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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

UMA ANÁLISE DA AUTOBIOGRAFIA DE PU YI: O ÚLTIMO IMPERADOR DA CHINA

Pu Yi, 1915-1920, coleção biblioteca do congresso de George Grantham Bain, Washington DC.

Autor: Leandro Claudir Pedroso, formado em licenciatura plena em História, e pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.

S

audações construtoras a todos os amigos e visitantes do Construindo História Hoje. Como todos já têm visto, tem sido momentos de grandes transformações para o Projeto Construindo História Hoje, e nenhuma dessas mudanças seria possível sem vocês, que de todos os meios contribuem para o bom desenvolvimento de nossa empreitada pelas veredas da história.

 Recentemente terminei de ler o livro O Último Imperador da China, a autobiografia de Pu Yi Xiansheng, o livro cujo nome no original em Chinês chamava-se “A Primeira Metade da Minha Vida”, foi traduzida para o inglês como “From Emperor to Citizen” que deu origem ao clássico filme de Bernardo Betolucci, The Last Emperator de 1987. O filme de Bertolucci baseado na autobiografia de Pu Yi foi o primeiro a receber permissão do governo Chinês para ser gravado dentro da Cidade Proibida. A saga de Pu Yi é fantástica em todos os sentidos, pois podemos acompanhar pelas próprias palavras do último imperador desde sua ascensão ao trono até sua prisão nos campos de concentração do Partido Comunista Chinês. No filme de Bertolucci, uma verdadeira obra prima da sétima arte, com tão boa direção, roteiro, cenografia, iluminação e figurino, ainda assim nada se compara ao livro, aonde podemos com os mais fantásticos detalhes compreender a epopeia vivida por um homem que nasceu para ser imperador e acabou como jardineiro-botânico e bibliotecário na China Comunista. Trago aos meus leitores um pequeno vislumbre desta maravilhosa obra e espero por meio desta postagem leva-los a conhecer está grandiosa história. Com um conteúdo humano fantástico, pois uma pessoa que passou por tantas transformações em sua vida “publica” e privada, sem enlouquecer, é forçosamente um personagem interessante. Afinal, não é qualquer um que deixa de ser “deus” para ser jardineiro, e Pu Yi recorda todas suas transformações com um notável bom humor. Como entender a psicologia de um personagem desses? 

O Segundo Príncipe Chun Tsai Feng, sentado com Pu Yi (a sua direita), e seu irmão bebê, Pujie em 1908. Imagem: O Ùltimo Imperador da China; autobiografia de Pu Yi. 

Como Imperador 

Pu Yi Xiansheng nasceu em Pequim, filho do Segundo Príncipe Chun, o Príncipe Tsai Feng na mansão da família Chun, em sete de fevereiro de 1906. Seu avô, Yi Huan, o sétimo filho do Imperador Tao Kuang que reinou de 1821 a 1850, foi o primeiro Príncipe de Chun. Foi o filho mais velho de seu pai o segundo Príncipe Chun. Foi coroado em dois de dezembro de 1908, aos três anos de idade na condição de décimo soberano da dinastia Ching (A dinastia Ching reinou de 1644-1911) e último imperador da China. Quando explodiu a Revolução de 1911 contra a Dinastia Ching. Foi destronado aos seis anos de idade em 10 de outubro de 1911, por uma seção do Novo Exército, instigado pelas sociedades revolucionárias da burguesia e da pequena burguesia insurgiu-se. Mais insurreições, em outras províncias seguiram-se a essa, e a Dinastia Ching não demorou a cair. Mesmo destronado continuou vivendo na Cidade Imperial de Pequim com toda sua corte, aonde manteve muitas de suas prerrogativas, inclusive o titulo de Imperador. Em 1924 quando as tropas do Kuomintang, o Partido Nacionalista Chinês invade Pequim, ele é expulso pelos militares quando contava 19 anos de idade e refugia-se na embaixada japonesa. 

Após a Revolução de 1911sua família foi a primeira a abandonar os velhos costumes e seu pai Tsai Feng (Segundo Príncipe Chun), foi o primeiro dos príncipes a ter um automóvel e a instalar um telefone em sua casa. Foram os primeiros a cortar os rabichos, e ele foi o primeiro dentre os príncipes da nobreza a usar trajes ocidentais. Seu pai Tsai Feng, após renunciar a Regência e ser expulso do palácio imperial pelas forças rebeldes de 1911 pronunciou estas palavras: 

“Ter livros é riqueza verdadeira, e dispor de um pouco de ócio é estar a meio caminho da imortalidade.” 

Tsai Feng (Segundo Princípe Chun)

 O Traidor 

Quando em 1931 o Japão invade o nordeste da China no chamado Incidente de Mukden, Pu Yi aos 26 anos é obrigado pelos militares japoneses a tornar-se o imperador fantoche da região ocupada na Manchúria, aonde o governo japonês criou o Estado fantoche de Manchukuo. Governaria o Estado de Manchukuo de 1934 á 1945, até o fim da Segunda Guerra Mundial. 

Na União Soviética 

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Pu Yi foi capturado pelos soviéticos junto com a primeira leva de criminosos de guerra de “Manchukuo”, ao chegar a União Soviética passaram por uma privilegiada detenção com três grandes refeições russas e uma refeição intermediária à tarde. Havia empregados para atender, médicos e enfermeiras para cuidar de nossa saúde, rádios, livros, jornais e equipamentos para outros tipos de recreação. Havia até pessoas para leva-los para caminhar. Durante os cinco anos que Pu Yi passou na União Soviética nunca abandonou seu ar superior. Membros de sua família dobravam seus acolchoados, arrumavam seu quarto, traziam a comida e lavavam suas roupas. Como não lhes era permitido chamarem-no de “Majestade”, chamavam-no de “Elevado”; e exatamente como nos velhos tempos vinham ao seu quarto para lhe prestar seus respeitos. 

Como Pu Yi não abandonava sua forma superior de se portar e recusava-se a estudar e seus pensamentos não haviam mudado em nada de fundamental para admitir sua culpa de traição. 

Diante dessas atitudes Pu Yi foi levado pelas autoridades soviéticas para testemunhar em um Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, em agosto de 1946, ele denunciou veementemente os crimes de guerra cometidos pelos japoneses que ele odiava por tê-lo usado como Imperador fantoche por quase 15 anos. O Testemunho de Pu Yi durou oito dias, e foi o mais demorado do julgamento, dando excelentes notícias para os jornais que no mundo inteiro exploram o sensacionalismo. 

A razão pela qual Pu Yi foi chamado para testemunhar era para expor a verdade sobre a invasão japonesa na China, e para demonstrar como o Japão havia me usado como títere para ajuda-los a governar o Nordeste da China ao qual haviam denominado “Manchukuo”. Mesmo denunciando todos os crimes cometidos pelos japoneses Pu Yi escondeu seus próprios crimes do Tribunal Militar Internacional. Mesmo assim um advogado americano gritou no tribunal para Pu Yi: “Você põem a culpa nos japoneses para tudo, mas esquece dos seus próprios crimes, mas cedo ou tarde o governo Chinês irá condená-lo por seus crimes”.

 De volta à China 

Em 31 de julho de 1950, um trem soviético carregando os criminosos de guerra do “Manchukuo” chegou à estação na fronteira sino-soviética. Devolvido à China depois de cinco anos, já República Popular governada por Mao Tse-Tung, como criminoso de guerra certo de que iria ser fuzilado por crimes de guerra. Não foi! Os soviéticos o levaram até a cidade de Shenyang aonde foi entregue as tropas chinesas que o avisaram que não seria executado, mas sim “reeducado”. De Shenyang foram levados para o presídio de Fushun e colocados em celas! Nos dias que se passaram receberam livros e jornais para começarem seus estudos voltados para o comunismo chinês ou Maoísmo. 

Foi para o presídio de Fushun com mais 1350 "criminosos de guerra" japoneses, manchus e chineses. Durante oito anos aprendeu a profissão de jardineiro, como parte do processo de reeducação a que foi submetido em nome do "humanismo revolucionário socialista".  

Ele que se considerava o “Filho Celestial” e não sabia sequer amarrar os próprios sapatos, passaria os próximos 10 anos como prisioneiro, recebendo “reeducação socialista”. Passou o restante da vida trabalhando em Pequim no pleno gozo de seus direitos políticos, trabalhando no Jardim Botânico e em pesquisas históricas. Casado várias vezes (com duas imperatrizes e três concubinas), morreu em 1967 aos 61 anos de idade, sem deixar descendentes.  

Você quer saber mais?

Currículo Lattes

http://lattes.cnpq.br/3735590007579581

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YI, Pu. O Último Imperador da China. São Paulo: Editora Marco Zero, 1988.

https://www.britannica.com/biography/Puyi/images-videos 

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Bob Marley, e a religião Rastafári.

 

Robert Nesta Marley, popularmente conhecido como Bob Marley, foi um cantor, guitarrista e compositor jamaicano. Pode se dizer que foi o cantor de reggae mais conhecido do mundo. Vendeu cerca de 75 milhões de discos.

Na adolescência, Marley começou a fazer parte da religião Rastafari. Nessa religião, eles acreditam que “Jehovah”, (popularmente chamado de “Jah”), é o Deus. O “messias”, não é Jesus Cristo, mas é a reencarnação de Haile Selassie I, no qual o nome verdadeiro é “Ras Tafari Makonnen”, (que era o imperador da Etiópia, e acreditavam que ele libertaria a raça negra do domínio branco). E é por conta dele, o nome da religião.

A morte de Marley se deu após um machucado na unha do pé, durante uma partida de futebol, e essa ferida acabou infeccionando. Virou posteriormente uma espécie de câncer de pele. Quando diagnosticado, os médicos disseram que ele teria que amputar o dedo do pé, e Marley negou por conta da religião Rastafari, cuja filosofia é de que o corpo é um templo sagrado e nada deve ser modificado.

Especulações

Existe uma história que diz que cerca de um ano antes de sua morte, Bob foi batizado em nome de Jesus Cristo. Segundo Tommy Cowan que estava junto com ele quando se converteu, disse que Bob ficou chorando durante 45 minutos e exclamou “Jesus my Savior, Jesus Christ” (Jesus meu Salvador, Jesus Cristo!).

Bob nasceu em um lar cristão, e tinha algumas músicas que falavam sobre isso. “:(..)"I never forget no wa (..)"I never forget no way, how they crucified Jesus Christ"(..) Em português: "Eu nunca esqueci não, como eles crucificaram Jesus Cristo"(..)“, trecho da música “So much things to say”.

Em uma entrevista a uma televisão jamaicana, a esposa de Bob, Rita Marley, não sabia do batismo de Bob, e disse que achou a atitude dele estranha. Minutos antes de morrer, ter dito “Me leve senhor Jesus Cristo”. Ela disse que esperava que ele chamasse por Selassie. Porém, nada disso está no site oficial de Bob Marley, onde conta sobre sua vida e religião. Lá conta apenas sobre a religião Rastafari. Há quem diga que essa história não teve repercussão por conta de que muitos rastafáris fariam o mesmo, por influência de Marley.

O que é a religião rastafári?

É uma crença nascida na Jamaica na década de 30, popularizada pelas músicas do cantor de reggae Bob Marley e atualmente seguida por cerca de 1 milhão de pessoas no mundo. Com alguns elementos empresta...

Por que um imperador da Etiópia foi adorado como deus na Jamaica - influenciando até Bob Marley.

Quando se fala em rastafáris, provavelmente a primeira imagem que vem à cabeça de muitas pessoas é a do rei do reggae Bob Marley e seus rastas icônicos. Mas além do famoso artista, há outro homem ainda mais importante no coração deste movimento - Ras Tafari. Esse foi o nome do último imperador da Etiópia, nascido em 23 de julho de 1892, mas ele adotou o nome real de Haile Selassie ao ser coroado.

Para os rastafáris, ele é Deus (Jah) encarnado, o messias redentor.

Mas como um imperador da Etiópia, cuja capital está situada a quase 13 mil quilômetros de Kingston, se tornou adorado na Jamaica? O vínculo entre os dois, na verdade, está relacionado a um grupo de jamaicanos pobres que acreditavam que a coroação de Ras Tafari era o cumprimento de uma profecia e que ele era seu redentor, o messias: o "Rei dos reis, Senhor dos senhores". Eles acreditavam que seriam libertados pelo imperador, que os tiraria da pobreza no Caribe e os levaria à África, a terra dos seus antepassados e um centro espiritual para os jamaicanos.

Quem era Ras Tafari?

Tafari era filho de um colaborador do imperador Menelik 2º, um dos governantes mais importantes da história da Etiópia, e casou-se com uma de suas filhas, Wayzaro Menen.

Desde a infância, sua inteligência chamou a atenção do imperador, que o ajudou a seguir carreira política. Quando a filha de Menelik 2º, a imperatriz Zauditu, morreu em 1930, seu protegido foi coroado imperador. A coroação de Haile Selassie foi um evento esplendido e contou com a presença de autoridades do mundo todo.

Na época, o jornal The New York Times especulou que as celebrações haviam custado mais de US$ 3 milhões (R$ 9,5 milhões, em valores atuais). A revista Time dedicou a capa ao novo imperador, que logo se transformou em um fenômeno global. Pouco depois da coroação, Selassie encomendou a primeira constituição escrita da Etiópia, que restringia em grande medida os poderes do parlamento.

Na prática, ele era o governo da Etiópia.

Segundo a constituição, a sucessão ao trono se restringia somente aos seus descendentes, e a pessoa do imperador era "sagrada, sua dignidade, inviolável e seu poder, indiscutível". Mas, na Jamaica, Selassie estava se convertendo em algo mais do que um poderoso imperador.

A profecia de Marcus Garvey


"Olhem para a África, onde um rei negro vai ser coroado, anunciando que o dia da libertação estará próximo". Essa é a profecia que deu início a toda história, e foi feita por Marcus Garvey.

Ele era um ativista jamaicano que lutou pela mudança política e social em uma ilha que havia sido um centro importante durante o período da escravidão. Depois da abolição, em 1833, a vida não melhorou muito para os antigos escravos, nem para seus filhos ou para as gerações seguintes. Ainda não está claro se o "rei negro" a quem Garvey se referia era uma pessoa real, mas o mais provável é que se tratasse de uma figura simbólica. 

Mas, quando as notícias da coroação de Haile Selassie em 1930 chegaram à Jamaica, muitos dos seguidores de Garvey fizeram uma associação que lhes parecia lógica: Ras Tafari era rei, e, portanto, o dia da libertação estaria próximo. Isso significava que eles deveriam se preparar para um êxodo para a África. Apesar de Marcus Garvey nunca ter sido um rastafári, ele é considerado um dos profetas do movimento, e suas ideias formaram a filosofia rastafári. "O 'garveyismo' se converteu em um tipo de nacionalismo militante que deu aos negros um sentido de identidade com o conjunto da África, numa época em que a independência estava em evidência", afirma Jabob Bauman, em uma publicação da Universidade do Estado de Washington, nos EUA. 

Atualmente, as crenças dos rastafáris são muito diferentes. Enquanto os primeiros seguidores da religião procuravam um retorno à África, declaravam que seu único deus era Haile Selassie e que a Etiópia era o verdadeiro Sião (sinônimo de terra de Israel, ou terra prometida), hoje muitos dão mais importância a um retorno "espiritual". 

Segundo o autor da Enciclopédia Global das Religiões, Stephen Glazier, o movimento rastafári se converteu em parte a um estilo de vida, mais que uma religião, e as práticas também variam muito. Entre elas, se destacam o consumo ritual da maconha (ganja) e o reggae. Poucos anos após a coroação de Haile Selassie, a Etiópia se envolveu em uma guerra terrível. Em 1935, o líder italiano Benito Mussolini invadiu o país e Selassie partiu para o exílio. Ele ficou cinco anos fora do país e somente em 1941 foi restituído como imperador, com a ajuda da Grã-Bretanha. Em 21 de abril de 1966, ele finalmente visitou a Jamaica - e mesmo 36 anos depois de sua coroação, o entusiasmo dos rastafáris seguia intacto, com uma nova geração de adeptos que cultivavam a ideia de um êxodo para a o continente africano. 

Selassie foi tomado pela recepção eufórica, e não fez nada para dispersar crenças sobre sua suposta condição divina. Garvey já estava morto, e suas críticas a Selassie por deixar o país em tempos de guerra já haviam sido esquecidas na Jamaica. Mas no resto do mundo o julgamento sobre ele não foi unânime - embora Selassie quisesse projetar uma imagem de um imperador progressista, ele também enfrentou acusações de ser um ditador ganancioso. Entre a multidão que apareceu para honrar e receber seu "Redentor", estava a esposa de um músico jamaicano de 21 anos, que tinha acabado de formar uma banda chamada The Wailers.

Seu nome era Robert Nesta Marley.

Selassie doou 200 hectares de terra a membros do movimento rastafári para que se estabelecessem na África; a comunidade ainda existe

Bob Marley foi o rastafári mais influente da história.

Ele nunca se classificou como profeta, embora muitas suas canções fossem consideradas com um caráter profético, e também nunca foi um líder, embora os seguidores o tratassem como tal. Dois dos discos mais importantes da carreira de Marley - Catch a Fire, de 1973, e Natty Dread, de 1975, foram sucesso de vendas e estavam cheios de símbolos e motivos do rastafarianismo. Na época do lançamento de Rastaman Vibration, em 1976, havia rastafáris em quase todas as cidades britânicas e em muitas partes dos Estados Unidos. Jovens negros usavam o cabelo com os mesmos dreadlocks de Marley e vestiam roupas com as cores da bandeira etíope: verde, amarelo e vermelho. Enquanto seus pais eram na maioria cristãos, jovens negros em cidades como Londres começaram a ser atraídos por uma teologia diferente, que incorporava a crítica política. 

'Mentiras de Babilônia'

Enquanto isso, as coisas se complicavam para Selassie na Etiópia. Em 1973, uma forte crise de fome matou cerca de 200 mil etíopes.

Um ano depois, um grupo de militares do Exército com uma agenda marxista chamado Derg destronou o imperador após um golpe militar. Ele morreu em 1975, doente e encarcerado. Sua morte dele foi descrita por seus seguidores como uma "desaparição", já que eles se negavam a acreditar que Selassie havia morrido. E quando se falava sobre ele, a comunidade rastafári usava frequentemente a frase "mentiras de Babilônia". Muitos acreditavam que a estrutura dominada por brancos - chamada por eles de "Babilônia", havia espalhado uma mentira para tentar debilitar o crescente movimento rastafári. 

Outros simplesmente rechaçaram a notícia afirmando que Jah, o nome rastafári para Deus, havia apenas ocupado temporariamente o corpo de Selassie. A morte "corporal" do imperador era tida como um sinal de que Jah não era apenas um ser humano, mas também um ente espiritual. Uma terceira interpretação - e a mais aceita entre os rastafáris - se refere aos conceitos sobre a unidade essencial de toda a humanidade. Segundo esse princípio, ainda que habitemos corpos distintos, todos estamos unidos espiritualmente. Pode ser que Haile Selassie já tivesse partido, mas vê-lo como um único deus é uma interpretação errônea do significado do rastafári: seu espírito está em todos nós e não pode ser extinto. Segundo eles, desde que nascemos, somos todos corpos efêmeros, mas nossas almas seguem vivendo.

Você quer saber mais?

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-religiao-rastafari/

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao-fisica/religiao-de-bob-marley/50297

https://www.bbc.com/portuguese/geral-39596814 

 

sábado, 12 de setembro de 2020

ALAN MATHISON TURING: CENTENÁRIO DO PAI DA COMPUTAÇÃO

 


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le foi um dos primeiros a pensar na possibilidade de as máquinas se tornarem inteligentes e criou um modelo teórico para um computador universal - quando isso sequer existia. Mais conhecido por seu papel na II Guerra Mundial - sua equipe decifrou os códigos usados pela Alemanha nazista para se comunicar -, o matemático britânico Alan Turing foi um visionário sem o qual este mundo moderno de iPad, smartphones e Facebook talvez não tivesse se tornado realidade. Nascido em 23 de junho de 1912, seu centenário está sendo celebrado pelo mundo inteiro não só neste sábado, mas ao longo de todo este ano.

Turing formalizou os conceitos de algoritmo e computação - com a Máquina de Turing - e por isso é considerado o 'pai' da computação moderna. Ele também escreveu o que pode ser considerado o primeiro programa de xadrez para computador e dedicou-se ainda à química, à física e à biologia.

Entre as inúmeras ações para comemorar o centenário do cientista está o Turiing’s Sunflowers. Fascinado pelo modo como a matemática funciona na natureza, ele observou a ocorrência da sequência de Fibonacci nas sementes de girassol, no centro da flor, e imaginou que estudar a planta ajudaria e entender seu crescimento. Mas morreu sem completar o trabalho.

Numa homenagem a Turing, o Museu da Ciência e Indústria e o Festival de Ciência de Manchester, com apoio da universidade e prefeitura locais, promovem o Turing's Sunflowers. O objetivo é cultivar girassóis em numero suficiente para reunir os dados necessários e seguir com o estudo do britânico. Para participar, é preciso cultivar a flor, fazer a contagem das sementes, em setembro e outubro, e compartilhar os dados. Os resultados serão anunciados durante o Festival, que se realiza de 27 de outubro a 4 de novembro.

O "Alan Turing Year" (Ano de Alan Turing) tem eventos praticamente todos os dias nos mais diversos lugares, e uma organização, o Turing Centenary Advisory Committee. No site do centenário de Turing é possível ver uma lista de conferências, exposições, debates, competições, concursos, projetos e demais atividades, que incluem música, literatura e vídeo, e ainda assinar as petições em favor de Turing, do perdão póstumo até estampar a próxima série de notas de 10 libras.

Pouco antes de fazer 42 anos, Alan Turing supostamente comete suicídio, embora a mãe de Turing tenha defendido que a morte fora 'acidental'.

Um exame post-mortem estabeleceu que a causa da morte foi envenenamento por cianeto. Quando seu corpo foi descoberto, uma maçã estava meio comida ao lado de sua cama, e embora a maçã não tenha sido testada quanto ao cianeto, especula-se que este foi o meio pelo qual uma dose fatal foi ingerida. Um inquérito determinou que ele tinha cometido suicídio, tendo sido então cremado no crematório de Woking em 12 de junho de 1954.

O inicio

Aos 24 anos de idade, consagrou-se com a projeção de uma máquina que, de acordo com um sistema formal, pudesse fazer operações computacionais. Mostrou como um simples sistema automático poderia manipular símbolos de um sistema de regras próprias. A máquina teórica de Turing pode indicar que sistemas poderosos poderiam ser construídos. Tornou possível o processamento de símbolos, ligando a abstração de sistemas cognitivos e a realidade concreta dos números. A ideia de computabilidade começou a ser criada. Devido a todos esses feitos, Alan Turing é tido como o Pai da ciência da computação.

O primeiro destaque da vida de Turing veio quando ele estava perto dos 30 anos. Trabalhando em conjunto com uma organização inglesa, o matemático foi capaz de criar um sistema para traduzir os textos encriptados pelos alemães chamado “bombe”. Sua máquina era extremamente eficaz contra o equipamento inimigo, que usava uma encriptadora chamada Enigma para fazer com que as mensagens captadas pelos britânicos não fossem compreensíveis.

A bombe captava e identificava quando o sinal estava protegido pelo mesmo padrão da Enigma, para depois usar um padrão de lógica que ignorava informações que se contradiziam e gerar a mensagem verdadeira. Na época, já haviam algumas máquinas que faziam o mesmo, mas nenhuma tão bem quanto esta.

Espionagem 

Tido como um gênio, Turing foi convocado pelo governo britânico para trabalhar no serviço de inteligência durante parte da Segunda Guerra Mundial. E a ele foi dada uma missão espinhosa: decifrar mensagens codificadas usadas pelo exército alemão. A maior parte de seu trabalho foi desenvolvida na área de espionagem e, por isso, somente em 1975 veio a ser considerado o Pai da informática.

Em 1943, sob sua liderança foi projetado o COLOSSUS, computador inglês que foi utilizado na II Guerra Mundial. Utilizava símbolos perfurados em fitas de papel que processava a uma velocidade de 25 mil caracteres por segundo. O Colossus tinha a missão de quebrar códigos alemães produzidos por um tipo de máquina de codificação. Os códigos mudavam frequentemente, obrigando o projeto Colossus a decifrar mais rapidamente os códigos.

Turing tirou a cabeça das máquinas teóricas e sujou as mãos na graxa de engenhocas reais. Uma delas, o Colossus, é tataravó do PC. No começo, elas demoravam semanas para tornar uma mensagem compreensível. Mas, em 1942, os ingleses já decodificavam 50 000 mensagens por mês, uma por minuto. Os submarinos alemães eram abatidos como moscas. Sua participação na guerra permaneceu secreta por décadas. Turing é inventor de um teste até hoje usado para decidir se uma máquina pensa, é um teste proposto em sua publicação de 1950, chamada “Computing Machinery and Intelligence” cujo objetivo era determinar se máquinas podem exibir comportamento inteligente. No exemplo original de Turing, um juiz humano conversa em linguagem natural com um humano e uma máquina criada para ter desempenho indistinguível do ser humano, sem saber qual é máquina e qual é humano. Se o juiz não pode diferenciar com segurança a máquina do humano, então é dito que a máquina passou no teste. A conversa está limitada a um canal contendo apenas texto (por exemplo, um teclado e um monitor de vídeo), de modo que o resultado não depende da habilidade da máquina de renderizar palavras em áudio.

Alan Turing foi um dos homens de maior importância não só para seu tempo, como para a atualidade. Com estudos que não só foi base para a existência da inteligência artificial, mas de quase todos os aparelhos eletrônicos já feitos, e inventos que permitiram que a vida de incontáveis pessoas fossem salvas durante a Segunda Guerra, ele definitivamente merece seu título de “pai do computador”.


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Você quer saber mais? 

 

http://www.turingcentenary.eu/

http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Turing.html

http://www.genealogy.ams.org//id.php?id=8014

http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI5854540-EI15607,00-Alan+Turing+mundo+comemora+centenario+do+pai+da+computacao.html

http://www.wolframalpha.com/examples/TuringMachines.html

http://www.tecmundo.com.br/tecnologia/19161-cientistas-que-mudaram-o-mundo-alan-turing.htm#ixzz1yfFGOiSN

http://www.visualturing.org/

http://www.turingarchive.org/

http://cie2012.eu/

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

IMHOTEP, O HOMEM DE MÚLTIPLAS FACETAS



C
onsiderado o fundador da medicina egípcia, seu nome em grego significa “aquele que vem em paz”. Personagem emblemática, viveu entre 2800 a.jC. e 2700 a.C. e foi um homem  de múltiplas facetas. Vizir e arquiteto do rei Djeser (III dinastia), era também filósofo. No pedesral de uma estátua do rei Dejeser, ele é apresentado como “o chanceler do rei do Baixo Egito, o primeiro após o rei do Alto Egito, administrador do palácio, nobre herdeiro, grande sacerdote de Heliópolis, Imhotep, o construtor, o escultor.

Djeser faraó da III dinastia, obteve um oficial extraordinário, o primeiro indivíduo revelado por registros humanos: Imhotep. Esse homem parece ter vindo originalmente do templo de Rá, o deus-Sol, em Heliópolis. Djeser o transformou no segundo homem do reino, concedeu-lhe a prestigiosa situação de participar da família régia e o divinizou virtualmente, permitindo que suas distinções fossem inscritas em sua própria estátua no complexo funeral régio de Sakkara, que Imhotep construíra para ele: “O Ministro do Rei do Baixo Egito, o primeiro depois do Rei do Alto Egito, administrador do grande palácio, chefe hereditário, o Sumo Sacerdote de Heliópolis, Imhotep, o construtor, o escultor, o realizador de vasos de pedra”.

Pode  ele ter sido todas essas coisas? A imagem de Imhotep transmitida a gerações posteriores foi a de um gênio universal, mas principalmente, a de um médico fundador do sistema egípcio de medicina considerado por muitos o mais importante do mundo antigo.

Divinizaram-no como o próprio deus da cura no tempo de ptolomeu, os gregos o igualaram a Asclépio. O que podemos assegurar é que ele foi um arquiteto de originalidade e visão incomparáveis. Seu próprio tempo o chamou, curiosamente, de “o realizador de vasos de pedra”. O vaso de pedra se tornou a primeira grande conquista da cultura egípcia. Nos dias de Imhotep, eles eram feitos em quantidades surpreendentes; mais de 40 mil deles foram encontrados no complexo de Djeser, ainda que muitos possam ter sido trazidos por ele de tumbas dinásticas anteriores, tentando anular a ação dos saqueadores. Vale lembrar que, para confeccionar e polir todos esses objetos, milhares de horas e homens eram necessários. Imhotep foi o primeiro a fazer uso integral das técnicas dos pedreiros em monumentos arquitetônicos. Tradicionalmente, os egípcios construíam com adobes oblongos compostos da lama do Nilo, areia e pedaços de palha.

Imhotep concebeu, a primeira construção inteiramente pétrea da história, mas não parou por aí: ele ousou rematar a obra com uma Pirâmide em Degraus – e circundá-la com um enorme complexo de pedra constituído por um grupo de templos, altares e dependências afins. Toda a disposição desse projeto foi baseada no grande palácio real de Mênfis com seus muros e ameias.

Predemos a respiração ao pensar na audácia de Imlhotep e no rigor com que levou seu projeto adiante. Grande parte do que ele erigiu tem sido reconstruída, tal qual originalmente, com blocos de silar, fazendo-nos compreender suas reais dimensões e tamanho. Imhotep instaurou a glória arquitetônica mais marcante não só do Antigo Império mas dea civilização egípcia como um todo. Igualmente surpreendente é a coragem e aoriginalidade de cada detalhe. A partir de uma criativa petrificação das plantas de papiros, tradicionalmente utilizadas na construções com lama e colmo , Imhotep inventou o pilar de pedra e a arquitrave. Ele também se utilizou de caneluras abstratas em suas colunas. Em meados de 1920, quando o complexo foi amplamente escavado pela primeira vez, os arqueólogos ficaram atônitos ao ver o que aparentemente eram colunas dóricas emergindo das areias e detritos. Como elas podiam ter sido construídas 2 mil anos antes dos gregos? Mas as pedras não mentiam: Imhotep, o Leonrado de Mênfis, ofuscara os tempos clássicos.

O gigantesco complexo é um exercício de compreeensão teológica superior, cujo propósito era ser constrruído para a eternidade. Imhotep foi o primeiro a pensar na associação entre a pedra e imortalidade. Ele não tornou a tumba de Sjeser apenas dum espaçoso empório de vasos de pedra, mas reproduziu em pedras cada elemento material do cotidiano egípcio do segundo quarto do terceiro milênio. Portas de madeira, dobradiças de cobre, esteiras e ferrolhos de metal foram todos imitados, fidedigna e exatamente, em pedra. De fato, ele petrificou um ativo palácio egípcio de mais ou menos 2650 a.C. em uma tumba que durasse para sempre, assegurando, assim, a imortalidade do rei e de seus dependentes (ele próprio incluíndo). Ele também abasteceu o palácio tumbal com bens petrificados: de cestos de palha a tecelagens, de potes de metal a rebites...tudo reproduzido em pedra.

Imhotep coroou sua obra-prima com a compacta abstração da Pirâmide em Degraus, ela própria uma petrificação osimbólica da realeza perene. Ninguém jamais havia visto uma construção como essa no mundo. Tanto da capital, MNênfis, quanto do deserto e do vale, mesmo a muitos quilômetros de distância, ela se fazia plenamente visível, mas era muito mais do que um ponto de referência espetacular. Pela primeira vez, espaços imensos não foram organizados com fins utilitários, mas pela procura consciente de um objetivo artístico inspirado por concepções religisosas. A realização desse projeto apoteótico de pedra demonstrou, como nunca até então, a capacidade e a habilidade da humanidade organizada. Construções de pedra ainda eram uma novidade; memso em direçaõ ao fim da Segunda Dinastia, quando os anos de reinado eram caractereizdos antes por eventos do que por números, um deles foi descrito como “O ano em que o prédio ‘A deusa Robustece’ foi construído em pedra”. O complexo pétreo e triunfal de Imhotep parece ter inspirado, nos egípcios e no faraó, uma paixão pela construção em pedra, que se transformou talvez na mais estranha obsessõa his´toriaca. Ainda é difícil compreend~e-la inteiramente, mas para que isso possa acontecer temos de alcançar o sentido da própria função faraônica e de sua importância para o povo egípcio.

 Você quer saber mais?

JOHNSON, Paul. Coleção História Ilustrada: Egito Antigo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2010.

domingo, 19 de janeiro de 2020

MELQUISEDEQUE, REI DE SALÉM.



Autor: Leandro Claudir Pedroso

Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.
            
Tenho lido diversos textos sobre o Rei/Sacerdote Melquisedeque, e embora já houvesse feitos estudos anteriores sobre o mesmo, deixei-me levar pelo interesse atual no tema, e fui realizar novas pesquisas. Não é um tema tão simples como tenho visto em alguns artigos na internet, e aproveitando o ensejo deixo um alerta para nunca manterem suas pesquisas unicamente na internet, pois a mesma está repleta de informações inverossímeis e de especulação. Aconselho aos amigos do Construindo História Hoje pautarem suas pesquisas em livros de autores conceituados com formação especifica para tanto. O texto mais relevante sobre o assunto se encontra em Gn. 14:18-20, aonde o Rei/Sacerdote se encontra com Abrão, este encontro se deu em +- 1850 a.C, após a chegada de Abrão a Canaã!

            Melquisedeque significa “Rei da Paz” ou “Rei da Justiça”, seu nome tem origem Cananeia, assim como Abrão (antes de Deus mudar seu nome para Abraão), ele era cananeu, e como Jó um exemplo de um não israelita, servo de Deus. O Rei/Sacerdote Melquisedeque é interpretado muitas vezes como uma figura da realeza e sacerdócio eterno do Senhor Jesus, com também uma Cristofania, ou seja um termo técnico da teologia cristã que serve para designar as aparições de Jesus Cristo antes da encarnação, em eventos ocorridos no Antigo Testamento.

Salém (Paz) é a forma contrata de Jerusalém, que significa “Cidade da Paz”, ou o antigo nome da cidade, S. João Crisóstomo ensina que para restabelecer as forças das tropas de Abrão, após a batalha contra os quatro reis, o qual, em consideração ao caráter sagrado de Melquisedeque, figura de Cristo, aceitou os dons, figura da Eucaristia, e em troca deu ao sacerdote a décima parte de todos os despojos. É óbvio que Melquisedeque tenha primeiramente oferecido aqueles dons, segundo o uso, ao Altíssimo, de quem era sacerdote.

“Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra! 20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” Gn. 14:18-20

            Melquisedeque adorava o Deus Altíssimo, no texto original El’ Elyon, Elyon é empregado na Bíblia, principalmente nos Salmos como título divino, e aqui é identificado como o verdadeiro Deus de Abraão. Salém é a cidade ao qual Iahweh escolheu para mais tarde habitar.

            A tradição patrística explorou e enriqueceu esta exegese alegórica, vendo no pão e no vinho trazidos a Abrão uma figura da Eucaristia, e até um verdadeiro sacrifico, figura do sacrifício eucarístico. Muitos padres admitiram ainda que em Melquisedeque aparecera o Filho de Deus em pessoa, seria então uma Cristofania, isto é uma aparição do Messias antes do seu nascimento carnal. No Antigo Testamento estás aparições segundo muitos teólogos se deram pelo Anjo do Senhor, que seria Cristo antes da encarnação.

            É importante dentro do contexto de estudo de Melquisedeque fazer menção ao Anjo do Senhor, um anjo incomparável que aparece no AT e NT. Seu primeiro aparecimento foi a Hagar no deserto (Gn 16:7) e outros aparecimentos incluirão pessoas como Abraão (Gn 22:11-15) e José (MT 1:20). A identidade do Anjo do Senhor tem sido debatida, especialmente pelo modo  como ele frequentemente se dirige às pessoas. Note em Jz 2:1, o Anjo do Senhor  diz: do Egito EU vos fiz subir, e EU  vos trouxe à Terra que a vossos pais EU tinha jurado, e EU disse: EU nunca invalidarei o meu concerto convosco. Verificam-se pelo pronome que eram atos do SENHOR! Alguns consideram que ele era uma aparição do Cristo eterno, a segunda pessoa da Trindade, antes de nascer da virgem Maria.

 “Jurou o Senhor, irrevogavelmente: ‘Tu és sacerdote para sempre, a maneira de Melquisedeque’.” Sl. 110:4

            O sacerdócio conferido por Deus ao Messias com nova e solene fórmula de juramento, não está unido à instituição levítica, mas remonta diretamente a Deus, como o de Melquisedeque “sacerdote do Altíssimo”. No Antigo Testamento somente os asmoneus reuniram na mesma pessoa a soberania política e o sacerdócio religioso.

            Ao analisarmos a narrativa de Gênesis sobre Melquisedeque, rei de Salém, para inferir daí a prova de que este misterioso personagem que entra  bruscamente em cena e depois não se fala mais dele a não ser na citada alusão do Sl 110:4, era figura de Jesus Cristo. A narração bíblica apresenta muitos traços que o fazem semelhante a ele. A prova apoia-se em argumentos de três gêneros diversos: significado etimológico dos nomes próprios “Melquisedeque” e “Salém”, aquilo que a Escritura era corrente e reconhecido como válido entre os hebreus, e não pode negar-lhes o valor quem crê na inspiração da Bíblia e na providência divina especial em relação à história do povo eleito. Jesus Cristo é pessoa sobre-humana que transcende os tempos e Melquisedeque é, na narração bíblica, como que seu reflexo. Infere-se aqui dos fatos de Melquisedeque, expressamente mencionados na narrativa bíblica, outro argumento para provar quanto o sacerdócio de Melquisedeque e por consequência o de Jesus seja superior ao da tribo de Levi na lei mosaica. Outra consequência de suma gravidade: a lei mosaica estava intimamente ligada ao sacerdócio levítico, seja por se concentrar nele o culto divino, seja por caber  aos sacerdotes a explicação da lei ao povo e interpretá-la nos casos dúbios ou discutidos. Era um sacerdócio instituído para aplicação e conservação da Lei, vindo portanto a faltar este sacerdócio, também a lei ligada a ele perde o valor. E isto aconteceu com a vinda de Jesus Cristo que não era da tribo de Levi, mas sim de Judá, com Ele o sacerdócio levítico foi extinto e um novo sacerdócio eterno foi promulgado. Os sacerdotes levíticos estavam ligados ao estatuto carnal, pois eles morriam e necessitavam serem substituídos por novos sacerdotes, o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo segundo a ordem de Melquisedeque é imortal, não tem fim, sendo o mesmo um sacerdócio perfeito. O sacerdócio levítico era de casta, já o instituído pelo Senhor Jesus é pessoal e trás salvação a toda humanidade!

            Quando o texto sagrado fala em Hebreus cap. 7 que o sacerdócio de Cristo é segundo a ordem de Melquisedeque, significa que Cristo é anterior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes levíticos e maior que todos eles. No texto também lemos que ele não possuía nem pai e nem mãe, mas isso pode não significar que literalmente ele não tivesse pais, mas que os mesmos não estão registrados nas genealogias do texto sagrado.

            Temos várias teorias sobre quem foi Melquisedeque, poderia o mesmo ter sido unicamente um rei e sacerdote cananeu que servia ao Deus único, podendo ainda ter sido uma aparição de Cristo no Antigo Testamento, o que chamamos de Cristofania (Anjo do Senhor, que muitas vezes recebeu culto sem rejeitar, sendo desde modo uma pessoa da Santíssima Trindade), como em Gn. 16:7-13, 21:17-18, 22:11-18, Ex. 3:2, 13:21 e 14:19, também podemos explorar o fato de ter sido uma Teofania, uma presença física de Deus, como vemos em Gn. 32:22-30, Ex. 24:9-11, Gn. 12:7-9, entre outros, ou ainda uma Angelofania, que significa uma materialização de um anjo em forma corpórea, como vemos em relatos no Antigo Testamento, cito Gn. 18:1-33, Tb 12, dentre outros trechos.

            Ainda existem diversas vertentes de pensamentos que consideram Melquisedeque o próprio Sem, filho de Noé que teria tido seu nome alterado pelo próprio Deus e devido a sua longevidade, pois o mesmo teria sido contemporâneo de Abrão por 60 anos, dado o fato que Sem viverá 600 anos. E teriam sido sacerdotes de uma ordem ao qual o nome da mesma teria sido Melquisedeque, então o mesmo seria um título e não um nome próprio. O primeiro sacerdote desta ordem teria sido Sete, depois Sem e então o último teria sido Abrão, e os pães e vinho que o mesmo receberá de Melquisedeque (Sem) seriam um ritual de elevação sacerdotal de Abrão. Está posição e muito explorada pelos Judeus Messiânicos, que são alguns judeus conversos ou cristãos que se apegam a ritualística judaica.  
            Diante desta breve exposição podemos verificar várias opiniões sobre quem foi Melquisedeque, mas segundo minha opinião e com base em meus estudos, tenho duas opiniões a respeito do assunto: a primeira é que foi um Rei/Sacerdote Cananeu converso ao Deus Único Iahweh, e a outra que se tratava de uma Cristofania, muito comum em Gênesis por meio do Anjo do Senhor. Mas este é um tema a ser explorado, mas reitero aos meus leitores que ele seja feito sempre pautado em textos de conteúdo teológico respeitável e não em devaneios e especulações.

Autor: Leandro Claudir Pedroso


Formado em Licenciatura Plena em História e Pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.

Você quer saber mais?

Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, 1967.


Bíblia de Jerusalém, Paulus, 2010.

Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, 1995.

A Guerra dos Reis.. Disponível em: https://www.baciadasalmas.com/a-guerra-dos-reis/, acessado em 19/01/2020.

GINZBERG, Louis. Lendas dos Judeus. 1909-1928.

Para os curiosos em uma exposição detalhada sobre Melquisedeque ser Sem, filho de Noé, indico lerem este artigo: https://www.baciadasalmas.com/sete-e-seus-descendentes/




quinta-feira, 14 de junho de 2018

Richard Wagner, Compositor, dramaturgo e filosofo.



Fonte: Grandes Vidas, Grandes Obras – biografias famosas.

Tinha um dom especial para conseguir que as pessoas falassem dele. Era um homem de pequena estatura, enfermiço, com uma cabeça demasiado grande em relação ao corpo; sofria dos nervos e não tolerava sobre a pele qualquer tecido mais áspero que a seda; as suas ilusões de grandeza convertiam-no num monstro vaidade.

Julgava-se um dos grandes dramaturgos do mundo, um dos grandes pensadores e um dos maiores compositores – uma combinação de Shakespeare, Platão e Beethoven. Conversador terrivelmente fastidioso, passar uma tarde com ele era ouvir durante horas um interminável monólogo. Algumas vezes revelava certo brilhantismo, mas outras tornava-se desesperadamente maçador. O seu único tema de conversa era ele próprio.

Queria ter sempre razão. Se algum dos que o escutavam mostrava o menor desacordo, ainda que fosse sobre o ponto mais trivial, começava uma arenga que poderia demorar horas.

Tinha as suas próprias opiniões sobre qualquer assunto – vegatarismo, drama, política, música – e para as apoiar escrevia  inúmeros folhetos, cartas e livros que publicava a custa de outros. Como se isso não bastasse, sentava-se a lê-las à família e aos amigos durante horas.

Também escreveu óperas. E mal acabava de produzir uma, logo convidava, ou, melhor ordenava a admiradores e amigos que fossem a sua casa, a fim de lhas ler em voz alta. Não fazia isto para ouvir críticas, mas apenas para escutar aplausos. Tocava piano no mau estilo dos compositores e, no entanto, durante as festas sentava-se ao piano na presença de alguns dos melhores pianistas da época e tocava e sem descanso... a sal própria música. A voz também deixava muito a desejar, mas nem por isso se abstinha de convidar para sua casa eminentes cantores e diante deles interpretar as suas próprias óperas, cantando todos os papéis.

Tinha a estabilidade emocional de uma criança de seis anos, quando não estava contente, falava desatinadamente e batia com os pés no chão, ou afundava-se numa melancolia suicida, falando em partir para o Oriente e acabar  os seus dias como monge budista.  Dez minutos depois, quando  alguma coisa lhe agradava, corria à volta do jardim da sua casa, altava sobre um sofá ou punha-se de cabeça para baixo. Podia ficar aniquilado com a morte de um dos seus cães favoritos, mas, apor vezes, a sua frieza de coração era tal que teria feito tremer um imperador romano.

Faltava-lhe o sentido das responsabilidades. Nunca lhe veio à ideia que tinha obrigação de ganhar a vida. Estava convencido de que era o mundo que lhe devia dar-lhe comida. Pedia dinheiro emprestado a toda a gente, homens, mulheres, amigos e estranhos. Escrevia inúmeras cartas solicitando empréstimos e chegava a oferecer ao suposto benfeitor o privilégio de contribuir para o seu sustento, sentindo-se mortalmente ofendido se aquele declinava uma tal “honra”. Não foi encontrado qualquer recibo comprovativo de que alguma vez houvesse devolvido dinheiro aos seus credores, sem que estes tivessem primeiro interposto as respectivas ações de cobrança de divida.

Qualquer quantia que lhe chegava ás mãos gastava-a como um rajá indiano.  O menor projeto de por em cena uma das suas óperas bastava para fazê-lo abrir contas que superavam dez vezes mais a quantia que havia de receber pelos direitos de autor. Embora não tivesse3 o dinheiro suficiente para pagar a renda da casa, as paredes e os tetos eram forrados de seda cor-de-rosa. Nunca ninguém saberá, nem ele mesmo chegou, a saber, a quantidade de dinheiro que devia. O seu maior benfeitor deu-lhe uma ocasião o equivalente a duzentos mil escudos para pagar os encargos mais urgentes; porém, um ano mais tarde, teve de enviar-lhe mais o equivalente a quinhentos mil escudos, a fim de evitar que o seu protegido fosse preso por dividas.

Mas sobre tudo era sem dúvida um dos melhores dramaturgos da sua época, um dos maiores pensadores e um dos mais extraordinários gênios musicais que o mundo conheceu. O mundo, na realidade, devia-lhe o sustento.

Quando consideramos que escreveu treze óperas e dramas musicais, dos quais onze são ainda postos em cena e oito figuram sem discussão, ente as melhores obras músico-dramáticas de sempre, as dividas e as dores de cabeça que fez sofrer aos outros não nos parecem um preço muito elevado.  Um homem que não gostou de ninguém, a não ser de si próprio, remiu todas as culpas escrevendo Tristão e Isolda. Uns quantos milhares de dólares de dividas não foram paga demasiado elevada pela sua tetralogia “O anel de Nibelungo”.