terça-feira, 23 de novembro de 2010

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte II.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Por João Zilhão

[continuação]


Então, em 1995, pesquisadores determinaram que os restos humanos encontrados nos níveis chatelperronianos em outro sítio francês, a gruta de Renne, em Arcy-sur-Cure, também pertenciam ao homem de Neandertal.

Para reconciliar essas descobertas com a ideia de que apenas o homem moderno foi capaz de práticas tão avançadas, alguns pesquisadores propuseram que artefatos de depósitos do homem moderno em camadas superiores mais recentes, de algum modo, se misturaram com os depósitos do homem de Neandertal. Outros argumentaram que ele simplesmente copiou o homem moderno, seu contemporâneo, ou obteve os objetos deste por meio de escambo ou do comércio, mas não os entendia realmente e nunca os integrou em sua cultura da mesma forma que o homem moderno. Essa controvérsia jamais foi totalmente resolvida de maneira satisfatória para todos os implicados; e é aí que entram nossas novas descobertas da Espanha.

SA: O que exatamente vocês encontraram e de que maneira?

JZ: O material se origina de dois sítios. Um deles é uma caverna no sudeste da Espanha, chamada Cueva de los Aviones, escavada em 1985 por Ricardo Montes-Bernárdez, da Fundação de Estados Murcianos Marquês de Corvera. Em seus relatórios, Montes- Bernárdez mencionou ter encontrado três conhas de mariscos perfuradas nos depósitos, mas ninguém prestou atenção na época. Alguns anos mais tarde, após ter lido sobre as conchas em seus artigos, fui ao museu que abrigava os materiais coletados por ele e pedi para vê-los. Imediatamente eles me impressionaram e pareceram de grande importância, já que essas conchas, quando descobertas em depósitos arqueológicos, são basicamente consideradas pingentes. No entanto, não sabíamos a idade do material, então a primeira coisa a ser feita foi selecionar amostras para datação por radiocarbono. As datas encontradas foram de 48 mil a 50 mil anos atrás.

Como as conchas da coleção jamais tinham sido lavadas, verifi quei se existiam outros espécimes dignos de nota. Descobriu-se que uma das conchas era de uma ostra mediterrânea, cuja limpeza revelou uma mancha que pensei que poderia ser resíduo de pigmento. A análise da substância identifi cou uma mistura do pigmento vermelho, denominado lepidocrocita, e pedaços bem triturados de hematita vermelha- escura e preta e de pirita, que acrescentaria mais brilho. Eu e meus colegas também encontramos um osso de cavalo afi lado naturalmente que tinha pigmento avermelhado na ponta. E achamos pedaços de pigmento amarelo e vermelho, inclusive um grande depósito de um mineral chamado natrojarosita, cujas quantidades e pureza indicavam ter sido armazenado em uma bolsa que acabou por se deteriorar, restando apenas o mineral.

Você quer saber mais?

http://www2.uol.com.br/sciam/

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