação de Conder de Betúlia com Mithilia (loc. cit. supra) é altamente provável. Além disso, o escritor que descreveu a posição estratégica no IV, 1-6, soube a geografia da Palestina minuciosamente. Também é dado detalhes sobre a morte do marido de Judite (8, 2-4), que dificilmente pode ser atribuído a uma obra fictícia ou falsa, mas são antes indicações de que Judite representa uma heroína realmente existente. Com relação ao estado do texto que temos hoje, deve-se notar que as variantes dos manuscritos apresentados em várias versões são eles próprios uma prova de que as versões foram derivadas de uma cópia e datam de um longo período antecedente ao tempo de seus tradutores.
(b) Poucos escritores católicos não estão satisfeitos com a solução de Calmet em relação às dificuldades do Livro de Judite. Eles consideram que os erros de tradutores e de escribas não são uma explicação suficiente para este problema. Esses poucos católicos, juntamente com os não-católicos, cujo objetivo é lançar o livro no mais completo reino da ficção, garantem-nos que o Livro de Judite tem uma base histórica sólida, pois Judite não é personagem mítico. Ela, e seu ato heroico, viveram na memória do povo, mas as dificuldades do livro parecem mostrar que a história, hoje disponível, foi escrita em um período muito posterior aos fatos. A história, portanto, eentão mantida, é vaga; o estilo de composição, os discursos, etc, lembra-nos dos livros de Macabeus. Um notável conhecimento do Saltério é mostrado (cf. 7, 19 e Salmo 105, 6; 07, 21 e Salmos 78, 10; 93, 2; 9, 6-9, e Salmo 19, 8; 9,16, e Salmo 146, 10; 13, 21 e Salmos 105,1). Alguns desses salmos devem quase certamente se referir ao período do Segundo Templo. Mais uma vez, o Sumo Sacerdote Joachim presumivelmente deve ser identificado com o pai de Eliasibe, e deve, portanto, ter vivido no tempo de Artaxerxes, o Grande (464-424 a.C Cf. Josefo, “Antiguidades”, XI, VI-VII). Referenciamos acima uma versão hebraica mais curta do livro; Dr. Gaster, o seu descobridor, atribui este manuscrito do século X ou XI a.C. (Proceedings of Soc. of Bibl. Archaeol., XVI, pp. 156 sqq.). É extremamente breve, cerca de quarenta linhas, e dá-nos apenas a essência da história. No entanto, parece oferecer uma solução para muitas das dificuldades sugeridas acima. Assim Holofernes, Betúlia, e Achior, desaparecem completamente; existe uma explicação muito natural da purificação em XII, 7; e, o mais notável de todos, o inimigo já não é um assírio, mas Seleuco, e seu ataque está em Jerusalém, e não em Betúlia.
Se pudesse ser sustentado que temos neste manuscrito da história em sua forma original, e que o nosso livro canônico é uma amplificação do mesmo, então devíamos estar em uma posição de explicar a existência de inúmeras versões divergentes. A menção de Seleuco remete-nos aos tempos Macabeanos, o título de Judite, agora deixou de ser “viúva”, mas  “virgem”, pode explicar a misteriosa cidade; A coloração macabeana da história torna-se inteligível, e o tema é a eficácia da oração (cf. 6, 14-21; 7,4; II Macabeus 15, 12-16).

CANONICIDADE

O Livro de Judite não existe na Bíblia hebraica, e consequentemente é excluída da Canon protestante da Sagrada Escritura. Mas a Igreja sempre manteve a sua canonicidade.
São Jerônimo, enquanto em teoria rejeitando os livros que ele não encontrou, em seu manuscrito hebraico, consentiu a traduzir Judite porque “o Sínodo de Niceia contou como Sagrada Escritura” (Praef. in Lib.). É verdade que essa declaração não pode ser encontrada nos Cânones de Nicéia, e é incerto se São Jerônimo está se referindo à utilização do livro nas discussões do concílio, ou se ele foi enganado por alguns cânones espúrios atribuídos a esse concílio, mas é certo que os Padres dos primeiros tempos  reconheceram Judite entre os livros canônicos; Assim, São Paulo parece citar o texto grego de Judite 8,14, em I Coríntios 2, 10 (cf. também 1 Coríntios 10, 10, com Judite 8, 25). Na Igreja Cristã vamos encontrá-lo citado como parte da Escritura na redação de São Clemente de Roma (Primeira Epístola aos Coríntios, LV), Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano.

BIBLIOGRAFIA

Consulte os vários dicionários e introduções bíblicas; também Civiltà Cattolica (1887). O melhor resumo dos vários ponto de vistas e argumentos diferentes sobre a questão está em Gigot, Especial Introd, I; cf. Também especialmente Schürer, O Povo judeu no tempo de Cristo, div. II, vol. III; VIGOUROUX, La Bible et les Decouvertes Modernes, IV (5 ª ed.), 275-305; BRUENGO, Il Nabucodonosor di Giuditta (Roma, 1888).

PARA CITAR

POPE, Hugh. “Estudo sobre o Livro de Judite. The Catholic Encyclopedia. Vol. 8. New York: Robert Appleton Company, 1910. Disponível em: 29/08/2014. Traduzido por: Rafael Rodrigues.

Livro de Baruc

Discípulo de Jeremias, Baruc é tradicionalmente reconhecido como o autor do livro Deuterocanônico que leva o seu nome.Foi filho de Nerias (Jeremias 32:12; 32:16; 16 : 4, 8, 32; Baruc 1:1), e provavelmente irmão de Saraias, chefe camareiro do Rei Sedecias (Jeremias 32:12, 51:59; Baruc 1:1). Depois que o Templo de Jerusalém foi saqueado por Nabucodonosor (599 A.C.), Baruc escreveu o oráculo do grande profeta Jeremias, sendo ditado por este, e leu o escrito para que o povo judeu, arriscando sua vida por causa disso. No escrito era previsto o retorno dos babilônicos. Ele também escreveu a segunda e mais longa edição das profecias de Jeremias após a primeira ter sido queimada pelo enfurecido rei Joaquim (Jeremias: 36).
Durante sua vida, Baruc permaneceu fiel aos ensinamentos e ideais do grande profeta, apesar de em alguns momentos ter se deixado levar por decepções e ambições pessoais (Jeremais, 45). Ele estava com Jeremias durante o cerco a Jerusalém e testemunhou a compra do terreno ancestral de Anatot (Jeremias, 32). Depois da queda da Cidade Santa e dá destruição do Templo (588 A.C.), Baruc provavelmente viveu algum tempo com Jeremias em Masphath. Foi acusado por seus inimigos  de  sugerir ao profeta a aconselhar os Judeus a permanecerem em Juda, ao invés de iram para o Egito (Jeremias, 43), onde, de acordo com a tradição Hebraica preservada por São Jeronimo (Isaiah 30: 6, 7), os dois morreram antes de Nabucodonosor invadir aquele país. Entretanto, essa tradição entra em conflito com a informação encontrada no capítulo de abertura da Profecia de Baruc, onde é dito que ele escreveu este livro na Babilónia, e o leu publicamente 5 anos depois da queima da Cidade Santa. Aparentemente o livro foi enviado para Jerusalém por Judeus cativos dentro de um vaso sagrado como um presente destinado ao sacrifício no templo de Yahweh. Essa informação entra em conflito com várias tradições, tanto judias quanto cristãs, mas provavelmente contém algumas partes de verdade que não permitem determinar a data, local ou maneira em que Baruc morreu.
Na Bíblia Católica, “A Profecia de Baruc” é formada por 6 capítulos, último entitulado “Epístola de Jeremias” não pertence propriamente ao livro. A Profecia abre com uma introdução histórica (1: 1-14), estabelece primeiro (versos 1-2) que o livro foi escrito por Baruc na Babilónia, 5 anos após Jerusalém ter sido queimada pelos Caldeus. Em seguida (versos 3-14) deixa claro que foi lido na presença do Rei Jeconias e de outros em exílio na Babilônia, o  que resultou em efeitos benéficos. A primeira parte do corpo do livro (1:15; 3:8) contém a confissão dos pecados que os levaram ao exílio (1:15-2:5; 2:6-13), juntamente com uma prece a Deus para o perdão do Seu povo (2:14; 3:8). Enquanto a primeira parte é muito parecida com o Livro de Daniel (Daniel 9:4-19), a segunda parte de Baruc (3:9; 4:4) se assemelha à passagens em Jó 28, 38. É um belo louvor à Sabedoria Divina, que não se encontra em nenhum outro lugar a não ser na Lei dada a Israel; somente com o disfarce da Lei é que a Sabedoria apareceu no mundo e se tornou acessível ao homem, o que leva, portanto, Israel a provar novamente sua fidelidade a Lei. A última sessão do Livro de Baruc se estende de 4:5 até 5:9. É formada de 4 odes, cada um começando com a expressão “Tenha coragem” (ou “Tenha melhor animo” dependendo da tradução) (4:5, 21, 27, 30), e com um salmo muito semelhante ao décimo primeiro Salmo apócrifo de Salomão (4:36; 5:9). O capítulo 6 apresenta, como apêndice, todo o livro “A Epistola de Jeremias”, enviada pelo profeta “para aqueles que foram levados cativos à Babilónia” por Nabucodonosor. Devido aos seus pecados, os judeus foram levados para a Babilónia onde deveriam permanecer “ali muitos anos, e largos tempos, até sete gerações”. Naquela cidade herege deveriam testemunhar a bela adoração dada aos “deuses de ouro, e de prata, e de pedra, e de madeira”, mas nunca deveriam se conformar com aquilo. Todos esses deuses, demonstrado com vários argumentos, são impotentes e perecíveis, obras da mão de homens, eles não podem fazer nem mal nem bem, assim eles não são deuses de jeito algum.
É certo que o sexto capítulo de Baruc é distinto do resto da obra. Além do título especial, “A Epistola de Jeremias”, o estilo e conteúdo provam se tratar de um escrito independente da Profecia de Baruc. Em alguns manuscritos gregos Baruc não tem a “Epístola”, em outros, entre os melhores, ela está separada do Livro de Baruc e é apresentada imediatamente depois de Lamentações de Jeremias. O fato de o sexto capítulo de Baruc levar o título de “Epistola de Jeremias” tem sido entendido, e ainda é por muitos, o motivo definitivo de que o grande profeta é o autor. É também instigante a vívida e precisa descrição do esplendido, mas infame, culto aos deuses babilónicos em Baruc, feita pelo escrito tradicional, em Jeremias 13:5-6, provavelmente se referindo a dupla jornada de Jeremias ao Eufrates. Finalmente, afirma-se que um certo número de características hebraicas podem ser reconhecidas, levando a um original hebraico. Contrário a esta visão tradicional, a maioria dos críticos contemporâneos argumenta que o estilo grego de Baruc prova que ele foi originalmente escrito em grego e não em hebraico, consequentemente, Jeremias não seria o autor da Epístola com seu nome. Por causa disso e por outras razões observadas no estudo do conteúdo de Baruc, eles acreditam que São Jeronimo estava decididamente correto quando descreveu como uma pseudoepígrafe, ou seja, escrita com um nome falso. No entanto, um importante estudo do Canon das Sagradas Escrituras prova que, a despeito das contestações dos protestantes, Baruc 6 sempre foi reconhecido pela Igreja como um livro inspirado.
Em relação à linguagem original do Livro de Baruc (capítulos 1-5), uma variedade de opiniões permanecem entre os estudiosos. Naturalmente aqueles que se apegam simplesmente ao título admitem que toda a obra foi originalmente escrita em hebraico. Do contrário, a maioria dos que questionam ou rejeitam o título do livro acreditam que a obra foi escrita totalmente, ou pelo menos parcialmente, em grego. É verdade que características literárias gregas aparecem em várias sessões e não apontam para um texto original em hebraico, mas não é difícil se supor que o texto completo de Baruc seja uma tradução, aqui algumas evidências linguísticas que confirmam está última suspeita:
- É muito provável que Teodotio (final do segundo século da nossa era) traduziu O Livro de Baruc de um original hebraico.
- A alguma notas do texto Siro-Hexaplar declaram que algumas palavras no texto grego não são encontradas no texto hebraico.
- Baruc 1, 14 diz que o livro foi feito para ser lido em público no Templo, sendo assim ele deve ter sido composto com esse propósito.
Além disso, em relação a sua linguagem original, Baruc apresenta uma certa unidade em relação a seu tema, de modo que aqueles que acreditam que todo o texto seja um escrito primitivo hebraico admitem que ele é uma unidade de composição. Entretanto, há no Livro de Baruc muitos traços de um processo de compilação, onde várias partes foram aparentemente unidas. A diferença da forma literária entre 1-3:8 e 3:9-5 é grande e, observando-se a maneira abrupta como o panegírico sobre Sabedoria é introduzido em 3:9, sugere que tenham origens diferentes. A duas confissões dos pecados que levaram ao exílio em 1:15, 3:8, são colocadas lado a lado sem nenhuma transição natural. As diferenças literárias entre 3:9-4:4 e 4:5-5:9 são consideráveis e o início da terceira sessão em 4:5 não é menos abrupta do que o da segunda em 3:9. Novamente, a introdução histórica parece ter sido composta somente para o prefácio de 1:15-2:5. Em vista desses e de outros fatos, os críticos contemporâneos geralmente entendem que a obra é fruto de um processo compilatório e que sua unidade é fruto do editor final, que juntou os vários documentos sobre o enfado do exílio. Este método de composição literário não necessariamente conflita com a devoção tradicional ao Livro de Baruc, muitos dos escritores sagrados da Bíblia são compiladores, e Baruc pode ser mais um entre eles, de acordo com os estudiosos católicos que admitem o caráter compilatório das obras escritas por ele. Os católicos se sustentam aqui por três pontos:
- O livro é assinado por Baruc em seu título;
-  Sempre foi reconhecido como uma obra de Baruc pela tradição;
- O seu conteúdo não apresenta nada que pudesse ser de um período posterior ao de Baruc, o que seria considerado estranho ao estilo e forma do fiel discípulo e secretário de Jeremias.
Contra está visão, não-católicos argumentam:
- O seu fundamento é somente o título do livro;
- O título em si não está em harmonia com o conteúdo histórico e literário da obra;
- E parte desse conteúdo, quando examinado imparcialmente, aponta para uma compilação mais tardia do que Baruc; alguns vão mais longe e alegam que a composição foi obra de um escritor do século 70 D.C.
Católicos facilmente desmentem a última data do livro, mas não tão fácilmente refutam as graves dificuldades que foram levantadas contra o seu próprio relato de todo o trabalho a Baruque. Suas respostas são consideradas suficientes por estudioso católicos em geral. Mesmo se, entretanto, julgarem inadequado, por tanto considerarem o Livro de Baruc como um trabalho de um editor tardio, o caráter inspirado do livro permanece, entendendo-se que o último editor foi inspirado em seu trabalho de compilação.
O Livro de Baruc foi definido como escrito “sagrado e canônico” no Concílio de Trento, é tão inspirado por Deus como qualquer outro livro da Sagrada Escritura e pode ser demonstrado com um estudo minucioso do Canon Bíblico. Sua edição em Vulgata Latina remonta a desde antes da versão em Latim antigo de São Jeronimo, e é razoavelmente integral a versão em grego do texto.
PARA CITAR

GIGOT, Francis. Baruc. The Catholic Encyclopedia. Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907. Disponível em: <>. Desde: 15/12/2014. Traduzido por: Rodrigo Bastos.