segunda-feira, 30 de julho de 2012

Spetsnaz: a maior tropa de elite do mundo.


Insígnia do Spetsnaz. Imagem: Spetsnaz GRU.

Sabotagens, atentados e ações-relâmpago são algumas das especialidades da Spetsnaz, as ultra-secretas forças especiais.

Fazia muito frio, com temperatura mínima de seis graus abaixo de zero, e havia ameaça de fortes nevascas em Cabul, a capital do Afeganistão, naquelas últimas semanas de dezembro de 1979. Com a situação política no país deteriorando-se rapidamente, o presidente Hafizullah Amin solicitara, no dia 17 daquele mês, assistência militar soviética para combater os rebeldes que já controlavam algumas regiões nas províncias do norte. Aproveitando o pedido, os soviéticos concentraram grande número de forças paraquedistas e soldados de infantaria nas imediações da cidade. Enquanto isso, as informações enviadas por seus agentes convenceram Moscou de que um golpe de estado era iminente. O melhor a fazer era antecipar-se. Apesar das condições climáticas adversas, às 19 horas de 27 de dezembro, vestidos com uniformes do Exército afegão, cerca de 700 militares soviéticos, incluindo integrantes das ultra-secretas forças especiais conhecidas como Spetsnaz, ocuparam os edifícios públicos mais importantes da cidade, o aeroporto e o palácio presidencial, onde assassinaram o presidente Amin. 

Com precisão cirúrgica, eles explodiram o principal centro de comunicações de Cabul, isolando a cidade do mundo exterior e do resto do país. Começava a invasão soviética ao Afeganistão. A tomada da capital teve êxito absoluto no dia seguinte, quando foram eliminados os últimos focos de resistência com a participação decisiva e brutal dos homens da Spetsnaz.

Com efetivo em tempos de paz entre 27 mil e 30 mil integrantes, a Spetsnaz é a maior tropa de elite do mundo. É também uma das mais secretas, apesar do enorme desafio que é manter em sigilo as atividades de tanta gente. Até seu nome foi pensado de maneira a confundir. Ela é chamada genericamente em russo de Spetsnaz (ou Specnaz, dependendo da forma de traduzir o alfabeto cirílico), abreviatura de Voyska spetsialnogo naznacheniya, literalmente “unidades com funções especiais”. A denominação tenta não dar pistas sobre sua verdadeira natureza, e a palavra é, em geral, usada no dia-a-dia na Rússia para indicar coletivamente as forças especiais de todos os países.

Pouco se sabe sobre sua história, além do fato de que a ideia de formar uma força desse tipo surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando ainda existia a União Soviética. As experiências da luta contra o nazismo demonstraram a necessidade de contar com uma unidade capacitada a realizar atividades não convencionais (sabotagens, atentados, sequestros, ações-relâmpago, etc.), com a maior discrição possível, pegando o adversário totalmente de surpresa. É bastante provável que o primeiro grupo chamado de Spetsnaz tenha sido organizado no início da década de 1950, mas o segredo em torno dos preparativos era tão grande que a opinião pública mundial só veio a tomar conhecimento dele cerca de 30 anos mais tarde. Serviços secretos ocidentais conseguiram apurar que essa unidade de operações especiais fazia parte da GRU, a inteligência militar soviética, sendo subdividida em esquadrões que receberam o nome de “brigadas de dissuasão”, designadas em código numa lista não-sequencial que vai de Grupo Alfa até Grupo Zênite, servindo tanto ao Exército quanto à Marinha da URSS – características provavelmente mantidas depois que o país se transformou na Federação Russa (nome oficial da Rússia desde junho de 1990).

Nas décadas mais recentes essas brigadas passaram a ser treinadas para atacar e tomar
bases nucleares, usinas ou linhas de abastecimento de energia e centros de comando hostis, além de atuar no combate ao terrorismo e no controle de situações militares que possam representar riscos aos interesses do governo ou à segurança da população civil. Mas nem sempre suas operações são tão bem-sucedidas como foi a tomada de Cabul em 1979.
Homens pertencentes à Spetsnaz foram acusados de negligência criminosa, despreparo e abuso da força em 2004, depois de serem mobilizados para enfrentar militantes nacionalistas chechenos (tratados como terroristas) que haviam ocupado uma escola primária na cidade de Beslan e sequestrado seus alunos e professores. O episódio acabou num banho de sangue, com a morte de mais de 300 reféns, muitos deles crianças, aparentemente pela ação desastrada do Grupo Alfa, uma das “brigadas de dissuasão”. Segundo investigações posteriores, naquele incidente a unidade teria causado um número de baixas civis mais elevado do que o inevitável ao usar de forma inadequada os lança-chamas que faziam parte de seu arsenal.

Uma das especialidades da Spetsnaz é infiltrar seus agentes em países estrangeiros para missões de reconhecimento e coleta de informações. Eles são lançados de paraquedas em território adversário, atravessam fronteiras clandestinamente em disfarces civis e contam com engenhocas que parecem ter saído de um filme de espionagem. Entre elas está um minissubmarino que se desloca sobre esteiras e é lançado a partir de um submarino convencional da classe India, sua nave-mãe.

Discrição absoluta

As missões e características desse minissubmarino são consideradas altamente confidenciais, e a maior parte das poucas informações disponíveis foi obtida em meados da década de 1980, quando mergulhadores detectaram rastros deixados por uma dessas máquinas no solo oceânico de águas territoriais da Suécia.

O segredo absoluto, aliás, é uma obsessão que costumava se refletir até mesmo nos uniformes vestidos pelos soldados da Spetsnaz. Para evitar a identificação de seus integrantes, eles até há pouco tempo evitavam usar qualquer distintivo ou emblema que pudesse diferenciá-los do restante da tropa. Recentemente, porém, o governo da Federação Russa decidiu afinal reconhecer a existência dessa força especial, e seus integrantes passaram a ter direito de usar insígnias especiais indicando sua unidade.

Em termos de organização, uma brigada da Spetsnaz ligada à GRU (ela sobreviveu ao fim da URSS) tem em torno de mil homens, divididos em até cinco batalhões, uma companhia de especialistas em comunicações, unidades de apoio (grupos de engenheiros, etc.) e uma unidade especial, conhecida como “companhia do quartel-general”. Apelidada de “companhia VIP”, ela é encarregada de assassinar ou sequestrar pessoas cuja eliminação seja considerada importante para os interesses das autoridades russas, ou de fornecer guarda-costas para proteger essas mesmas autoridades. Já o braço naval da Spetsnaz dá ênfase ao trabalho de infiltração de agentes por via marítima, e uma brigada sua consiste de até três batalhões de mergulhadores, um batalhão de paraquedistas, uma companhia de especialistas em comunicações e unidades de apoio, além da notória unidade “companhia do quartel-general”.

Mesmo após a dissolução da União Soviética e a consequente redução dos orçamentos do setor de defesa da agora Rússia, a Spetsnaz manteve sua reputação como uma das melhores unidades de forças especiais em todo o mundo. O rigor nos processos de seleção e treinamento de seu pessoal é uma tradição cuidadosamente mantida, que garantiu a presença do grupo com destaque nas principais operações militares ordenadas por Moscou nos últimos 40 anos.

 A Spetsnaz unidade soviética a entrar na então foi a primeira Tchecoslováquia, em 1968, para reprimir a chamada Primavera de Praga (levante popular que tentava construir um socialismo menos desumano), esteve na linha de frente da luta contra os rebeldes islâmicos no Afeganistão e continua com suas atividades secretas tanto na Chechênia como no resto do mundo. Mas, como suas missões nunca são confirmadas oficialmente, as supostas ações do grupo limitam-se a permanecer no terreno das suspeitas. Como o recente incidente envolvendo o assassinato de Alexander Litvinenko, dissidente russo morto em Londres em novembro passado sob circunstâncias misteriosas, aparentemente vítima de um veneno desconhecido.

Os armamentos utilizados

O equipamento-padrão de um integrante das Spetsnaz é composto por um fuzil automático AKS-74 calibre 5,45 mm, mais 400 cartuchos de munição, uma faca de combate e seis granadas de mão ou um lançador de granadas descartável (abandonado após um único disparo), além de uma pistola P6 (modelo que vem sendo substituído nos últimos anos pela pistola automática PRI, de 5,45 mm). Cada soldado transporta seu próprio kit de primeiros socorros e rações altamente energéticas para manter-se bem alimentado por vários dias. Comunicações seguras são garantidas por rádios especiais distribuídos a cada grupo, dotados de sistema de encriptação para a transmissão não ser interceptada.

Além do armamento pessoal de cada soldado, as brigadas de dissuasão podem utilizar “equipamentos coletivos”, que variam de acordo com a missão a ser cumprida. Eles costumam incluir lançadores de granadas RPG-16 D, mísseis antiaéreos portáteis Strela-Blok (capazes de abater helicópteros ou aviões que tentem atacar a unidade), minas com finalidades diversas, granadas de iluminação e fumaça, explosivos plásticos e outras armas para ocasiões específicas. Seus integrantes são treinados em artes marciais, luta corpo-a-corpo armada ou desarmada e também no emprego de uma ampla variedade de armas não convencionais – a mais inusitada delas é uma corda de violão, usada para estrangular o inimigo por trás. Também fazem parte do arsenal venenos mortíferos, mas dificilmente identificáveis em autópsias, agentes químicos, bactérias infecciosas e cargas nucleares portáteis para uso tático com potência de até 2 quilotons, o equivalente a 2 toneladas de TNT.

Roberto Navarro 

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