domingo, 27 de outubro de 2013

William Shakespeare, Parte I: Henrique IV.


Henrique IV de William Shakespeare. 

William Shakespeare (1564-1616) foi um dramaturgo e poeta inglês. É considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Viveu numa época de apogeu da Rainha Elizabeth I, considerada grande monarca da história da Inglaterra.

Breve biografia.

É difícil avaliar com precisão a vida particular de Shakespeare, já que os escritos encontrados não são confiáveis pelos historiadores. O que se sabe é que ele nasceu em Stratford-on-Avon e foi proprietário do Globe Theatre, uma companhia de teatro de Londres.

Shakespeare foi também poeta e publicou três livros em estilo renascentista: Venus and Adonis (1593), Lucrece (1594) e Sonnets (1609). Muitos de seus escritos foram perdidos, por isso, várias informações sobre o autor não são confiáveis. Das primeiras peças, se destacam Henry VI, Henrique III, Titus Andronicus (1589), The Comedy of the errors (Comédia de erros) e The Taming of the Shrew (Megera Domada) são as peças de sua mocidade.

Romeo and Juliet (Romeu e Julieta - 1597) e Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma noite de verão - 1596), já são obras de sua juventude, ou primeira maturidade. A primeira é uma tragédia de amor conhecidíssima que encantou muitos jovens. A segunda é mais poética, com traços de humor. Merchant of Venice (O Mercador de Veneza - 1605), já possui traços mais sérios. Desta fase, destacam-se também: Richard II (1595), Henry IV ( Parte I, 1597; Parte II, 1600), Henry V e Julius César (1599). Esta última é muito conhecida, apesar de mostrar ainda certa imaturidade do autor.

A fase das tragédias sérias e maduras é a mais importante na carreira de Shakespeare. Hamlet (1599), embora criticada por muitos da época, é considerada uma das obras definitivas de Shakespeare. O enredo, cujo personagem central atormentado pela presença de seu pai morto numa trama para tomada de poder, é um dos temas mais comentados e conhecidos da literatura ocidental. Outras obras, tão importantes quanto Hamlet são dessa fase: Othello (Otelo - 1604), Macbeth (1611) e King Lear (Rei Lear - 1606). Macbeth é uma obra trágica baseada no tema da crueldade. É considerada a mais trágica das obras de Shakespeare e uma das melhores obras do dramaturgo.

A peça Otelo se baseia em temas como o ciúme e a perversão. Rei Lear é outra obra maior, que possui um enredo complexo e considerado de difícil representação. Da grande fase trágica, ainda pertencem Coriolanus e Anthony and Cleopatra (Antônio e Cleopátra - 1609).

No decorrer de sua vida, Shakespeare entrou num processo de reclusão, que durou até o fim de sua vida voltando para Stratford, lugar onde nasceu. Lá, produziu algumas obras como Henry III, Cymbeline, The Winter’s Tale (história do inverno - 1623). Mas a sua melhor peça dessa fase é Tempest (tempestade - 1623).

O grande mérito de Shakespeare é que ele juntou aspectos e características do estilo de vida inglês. As citações conhecidas da cultura anglo-saxônica e os folclores antigos foram incrementados em sua obra de forma organizada, num estilo peculiar. Suas peças foram encenadas pela Europa inteira, influenciando outros dramaturgos, inclusive, sobrepondo-se ao teatro francês, alemão e italiano.

É grande a sua influência até hoje, por conta da riqueza de seus personagens. O crítico literário americano Harold Bloom o considera o maior de todos os escritores.

Henrique IV (parte I) – William Shakespeare.

O Bardo dividiu as atribulações ocorridas durante o reinado de Henrique IV em duas peças sequenciais. Nessa primeira parte, o rei combate a rebelião de alguns nobres outrora seus amigos, que são liderados pelo intrépido Hotspur e pelo valoroso Douglas.

Bom, sobre “Henrique IV (parte I)”, só posso dizer que foi uma das peças que mais gostei de ler!!! Não chega a ser uma tragédia, é mais narrativa de aventuras pontuada por passagens cômicas. E nessas cenas cômicas é que está o melhor de “Henrique IV”, graças à impagável figura de Falstaff!!!

Já havia lido muito a respeito de Falstaff, e ansiava por finalmente conhecê-lo. Valeu a pena esperar! Mais uma criação imortal de Shakespeare, o roliço, fanfarrão, mentiroso e embusteiro Sir John Falstaff!!! Não há como não amar esse adorável patife!

Hotspur também aparece com destaque, um jovem nobre com fogo nas ventas! Os personagens de Shakespeare são tão ricos que acabam tornando-se mais vivos que a própria vida, mais reais que as figuras históricas nas quais foram inspirados.

Coisa boa demais é perceber como essa imersão em Shakespeare está me trazendo pensamentos e metáforas inspirados pelo Bardo! A vida é um caldeirão de poesia, aguardando só que a colher do Poeta pince daqui e dali um bocado de sabor e beleza.

Henrique IV (parte II) – William Shakespeare.


Nessa continuação ficam evidentes o carisma e a força que Falstaff adquiriu junto ao público. Falstaff ganhou ainda mais importância e destaque. Se na parte I, as cenas com Falstaff eram um contraponto cômico à narrativa histórica sobre o rei Henrique IV, podemos dizer que aqui é o contrário que acontece. A peça trata principalmente das reinações de Falstaff e seus companheiros, e a parte histórica serve de contraponto dramático!

Tamanho foi o sucesso obtido por Falstaff que conta-se que a Rainha Isabel pediu a Shakespeare que escrevesse uma peça só para contar os amores do gorducho trapaceiro. O resultado foi “As Alegres Comadres de Windsor”, escrita por Shakespeare em apenas quinze dias para atender o desejo da Rainha de ver novamente Falstaff no palco.

Essa talvez seja a explicação também para Falstaff ter sido suprimido de “Henrique V”, o encerramento da tetralogia. Shakespeare deve ter ficado empanzinado com tanto sucesso de seu personagem.

As cenas cômicas têm para um leitor de hoje um sabor todo especial. Afinal são piadas que fizeram as pessoas gargalharem a quatrocentos anos atrás!

Uma ideia desse sabor ocorre na cena em que Falstaff está recrutando soldados para defender a coroa do rei. Olha a lista dos nomes dos recrutados: Mofado, Sombra, Verruga, Fraco e Bezerro. Mofado e Bezerro, os dois melhores, oferecem dinheiro ao recrutador e escapam do alistamento.

Curiosamente o tradutor colocou os nomes dos recrutas assim em português, mas manteve o nome do Juiz Shallow (Raso) no original. O nome do outro juiz é Silêncio. Acho que entendi porque o tradutor agiu assim. Que viagem! Durante a cena ocorrem verdadeiros bombardeios de jogos de palavras e aliterações. O tradutor preferiu manter a sonoridade do “S” de Shallow (vibrando junto com Silêncio e Sombra), sacrificando o sentido, ou então... será que a palavra “shallow” não tinha esse significado na época de Shakespeare?

A peça traz algumas inovações, tais como a introdução que é feita pelo Rumor, e o epílogo declamado por um dançarino. Os dois assumem a seu modo a função do corifeu da tragédia grega.

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