Em 1965, no ato de inauguração da
então maior ponte em vão livre do mundo – a Ponte da Amizade, Alfredo
Stroessner e Castelo Branco, respectivamente presidentes do Paraguai e do
Brasil, caminharam em direção ao meio da ponte em um encontro simbólico, que
marcaria para sempre as relações entre os dois países. O Brasil construíra
sozinho um colosso da engenharia moderna e presenteava o Paraguai com uma
ligação rodoviária ao seu território, além do acesso paraguaio ao oceano
atlântico, pelo porto de Paranaguá. Era o início de uma relação de amizade que
ampliaria a importância geopolítica do Paraguai, desenvolveria sua indústria e
consolidaria o Brasil como seu principal parceiro.
As relações com o vizinho foram arquitetadas
cuidadosamente pelo Itamaraty, tendo em vista a ainda muito viva memória a
respeito da Guerra do Paraguai (1864-1870). O Brasil não podia – ou melhor, não
tinha recursos para – errar no campo das relações exteriores. A política de
Estado e a seriedade com que eram tratadas as questões internacionais,
sobretudo com os vizinhos, garantiram ao Brasil o respeito por parte de todas
as nações do mundo.
Há cento e dez anos da modernização
empreendida pelo Barão do Rio Branco e apenas há dez anos no poder, o Partido
dos Trabalhadores conseguiu destruir a diplomacia brasileira.
***
No dia 22 de Junho foi deposto, por
decisão quase unânime
do Congresso Paraguaio, o ex-presidente Fernando Lugo. A constituição paraguaia prevê julgamentos políticos pelos atos do Presidente da República – o que também deveria ocorrer por aqui. O fato deixou acuada toda a esquerda latino-americana, que é cúmplice dos mesmos crimes de Lugo e moralmente incapaz de governar ou de representar os legítimos interesses da Pátria. Desde então, temendo a legitimidade da ação pela população que governam e a queda de seu aliado, Cristina Kirchner, Dilma Rousseff, Evo Morales, Hugo Chávez e José Mujica – respectivamente presidentes de Argentina, Brasil, Bolívia, Venezuela e Uruguai, trataram a questão buscando uma ação comum: punições que vão desde o não reconhecimento do novo governo, bloqueios comerciais e até a suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.
do Congresso Paraguaio, o ex-presidente Fernando Lugo. A constituição paraguaia prevê julgamentos políticos pelos atos do Presidente da República – o que também deveria ocorrer por aqui. O fato deixou acuada toda a esquerda latino-americana, que é cúmplice dos mesmos crimes de Lugo e moralmente incapaz de governar ou de representar os legítimos interesses da Pátria. Desde então, temendo a legitimidade da ação pela população que governam e a queda de seu aliado, Cristina Kirchner, Dilma Rousseff, Evo Morales, Hugo Chávez e José Mujica – respectivamente presidentes de Argentina, Brasil, Bolívia, Venezuela e Uruguai, trataram a questão buscando uma ação comum: punições que vão desde o não reconhecimento do novo governo, bloqueios comerciais e até a suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.
A respeito destas últimas cabe
fazer uma distinção: o Mercosul é um projeto de Estado que, embora a passos
lentos, pode prestar uma grande contribuição ao fortalecimento e a integração
saudável da região. A Unasul é um projeto dos governos de esquerda
latino-americanos que, em seus respectivos projetos de poder, optaram por criar
um bloco orientado pela pseudo-ideologia dita bolivariana. Diferente do
Mercosul, que é um pacto econômico, a Unasul é um pacto político cuja função é
limitar a soberania dos Estados-membros segundo seus preceitos ideológicos.
Com a agenda de governo se
sobrepondo aos interesses de Estado, a diplomacia das nações sul-americanas
sofreu um duro golpe. A desordem jurídica na qual se encontram nações como
Argentina e Brasil estendeu-se ao Mercosul – as regras que orientam o bloco
foram ignoradas e dentro do bloco foi praticado um golpe desprezível: a
admissão da Venezuela. O Congresso Paraguaio, que foi acusado de atentar contra
a ordem democrática ao depor Fernando Lugo, foi o único a não acolher a
Venezuela do ditador Hugo Chávez. Não tendo o Paraguai sido expulso do bloco,
mas sim suspenso, ainda é válida sua prerrogativa como país-membro – que é a de
aprovar ou vetar o ingresso de um novo país.
Além disso, uma seqüência de
atitudes desastrosas tomou conta das diplomacias latino-americanas. O Uruguai,
por exemplo, por uma questão geopolítica e de realidade comercial comum à
paraguaia, deveria atuar de maneira conjunta com o Paraguai em contrapeso às
duas nações mais poderosas do continente – Argentina e Brasil – fez o
contraditório: participou ativamente da suspensão dos direitos do Paraguai,
colocando-se em frágil posição frente aos interesses dos vizinhos maiores.
O Brasil, do mesmo modo, agiu
contra seus próprios interesses. Ao aderir completamente ao plano arquitetado
pela diplomacia Venezuelana, o Itamaraty abriu mão de sua condição de líder
regional: a Venezuela ditou as regras, o Brasil obedeceu.
A vergonhosa atitude brasileira pôs
em risco todas as conquistas de nossa diplomacia no âmbito regional. O Brasil é
aliado do Paraguai por inúmeros motivos. Há uma agenda de interesses comuns que
é própria aos dois países: o enfraquecimento da influência de Buenos Aires
sobre o Cone Sul, a cooperação binacional em relação à Usina Hidrelétrica de
Itaipu, a defesa conjunta dos recursos naturais da região, como os hídricos (aqüífero
guarani), o desenvolvimento da tecnologia agrária, o acesso do Paraguai aos
portos brasileiros, o acesso ao mercado consumidor paraguaio dos produtos
industrializados produzidos no Brasil, bem como as questões de segurança
pública que envolve as políticas de combate ao contrabando e ao narcotráfico na
fronteira entre os dois países, dentre outros níveis de cooperação, tanto
dentro como fora do âmbito do Mercosul.
Com razão, os paraguaios não
entenderam a atitude brasileira: contavam ingenuamente com a postura de
liderança de Brasília quanto ao reconhecimento do novo governo. Isto não
ocorreu. Na prática, a postura brasileira isolou o Paraguai e redesenhou o mapa
político para a diplomacia guarani: ao não poder confiar plenamente nos
vizinhos e sem grandes perspectivas de cooperação regional, os paraguaios
buscarão novos parceiros.
O imediato reconhecimento dos
Estados Unidos ao novo governo não foi por acaso. Aquele era o descuido de que
Washington necessitava para conquistar o apreço de Assunção e minar a
influência brasileira. Há alguns anos a parceria estratégica do Brasil com o
Paraguai evitou que os estadunidenses instalassem uma base militar na região do
Chaco paraguaio. Como nada é de graça, há poucos dias os deputados paraguaios anunciaram a negociação com generais
estadunidenses para a retomada do antigo plano do Pentágono. Findadas as
negociações, o Brasil se verá completamente rodeado por bases militares dos
Estados Unidos e diante do risco de iniciar uma corrida armamentista ao sul do
subcontinente.
Se Chávez, Cristina e Dilma
condenam o Paraguai, é porque o Paraguai está certo. Nem é preciso nos estender
no assunto. Exposta a incompetência do nosso governo, o papel do Brasil, assim
que livrar-se do petismo, será o de tentar recuperar as relações com o Paraguai
para que este não se veja na região como uma ilha cercada por maus vizinhos.
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