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sábado, 30 de janeiro de 2021

A política ao longo da história

 

Ilustração que recria a assembleia popular ateniense (eclésia) reunida na Pnyx, uma colina no sudoeste da Ágora.

Autor:  Leandro Claudir Pedroso, licenciado em História e pós-graduado em Metodologia do Ensino em História e Geografia.

A política e as atividades voltadas a ela são algo presente na sociedade humana desde seus primórdios, para tal premissa baseio-me na definição de política pelo Novo dicionário Aurélio edição de 1975, e na tradição greco-romana, e na antiga e moderna filosofia, bem como nos textos sagrados judaico-cristãos.

O que é política

Lemos no Aurélio que política é a ciência dos fenômenos referentes ao Estado, um sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos, a arte de bem governar os povos, e um princípio doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado.

No mundo grego antigo, temos Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) ele foi um dos primeiros a explicar o que é política, em um compêndio de 8 livros, chamado Política. Para ele a política é ligada a moral, o Estado é um organismo moral, que complementa a atividade moral do indivíduo, mas a política, no entanto é distinta da moral, pois a moral tem como objetivo o indivíduo e a política a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, e a família que precede ao estado, e como na família a tarefa essencial do estado é a educação, que deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais e físicas.

Ainda na Grécia antiga, não posso esquecer de Platão (428 a.C - 347 a.C), que em sua obra prima, República fala sobre uma cidade perfeita. Ele discorre sobre o fato de que os mais virtuosos governantes, são aqueles que governam sem amor às glorias e ao dinheiro. Declara que uma cidade que surgisse baseada em homens bons, fugir-se-iam do poder, saberiam que não deveriam visar seus próprios interesses, mas sim daqueles que por eles são governados. A justiça alimenta a concórdia e a amizade e da injustiça nasce toda sorte de dissenções. Sendo deste modo a justiça uma virtude da alma humana, e a injustiça nada menos do que um vício pernicioso.

Já no mundo romano, temos Sêneca (4 a.C- 65 d.C), que viveu em um período de corrupção, violência e improbidades, bem semelhante ao que vivemos hoje. Sêneca propôs uma nova política, foi um grande representante do Estoicismo. Para ele a política deveria ser justa e humanitária, e evitar todas as formas de excessos, pois estes conduzem às injustiças. E a felicidade suprema seria alcançada por uma vida pautada nas virtudes, incluindo a vida política.

Na filosofia no fim do período moderno trago como expoente do tema político, Voltaire, em seu dicionário Filosófico de 1764, ele afirma que primordialmente a política do homem consiste em tentar igualar-se as relações existentes no meio natural entre os seres vivos, pois a natureza supre todos de suas necessidades. Para que o mesmo ocorra com a humanidade, seria necessário que a política fosse praticada por pessoas dotadas de gênio, que podem inventar todas as artes que promovam a longo prazo um certo bem-estar. Mas seria um trabalho feito com auxílio de toda sociedade, com mentes bastante abertas para compreender e instigadas para seguir as ideias daqueles dotados de gênio para os conduzir. Para Voltaire esse seria o único objetivo de toda política.

Na tradição judaico-cristã vemos que a política deve ser encarada na forma de uma missão dada por Deus aos seus servos, temos os exemplos de José no Egito, Moisés, o período dos juízes como Débora, Samuel e outros, até o período dos reis Davi e Salomão, e outro ainda que não tenham sido perfeitos, mostraram fidelidade a Deus, e na missão a eles incumbida por Deus. No livro de Filipenses lemos que nossa cidadania está no céu, e diante disso devemos trazer um pouco do céu para a terra, por meio de nossas ações pautadas no Evangelho. Em Provérbios lemos que os governantes que odeiam o ganho desonesto prologaram seu governo.

Agora esmiuçaremos a política ao longo da história humana.

A política na Pré-história

Há quem pense que a política só existe desde o advento da escrita, mas vou lhes mostrar como isso é um grande engano. Nossa espécie tem uma alta capacidade de interação social que supre a nossa fragilidade física por meio de uma sofisticada interação social. E estas envolviam sim, o exercício da política para obtenção de conforto para o grupo, seja alimentar ou relativo à segurança, por meio de atividades coletivas. E para gerenciar essas atividades existiam líderes que coordenavam os esforços por meio de sua relação de poder. Seu poder era conquistado por meio da força física, um guerreiro ou um caçador bem sucedido. Havia também a presença do conselho de anciãos que eram consultados pelo seu conhecimento e memória do grupo. Além é claro do líder religioso tribal, que por meio de consulta ao mundo metafisico aconselhava os líderes e anciãos. Na pré-história o que não existia era uma política estruturada que surgiria somente com as primeiras civilizações. 

A Política no mundo grego

A palavra política tem sua origem da palavra grega “politeia”, que era relacionado a tudo que era feito na “Pólis” que pode significar cidade, comunidade ou vida urbana. Neste sentido, determinava a ação empreendida pelas cidades-estados gregas para normalizar a convivência entre seus habitantes e com as cidades-estados vizinhas.

Para os filósofos gregos a política levava o homem a uma vida virtuosa, e a mesma seria o ponto mais alto da vida humana, só sendo considerada inferior a vida contemplativa dos sábios. Os filósofos forneciam a verdade para os governantes das cidades, para eles a política definia a essência do homem. Tanto a filosofia como a política estruturada e organizada, nasceram juntas na Grécia, no século VI a.C, mesmo que a política já estive engatinhando em outras civilizações anterior, como nas cidades de Jericó e Ur (centros urbanos desde +- 9.000 a.C). Há ainda algo de muito curioso sobre a política praticada nas Pólis, pois eles não entendiam a política como nós, para eles a política tinha como fim a justiça comum, e ainda havia uma tênue linha que separava a política da consciência mítica, pois a justiça almejada era relacionada as divindades.

Política no mundo romano

Podemos dividir a história da política romana em três etapas distintas, Monarquia (753-509 a.C.), República (509-27 a.C.) e Império (27 a.C.-476 d.C).

Monarquia

Desde a fundação de Roma por Romulo e Remo, descentes de Enéias, surgiu uma federação de aldeias. Sua estrutura social era formada pelos patrícios, descendentes dos fundadores de Roma, que eram os grandes proprietários; os clientes, que recebiam amparo e proteção dos patrícios e os plebeus, que não tinham a tradição dos fundadores, mas foram incorporados, ocupavam a base da sociedade: artesãos, comerciantes e pequenos proprietários.

A realeza romana surgiu como a realização política da função jurídico-religiosa de soberania, o rei acumulava funções executivas, judiciais, legislativas e religiosas.

A ratificação de leis era feita pela Assembleia das cúrias, composta por todos os cidadãos em idade militar, e o senado, ou "conselho de anciões", atuavam como conselho régio e escolhia novos reis. Na fase final da realeza, a partir do fim do século VII a.C., Roma foi dominada pelos etruscos. Eles influenciaram os romanos tanto na cultura, como na economia.

Esse período foi marcado pela ascensão, estruturação e domínio aristocrático, e seu poder político estava ligado à posse de terras, já que o direito ao voto e eleição ao senado era censitário, que é um voto por renda, ou seja, vota quem tem até um certo valor de renda estipulado.

República

Nesse período o poder executivo do rei passou para dois magistrados anuais, os pretores, chamados depois de cônsules. No início nada excluía os plebeus do consulado. Mas logo os patrícios confiscaram deles esse poder da magistratura. Isso gerou um conflito entre patrícios e plebeus. Os plebeus criaram então a assembleia da plebe, e foi estabelecido um tribuno que defendia seus interesses junto as estruturas aristocráticas (senado e magistrado). A assembleia da plebe era semelhante a um governo dentro do governo, ela elaborava leis, os plebiscitos que a principio afetava só a plebe. A luta entre patrícios e plebeus duro até o começo doo século III, com a vitória da plebe, que teve novamente acesso as magistraturas. A ascensão de uma elite plebeia com o desmoronamento da resistência patrícia deu origem a uma classe de dirigente comum, a nobreza.  E seu poder repousava no equilíbrio de três órgãos políticos que se controlavam mutuamente, os magistrados, o senado e a assembleia do povo. Mas todo o poder emanava do Senado, cidadela da nobreza.

Desse modo nem todos tinham as mesmas oportunidades. Hereditariedade e outros requisitos para cargos eram cruciais. Havia uma minoria que participava na totalidade da vida cívica e o restante da população, limitadas ao serviço militar.

Somente no fim da República é que começam as decisões arbitrárias, preparadas em segredo, sem discussão ou direito de apelação e foi exatamente isso um dos fatores que acabou na crise da República romana.

Na cidade de Roma a igualdade de direitos se dava segundo a capacidade jurídica de cada um nas esferas religiosas, financeiras, militares e políticas.

Segundo  Flavia Maria Schlee Eyler, em seu livro História antiga Grécia e Roma: A formação do Ocidente,  o lema dos romanos prega que, se aquilo que desejais impor aos vossos inferiores, vós decidis impor em primeiro lugar a vós mesmos e aos vossos, obtereis muito mais facilmente a obediência de todos. Há igualdade jurídica, mas não igualdade política.

Os séculos II e I a.C. são tidos como o período de crise da República romana.

Império

O poder migrou do senado para o imperador. Durante o império o poder dos magistrados e senadores foram reduzidos, os impostos antes cobrados por publicanos, agentes particulares que tinham lucro com essa atividade. Passaram a ser recolhidos pelo Estado, desse modo a arrecadação aumentou e diminuiu a exploração dos habitantes das províncias. Foi criado também um serviço de correio que permitiu controlar a administração com mais eficiência. Estabeleceu-se também uma nova ordem social, cujo critério principal era o econômico e não o de nascimento, os cidadãos teriam direitos proporcionais aos seus bens. Surge então três ordens sociais: a Senatorial, formada por cidadãos que possuíam uma grande fortuna, esses tinham privilégios políticos, os Equestres com uma fortuna inferior, podiam exercer alguns cargos públicos, e por fim os inferiores com uma riqueza abaixo dos Equestres não tinham direito algum. Houve uma pacificação dos territórios dominados, consolidação e proteção das fronteiras. O exército passou a uma força permanente, composta por profissionais. Foi um período de estabilidade política e social, a agricultura passou por um grande desenvolvimento, houve um grande apoio aos artistas. Nesse período foi conquistada a pax romana com Otávio que perdurou por 200 anos, até se iniciarem lutas internas pelo poder, e os ataques bárbaros que começaram a enfraquecer o império, muitos imperadores nesse período morreram violentamente, o que desestabilizou a ordem aos poucos. Em todos os três períodos romanos não podemos esquecer os escravos, os motivos que levavam a escravidão eram dívidas,  prisioneiros de guerra de povos conquistados, mas nunca focada em uma etnia. 

A política no Brasil Colônia


Governador geral Tomé de Souza

A administração política do Brasil foi desde o princípio um grande empreendimento português, com o objetivo de com o mínimo tirar o máximo da colônia. Toda relação era regida pelo pacto colonial, que somente permitia aos brasileiros comercializarem com Portugal. Nesse primeiro momento de nossa história vinculada a Europa, os primeiros representantes dessa administração política das capitanias hereditárias, os capitães donatários eram membros da pequena nobreza, burocratas e comerciantes, todos muito próximos da coroa. Nenhum representante da grande nobreza estava entre os donatários. Os donatários tinham o monopólio da justiça, fundavam vilas, doavam sesmarias, alistavam colonos para fins militares. Após o fracasso das capitanias tivemos o governo geral, cujo administração conseguiu consolidar a colonização e melhor integrar a colônia ao sistema mercantilista europeu. O trabalho compulsório era uma das bases do governo colônia, sustentado sobre os ombros da mão de obra africana. A grande maioria dos lucros de tudo que era extraído do Brasil ia para coroa portuguesa, então desde nossa aurora conhecemos a exploração, pois o tipo de colonização estabelecida por Portugal no Brasil foi de exploração. Dessa forma todos os indivíduos que vieram da metrópole par cá, representavam os interesses da Coroa na colônia. Então as leis, impostos e as instituições presentes na colônia zelavam unicamente pelos interesses portugueses. A população tinha praticamente nenhuma autonomia para elaborar e impor direitos que se direcionavam aos seus próprios interesses. Verificamos dessa maneira que desde de nossa aurora fomos explorados pelos interesses das políticas colônias, com a diferença de agora sermos explorados por políticas nacionais que desprestigiam os próprios filhos de nossa terra.

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Bibliografia

PLATÃO, A República de Platão: tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Best Seller, 2002.

VOLTAIRE, AROUT, François-Marie. Dicionário Filosófico. São Paulo: Martin Claret, 2002.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

EYLER, Flavia Maria Schlee. História antiga Grécia e Roma: A formação do Ocidente. Editora Vozes, 2014.

ARRUDA, José Jobson de A; PILETTI, Nelson. Toda a História: história geral e história do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1999.

Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Editora Nova Cultura, 1999.v.21. 

https://www.pucsp.br/pos/cesima/schenberg/alunos/paulosergio/politica.html acessado em 10 de janeiro de 2021.

https://www.todamateria.com.br/o-que-e-politica/ acessado em 10 de janeiro de 2021.

http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2014/07/organizacao-politica-na-antiguidade.html#:~:text=Durante%20a%20pr%C3%A9%2Dhist%C3%B3ria%2C%20os,forte%20e%20bem%20sucedido%20liderava. Acessado em 12 de janeiro de 2021.

https://descomplica.com.br/artigo/como-surgiu-a-politica/4nB/#:~:text=Filosofia%20e%20pol%C3%ADtica,o%20que%20h%C3%A1%20de%20melhor. Acessado em 12 de janeiro de 2021. 

 "A humildade é o principio de toda sabedoria!"

domingo, 20 de setembro de 2020

Distributismo, o caminho do meio entre capitalismo e socialismo.

 


Significado do símbolo do Distributismo. Antes nascer São Domingos Gusmão (1170-1221), sua mãe, em sonho misterioso, viu um cão que trazia na boca uma tocha acesa, que irradiava luz sobre o mundo inteiro. Esse relato, presente na L.A. – a Legenda Áurea - e consagrado na historiografia de São Domingos, está relacionado com a etimologia do nome: uma denominação comum assumida pelos dominicanos era domini cane, os cães de Deus ou cães a serviço do Senhor.

Boa tarde, mentes ávidas do amanhã. Recentemente um amigo me falou, sobre um sistema político-econômico que seria uma via do meio entre socialismo e capitalismo. Fiz uma pequena pesquisa sobre o assunto, e trago agora para a apreciação dos amigos.

Leandro Claudir Pedroso

É uma teoria política e econômica inglesa que foi elaborada primeiramente pelo historiador francês Hilaire Belloc (1870-1953), sistematizado a teoria em seu livro The Servile State (1913). Sua principal característica é se opor ao capitalismo e o socialismo em defesa da propriedade privada e de uma autêntica concepção de liberdade, e uma visão conservadora do mundo O principal propagador das ideias distributistas foi o famoso escritor inglês Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). Uma curiosidade importante, é que podemos encontrar na obra de John Ronald Reuel Tolkien muito das ideias de Chesterton e Hilaire na trilogia “O Senhor dos Anéis” aonde passa de forma sutil muitas ideias distributistas. A própria filha de Tolkien, Priscilla Anne Reuel Tolkien, afirma que seu pai era aprofundado nos trabalhos de Chesterton e Hilaire Belloc. 

Seria uma espécie de "terceira via" pois se opõem ao capitalismo e o socialismo. Considerando tanto um quanto o outro, faces de uma mesma moeda, pois ambos são concentradores de propriedade: o primeiro a concentra nas mãos de alguns poucos indivíduos, o segundo nas do Estado. Em 1926 surgiu a liga distributista, um movimento intelectual que visava fundamentar às bases das ideias da restauração da verdadeira propriedade privada, segundo pronunciou Chesterton no discurso inaugural. Sendo ele mesmo eleito o primeiro presidente da liga.

Belloc em seu livro The Servile State crítica o capitalismo por deixar os meios de produção limitados a uma pequena parcela da população, e a grande maioria da população no sistema capitalista é formada por proletários que constituí a característica da servidão capitalista e presença de uma legislação que defende direitos e privilégios aos que possuem meios de produção.

1-    Proletariado, servidão capitalista.

2-    Legislação que defende direitos e privilégios aos que possuem meios de produção.

No capitalismo os trabalhadores são obrigados a venderem sua mão de obra,  este comercio por mão de obra está presente em toda a vida do sujeito e de forma coercitiva, criando uma ideia de que todos que se opõem a está visão de mundo são vagabundos, chegando a coerção pelos poderes do Estado. Com salários baixíssimos os proletariados não conseguem tornar-se proprietários de meios de produção. Sendo assim, a mobilidade social no dito sistema, quase nula, muito semelhante ou em alguns aspectos iguais a da Idade Média.

Para Belloc a descentralização dos meios de produção é o caminho para libertar o proletariado, pois acabaria com a concentração dos meios de produção que são os responsáveis pela servidão do povo. Sendo então por raciocínio lógico a propriedade privada distribuída como único caminho para a liberdade. Sendo o povo proprietário de meios de produção, estes teriam protegidas suas liberdades individuais, protegendo-o da escravidão, servidão, coerção e opressão do Estado ou dos grandes proprietários.

Para o distributismo não existe liberdade ou democracia sem a distribuição da propriedade, pois um homem sem posses é um homem dependente e destituído de poder.

Gustavo Corção, um escritor chestertoniano, afirmava em seu livro "Três Alqueires e uma Vaca" (1961), que a ideia central é a da defesa da pequena propriedade e da pequena empresa contra o gigantismo, que já no seu tempo ameaçava a sociedade, e que no nosso tornou-se uma calamidade declarada. Afirmava o direito à posse, não como uma concessão, mas ousadamente, como outorgado por Deus; admitia o capital enquanto indispensável reserva, mas não admitia, de modo algum, o capitalismo, porque a principal característica desse regime a seu ver está na raridade e não na abundância do capital (...) o capitalismo é, de fato, contrário à ideia de posse. Considerando o capitalismo nas suas origens e causas, estudando o ambiente do liberalismo e apreciando o fenômeno de dissociação entre o conceito de posse e o de responsabilidade moral, concluímos que o capitalismo foi gerado por um desregramento da propriedade e da liberdade (...) a hipertrofia da ideia de posse tornou-se uma atrofia; a livre competição degenerou em privilégio. Se o direito de posse é um direito comum não pode ser um privilégio. Logo, o capitalismo como tal, de fato, é uma negação do direito à propriedade privada.


“...Se não restaurarmos a Instituição da Propriedade, não poderemos escapar de restaurar a Instituição da Escravidão.”

Hilaire Belloc

No distributismo encontramos proteção ao individuo e a comunidade, dando ao povo liberdade e responsabilidade por meio da difusão do direito a propriedade privada, mas baseada no pequeno negócio e não em grandes empresas e latifúndios, fundamentada na ideia que o artesanato é superior a produção em massa, e na descentralização do poder por meio de governos locais mais fortes em detrimento do um poder central.

Foi em 1893 que o então Papa Leão XIII articulou a relação entre propriedade e justiça no mundo moderno. O capitalismo se baseia em duas ideias: que o rico sempre será rico o bastante para empregar o pobre; e que o pobre sempre será pobre o bastante para querer ser empregado pelo rico. A paralisia dentro deste sistema é inevitável. Capitalismo é uma contradição.

Dale Ahlquist, presidente da American Chesterton Society, declara que a solução preferida de Chesterton é a de que a maioria dos negócios se torne pequenos negócios. Onde os amplos negócios fossem necessários, eles deveriam pertencer aos empregados, os quais deveriam ser direcionados por um guia, combinando as suas contribuições e dividindo os seus resultados. Ele acredita que pequenas lojas podem ser governadas – mesmo que sejam governadas por si mesmas. Ele acredita que pequenas lojas podem ser sustentadas – se as apoiarmos. Distributismo é democracia, baseada na propriedade. Democracia pode funcionar somente se a propriedade for expandida. Democracia significa autogoverno. Propriedade significa autossuporte. Numa sociedade Distributista, pessoas produzem e usam seus próprios bens, fazem as suas próprias leis e não são dependentes de estranhos.

Isso significa tomarmos extraordinário controle sobre as nossas próprias vidas; pararmos de ser escravos assalariados e consumistas; sermos justos, livres e esperançosos. “A finalidade do homem político”, diz Chesterton, “é a felicidade humana. Mas isso não significa que estamos obrigados a nos tornarmos ricos, ou atarefados, ou mais eficientes, ou mais produtivos, ou mais progressivos. Nós não estamos obrigados a ser qualquer dessas coisas se elas não nos fizerem mais felizes”.

Para você que acha isso muito utópico cito um trecho do trabalho presente no site da Distributist Review: Isso tudo não é muito utópico?

Não, o Distributismo é um sistema prático, que é validado por vários exemplos de empresas Distributistas em funcionamento; em pequena escala, existem milhares de empresas baseadas em casa e de posse dos seus trabalhadores, bancos de microcrédito, cooperativas de crédito, e companhias de seguros; em grande escala, há a corporação de cooperativas Mondragón, na Espanha, uma das mais bem sucedidas cooperativas na Europa, e a economia Distributista de Emilia-Romagna (Bologna), na Itália, onde mais de 45% do PIB vem de cooperativas, e que possui um padrão de vida que é o dobro do restante da Itália, e um dos maiores da Europa. As economias e companhias Distributistas têm uma vantagem competitiva inerente sobre suas contrapartes capitalistas e socialistas, assim como benefícios sociais e comunitários que o capitalismo e o socialismo não conseguem desenvolver.

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The Servile State de Hilaire Belloc

http://ldataworks.com/aqr/H_Belloc_The_Servile_State.pdf

Sociedade Chesterton Brasil

https://www.sociedadechestertonbrasil.org/o-esboco-da-sanidade/

Distributist Review

https://distributistreview.com/

Rerum Novarum

http://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html

Doutrina Social da Igreja

http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_20060526_compendio-dott-soc_po.html

https://web.archive.org/web/20070723062114/http://www.ciari.org/investigacao/dsi_e_democracia_crista_marca_jpII.pdf

Tradução para português do livro The Servile State

http://angueth.blogspot.com/2010/03/o-estado-servil.html

https://medium.com/sociedade-chesterton-brasil/o-m%C3%ADnimo-que-voc%C3%AA-precisa-saber-sobre-distributismo-77129312004a 

 

sábado, 2 de junho de 2018

Uma breve reflexão crítica sobre o capitalismo




A instantes ouvia Yo-YoMa (arte 1) interpretando a Sarabanda em Ré maior, BWV 1011 , de Bach, era o "extra" de uma apresentação junto a Filarmônica de Berlim; ao fundo dava-se para notar a satisfação dos violinistas, dos violonistas, dos cellistas, dos baixistas, homens dos naipes das cordas. Nossos iguais nos causam uma maior simpatia. Yo-YoMa é um violoncelista! Ayn Rand, e tomarei como verdadeiro o seu depoimento, é uma pessoa que viu uma utopia de igualdade, sofrer todo o tipo de percalços, justamente nós que buscamos a igualdade e a justiça social sobre outro prisma econômico. Seu relato é de quem viu a utopia na prática, e o que ela viu não foi bom, tentar negá-lo é pueril, buscar extrair disto uma reflexão é o melhor, para quem acredita não refutar (até por que há exemplos notórios uma vergonha para socialistas ) é o exemplo de coisas que não devem acontecer (mas infelizmente aconteciam e acontecem...).

E qual seria a reação de Ayn sobre os crimes de Al Capone? Que sob a tutela da corrupção dos poderes de Estado (E.U.A.) cometia seus crimes. Mas isso não se compara ao relato de um general americano. Lotado em um porta aviões dizia ele que sua atuação mundo afora em prol das companhias americanas (na América Central, Fruit Company, República de Bananas; na África e Ásia ) não se comparava a atuação de Al Capone! Al, dizia ele, tocava horror em dois, três quarteirão comprava alguns juízes e policiais; ele, o general, representava os interesses destas empresas mundo afora. Perguntava ele: quem era o verdadeiro gângster? O capitalismo está aí triunfante, prometendo -e não dando a todos o que promete- felicidade que não vem fartura para alguns, vive de crises que o fortalecem enormemente o capital, e fazem negócios com a China! Duas grandes guerras entre potências capitalistas: 70 milhões de mortos! Exceção: URSS (Ah! Se não fosse Stalingrado...).

Vemos as coisas na perspectiva do que acreditamos. Mas é coerente ver o todo. Como os músicos da Filarmônica, que após a satisfação de Yo-YoMa, interpretaram a Sinfonia n 6 de Tchaikovsky - a Patética. E, como aviso casual, encerram a sinfonia com o seu movimento final: o Adágio Lamentoso.

Autor: Prof. Luiz Modesto da Cunha, professor de História e colaborador do Construindo História Hoje.

domingo, 31 de maio de 2015

Vozes na Tempestade (1931)



Plínio Salgado
Publicado originalmente no Portal A Quarta Humanidade.

A que misterioso ritmo obedece esse estranho rumor, a princípio vago e indistinto, já agora nítido e altissonante, que perpassa pela superfície da terra, dando a volta ao seu meridiano?

Que sentido profundo traz essa agitação geral dos povos, a tragédia surda dos espíritos, a angústia dos oprimidos e o sobressalto dos opressores?

As cidades cresceram para os céus. Os mares coalharam-se de naves de aço. O homem percorre a amplidão com asas de águia. A terra multiplicou as suas messes, as indústrias multiplicaram seus benefícios. Todos os confortos imagináveis se tornaram realidades banais. Todos os sonhos de beleza e de magnificência foram ultrapassados. E nunca o homem dominou mais os elementos, nunca imperou melhor sobre a natureza.

Rufam no espaço os motores; gritam as locomotivas; berram os automóveis; uivam os apitos das fábricas; estrondam as usinas; mugem os navios; sibilam polés; estridulam guindastes; cantam os rádios... É a sinfonia planetária...

O esplendor do homem

Todas as ambicionadas farturas a que a Antiguidade poderia ter aspirado centuplicaram-se de uma maneira assombrosa.

Os celeiros do velho Faraó, refertos para socorrer as populações da África e da Ásia, durante os sete anos de penúria, são ridículos em face dos "stocks" internacionais de trigo, de vinho, de café, de todas as mercadorias, capazes de abastecer duas vezes a Terra.


Acima desenho de H. Celi, em preto e braco, de 1935 (Fonte Arquivo Público do Paraná - PR).

O ouro de todos os impérios antigos não se compara ao ouro que a Civilização carregou para as arcas dos Bancos, dos recessos da América Meridional, das entranhas do Alasca e dos Estados Unidos, do subsolo da Ásia e da África.

A força dos animais e dos escravos, que arrastava colunas monolíticas e impelia no mar os quinhentos remos das galeras romanas, é hoje uma minúscula energia de formigas, comparada à potência das locomotivas e dos transatlânticos, dos dínamos propulsores das usinas.

A rapidez de raio das quadrigas do corso, não passa de um lerdo movimento de caranguejos, em proporção à velocidade da canção do Broadway, que se escuta no mesmo instante, no orbe inteiro, ou da luz com que Marconi ilumina do seu iate, em Gênova, a cidade antípoda de Sidnei, na Austrália.

As máquinas produzem por milhares de homens. A Civilização esplende nas suas grandes Metrópoles. Nunca a humanidade foi tão rica, nunca o gênero humano conheceu maior fartura.

A própria terra, rejuvenescida pelos adubos químicos, revolvida pelos tratores ágeis, plantada com a nova e milagrosa técnica, decuplica o volume das suas safras, mãe carinhosa dos homens, transformada em escrava de sua indústria.

O boneco de carne

E, entretanto, nunca houve desespero maior, nunca o ser humano mergulhou em confusão tão grande, tão desnorteadora.

Nas grandes babilônias cresce a legião dos desocupados; os vagabundos disputam um pedaço de pão; há criaturas sem teto, que dormem ao relento, ou na promiscuidade dos albergues; e o próprio trabalho já não é um prazer, mas um triste manobrar de manivelas e de alavancas, onde toda a iniciativa do espírito desapareceu.

Outrora, o trabalho tinha qualquer cousa de fino, de sutil, feito de amor e de entusiasmo, de esperança e de alegria íntima, criadora; e, agora, o homem sente-se, cada vez mais, submetido a um ritmo mecânico, que o vai transformando, dia a dia, numa peça do grande maquinismo da Produção.

Não amando mais o trabalho (e só se ama aquilo onde se realiza a fusão do espírito com as necessidades da matéria); vendo a "arte" ser substituída pela "técnica"; a feição individual anulada pela feição estandardizada; a tendência das vocações contrariada pelas possibilidades das colocações, — o homem moderno vai se tornando um autômato, um boneco de carne e osso, que será possivelmente substituído por um outro boneco de aço e ferro, quando o barateamento do custo da produção e a racionalização do trabalho, levada aos extremos que a técnica sugere, determinar que assim seja.

O animal do “oitavo dia”

A máquina moderna, criação do homem, para produzir confortos ao homem, torna-se uma concorrente deste.
Vede um tear, uma linotipo, uma rotativa, um motor, um calculador mecânico. Que estranhos seres! Parece que pensam, que raciocinam, que respondem numa linguagem que não é de palavras, mas de ação.

A máquina é um ente que tem, sobre o homem, a vantagem de não fazer greves, de não ter coração para amar nem boca para falar. E em se tratando de mercadorias similares (e tão similares que a Economia Clássica os submete às mesmas leis da oferta e da procura), é sempre preferível a que importunar menos e produzir mais, melhor e mais barato.

Nestas condições, o monstro de aço conquistou, mais do que a igualdade, a superioridade social sobre o homem.

A máquina não tem pais nem gera filhos; não vibra de afetos; não alimenta aspirações; não cultiva preconceitos. É, portanto, muito mais conveniente ao capitalismo universal.

E é por isso que esse capitalismo quer arrancar do homem os últimos resíduos espirituais, para que a massa proletária se transforme também num sistema de maquinismo...

O monstro de aço! Quando ele trabalha, suas rodas dentadas, suas engrenagens, suas serras parecem rir da criatura de Deus. E os apitos das fábricas parecem um grito dominador dizendo ao homem, quando rompe a aurora: "Levanta-te, peça de máquina!”.

Esse grito domina o panorama das cidades tentaculares, onde o homem sofre, esmagado pela própria civilização que ele criou.

Humanidade mecânica

O instinto da máquina vai avassalando tudo.

As casas mesmo começam a mecanização do homem, na forma rudimentar do “cortiço”, para depois se fixarem em expressões mais técnicas das vilas proletárias e dos arranha-céus de apartamentos.

É olhar uma casa e ver todas. Submetidas à mesma planta, à mesma fisionomia, elas impõem a cada ser humano um ritmo idêntico de movimentos, anulando a personalidade, para que triunfe a coletividade. Pois é sobre a coletividade que a máquina domina mais soberanamente. E ela exige que se modelem coletividades de formas geométricas precisas e cadências uniformes.

Essas coletividades devem ser estereotipadas à fome. Devem cristalizar-se nos fornos de todas as necessidades, de todas as angústias, que irão obrigando cada tipo isolado a se acomoda ao grande ritmo dos tipos comuns, cuja finalidade é o próprio ritmo, cujo sentido é a mecanização total da existência.

A redução ao inanimado. A racionalização desracionalizante. O homem-tipo, como a máquina-tipo. O trabalho mercadoria, como o quilowatt-hora. O índice de calorias dos combustíveis. O trabalho como finalidade do trabalho. A morte total do espírito.

A besta do Apocalipse

Todo esse inferno contemporâneo é presidido pela soma do trabalho acumulado pelos latrocínios, na tradução metálica das barras de ouro e na versão social do papel moeda, concentrados nas mãos de poucos. É o capital.

Tudo gira em tomo desse ídolo muito mais terrível do que o Moloch de Cartago, que exigia menor número de vítimas para as suas entranhas de fogo.


Por que sofre tanto a humanidade?

É o Capital, que marcha para a sua feição mais simples; que ensaia a sua tirania na forma dos grandes trustes, dos monopólios, dos grupos financeiros, das organizações bancárias, e que se dirige para o capitalismo do Estado, numa velocidade cada vez maior e mais enervadora.

É a besta apocalíptica.

Que se assenhoreou do poder dos reis e dos impérios; que proclamou sua tirania sobre todas as nações, sobre todos os grupos sociais e sobre todos os homens.

É o espirito da mentira e da crueldade. O dragão que devora os povos.

Ele ergueu-se, na face da terra, para enfrentar e negar Deus, como negou pela vez primeira quando rolou para as trevas eternas; que se levantou para esmagar o Homem, arrastando-o a todas as abjeções, para finalmente  arrancar-lhe o coração e deixar-lhe, apenas, os movimentos mecânicos da máquina.

Condenados e oprimidos

Cresce, por todo o Universo, o estranho rumor.

É o clamor do Homem que sofre, nas colônias remotas da Ásia e da África; na estepe da Sibéria, nos Urais e no Cáucaso, tangido por algozes; nas entranhas do Ruhr, de Cardiff, negro de hulha; nas profundezas das minas de diamantes do Transvaal, das cavernas de ouro do Morro Velho, da Califórnia; nos sertões do Brasil, nas salitreiras do Chile, nas galés das Guianas, nos bairros proletários das grandes metrópoles resplandecentes como Babilônias multiplicadas, por toda a superfície do planeta, e nos porões dos transatlânticos e das naves de guerra, armadas para os morticínios...

É o gemido do Homem, que já não tem trabalho porque a máquina o expulsou das fábricas; que não tem pão, porque, na fartura imensa, já não há necessidade do esforço do pária, e as leis vigorantes determinam que se tome a mercadoria-trabalho quando se precise, e se deixe morrer o trabalhador, quando não se necessitar dele.

O útero metálico da máquina

O Homem, vencido pela máquina, pensa, então, em criar o regime político que agrade à máquina. Pensa em viver em razão da máquina.

De há muito que a Democracia renegou os governos éticos, concebendo o Poder como uma expressão do "Homem Cívico", portanto, do Homem mutilado, do Homem sem alma. De há muito que se desprezou a teocracia.

Mas o Homem hoje volta-se para uma forma imprevista de teocracia. Quer ser governado pelos Sumos Sacerdotes do Ateísmo. Aceita a grande razão da técnica e do capital. Aceita desaparecer como gota de água no oceano do coletivismo, onde toda a personalidade se destrói.

É a mais moderna expressão mística.

O misticismo que nega uma face da metafísica, para proclamar o valor da outra face.

E que subordina o Homem a uma divindade infernal, que não se funda no amor, mas na ausência do amor. E nega ao Homem o direito de se interessar pelas outras criaturas, pois só deve cogitar de si.

De si, não como personalidade irradiante, e sim como fração de um grande Todo.

O Homem renega o amor, para aceitar o egoísmo.

O amor impunha-lhe deveres; o egoísmo subordina-o à escravidão dos instintos.

A vida do instinto é o primeiro passo para a transformação do ser humano em máquina.

Essa transformação é dolorosa, porque o espírito reage.

O Homem inventou a máquina. A máquina, agora, quer fabricar homens. E se um dia saírem homens das usinas, também os úteros das mulheres gerarão homens-máquinas, sem coração, sem afeto, meros aparelhos de produção...

quarta-feira, 18 de março de 2015

A droga invade a faculdade


Quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados no país admitem ter usado entorpecentes. No DF, a situação se repete, segundo professores e alunos. Com medo de represálias, docentes se calam. A Secretaria de Justiça e Cidadania pretende ensiná-los a lidar com o problema

Autores: Saulo Araújo , Ariadne Sakkis

"Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos" Rodrigo de Paula, presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares

"Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados".

Luiz Alexandre Gratão, delegado-chefe da Cord O flagelo das drogas não se restringe ao universo das escolas. Nas faculdades públicas e privadas do Distrito Federal, o problema se repete. Em muitas delas, combater o consumo é mais complicado do que nos centros educacionais. Por lidar com um público adulto e que paga pelos estudos, a maioria dos professores tem dificuldade para controlar a entrada de substâncias ilícitas em sala de aula.

A mais recente pesquisa feita pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) mostra que quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados admitiram ter usado algum tipo de entorpecente. O estudo não faz um recorte por unidade da Federação, mas especialistas, professores e alunos ouvidos pelo Correio confirmam a realidade na capital. Numa faculdade privada de Taguatinga, a polícia teve de agir para acabar com o tráfico explícito na entrada da instituição. O episódio ocorreu em janeiro. Na ocasião, dois homens, sendo um estudante, foram presos acusados de vender maconha e cocaína.

O presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares (Sinproep), Rodrigo de Paula, confirma a rotina de medo. Segundo ele, é comum alunos sob efeito de drogas ameaçarem servidores. Mas, por medo de represálias, a maioria dos trabalhadores prefere não comunicar o episódio à polícia e ao sindicato da categoria. “Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos. O problema é que ficamos sabendo desses episódios por meio do boca a boca, pois é natural que eles (professores) fiquem com receio de fazer uma denúncia formal”, explica Rodrigo.

Na tentativa de mudar essa realidade, a entidade sindical, em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), abriu inscrições para um curso no qual educadores aprenderão como lidar ao se deparar com alunos drogados. A primeira turma deve ser formada em outubro. “Percebemos que muitos professores não sabem o que fazer diante de um problema tão sério. Com uma abordagem direcionada e correta, acreditamos que as soluções para esses conflitos possam ser encontradas de forma mais tranquila”, frisou Rodrigo de Paula.



Festas badaladas

As universidades mais tradicionais e caras de Brasília não estão livres das drogas. Cientes do alto poder aquisitivo dos estudantes, traficantes seduzem jovens para festas badaladas promovidas em mansões situadas em bairros nobres. Nesses eventos, predomina o consumo de drogas sintéticas, como o ecstasy e o LSD. A cocaína escama de peixe, quase 100% pura, também é bastante procurada por estudantes universitários com bom padrão financeiro.

No primeiro semestre deste ano, a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) apreendeu 397 kg de cocaína. Desse total, aproximadamente 4kg eram do tipo escama de peixe. O quilo desse pó chega a custar R$ 100 mil nos bairros nobres. Nas cidades mais pobres, o preço cai para R$ 40 mil pela mesma quantidade. Parte desse narcótico é consumido por aspirantes a médicos, engenheiros, administradores, entre outros profissionais. “Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados quando descobrem que seus filhos estão envolvidos com esses grupos”, afirma o delegado-chefe da Cord, Luiz Alexandre Gratão.

Estudo interrompido

Foi justamente numa festa de fim de ano promovida por estudantes do curso de publicidade que o jovem Luiz*, 26 anos, entrou no submundo das drogas. Começou com a maconha, passou para a cocaína e, por muito pouco, não chegou ao fundo do poço com o crack. “Teve um dia que cheirei (cocaína) tanto que criei coragem para experimentar coisas novas. Estava disposto a conhecer o crack e só não comprei uma pedra porque um amigo meu que cheirava comigo impediu”, afirma.

O vício fez Luiz interromper uma promissora carreira. Os pais trancaram a matrícula do rapaz no terceiro semestre e o internaram numa clínica de reabilitação. Há seis meses, ele não usa nenhum tipo de substância ilícita, mas ainda não se sente preparado para voltar a estudar e encontrar os amigos que lhe ofereceram a primeira carreira de pó. “Acho melhor esperar mais um tempo. Quero me desligar dessa turma, sair dessa faculdade e começar uma vida nova”, vislumbra Luiz.

Para a titular da Promotoria de Educação, Márcia Pereira da Rocha, a prevenção ao uso de drogas deveria ocorrer desde os primeiros anos da criança na escola, com uma participação bem mais ativa do Estado e da família. “A escola, no Brasil, é um palco da visualização da violência que ocorre na cidade. Não foi ela (escola) que estimulou o uso e ela não é culpada pelo que está ocorrendo dentro dela. Se não houver uma ação multidisciplinar para o enfrentamento desse problema, não podemos esperar que apenas os professores tenham condições de mudar esse cenário”, analisa a promotora.
*Nome fictício a pedido do entrevistado

Alunos da UnB detidos

Em novembro de 2008, uma operação desencadeada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil, terminou com a prisão de sete pessoas, entre elas dois estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Pedro Ivo Vianna e Rogério Fenner Santos foram apontados como integrantes de uma quadrilha envolvida com o tráfico de drogas interestadual. O grupo compraria os entorpecentes no Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul e revenderia no Distrito Federal, inclusive dentro da UnB. Estima-se que o comércio movimentava pelo menos 10kg de haxixe por semana, além de LSD e ecstasy. Pedro Ivo foi condenado a 15 anos de prisão. O processo de Rogério ainda tramita no Superior Tribunal de Justiça.

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