segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os sete mitos da conquista da América.

Como poucas centenas de espanhóis submeteram milhões de índios, alguns tão desenvolvidos quanto as mais avançadas civilizações européias?


Hernan Cortez e Montezuma II

Nem bem o sol iluminou o lago Texcoco, no imenso Vale do México, os dois maiores líderes do Novo Mundo colocaram-se frente a frente. Era 8 de novembro de 1519 e havia anos que espanhóis e nativos se pegavam em violentas batalhas nas terras recém-descobertas da América. De um lado, Hernán Cortez personificava a figura do conquistador europeu como ninguém. Do outro, o todo-poderoso imperador asteca Montezuma II permanecia impassível. Apesar da expectativa de um encontro amigável, a tensão era tão óbvia quanto inevitável. Espanhóis e astecas trocavam olhares, até que Montezuma desceu de sua pequena tenda e foi em direção aos invasores. Cortez repetiu o gesto. Saltou do cavalo e seguiu ao encontro do imperador. A tensão aumentava a cada passo. Olhos nos olhos, eles esboçaram saudações de respeito mútuo, mas não trocaram mais do que poucas palavras, com a ajuda de um intérprete. De qualquer forma, a diplomacia prevaleceu. E, pacificamente, todos tomaram o rumo de Tenochtitlán, a capital do império asteca. Alguns meses depois, os dois lados voltariam a se encontrar. Mas, desta vez, numa sangrenta batalha que culminaria com a morte de Montezuma e faria de Cortez o homem mais poderoso do América espanhola.

Até hoje, muitos historiadores consideram este episódio como o maior símbolo do encontro entre dois continentes. E não por acaso. Pela primeira vez, um imperador nativo acolheu em suas terras o representante de um povo que estava ali justamente para conquistá-las. Além disso, as diferenças culturais entre os dois grupos nunca estiveram tão expostas quanto naquela manhã de novembro. Estas diferenças, além das idiossincrasias do século 16, ajudaram a perpetuar pelos séculos o que o historiador americano Matthew Restall, professor da Universidade da Pensilvânia, chama de “sete mitos da conquista espanhola das Américas” em seu livro Seven Myths of the Spanish Conquest (inédito em português)

Esses mitos podem ser identificados na figura de Cortez, até hoje citado por sua genialidade militar, pela forma como usou e inovou a tecnologia disponível na época, pela maneira astuta como manipulou “índios supersticiosos” e pelo modo heróico com que levou algumas centenas de espanhóis à vitória, contra um império de milhares de guerreiros. Mas a história não foi bem assim. Desde a primeira vez que Cristóvão Colombo pisou nas ilhas do Caribe, os homens enviados para cá se encarregaram de capitalizar o feito em benefício próprio, aumentando uma coisinha aqui, inventando uma ali.

Meia dúzia de aventureiros.

O mito dos homens excepcionais e seus feitos extraordinários
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Cristóvão Colombo estava em algum lugar do Atlântico, em 1504, quando a rainha da Espanha enviou uma esquadra para prendê-lo e levá-lo acorrentado para a Europa. Desde sua primeira viagem pelo Novo Mundo, seu prestígio já não era o mesmo. Sua insistência na mentira de que havia achado uma nova rota para as Índias, fato que lhe rendeu títulos e status, havia deixado a coroa espanhola irritada depois que Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança e deu aos portugueses a liderança na corrida por um caminho mais curto para o Oriente.

A fama de Colombo estava irreversivelmente abalada, ele caiu em descrédito e tornou-se um pária. Mas como, depois de morto, ele se tornaria um herói? Para Restall, a idéia de que ele foi um visionário, um homem à frente de seu tempo surgiu durante as comemorações do tricentenário da descoberta da América, num país que também acabava de nascer: os Estados Unidos. Colombo foi tomado como símbolo dessa nova terra: aventureiro, destemido, um gênio a frente de seu tempo. “Mas a coisa mais espetacular sobre a visão geográfica de Colombo era a de que estava errada. A percepção de que a Terra era redonda, fato geralmente citado para imputar-lhe a condição de visionário, por exemplo, era comum a qualquer pessoa escolarizada da época”, diz Restall.

Esse é só um exemplo do mito de que a conquista da América só foi possível graças à coragem e à genialidade de meia dúzia de conquistadores e que surgiu desde os primeiros relatos dos colonizadores enviados à Espanha. Para obter a permissão de explorar novas terras, eles precisavam provar que a colonização era rentável e, para tanto, escreviam qualquer lorota: omitiam fatos, inventavam histórias, exaltavam a si mesmos. Hernán Cortez e Francisco Pizarro, responsáveis pelos tombos dos impérios asteca e inca, respectivamente, foram especialmente beneficiados por tais relatos e elevados à categoria de heróis. Biógrafos, cronistas e religiosos que participaram das expedições ajudaram a construir esta imagem, por meio das cartas enviadas à coroa, chamadas de probanzas de mérito (ou “provas de mérito”).

Pelo menos num ponto, porém, os relatos tinham razão: a desvantagem numérica dos espanhóis – fato que os levou a derrotas freqüentemente ignoradas nas tais probanzas de mérito. Como, então, os conquistadores conseguiram expandir seus domínios e subjugar milhares de nativos? A resposta não está na genialidade militar de Cortez ou Pizarro. Em nenhum momento eles apresentaram novas táticas de guerra e, na maior parte do tempo o que fizeram foi seguir rotinas adotadas em conflitos anteriores ao descobrimento. Uma das mais importantes foi a aliança com os nativos (que veremos mais adiante). Mesmo assim, eles não abriram mão de procedimentos igualmente eficientes, mas que nada tinham de inventivos: o uso da violência indiscriminada para intimidar os resistentes. Nos casos extremos, pessoas eram decepadas ou queimadas vivas em praça pública, tinham braços e mãos amputados e suas famílias recebiam seus corpos, o que costumava garantir a submissão de outros nativos.

Nem pagos, nem forçados

O mito de que os espanhóis que desembarcaram na América eram todos militares

A esquadra de Colombo mal aportou na praia da ilha de Hispaniola, no Caribe, e um grupo de soldados já estava perfilado na areia. Vestiam armaduras reluzentes, carregavam as mais potentes armas da época e aguardavam apenas a ordem de seu capitão para marchar em direção às terras do Novo Mundo. Disciplinados, estavam prontos para enfrentar o inimigo. Faziam parte de uma grande operação militar. Afinal, eram soldados. Esta cena jamais aconteceu, mas passa a idéia, constantemente repetida em filmes, ilustrações e livros, de que os conquistadores eram militares enviados pelo rei e faziam parte de uma máquina de guerra.

Mas, então, quem eram eles? Nobres aventureiros ou plebeus em busca da terra prometida? A rigor, nem uma coisa, nem outra. Em sua maioria, os espanhóis eram artesãos, comerciantes e empreendedores de pequeno porte, com menos de 30 anos de idade, alguma experiência em viagens desse tipo e sem qualquer treinamento militar. Armavam-se como podiam e entravam na primeira companhia que pudesse lhes render a quantia necessária para investir em outras expedições. Assim, poderiam acumular riquezas até receber as chamadas encomiendas – ou seja, o direito de cobrar taxas e impostos sobre a produção de uma determinada área conquistada e faturar em cima do trabalho de um grupo de nativos.

A maioria dos conquistadores não recebia ajuda financeira da coroa. Em geral, viajava por sua conta e risco em busca de status e dinheiro. Ou, no máximo, tinha um vínculo com eventuais patrocinadores, em nome dos quais as terras recém-descobertas eram exploradas. De qualquer forma, eles não eram pagos, tampouco obrigados a viajar. E muito menos soldados aptos a lutar pelos interesses da Coroa.

Guerreiros invisíveis.

O mito de que poucos soldados brancos venceram milhares de guerreiros índios.


Quando o conquistador Bernal Díaz de Castillo viu a capital asteca pela primeira vez, não conseguiu descrever a visão que teve do alto do Vale do México. A metrópole pontilhada de pirâmides, irrigada por canais navegáveis, engenhosamente construída para ser a referência de outras grandes cidades do império, poderia ser comparada às maiores capitais européias. Uma pergunta talvez lhe tenha surgido: como poucos de nós poderemos subjugá-la? Seguindo o mesmo raciocínio, como apenas centenas de europeus poderiam vencer os milhões de índios espalhados pelo continente? Nem a “genialidade” de seus líderes, a pólvora ou o aço espanhol dariam conta. Há algumas respostas para essas questões.

A primeira é que os espanhóis sempre foram minoria nos campos de batalha da América, mas jamais lutaram sozinhos. Os nativos nunca formaram uma unidade política, nem no caso de astecas e maias, que fosse imune às rivalidades e intrigas. E os conquistadores se aproveitaram, desde muito cedo, dessa desunião, conseguindo formar verdadeiros exércitos índios, dispostos a eliminar seus inimigos. Na primeira vez que Cortez chegou a Tenochtitlán, mais de 6 mil aliados davam cobertura aos espanhóis, que eram cerca de 200. Na batalha final, alguns meses depois, ele conseguiu reunir mais de 200 mil homens para tomar a capital asteca. “As pessoas tendem a imaginar que os povos americanos eram unidos em torno de uma identidade nativa. Na verdade, acontecia o contrário. Quando os espanhóis chegaram à América, encontraram várias tribos rivais, que não precisavam de mais que um empurrãozinho para entrar em conflito”, afirma Restall.

Além disso, no final do século 16, cerca de 100 mil africanos desembarcaram na América. A princípio, eles trabalhavam como serventes e auxiliares dos espanhóis, mas, sempre que necessário, recebiam armas para lutar contra os inimigos. Como recompensa, ganhavam a liberdade e logo eles também se tornavam conquistadores.

Sob a tutela do rei.

O mito de que, em pouco tempo, toda a América estava sob jugo espanhol
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Palavras de Cortez: “Deixei a província de Cempoala totalmente segura e pacificada, com 50 mil guerreiros e 50 cidades. Todos estes nativos têm sido e continuam sendo fiéis vassalos de Vossa Majestade. E acredito que eles sempre serão”. A carta de Cortez enviada ao rei da Espanha dá uma boa idéia de como funcionava a burocracia da conquista. Para o monarca, não bastava o conquistador encontrar uma terra e reivindicar o direito de explorá-la. Ele precisava convencê-lo de que aquela região era economicamente viável, de preferência com minas de ouro e prata, e contava com mão-de-obra para tirar dali tais riquezas. Como resultado, os líderes espanhóis não pensavam duas vezes antes de carregar seus pedidos com informações exageradas.

Essa combinação de fatores contribuiu para a criação do mito de que a conquista total dos povos americanos foi alcançada logo nos primeiros anos da presença espanhola. Muitas cidades, no entanto, resistiram à dominação durante décadas. No Peru, alguns estados independentes só foram dominados depois de 1570, após a morte de líderes como Túpac Amaru. Quando os espanhóis fundaram Mérida, em 1542, boa parte da península de Yucatán, na América Central, permaneceu sob a influência dos maias – e muitas políticas elaboradas por eles sobreviveram até 1880. A experiência espanhola na atual Flórida, nos Estados Unidos, foi ainda mais desastrosa. Pelo menos seis expedições foram enviadas para lá entre 1513 e 1560, quando a região finalmente foi controlada pelos europeus. Mas um dos exemplos mais curiosos vem da bacia do Prata, onde os fundadores de Buenos Aires, em 1520, viraram jantar de tribos canibais.

Outro aspecto que mostra que a conquista não foi total era a relativa autonomia que alguns nativos mantiveram em relação aos seus dominadores – condição sancionada pelos próprios oficiais espanhóis, que procuravam não intervir nas regras que vigoravam antes de eles chegarem. E não por acaso. Esta era mesmo a melhor forma de garantir a manutenção das fontes de trabalho e da produção agrícola. Além disso, membros da elite nativa participavam dos conselhos das cidades coloniais, onde eram tomadas as decisões mais importantes. Ou seja, além de continuar influenciando politicamente, eles mantiveram o status que tinham antes da descoberta.

As palavras de La Malinche.

O mito de que a falta de comunicação levou ao massacre indígena
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Foi na praça central da cidade inca de Cajamarca que Pizarro e Atahualpa se viram pela primeira vez, em 1532, numa espécie de versão peruana do encontro entre Montezuma e Cortez. Ao lado do conquistador, menos de 200 homens armados pareciam não temer os mais de 5 mil nativos leais ao imperador. E, de fato, eles não tinham porque se intimidar: a maioria dos locais não possuía uma arma sequer. O primeiro espanhol a se aproximar de Atahualpa foi um frei dominicano que segurava uma pequena cruz numa das mãos e a Bíblia na outra. Em poucos minutos, a batalha havia começado. Mas, apesar da desvantagem numérica, os invasores conseguiram dizimar um terço dos nativos. Atahualpa foi capturado.

Há várias versões sobre os motivos que causaram a briga e sobre como a batalha de Cajamarca começou. Francisco de Jerez, presente no local, escreveu que o imperador atirou a Bíblia ao chão, porque não a entendia. A blasfêmia teria sido o motivo para Pizarro dar o sinal de ataque. Na versão inca, no entanto, a ofensa partiu dos espanhóis, que teriam se recusado a tomar uma bebida sagrada oferecida por Atahualpa.

É praticamente impossível saber o que aconteceu de fato naquele dia, mas o encontro sangrento entre incas e espanhóis é um bom exemplo de como as supostas falhas na comunicação serviram para justificar as ações dos europeus e, por conseqüência, a própria conquista. Mas estas falhas não eram tão freqüentes assim. O diálogo entre Montezuma e Cortez, por exemplo, apesar de ter gerado diferentes interpretações, mostra que os dois lados podiam se entender muito bem. Isso graças a uma figura central durante todo o processo de colonização: os intérpretes. O papel deles foi tão importante que um dos principais procedimentos de guerra era justamente encontrar e “formar” tradutores. Alguns destes tradutores se deram tão bem que alcançaram status inimagináveis para um nativo. Receberam encomiendas e chegaram a ser citados nas cartas enviadas ao rei. O exemplo mais famoso é o de La Malinche, a amante e intérprete que acompanhou Cortez durante anos e esteve presente no encontro com Montezuma.

O fim dos índios

O mito de que a conquista só trouxe desgraça para os nativos


A derrota de Cortez era inevitável. Havia horas que ele e seus guerreiros lutavam contra a união de três exércitos inimigos na grande praça central de Tlaxcala, uma comunidade nativa aliada aos espanhóis, e a derrocada do conquistador se aproximava a cada golpe. Finalmente ele seria vencido. E foi mesmo. Ainda no chão, Cortez pôde ouvir os aplausos efusivos da platéia. Aquela encenação do dia de Corpus Christi ficou conhecida como o evento teatral mais espetacular e sofisticado do ano de 1539. Numa curiosa inversão de papéis, o conquistador interpretou o Grande Sultão da Babilônia e Tetrarca de Jerusalém. O papel dos reis da Espanha, Hungria e França ficou com os nativos da comunidade.

O Corpus Christi de Tlaxcala não foi o único festival do século 16 no Novo Mundo. A imensa maioria das colônias da Mesoamérica e dos Andes encenou, dançou e até representou as batalhas contra os espanhóis. Muitas dessas manifestações culturais sobrevivem até hoje. Mas o curioso é que o objetivo não era reconstruir a conquista como algo traumático. Ao contrário. Para os nativos, os festivais significavam uma celebração de sua integridade e vitalidade cultural. “Eram eventos que transcendiam aquele momento histórico particular e não estavam associados à lembrança de algo ruim. Até porque o sentimento de derrota não era algo comum a todos os povos nativos”, afirma Restall.

Manifestações desse tipo eram apenas uma das formas pelas quais os nativos mostravam que o impacto da conquista não foi tão traumático quanto sugere boa parte da retórica comum. Muitas comunidades mantiveram seu estilo de vida e outras tantas evoluíram rapidamente com a necessidade de se adaptar às novas tecnologias e demandas trazidas pelos espanhóis. Aprenderam novas formas de contar, construir casas, planejar cidades e, sobretudo, guerrear. Assim, houve nativos que enriqueceram com o comércio de alimentos e com o aluguel de mulas. O povo Nahua, por exemplo, depois de lutar ao lado dos espanhóis por anos, organizaram campanhas militares próprias e expandiram seus domínios para além das terras onde hoje estão Guatemala, Honduras e parte do México.

Macacos e homens.

O mito da superioridade e da predestinação dos europeus
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“Os espanhóis têm a governar estes bárbaros do Novo Mundo. Eles são em prudência, ingenuidade, virtude e humanidade tão inferiores aos espanhóis quanto as crianças são para os adultos, e as mulheres, para os homens”, escreveu o filósofo Juan Ginés de Sepúlveda, em 1547. O mito da superioridade espanhola é visto em todos os relatos do período colonial. Para Restall, ele vem desde as primeiras expedições e está ligado à justificativa de que os europeus tinham a aprovação divina para conquistar novas terras. Eles acreditavam que eram os escolhidos de Deus, os encarregados de levar o cristianismo a outros povos.

Existem outros fatores, no entanto, que ajudaram a perpetuar este mito. Um deles combina a crença de que os nativos seriam incapazes de evitar a invasão dos europeus porque eles (os nativos) também acreditavam que os espanhóis eram deuses. De fato, os povos americanos enxergavam os conquistadores como seres poderosos, mas em nenhum momento – nem mesmo nos relatos dos cronistas do período colonial – os nativos comparam os espanhóis a seres supremos, ou deidades. Além disso, a diferença brutal entre as armas dos dois grupos também ajudou a construir a idéia da superioridade espanhola.

Mas Deus não foi o principal aliado dos espanhóis. A expansão dos europeus só foi possível graças a três fatores. O primeiro e mais determinante foram as doenças que os estrangeiros trouxeram. Sem oferecer nenhuma resistência para varíola, sarampo e gripe, os nativos morreram tão rápido que em poucas décadas tribos inteiras foram extintas. O impacto das epidemias foi tão devastador que, um século e meio após a chegada de Colombo, a população de nativos havia caído mais de 90%. Os astecas sentiram o poder desses males. “As ruas estavam tão cheias de gente morta e doente que nossos homens caminhavam sobre corpos”, escreveu o padre Bernardino de Sahagún, quando os conquistadores tomaram Tenochtitlán.

O segundo aliado foi a desunião dos nativos. A rivalidade entre diferentes grupos étnicos e intrigas entre vizinhos levou dezenas de milhares de pessoas a lutarem ao lado dos espanhóis. As armas que os conquistadores trouxeram para estas batalhas são o terceiro fator mais importante. Nas primeiras expedições, várias delas fizeram diferença. Cavalos e até cachorros acabaram entrando nos campos de batalha. Mas a mais eficiente foi mesmo a espada, mais longa e resistente que os machados dos nativos. No campo da guerra, Matthew Restall considera ainda um outro fator. Os nativos lutavam em sua própria terra. Precisavam, portanto, proteger a família, defender suas casas, pensar no plantio, calcular a colheita e fazer o possível para não deixar que a guerra prejudicasse e interferisse no seu dia-a-dia. Por isso, eles sempre estiveram mais dispostos a negociar e a protelar os confrontos com os conquistadores. Já os espanhóis não tinham muito a perder. Basicamente, precisavam se preocupar apenas com suas próprias vidas. E com o que teriam de fazer para continuar conquistando novas cidades e acumulando mais riquezas.

Você quer saber mais?

Restall, Matthew. Seven Myths of Spanish Conquest, Oxford University Press, 2004 - O autor, professor da Universidade da Pensilvânia, é um dos maiores especialistas mundiais em culturas pré-colombianas.

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Os soviéticos pisaram na lua?

O lado vermelho da Lua

Com um plano ultra-secreto, os soviéticos estiveram bem próximos de vencer a corrida contra os EstadosUnidos para colocar o primeiro homem na superfície lunar. Saiba por que eles fracassaram!

Milhões de pessoas acompanham pela televisão. Uma imagem embaçada mostra um homem em traje espacial, prestes a descer o último degrau de uma escada. Em meio aos chuviscos em preto-e-branco, caracteres indicam que se trata de uma transmissão ao vivo da superfície da Lua. O sujeito desce o último degrau e imprime a primeira pegada humana naquele corpo celeste. Suas palavras ficam eternizadas: “Odin malen’kii shag dlya cheloveka, gigantskii pryzhok dlya chelovechestva”. Naquele ano, 1968, o cosmonauta soviético Alexei Leonov se tornava, finalmente, o primeiro homem a caminhar sobre a Lua.

Ok, ok, todo mundo sabe que não foi assim que aconteceu, que os soviéticos nunca estiveram na Lua e que a frase acima (versão em russo para a célebre “um pequeno passo para o homem, um gigantesco salto para a humanidade”) foi dita mesmo no bom e velho inglês do norte-americano Neil Armstrong, em 20 de julho de 1969. Mas o que pouca gente sabe é o quanto a cena descrita aí em cima esteve perto de ocorrer. Pouca gente mesmo. Pois até o fim da União Soviética, os esforços – e os fracassos – dos russos para colocar um homem na Lua antes dos americanos permaneceram como um dos maiores segredos da Guerra Fria.

Para todos os efeitos, os soviéticos não estavam nem aí para pousar na Lua e diziam que isso não serviria para quase nada, cientificamente falando. Pura balela. O recente acesso aos arquivos do programa espacial soviético confirmou uma antiga desconfiança dos historiadores de que o governo comunista não só tentou fazer o primeiro pouso na Lua, como falhou feio. “Havia algumas pistas de que esse programa estava sendo preparado”, lembra Alexander Sukhanov, físico do Instituto de Pesquisas Espaciais da Rússia, o IKI. “Por exemplo, eu me lembro de uma entrevista com cosmonautas soviéticos no fim de 1965. Uma das perguntas era: ‘Astronautas americanos pousarão na Lua no ano de 196x. Quando os cosmonautas soviéticos irão pousar?’. E Alexei Leonov respondeu: ‘No ano de 196x menos 1’”. Foi aplaudido de pé. O cosmonauta Leonov havia se tornado um dos principais nomes da história do programa espacial soviético quando, em 18 de março daquele ano, deixou sua nave, a Voskhod, e se tornou o primeiro homem a “caminhar” no espaço.

Yuri Gagarin, realizou o primeiro voo tripulado ao espaço.

Mas o que na época pareceu pura fanfarronice de Leonov pode mesmo ter sido uma indiscrição do herói soviético, já que, em 1965, o programa soviético para colocar um homem na Lua estava em andamento. E era secretíssimo. O engenheiro aeroespacial Sergei Korolev, a maior figura dos bastidores do programa espacial russo, trabalhava pessoalmente, desde 1963, num desenho de nave espacial que servisse para uma visita à Lua. Korolev liderara um grupo de cientistas e assistentes num escritório supersecreto identificado apenas pelo código OKB-1. Ali, ele criou o míssil R-7, que serviu como lançador para os pioneiros satélites artificiais soviéticos (os primeiros do mundo), a começar pelo Sputnik-1, em 1957. O R-7 foi mais tarde adaptado para colocar em órbita espaçonaves tripuladas, como a Vostok (que levou Yuri Gagarin a se tornar o primeiro a entrar em órbita da Terra, em abril de 1961) e a Voskhod (de Alexei Leonov). Em 1964, Korolev trabalhava no projeto do veículo tripulado Soyuz – que até hoje está em operação, servindo à Estação Espacial Internacional (leia quadro ao lado).

Em 3 de agosto daquele ano, o Partido Comunista oficializou a criação do programa conhecido simplesmente como N-1/L-3. Desmembrando as siglas: “O N-1 referia-se ao plano para a construção de grandes foguetes para colocação em órbita de objetos e naves maiores”, explica o ex-cosmonauta Anatoly Berezovoy, que passou 211 dias no espaço no início dos anos 1980, como comandante da estação russa Salyut-7. “Com a designação L existiam os modelos L-1, L-2 e L-3. O L-1 era uma nave tripulada que apenas contornaria a Lua, enquanto os artefatos da série L-2 e L-3 seriam usados para colocar nossos cosmonautas na Lua.”
As espaçonaves do tipo L-1 eram versões ligeiramente encolhidas da Soyuz, que podiam ser lançadas com os foguetes já disponíveis na União Soviética em 1964, como o Proton. Mas as naves L-2 e L-3 precisariam esperar pelo desenvolvimento do gigante N-1. A L-2 era uma espécie de Soyuz vitaminada, capaz de transportar dois cosmonautas até a órbita lunar, fazendo as vezes da cápsula Apollo americana. O L-3 era um módulo de pouso com capacidade para apenas um cosmonauta, que teria de descer sozinho até a Lua. Os planos previam os primeiros vôos-teste para 1966 e as missões reais seriam conduzidas entre 1967 e 1968.

Diagrama da Vostok, que levou o primeiro homem ao espaço.

Hoje, até os especialistas russos concordam que o plano soviético era cheio de falhas e muito arriscado. “A arquitetura da L-2 era mais frágil que a do rival americano. Comparado com o Apollo, aquele não era um bom programa”, afirma Sukhanov. “O lançador N-1 era menos poderoso que o Saturn V e só podia lançar cerca de 90 toneladas em órbita terrestre baixa. Portanto, a espaçonave lunar teria de ser menor e mais leve que a americana, o que tornaria a descida arriscada demais.” Mas até 1965 ninguém – dentro ou fora da União Soviética – pensava assim. A idéia por trás do programa era apenas chegar lá primeiro, não chegar lá melhor, então qualquer esforço – e risco – estava valendo. Afinal, os soviéticos permaneciam invictos na corrida espacial, não tendo perdido um único marco importante para os americanos.

No fim de 1965, porém, Sergei Korolev teve diagnosticado um câncer de cólon, foi internado, tratado e operado. Em janeiro de 1966, ele morreu sem ver um único teste de suas criações. Só em 23 de abril de 1967 partiu ao espaço a nave Soyuz-1, com Vladimir Komarov a bordo. A idéia era testar a operacionalidade do veículo na órbita terrestre. Após 18 voltas de um vôo cheio de problemas, Komarov teve de dirigir o veículo manualmente de volta à atmosfera. Os pára-quedas da nave não se abriram e o cosmonauta se espatifou no chão. Era a primeira morte do programa soviético, e a partir dela ficou decidido que as naves teriam testes extensos sem tripulação antes que pudessem ser habilitadas a transportar humanos.

O programa do foguete N-1 continuava em desenvolvimento, mas os avanços eram lentos. Já o L-1 estava bem adiantado e em março de 1968 foi feito o primeiro teste com o veículo. O segundo, em 14 de setembro, ainda sem tripulação, conseguiu cumprir sua meta original e dar a volta ao redor da Lua, retornando em segurança.

Os americanos entenderam o recado e a Nasa tratou de redirecionar o lançamento da Apollo-8. Em dezembro daquele ano, naquela que era apenas sua segunda expedição, a espaçonave foi enviada em direção à Lua: era o terceiro lançamento do Saturn V e o primeiro com tripulação. Frank Borman, William Anders e James Lovell passaram 20 horas em órbita lunar e, na véspera do Natal, leram trechos da Bíblia ao vivo para o público que, pela televisão, acompanhava as inéditas fotos do “nascer da Terra”, visto da Lua.

A corrida para a Lua entrava em seu momento decisivo. No início de 1969, o gigante N-1 finalmente estava pronto para um vôo-teste. Às 9h18 da manhã do dia 21 de fevereiro, os supermotores foram ligados, com barulho ensurdecedor. O foguete se desprendeu da base e subiu, deixando atrás de si uma elipse de fumaça branca. O sonho durou 68,7 segundos, até que vibrações anômalas e um incêndio fizeram o comando abortar a missão e explodir o N-1, a 30 quilômetros de altitude. A falha ocorreu enquanto o foguete ainda estava acionando os motores de seu primeiro estágio. Ninguém saiu ferido. Uma segunda tentativa ainda seria conduzida em 3 de julho daquele ano, mas os resultados não foram muito diferentes. Depois de 50 segundos de vôo, o enorme N-1 ficou fora de controle e teve de ser destruído no ar.

Apenas 13 dias depois, partia do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, o Saturn V que impulsionaria a Apollo-11 até a Lua. Em 20 de julho, Neil Armstrong e Edwin Buzz Aldrin fincariam a bandeira americana na superfície lunar, marcando a definitiva virada dos Estados Unidos na corrida espacial.

O N-1 passou por mais dois vôos-teste, em 1971 e 1972, mas ambos também terminaram em falhas, todas no primeiro estágio. Depois do pouso de Armstrong, os soviéticos jamais voltaram sequer a falar em missões lunares tripuladas e passaram a negar, em todas as oportunidades, que tivessem algum programa para o desembarque de humanos na Lua. Mas as consecutivas falhas do N-1 ainda hoje são motivo de polêmica na Rússia. Muitos atribuem a culpa à morte de Korolev, que deixou todos os projetos espaciais tripulados à deriva, até que outros à sua altura conseguissem tomar as rédeas. Mas há quem diga que foi uma atitude de Korolev em vida que condenou o N-1.

Segundo Vladimir Kurt, pesquisador do IKI e veterano de projetos espaciais na Rússia, motores muito potentes para o primeiro estágio do N-1 chegaram a ser desenvolvidos pelo escritório de Valentin P. Glushko, outro grande engenheiro aeroespacial da época de ouro da União Soviética. “No entanto, as relações entre Glushko e Korolev eram muito ruins, sei lá por que razão, e Korolev decidiu usar outros motores, com um sexto da potência dos de Glushko, para o primeiro estágio do N-1”, diz Kurt.

Para compensar os motores mais fracos, foi preciso aglutinar 32 deles. Seu funcionamento simultâneo foi o que causou as vibrações que levaram ao fracasso dos quatro lançamentos do grande foguete soviético. O projeto foi encerrado em 1974, quando Glushko assumiu o comando do OKB-1.
A Leonov, que, se o cronograma soviético tivesse sido cumprido, teria sido o primeiro a pisar na Lua (seu principal concorrente, Yuri Gagarin, morreu em 1968), sobrou um irônico prêmio de consolação: ele acabaria sendo o único soviético a orbitar a Lua, a bordo de uma espaçonave Apollo, durante uma missão conjunta de soviéticos e americanos, em julho de 1975.

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domingo, 24 de outubro de 2010

INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte III.

INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte III.
Prof. César Augusto Machado da Silva


FATORES QUE LEVARAM À DOUTRINA INTEGRALISTA (S)

Ao se iniciar o séc.XX, vários antagonismos se destacaram: o Socialismo não só se opunha ao Capital-Liberalismo, como também ao Absolutismo-Monárquico, que ainda perdurava na Europa, nos Impérios Russo, Alemão e Austro-húngaro, oriundos do Congresso de Viena.
Por outro lado, um forte Nacionalismo Patriótico despertava em várias regiões da mesma Europa (Polônia, Tchecoslováquia, Bóznia-Hezergovina, Bascos na Espanha, etc...). Segundo o Historiador inglês Edward Carr afirmava, “Em História, tôdo o acontecimento tem consequências futuras onde o passado e o presente se inserem no tempo.” Após a Primeira Guerra Mundial, o advento do Fascismo Italiano, de cunho Nacionalista, muito aguçou os sentimentos patrióticos não só na Europa, como aqui na América, particularmente no Brasil. Não apenas cultuavam os sentimentos nacionais, como combatiam a rescém-Revolução Russa, que pregava o Internacionalismo comunista. No Brasil do início do século XX, os movimentos literários de Cruz e Souza e Elísios de Carvalho, até 1918, pregavam os valores morais do homem brasileiro, valores êstes ‘Integrais’, dentro do espírito indígena, caldeado com o europeu e o negro africano, assim foram os movimentos naturista e modernista. No entanto, à partir da criação do Partido Comunista Brasileiro, em março de 1922, esses mesmos movimentos literários despertaram para mais uma luta: o Anti-Comunismo. Esta foi a motivação do nascimento verde-amarelo,grupo que depois se constituiu no famoso “Grupo da Anta”, animal sagrado do folclore tupi. Daí, até 07/10/1931, são fundados outros movimentos, como “Ação Patrinovista do Brasil” e a “Ação Social Brasileira,mas ambas acabaram por se absorver à “Ação Integralista Brasileira”,em 07 de Outubro de 1932.
Assim, dentro da Historiografia Positivista, observamos os fenômenos de Causas e Efeitos.

ASCENÇÃO E QUEDA DO INTEGRALISMO

DE 1922 A 1927 => Formação do grupo ‘Verde-Amarelo’, e formação do ‘Grupo da Anta’, daí até 1927, se amplia o sentimento Nacional, com os valores nacionais, onde o “totem” é o sentimento indígena à tupi, onde se distinguem a “Ação Patrianovista do Brasil”, de Olbiano de Melo, e a “Ação Social Brasileira”, de J. Fabrino;

DE 1928 A 1932 => Já são nítidos os pensamentos integralistas, com os Manifestos e as obras de Plínio Salgado: “O Estrangeiro”; “Literatura e Política”; “República de 1889, Favorável e Desfavorável”; “A Cidade e a Província” e “A Quarta Humanidade”;

DE 1932 A 1934 =>Proclamação Oficial da AIB (Ação Integralista Brasileira),em
07/10/1932 com Plínio Salgado, Alfredo Buzaid, Santiago Dantas, Rui Arruda,Almeida Sales e Angelo Simões Arruda, quando paralelamente são criados o jornal “A Razão” e o SEP (Sociedade de Estudos Políticos), a AIB dá ao governo Vargas, uma vez que este adotou o sistema corporativo baseado na Carta del Lavoro,de Mussolini, fato que culminou com a Constituição de 16/07/1934;

DE 1934 A 1938 => Apogeu do Integralismo, com a nítida característica de Estado, quando se organiza em executivos nacional, regional órgãos consultivos (Câmara dos 40 e Câmara dos 400) e Núcleos Municipais.Os aspectos jurídicos eram julgados pelo SEP. Em 10 de Novembro de 1937, Vargas fecha o Congresso, impõe a Carta de 1937, fecha todos os partidos políticos, inclusive a AIB. Esta se rebela e conspira; em 11 de Maio de 1938, ataca o Palácio Guanabara, com a intenção de depor Vargas e proclamar o Estado Integralista. Mas, a intenção não vinga, os rebeldes são dominados, os chefes são presos e fuzilados; Mas alguns conseguem escapar, se refugiando em Embaixadas estrangeira; Plínio Salgado seria preso em 26 de Janeiro de 1939, e exilado inicial mente na Fortaleza de Santa Cruz (Niterói), e depois em Portugal, até o fim do governo Vargas, em 1945;

DE 1938 A 1945 => Hiato de tempo, em que o Brasil esteve sob a ditadura do Estado Novo;
DE 1945 A 1965 => Com o fim da ditadura Vargas(29/10/1945), a AIB ante os traumas e rancores do Anti-Fascismo, procurou se organizar com a sigla PRP (Partido da Representação Popular), mas por circunstâncias lógicas, não mais com aquela ênfase e força, porém, ainda conseguiu dentro deste período,eleger para a Câmara Federal alguns deputados; Com o Golpe Militar de 31 de março de 1964, todos os partidos foram perdendo forças, até ao seu fecha mento definitivo, em 27/10/1965, incluindo o PRP....

ATUAÇÃO DO INTEGRALISMO DEPOIS DE 1945

Com a criação do PRP (Partido de Representação Popular), o Integralismo fez um gigantesco esforço para ressuscitar a sua ideologia, porém encontrou sérios obstáculos, como:

a) A legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB),em 1945, com forte conotação política;
b) O Anti-Fascismo do Pós-Segunda Guerra;
c) Forte oposição liberal;
Mesmo assim, consegue uma fraca representação nas câmaras municipais, estaduais e federal, e seu lema principal, era o Anti-Comunismo e no campo social, o aprimoramento das classes.
Decorridos três anos, em 1948, a sua atuação ficou mais fácil, pois o PCB, fora fechado um ano antes, os rancores da guerra estavam amainados e o Governo Dutra necessitava de aliados contra os comunistas rancorosos, e assim, neste ano todos os oficiais das Forças Armadas, que foram excluídos por ocasião do levante de 11/05/38, foram anistiados e reintegrados.
O PRP procurou então, fazer o seu programa mais corporativo possível, fazendo alianças com um partido conservador (UDN), com essa finalidade. Manteve-se nesse programa os governos que se seguiram: Getúlio Vargas (1951/54), Café Filho(1954/55), sendo que neste período foi lançada a Candidatura de Plínio Salgado à Presidência da República; foi derrotado por Juscelino Kubistchek (1956/61), mas obteve cerca 8% de votos válidos.
Em 1957, quando houve o Congresso Integralista, no qual foram homenageados os “Águias Brancas”(postos honoríficos da extinta AIB), decidiu-se pela candidatura de Plínio Salgado à Câmara Federal, sendo concretizado em 1958, e se reelegendo sucessivamente em 1962, 1966 e 1970.
Com o advento do Regime Militar (1964/85), os Integralistas apoiaram o Golpe, nos seus primórdios, todavia passaram a criticá-lo já em 1965, inclusive o mesmo ano em que o Ato
Institucional N° 2, de 27/10/1965 extinguia todos os partidos, criando o Bipartidarismo, sendo
um de apoio ao Governo (Arena - Aliança Renovadora Nacional) e um da oposição (MDB –
Movimento Democrático Brasileiro); Plínio Salgado se inscreveu na Arena e lá permaneceu até
se afastar da vida pública em 1974.
Ainda em pleno regime militar, no Governo do General Garrastazu Médici (1969/74), há uma última tentativa de ressurgimento do Integralismo, com o Ministro da Justiça Alfredo Buzaid tenta enxertar complementos corporativos na Constituição de 1969, sem êxito. Com o falecimento de Plínio Salgado aos 80 anos em SP, em 07 de Dezembro de 1975, os ideais integralistas sofreram um rude golpe, mas não morreram de todo, pois de minha passagem pela Universidade Santa Úrsula, de 1987 a 1990, conheci quatro colegas integralistas, que tinham a coragem não só de assumirem, como se defrontarem com uma grande massa de marxistas.
Foi realizado nos dias 04/12 e 05/12 de 2004 na cidade de São Paulo o Congresso Integralista para o Século XXI. Na ocasião foi criado o novo movimento Integralista hoje denominado FIB (Frente Integralista Brasileira). Atualmente, os integralistas reorganizam-se em todo país, com a criação de centenas de núcleos nas mais diversas regiões. A Frente Integralista Brasileira conta com alguns braços regionais.

REFLEXOS do INTEGRALISMO NA SOCIEDADE e NA FAMÍLIA BRASILEIRA

O Integralismo em toda a sua trajetória, principalmente na década de 1930, penetrou com muita receptividade tanto na Sociedade, como na família brasileira, dado ao seu próprio lema “DEUS, PÁTRIA e FAMÍLIA”.Assim,como o imenso apoio da Igreja Católica, a quem o Povo Brasileiro maciçamente pertencia e ainda pertence! Já no ‘Manifesto da Anta’,em 1922,essa característica, e o Anticomunismo foram as bases com as quais o grupo verde-amarelo lançou as premissas do que seria mais tarde, o Integralismo. Essas premissas foram paulatinamente ganhando eco em toda a camada da classe média brasileira, como também, em grande parte da classe humilde, durante a década de 20.
Outro fator preponderante foi a essência da doutrina corporativa, uma vez que, as classes sempre tiveram uma coesão de reivindicações. Isto teve uma grande influência na década de 30.
E, justamente a partir desta década, foi que o Integralismo penetrou a fundo na sociedade brasileira, dando o seu espírito de patriotismo radicalmente dentro dos parâmetros nacionalistas, recebendo as adesões de todos os setores sociais, incluindo de uma boa parte das forças armadas, principalmente da Marinha(cerca de 80%!)..
O que é importante, porém, é que havia nessas adesões, um sentimento puro e honesto de um ideal que via realmente um Brasil acima de quaisquer interesses regionais e mesquinharias políticas e ambições individuais, objetivando unicamente um País forte e integrado dentro de suas origens, tradições e princípios nativistas, com os quais se acreditava no verdadeiro sentido de “Ordem e Progresso”. Essas foram as razões às quais, o Integralismo se refletiu na sociedade e na família brasileira.

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O INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte II.

O INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte II.
ProfProf. César Augusto Machado da Silva

Assessorando o Chefe Nacional, havia o SEP – Sociedade de Estudos Políticos. Foi criada também, a Milícia Integralista.
Muito contribuíram para esta elaboração, Alfredo Buzaid, Rui Arruda, Roland Corbisier,Almeida Sales, Angelo Simões Arruda e San Tiago Dantas. Miguel Reale, mais tarde, o teórico.
Iniciou-se assim, a Ação Integralista Brasileira, dando a priori, apoio ao governo Vargas, visto que a recente e derrotada Revolução Constitucionalista de São Paulo pretendia reverter política regionalista do poder Minas-São Paulo (o famoso Café com Leite). A partir de 1933, o governo Vargas inicia o programa social, cuja base é a Carta d’il Lavoro de Mussolini, ou seja, o socialismo corporativo, daí surgindo a legislação do trabalho e os Institutos de Previdência por Classes, tal foi amplamente apoiado pela A.I.B.
A partir de 1934, o Brasil continua através do governo de Getúlio Vargas, a sua política corporativa, são criados o Ministério do Trabalho e a Justiça do Trabalho, o primeiro para coordenar os Institutos de Previdência e fiscalizar as empresas no tocante à legislação do Trabalho, e, a segunda para julgar os litigios entre empregados e empresários e fixar os dissídios salariais. Em 16/07/34 é promulgada a 3ª Constituição do Brasil em bases corporativas, havendo a representação classista, sendo Getúlio Vargas eleito para o período de 1934 a 1938. A AIB apoiou tais eventos.
O ano de 1935 entra sombrio, os comunistas, elaborando a “Aliança Nacional Libertadora”, denunciam o sistema como fascista, e, pregam a revolução armada em “nome do povo”, já em 1934 Plínio Salgado declarara em um Congresso da AIB:
“A liberdade é condicionada à uma finalidade social que garanta a plena expansão das
aspirações humanas”, querendo dizer com isto, que tanto o exerço do liberalismo, permitindo as grandes riquezas, em detrimento da sociedade, como o socialismo marxista colocando o indivíduo em função do Estado, e lhe negando o direito de propriedade e logicamente sua fixação, não atendem as aspirações do homem.
Ambos, o exerço de liberalismo e comunismo tiram ao homem o direito da verdadeira liberdade, que consiste no seu direito individual de trabalho e propriedade, condicionando no dever de respeito à propriedade e trabalho de seu semelhante, dentro do espírito de classe e sociedade. Liderada por Luis Carlos Prestes, explode em 27/11/35 a intentona comunista, no Rio de Janeiro, Natal, Recife e Olinda, sendo prontamente abafada pelo governo, assim como presos os chefes do movimento. A AIB ajudou amplamente o governo Vargas, neste propósito. Em 1936, o ano abre tenso, a intentona comunista deixara muitos mortos entre os militares e civis leais ao governo Vargas, os espíritos estavam exaltados e os familiares revoltados, as
prisões cheias de comunistas e suspeitos. Apesar de Luiz Carlos Prestes estar foragido, e, o governo Vargas ter o controle da situação, o perigo de conspiração comunista não cessara. A AIB se mantém vigilante ao perigo, informando às autoridades, todos os movimentos prócomunistas que consegue detectar, Prestes foi preso e condenado. Em 1937, a política brasileira, sob o governo Vargas, atinge a temperatura máxima, não só a ameaça comunista perdurava, como as eleições presidenciais se aproximavam, cujos candidatos principais eram José Américo, da Paraíba com um programa liberal nacional e Armando Sales, de São Paulo, que, na verdade, representava a antiga política regionalista de Minas-São Paulo.
No Rio Grande do Sul, não se soube a que pretexto, Flores da Cunha, governador, conspirava contra o governo Vargas. Surgiu então o famoso plano Cohen, até hoje incerto nas pesquisas de todos os historiadores, de onde a sua origem? A sua característica era similar a do comunista húngaro Khun, daí a corruptela para Cohen, que consistia na tomada de assalto das principais repartições públicas, sobretudo a de comunicações e transportes, principais unidades militares e assassinato das
principais autoridades, conspiração essa que fracassou na Hungria. Existem várias hipóteses, nenhuma provada:

1) O Plano fora forjado pelo governo, como pretexto para o golpe de 10/11/37, com a
cumplicidade dos integralistas.
2) Havia realmente algo comunista no ar.
3) Conspiração internacional pró, ou anticomunista, até mesmo de capitais internacionais, que
viam seus interesses ameaçados.


Personagens Contemporâneos da Época:

Alzira Vargas do Amaral Peixoto => Filha de Getúlio Vargas e sua assessora direta, cita em seu livro ”Vargas, meu Pai, que desconhecia totalmente a origem deste plano,dizendo apenas que fora preso no Ministério da Guerra, um oficial integralista datilografando uma minuta sobre o plano, embora não decline o nome do oficial, se sabe que foi o Capitão Olímpio Mourão Filho ,o qual mais tarde como General em 1964, seria o principal mentor militar que precipitaria a queda do governo do Presidente João Goulart. Olímpio Mourão Filho => No seu livro de memórias, o General Mourão não faz uma única referência ao plano; não obstante se declarar abertamente integralista, chegando a dizer que “Quem veste a camisa-verde, jamais a tira”, além de tecer vários elogios à Plínio Salgado.
No entanto, há uma entrevista sua publicada no “Jornal do Brasil” no início dos anos 70, onde diz que estava informado sobre graves conspirações, às quais poderiam levar o Brasil ao caos, e por isto juntara documentos comprobatórios, levando-os ao General Mariante, então Ministro do Tribunal Superior Militar. O General Mariante, de posse dos documentos, os levou ao então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Goés Monteiro. Quando mais tarde, Mourão soube, procurou Góes Monteiro(desmentindo aí a sua prisão), sendo por ele recebido, a quem externou a sua preocupação, e, estando apreensivo pelo fato das eleições estarem próximas, assim como, quais seriam as ressonâncias de tais notícias no Congresso.
Góes Monteiro, não lhe tinha nenhuma simpatia, diz Mourão, que ele assim o respondeu:
-“Não seja arara (bôbo), não vai haver coisa alguma! ”Tais acontecimentos se passaram no início do mês de Novembro de 1937. E, em 10/11/37, era Fechado o Congresso, desmarcadas as eleições e proclamado o Estado Novo, com Getúlio Vargas na Chefia da Nação. No dia 15/11/1937, houve uma solenidade junto ao monumento do Marechal Deodoro da Fonseca, presidida por Getúlio, onde são queimadas as bandeiras estaduais, logo a seguir, foi hasteada a Bandeira Nacional, ao som do Hino Nacional, rodeados de milhares de Camisas-Verdes de braços direitos levantados. No dia 01/11/37, duas semanas antes de tais eventos, diz Alzira Vargas em seu livro, que a grande manifestação integralista, como o grande ‘desfile dos 50 mil’ em homenagem e apoio ao seu pai, muito a impressionou, pois nele estavam altas patentes do Exército e da Marinha, bem como altos industriais e comerciantes, bancários, comerciários e senhoras da alta sociedade. E que “terminado o desfile, o meu pai subiu ao gabinete, tocou a campainha e convocou o Ministro da Justiça, Francisco Campos”.
No dia 21/11/1937, o governo do Estado Novo, fechou todos os partidos e agremiações
políticas, incluindo a Ação Integralista Brasileira. Foi um grande impacto, pois AIB já estava organizada não só como um partido político, como uma Associação Social e Beneficente, razão à qual, motivou uma série de protestos, entre os quais e principalmente, as carta do General Newton Cavalcanti e de Plínio Salgado;
a primeira falava da demissão do General Newton do comando da Vila Militar, endereçada ao Ministro da Guerra, general Eurico Dutra, e a Segunda, endereçada ao Chefe do Estado Novo, Sr. Getúlio Vargas, protestando contra o fechamento da AIB.
Hoje em dia, antigos integralistas, magoados, negam que a AIB houvesse apoiado o governo Vargas em toda a sua trajetória, mas essas cartas, cujo teor está no livro do historiador Hélio Silva, sobre o Movimento Integralista, são contundentes provas a contradizê-los... Começou, entretanto, entre fins de 1937 a princípios de 1938, a conspiração integralista, pecando desde o início, por não ser uniforme, e, quando por fim se arquiteta o ataque ao Palácio Guanabara, que seria apoiado por forças do Exército e da Marinha, com a posse de um triunvirato, composto de Belmiro Valverde, um General e um Almirante, essa planificação não era compacta. Tanto assim, que em seu livro, o Historiador Hélio Silva cita na véspera da data marcada, dia 10 de Maio de 1938, “Barbosa Lima tentara convencer Severo Fournier, tenente do Exército que ira comandar o ataque, da inutilidade de tal sacrifício, uma vez que todas as informações levavam a crer que dentro do Exército e da Marinha, ainda não havia a
aderência suficiente para se desfechar o golpe. ”Tal, porém não demoveu o Tenente Fournier, pois no dia 11/05/1938, à 01 hora da madrugada, algumas viaturas trouxeram homens uniformizados de fuzileiros navais que chegaram em frente ao Palácio Guanabara, cuja guarda de fuzileiros estava comandada pelo tenente Nascimento, que era Integralista; a resistência é pouca. Morrem três fuzileiros que tentam resistir, o Palácio é tomado, e Getúlio e a família ficam prisioneiros por várias horas.
Não chegavam nem forças rebeldes, nem do Governo; há menção de que os fuzileiros
navais são retidos no Arsenal de marinha, por forças governistas; Os telefones do Palácio foram cortados, exceto um, que permitiu a comunicação com a Polícia Especial; O General Dutra no Leme soube do ocorrido, e parte com uma pequena força de 12 homens para o Palácio; Há combate. Dutra é ligeiramente ferido na orelha. O que realmente se passou...? O fato é que com a chegada da Polícia Especial (Uma unidade de elite do Estado Novo), o combate se tornou desigual, e já de manhã estava tudo terminado: Os Integralistas vencidos, alguns mortos, outros refugiados e outros aprisionados e fuzilados, por ordem de Benjamin Vargas, irmão de Getúlio.
Seguiram-se inúmeras prisões de chefes e militantes integralistas. Houve comentários de que o levante estava ligado à Alemanha Nazista, porém no livro “O III Reich no Brasil”, que tem na íntegra documentos alemães decodificados e apreendidos pelos Aliados no final da II Guerra, o embaixador alemão Von Ritter, emitiu um telegrama-relatório normal, sem aventar qualquer ligação de seu governo com o Levante. Nele faz uma menção da eclosão do movimento devido ao fato do Governo Vargas não ter cumprido a palavra empenhada com os Integralistas. Em sua carta de demissão, o General Newton Cavalcanti chama a atenção para as conseqüências imprevisíveis para o Governo Vargas, uma vez que, se cuidasse do perigo das influências do comunismo e do banqueirismo internacional, vide PlanoCohen...
No período em que se seguiu a 2° Guerra Mundial, os Integralistas foram acusados de espionagem Pró-Alemanha (Acusação falsa e sem provas!).
Após o final da Segunda Guerra e a queda do Estado Novo, e obviamente de Getúlio, em 29/10/1945, o Integralismo ressurge, com a ajuda de seu teórico Miguel Reale com a sigla de PRP (Partido da Representação Popular), porém já não possuía a ênfase e a forçaanteriores. Já em pleno Governo Dutra (1946/1951), nasceram os seguintes Partidos Políticos:

· UDN (União Democrática Nacional )=> Cunho Ultra-Conservador;

· PSD (Partido Social-Democrata) => Cunho Conservador, abrigava empresários e donos de terras.

· PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) => Trabalhadores em geral;

· PSP (Partido Social Progressista) => Trabalhadores da Grande SP; Era conduzido por Ademar de Barros, ex-governador de SP;

· PCB (Partido Comunista Brasileiro) =>Liderado por Prestes, com grande força entre o operariado, acabou sendo fechado em 1947, por Decreto Presidencial;


Neste panorama político, foi difícil a atuação do PRP. Não obstante fazer deputados federais e até lançar a candidatura de Plínio Salgado em 1955, à Presidência da República; Foi derrotado; e em 1965 seria extinto com os demais partidos por decreto do Presidente Castelo Branco (1964/1967).

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INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte I

INTEGRALISMO NO BRASIL, Parte I.
Prof. César Augusto Machado da Silva


Antes de entrar no tema da questão, analisaremos etimológica e etnologicamente a palavraIdeologia, e, mais precisamente a palavra Democracia.
Quanto à primeira, significa um pensamento de convicção, seja, político, social ou religioso.Quanto à segunda, significa uma ideologia de participação e representação popular, oriunda davelha Grécia.Com o passar do tempo este conceito de Democracia foi se tornando muito elástico, porquanto,na antiga Grécia, esta representação e esta participação eram mais ou menos selecionadas(intelectuais, comerciantes e militares), assim com, na antiga Roma, eram diferenciadospatrícios e plebeus. (Senado e Assembléia Curiata)Já no século XVII, John Look e Adam Smith, na Inglaterra, preconizam os primeiros acordes dopensamento liberal, que acabou culminando na “Revolução Gloriosa” de 1689 parlamentarismo), porém, ficou um século restrito às ilhas Britânicas.Cem anos mais tarde, na França, surgem dois pensamentos, um no âmbito econômico, e, o outro no âmbito social e político, são:
A Fisiocracia, preconizada por Francois Quesnay, Turgot, Dupont, De Nemours e Gournary, estabelecia que toda a riqueza produtiva deriva da terra, sendo o comércio e a indústria, os complementos, mas para tal, se precisava de liberdade, o “laissez-faire”, liberdade de ação. O Iluminismo, preconizado por Jean Jaques Rosseau, Voltaire, Montesquieu, estabelecia o Estado em função do Indivíduo, e, não ao contrário, estando por ele emanado e representado, estes pensamentos são vitoriosos, na revolução francesa de 1789, concretizando o liberalismo. Esta revolução, todavia, não realizou os anseios do proletariado, uma vez que, a burguesia assumiu todo o controle (primeiro os jacobinos, e depois os girondinos), que deixando os “sans
coulotes”(proletários urbanos e rurais), à sua própria marginalização.
Fermentam, pois, no início do século XIX, os primeiros pensamentos do socialismo, primeiramente utópico com Pierre Proudon, Edgard Faure, Saint Simon, e,posteriormente com Karl Marx e Frederico Engels na metade do século XIX, culminando com a Revolução Russa em 1917, durante a I Guerra Mundial, liderara por Wladimir Lenine e Leon Trotsky. Ao chegar o término da I Guerra Mundial, se tem duas ideologias antagônicas:

a) Liberalismo - Livre Iniciativa (laissez faire), não-intervenção do Estado e livre concorrência, assim como o voto universal, de onde sai a representação pluri-partidária.

Direito de Propriedade.

b) Socialismo Marxista, imposto na União Soviética em 1917 – Economia e política estatal,definida e dirigida pelo Partido Único (Comunista), representação pelos Sovietes, do povo e das nacionalidades. Negação da Propriedade.
No início do século XX, em 1909, surge na Itália o movimento futurista, pregando o futuro modernista, liderado por Mariatti e Papini. Este movimento, mais tarde após a I Guerra Mundial, vai aderir ao vitorioso Fascismo, fundado por Benito Mussolini, ex-marxista, estabelecendo o Estado Social Corporativo (associação de classes), delas saindo as suas representações e os seus dirigentes (1922).
Nesta mesma década, o Nacional-Socialismo, na Alemanha, liderado por Adolf Hitler, com a ideologia análoga ao Fascismo, caminha e chega ao poder em 1933.
Ambos eram anti-marxistas e anti-liberais, mas o que é importante observar-se é que o conceito de Povo, Estado e Representação (democracia), está embutido no pensamento de cada uma destas ideologias:
Liberalismo, voto universal e pluri-partidarismo, direito de propriedade, mas pode o homem sem o dinheiro justo remunerado, se eleger por um partido ou adquirir uma propriedade?
Socialismo-Marxista, voto do Soviete (agremiações proletárias), voto, e propriedade coletiva, afim de ser distribuída ao bem comum, mas onde está o direito de pensamento e fixação do homem?
A tese Fascista, estabelece que o espírito individual está dentro de sua classe obreira, e, o conjunto das classes obreiras formam a sociedade pluralista, que dentro de um Estado harmônico social, equilibra a sua estrutura e atende aos anseios de todos, dentro da união nacional. É o Corporativismo, cujas origens remontam às Corporações de Ofício medievais.
Isto será adiante tratado no tema “Integralismo no Brasil”.

BRASIL – NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Começara uma república, que iria durar até 1930, sem base nacional, sem respaldo
popular, sem ideais sociais, tendo por princípio, os interesses regionalistas concentrados no eixo Minas Gerais - São Paulo.
O elitismo europeu, com toda sua plenitude era cultuado na vida brasileira, principalmente o francês.
Quando, então, a intelectualidade nova, começa pelos idos de 1907, a defender um novo
pensamento, acerca dos valores nacionais, na recém fundada revista “A Meridional”, por estes mesmos defensores do nacionalismo cultural.
Por esta época, sob a égide de Cruz e Souza, Eliseo de Carvalho, e, por apoio de Décio Villares e Rocha Pombo é que a expressão “integral” é usada no sentido de “resgatar a força ancestral do homem brasileiro, mediante a investigação estética dos motivos étnicos e a glorificação dos heróis espontâneos e naturais, com a expressão total da existência da raça.” (Antonio Arnoni Prado), baseado na lição filosófica dos naturistas Albert Feury e Le Blond. Iniciava-se, assim, o Movimento Naturista, conforme o panfletário neste sentido, seguido do livros “As Modernas Correntes Estéticas da Literatura Brasileira”, acabando por se concretizar no Movimento Modernista. Apesar de, nele constar muito dos adeptos ao anarquismo, como José Oiticica, Fábio Luz, José Veríssimo, Silva Marques e outros, há um grupo que diverge desta corrente, uma vez que cultua o valor da etnia brasileira, indo aos poucos tomando vulto como Graça Aranha, João Ribeiro, Ronald de Carvalho, João do Rio, já entre 1907 a 1912.
Assim se expressam em suas obras:
“Esplendor e Decadência de uma Sociedade” – Eliseo de Carvalho “Canaã” – Graça Aranha
“A Mulher e o Espelho” – João do Rio Em todas estas obras, os autores procuram enaltecer o espírito e o personagem nacional, enquanto criticam a imitação estrangeira, como Alberto Torres em “As Fontes de Vida no Brasil”, em 1915.
Enquanto isso, na Itália, desde 1909 crescia o Movimento Futurista, com pensamento análogo, ou seja emancipação das tradições passadas, com novos valores literários e novas formas artísticas, e, consequentemente um Estado forte que sustentasse esse Movimento (sic). Marinetti liderava o Futurismo.
Após 1914-1918, período da I Guerra Mundial, o panorama mundial deu uma guinada de 360º, estando extintos o Império Alemão, o Austro-Húngaro, e o Russo, em seus lugares surgia a República de Weimar, as pequenas Áustria, Checoslováquia, Hungria e a colossal União Soviética.
Em 1922, o fascismo triunfa na Itália sob a liderança de Benito Mussolini, recebendo a adesão do Movimento Futurista.
No Brasil, nesta época, a república de 1889, dava sinais de agonia, eventos como o Movimento dos “Tenentes”, com a revolta do Forte de Copacabana, as greves operárias, a fundação do Partido Comunista e a Coluna Prestes.
Destarte, foi natural que as correntes literárias e artísticas tomassem posições políticas, e, assim se forma em 1922, o grupo verde-amarelo, constituído dos modernistas Amoroso Lima, Alcantara Machado, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Tasso da Silveira e outros, entre os quais um advogado moço, redator de vários jornais, como: “O Jornal Albor”, “Correio de São Bento”, e, “O Correio Paulistano”, foi um ardoroso defensor do nacionalismo, baseado na raça tupi principalmente. O europeu e o africano foram o amálgama, em decorrência do primeiro.
Neste mesmo ano, há a inauguração da Semana de Arte Moderna, por Oswald de Andrade, e a publicação do livro “Juca Mulato” de Menotti del Picchia.
A grande importância deste ano de 1922, é a formação do grupo Anta, mamífero totem da raça tupi, com a maioria dos integrantes do grupo verde-amarelo, ao mesmo tempo em que surgem a “Ação Patrinovista do Brasil” de Olbiano de Melo e a “Ação Social Brasileira”, de J. Fabrino, mas, é sobre o grande dinamismo de Plínio Salgado, que vai despertando um novo pensamento, escrevendo várias obras:
‘Diretivas da Nova Geração’ (1927), ‘O Estrangeiro’, ‘Literatura e Política’, ‘República de 1889, Favorável e Desfavoráve’l, ‘A Cidade e a Província’, a ‘4ª Humanidade’, foram seus escritos nos anos que se seguiram entre 1927 e 1931.
Entre Abril a Outubro de 1930, faz uma viagem a Europa e ao Oriente Médio, onde tem uma entrevista com Kemal Atarturk da Turquia, bem como, Benito Mussolini, da Itália,onde estudou atentamente o Fascismo.
Em 07/10/1932 é oficialmente fundada a “Ação Integralista Brasileira”, presidida por Plínio Salgado, assessorados por Alfredo Buzaid, San Tiago Dantas, Rui Arruda, Almeida Sales, Angêlo Simões Arruda. Já havia sido fundado o jornal “A Razão” em 1931, e, logo a seguir noano de 1932, após a fundação da A.I.B., foi criado o SEP (Sociedade de Estudos Políticos), antecâmara do Integralismo.

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Avás-canoeiros

Cultura e tradição dos Avás-canoeiros

Mebemgokré pintando

Avá-Canoeiro (também conhecido como Canoeiro, Carijó, Índios Negros ou Cara-Preta) é um povo indígena brasileiro.
Estão localizados no Tocantins e em Goiás, sendo que no ano de 1988 sua população estimada era de 14 pessoas. Em 1998, tal grupo contava com 40 indivíduos. No Tocantins, estão localizados na Ilha do Bananal, sendo que todos os indivíduos já contactados estão localizados na Aldeia Canoanã. Os que ainda não foram contactados, suspeita-se que estejam perambulando pela região da Mata do Mamão, aonde já foram encontrados diversos vestígios, tais como alguns potes de cerâmica.Eles so sairam da "cidade natal" por causa da inundação da Serra da Mesa.

Falam uma língua da família Tupi-Guarani.

Os Avá-Canoeiros são um povo tupi que ocupava amplos domínios, ao longo do médio e baixo rios Tocantins e Maranhão, atualmente parte Estado de Goiás e parte Estado do Tocantins. Chegaram a somar 5 mil pessoas, porém, hoje somam apenas 22 indivíduos, distribuídos na reserva de Minaçu, em Goiás, e Ilha do Bananal, no Rio Araguaia, no Tocantins. São um povo em extinção e um retrato desses 500 anos de Brasil.

Uma da últimas famílias dos Avá-canoeiros

Frentes de contato da Fundação Nacional do Índio (Funai) tentam há 10 anos encontrar outros avás no nordeste goiano e sudoeste tocantinense, mas nenhum 'novo' índio foi localizado. Em outra frente, o Instituto de Pré-História e Antropologia da Universidade Católica de Goiás (UCG) e o chefe do posto da Funai de Minaçu, Valter Sanchez, vêm promovendo encontros entre os dois grupos, em uma tentativa de aproximá-los, estreitar as amizades e, quem sabe, poder ver, em alguns anos, casamentos entre os adolescentes, o que pode significar uma esperança de perpetuação desse povo.

Os dois grupos têm a mesma história triste e violenta. A situação atual é resultado de séculos de guerra dos canoeiros - nome dado graças à sua habilidade de usar canoas - contra as sucessivas levas de homens brancos que, munidos do diferencial de terem armas de fogo, invadiram suas terras para transformá-las em fazendas.

Essas invasão começou a ganhar força no século 18 e gerou tantos confrontos e genocídios que, já em 1860, os avás estavam tão reduzidos que não podiam mais lutar contra os invasores. Mesmo assim, a coragem e a determinação canoeiras iriam atravessar o tempo. Cem anos depois - na década de 60 do nosso século - as lutas continuavam. Foi, então, em Campinaçu, norte de Goiás, que aconteceu o último e definitivo episódio contra a nação canoeira. Fazendeiros armados até os dentes fizeram uma emboscada contra a última aldeia avá que ainda existia e promoveram um genocídio. Eram centenas de índios, mas só sobreviveram os poucos que conseguiram fugir, entre eles alguns dos dois grupos de hhoje. Desde, então, tornaram-se o que Dulce chama de "povo invisível", pois passaram a não deixar pistas e nem a ser vistos.

O grupo de Minaçu é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.

O grupo da ilha do Bananal, no Rio Araguaia, vive uma situação menos confortável e mais aculturada. Apareceram para a sociedade nacional em dois momentos. Em 1973, cinco deles foram contatados e, um ano depois, outros quatro apareceram. Eram seis adultos e três crianças. Após alguns meses, quatro dos adultos morreram de gripe. Os sobreviventes foram transferidos de lugar para lugar até serem colocados em definitivo na aldeia de Canoanã, no Bananal, onde vários povos indígenas convivem. Com o tempo, misturaram-se com alguns deles, particularmente os Javaés e os Tuyás, o que resultou em novos filhos - todos batizados com nomes de brancos, como Angélica, Cilene e Diego.

De início não foi fácil. Os Javaés não aceitavam os canoeiros, pois sempre foram inimigos históricos. Aos poucos, o quadro mudou. Os avá foram ocupando seus espaços, mas isso não impediu que, ainda hoje, sejam discriminados e tratados como subalternos e que vivam na miséria e no abandono. A sua dieta, por exemplo, entre ano sai ano, se resume ao máximo a arroz, farinha e peixe. Os mais antigos sonham em viver na Mata Azul, uma exuberante formação vegetal no sul do Estado do Tocantins, onde seus antepassados, que viveram dias de glória ali, estão sepultados. A área, contudo, já foi incorporada ao 'sistema produtivo nacional'.

Nesse contexto, parecem não haver motivos para que os avá do Bananal não queiram ir para a reserva em Minaçu, como propõe a UCG e o posto da Funai local, mas as coisas não são tão simples. Mesmo com origens comuns, os dois grupos tiveram destinos diferentes, o que resulta em nuances de valores, identidades e convivências. "É preciso promover encontros periódicos para que os vínculos sejam maiores", explica Dulce. Os resultados desses esforços só serão revelados pelo futuro. Os dois grupos podem tornar-se mais que amigos, porém nada garante que vão se unir e virar parentes. Em todo caso, se unirem, as chances de não se extinguirem como nação indígena continuarão pequenas; se não se unirem, a extinção torna-se uma questão de tempo. Pouco tempo.

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http://www.altiplano.com.br/AvaCanoeiro.html

http://www.arara.fr/BBTRIBOAVACANOEIROI.html

http://orbita.starmedia.com/~i.n.d.i.o.s/ava-canoeiro1.htm

Utensílios domésticos de 6 mil anos são achados

Utensílios domesticos da Vovó

Os arqueologos encontraram vasilhames de argila para cozinhar e comer, ferramentas de pedra, e moinhos para cereais e dois fornos a lenha.

Utensílios domésticos de cerâmica com cerca de seis mil anos, incluindo peças de louça de barro e dois fornos a lenha, foram descobertos nas ruínas de uma casa de fazenda, pertecente ao período neolítico, no norte da Grécia, informou o Ministério da Cultura à agência AP. Para o ministério, o achado fornece informações únicas e inestimáveis sobre a arquitetura e funcionamento dos objetos domésticos.

Utensílios domésticos de cerâmica do período neolítico foram descobertos nas ruínas de uma casa antiga, no norte do país.

A casa retangular, de aproximadamente 58 m², foi localizada este ano durante uma obra para colocação de tubulação de água no vilarejo de Sosandra, perto de Aridaia, a 580 km de Atenas. Junto à residência, os arqueólogos encontraram vasilhames de argila para cozinhar e comer, ferramentas de pedra, moinhos para cereais, além dos dois fornos.

Dividida em três quartos, a casa foi construída com paredes feitas de ramos cobertos por argila e era sustentada por grandes troncos de madeira. Segundo os pesquisadores, elementos identificados na madeira e na cerâmica indicam que a estrutura foi destruída por um incêndio. Os habitantes teriam conseguido escapar das chamas, tendo em vista que algumas ferramentas de pedra foram deixadas para trás.

De acordo com o Ministério da Cultura, é raro que objetos tão antigos como esses permaneçam intactos por tanto tempo. “Os utensílios estão em excelentes condições”, registrou o Ministério em comunicado.

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Sudão: estátuas com inscrições antigas são achadas

Estatuas com inscrições meroítica

As escrituras contém inscrições da antiga escrita meroítica

Três estátuas datadas do período Meroe (450 a.C. e 300 d.C.) foram descobertas nos sítios arqueológicos do Sudão, na África, informa a agência BBC. As esculturas, que contêm inscrições da antiga escrita meroítica, são as mais completas já encontradas, tendo em vista que, até o momento, os arqueólogos só haviam encontrado fragmentos de peças da época.

As estátuas com a figura de um carneiro simbolizam o deus Amon

Todas as esculturas possuem a figura de um carneiro que simbolizava o deus Amun, considerado rei dos deuses egípcios e força criadora da vida. Segundo os arqueólogos, as inscrições feitas nos objetos são muito antigas e difíceis de interpretar.

As inscrições feitas nos objetos são muito antigas e difícil de se interpretar.

“É uma importante descoberta”, afirmou o pesquisador Vincent Rondot à BBC. Ele informou que as esculturas foram encontradas há três semanas em el-Hassa, área de escavações que fica próxima às pirâmides de Meroe, a 200 km ao norte de Cartum, capital sudanesa.

Cartum foi, antigamente, a capital do reino de Cuche, uma das primeiras civilizações a surgir no vale do rio Nilo e se desenvolver na região onde hoje fica o norte do país.

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Holocausto Indígena!

Todos falam do holocausto judeu, mas esquecem do seu próprio povo!

Opressão aos índios no Peru.

O continente americano, quando foi descoberto pelos europeus a partir do século XV, era todo ele habitado por povos indígenas. A população americana em 1500 representa próximo de um quarto da população mundial somando entre 90 e 112,5 milhões de pessoas que, no século e meio seguinte, sofrerão uma redução na escala de 20:1 a 25:1.
Em 1492, numa estimativa conservadora, havia na Amazônia 5,1 milhões de habitantes número que se reduziu para 250.000 habitantes em fins do século XIX.
De acordo com a Funai, a população que vive em aldeias é de 512 mil pessoas, distribuídas em 225 etnias com 180 línguas diferentes. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 734 mil pessoas se auto-identificaram como indígenas em 2000.
A Funai aponta a tendência crescente do índio viver passar a viver em cidades para poder estudar e ter acesso a outros recursos e, com dificuldades para se assentar, tende a viver em favelas.

Extermínio

Indígenas foram massacrados cruelmente pelos europeus pelo fato de serem considerados selvagens ( que tal sub-humanos, te lembra algo)

Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no território Brasileiro, mais de mil povos, sendo cinco milhões de indígenas. Hoje em dia, são 227 povos, e sua população está em torno de 400 mil. As razões para isso são muitas, desde agressão direta de colonizadores a epidemias de doenças para as quais os índios não tinham imunidade ou cura conhecidas.
Durante o século XIX, com os avanços em epidemiologia, casos documentados começaram a aparecer, de brasileiros usando epidemias de varíola como arma biológica contra os índios. Um caso "clássico", segundo antropólogo Mércio Pereira Gomes, é o da vila de Caxias, no Sul do Maranhão, por volta de 1816. Fazendeiros, para conseguir mais terras, resolveram "presentear" os índios timbira com roupas de pessoas infectadas pela doença (que normalmente são queimadas para evitar contaminação). Os índios levaram as roupas para as aldeias e logo os fazendeiros tinham muito mais terra livre para a criação de gado. Casos similares ocorreram por toda América do Sul. As "doenças do homem branco" ainda afetam tribos indígenas no Amazonas.

Em todo lado na América ou em qualquer lugar invadido pelos brancos, houve massacres injustos e mortes desnecessárias, no caso do Brasil é gritante, quase um extermínio a destruição foi geral, não se limitou ao humano, mas também as florestas, fauna e flora, exploração mineral implacável, empobrecendo os solos e matando as nascentes, tudo pra roubar as riquezas naturais, plantar café e cana de açúcar. Exportar, vender e lucrar, pois povos indígenas não dão lucro, não são consumistas, mas as suas terras dão e diariamente se assiste ao abuso de poder econômico invadindo as terras dos índios e matando a esperança.

Quem vai responder pelos milhões de vidas indígenas barbaramente assassinadas?

Quem?

Apoena vira símbolo do holocausto indígena

Apoena Meirelles, acompanhado pelos índios.

“(...)Eu prefiro morrer lutando ao lado dos índios em defesa de suas terras e seus direitos do que viver para amanhã vê-los reduzidos a mendigos em suas terras”, Apoena Meirelles.

O sertanista Apoena Meireles, assassinado no dia 9 de outubro de 2004 em Porto Velho, transformou-se em símbolo do holocausto indígena na Amazônia. Todas as aldeias contatadas pela Funai (Fundação Nacional do Índio) estão chorando a morte de Apoena como se ele fosse nativo de cada uma.
Houve um luto geral que não se restringe aos Cinta Larga, que Apoena tentava proteger enquanto investigava as invasões e o contrabando de diamantes na Reserva Roosevelt, na região de Presidente Médici (cerca de 400 quilômetros a sudeste de Porto Velho.)
Os próprios Cinta Larga estavam de luto desde o sangrento confronto de 7 de abril de 2004, com intrusos da reserva, que teve 29 garimpeiros mortos e um total não precisado - e nem oficialmente considerado - de baixas entre os índios.
Nações indígenas virtualmente extintas, como a dos Karipuna, são as que mais estão lamentando o desaparecimento de Apoena neste ano especialmente sangrento.
Os últimos Karipunas, dizimados entre os séculos 19 e 20 pelos americanos que construíram a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e pelos seringalistas (produtores de borracha), são os protagonistas das principais homenagens fúnebres que ainda estão sendo feitas a Apoena.
Apoena foi sepultado com um cocar e adereços Karipuna - a TV Globo/ Rondônia equivocou-se ao atribuir a homenagem aos Cinta Larga.

Extermínio de índios

A morte de Apoena - quer tenha sido um latrocínio comum, como se informa oficialmente, ou uma conspiração como a própria mãe do sertanista desconfia - é mais um capítulo de uma história de horror que começa muito antes da guerra pelos diamantes da Reserva Roosevelt.
Tornou-se tão normal matar índios em Rondônia que nem o CIMI, Conselho Indigenista Missionário, organização ligada à Igreja Católica que monitora o povo Cinta Larga, se preocupa mais em divulgar o número total dos assassinatos feitos pelos garimpeiros.
O desaparecimento de povos inteiros, com sua cultura e tradições, é geralmente desapercebido.
O povo Karipuna, por exemplo, que habita a região do alto rio Jacy Paraná, a 200 quilômetros a sudoeste de Porto Velho, está reduzido hoje a nove pessoas e não tem mais condições de se reproduzir.

Desse total, existem apenas três homens e não há mais nenhuma mulher Karipuna com quem possam se unir para perpetuar a etnia.
As útimas mulheres Karipuna que existem são a matriarca da família, Katiká, de 60 anos, que enviuvou e casou um índio do povo Uru-Eu-Wau-Wau, e duas irmãs, suas três filhas Paturi, 30 anos, e Elisângela, 27, casadas com não índios, e Kaipu, 39, casada com um índio Arara.
Os demais membros do povo extinto são os irmãos Batiti, 28 anos, solteiro; Adriano, 18 anos, casado com uma não índia descendente de bolivianos, André, de 13, o primo José Carlos, de 15 e o pai dele, Aripan, 60 anos, irmão de Katiká.
Adriano disse que os filhos com mulheres de outras etnias ou não índias não são considerados "legítimos Karipunas". "Nós os amamos muito mas são mestiços."

Memória perdida

Ele disse estar preocupado com o esquecimento de sua cultura e tradições. "Já não fazemos mais artesanato, trabalhamos somente na agricultura" - explicou.
Adriano, que se tornou agente indígena de saúde num convênio com uma ONG e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e tem o curso de Primeiro Grau, diz que a destruição da cultura indígena dos povos da floresta é uma das faces do holocausto indígena.
Ele aponta como um das formas de agressão contra os povos da floresta fatos como o da Rede Globo de Televisão que, segundo informa, está usando índios do povo Manivá como se fossem Karipunas na mini-série Mad Maria que está sendo filmada na região do Abunã.
"A TV Globo nos enganou. Enviou um fax convidando o povo Karipuna a participar da mini-série, pediu amostras de nosso artesanato e agora está usando um povo que não tem nada a ver conosco" - disse Adriano Karipuna.
O rapaz está preocupado também com o tratamento que mini-série dará às mulheres índias na série. "Ouvi dizer que serão mostradas como prostitutas que atendiam os operários que trabalhavam na construção da ferrovia e isso não é a realidade histórica."
Segundo ele, as índias Karipunas eram "forçadas" ou "violentadas sexualmente" pelos trabalhadores.

Banalização da maldade

Na época da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré existiam 10 mil índios na nação Karipuna. Muitos morreram eletrocutados pelos trilhos da ferrovia aos quais eram ligados cabos de alta tensão para mantê-los afastados.
Adriano acrescentou: "Talvez os autores da mini-série apontem nosso povo como ladrões, mas minha mãe me disse que queríamos apenas conhecer o acampamento de perto e se pegávamos alguns utensílios dos americanos, como panelas, é porque não as conhecíamos."
Hoje a população indígena em todo o Estado de Rondônia é de aproximadamente 7 mil pessoas de etnias diferentes. Este crescimento se deve em parte à novas formas de organização dos povos indígenas com a criação de entidades como a Cumpir (Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia, Sul do Amazonas e Norte do Mato Grosso), o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), ligado à Igreja e diversas ONG´s que lutam na defesa de sua cultura, de suas origens e de suas terras. (Kanindé, Índia, etc)
Rondônia, onde possivelmente nasceu a língua Tupi, tem hoje 36 povos indígenas, nas mais variadas situações. Povos que moram em suas próprias aldeias, povos sem terra, povos vivendo em terras indígenas de outros povos.
A Funai tem feito o que pode para proteger os índios. Ao longo dos anos, os indigenistas do CIMI e outras organizações limitam-se a protestar, a denunciar o genocídio contra os povos da floresta. Mas até isso se tornou banal.
E o que é banal perde interesse para a opinião pública. Não atrai a atenção da imprensa. O que se torna comum, rotineiro, não vira manchete.

Cultura da morte

A culpa não é dos jornais ou da TV, mas das pessoas que os lêem ou assistem. Aliás, não é culpa de ninguém, é apenas a psicologia da comunicação.
As pessoas compram jornais ou ligam a TV para saber das novidades. A novidade de 7 de abril de 2004 foi a morte dos garimpeiros. A notícia não teria o mesmo impacto se fosse ao contrário: garimpeiros matam 29 índios.

Por isso o governador de Rondônia, Ivo Cassol, disse em nota oficial na época que o aconteceu na Reserva Roosevelt, naquele dia, foi "fato isolado". Claro. Para o governador, o normal é o índio morrer, não o garimpeiro.
Ele próprio é acusado de estar está matando lentamente os povos que habitam a região de Alta Floresta, desviando, com as usinas hidrelétricas da família Cassol, o rio Branco, e deixando aldeias inteiras isoladas e sem acesso pela única via de comunicação, que é o rio.
Matar índios faz parte da cultura, dos costumes dos que se tornaram donos do Novo Mundo.
Existiam mais índios no Brasil do que portugueses em Portugal quando as caravelas chegaram.
Os verdadeiros donos do Novo Mundo constituiam 900 povos diferentes, totalizando entre seis a dez milhões de seres humanos.
Povos possivelmente descendentes de asiáticos que passaram pelo Estreito de Bering, caminhando sobre o gelo entre a Sibéria e o Alasca e marcharam sobre a América do Norte, América Central até a América do Sul.
Cristóvão Colombo chamou-os de índios porque pensava estar na Índia Oriental ao descobrir a América.
Eles continuam a ser chamados de "índios" até hoje como se fossem um único povo. No entanto, têm culturas e idiomas diferentes, de nação para nação, com usos e costumes característicos.

Holocausto

Só no Brasil foram exterminados aproximadamente 700 povos - cerca de 6 milhões de pessoas - desde a chegada de Cabral.
E isso porque Vaz de Caminha, o escrivão do navegador, enfatizou na Carta do Achamento do Brasil que os índios são "gente boa e de boa simplicidade" e "são muito mais nossos amigos que nós seus."
Outros milhões morreram no restante da América do Sul, Central e do Norte. O holocausto das Américas é igual, em crueldade e horror, ao holocausto dos judeus na Alemanha nazista. A diferença é que o genocídio contra os índios está até hoje impune.
Os nazistas perseguiam os judeus alegando, entre outras coisas, que eles eram os assassinos de Cristo. Os colonizadores da América, que se proclamavam cristãos seguidores de Jesus, matavam os índios mesmo não tendo eles nada a ver com os filhos de Abraão, o patriarca dos judeus. Para eles, os índios sequer eram filhos de Adão e Eva. Por isso os índios podiam ser assaltados, violentados, escravizados e assassinados impunemente.
Restam hoje no Brasil 235 povos sobreviventes, com uma população estimada em 550 mil pessoas, falando 180 línguas e ocupando 756 terras indígenas cadastradas pelo governo do Brasil.

Trágico exemplo

O Estado de Rondônia, no noroeste do Brasil, é um trágico exemplo do holocausto indígena. No século 18, viviam cerca de 100 mil índios na região. Duzentos anos depois, na década de 1970, a população indígena era de aproximadamente 4.000 índios, tão ameaçados quanto no passado.
Nessa década intensificava-se a migração para Rondônia e consequente ocupação de suas terras. Muitos fazendeiros, madeireiros e garimpeiros foram acusados - alguns até presos - de invadir terras indígenas e matar seus habitantes para extrair pedras preciosas ou madeiras de lei.
Oficialmente, o Brasil tem, desde o século 20, uma política de proteção aos povos indígenas primeiro através do Serviço de Proteção aos Índios, criado por inspiração do sertanista Cândido Rondon, depois transformado na Fundação Nacional do Índio (Funai).
A organização, não obstante a heróica atuação de sertanistas abnegados como Francisco Meireles e seu filho Apoena, não consegue impedir que criminosos continuem atacando as aldeias. E não mudou o preconceito que ainda existe em largas parcelas da população contra os índios.
No tempo do Brasil Colônia, para justificar as invasões, as pilhagens e massacres contra povos inteiros, os índios não eram considerados seres humanos. Os índios são vistos até mesmo como uma sub-raça nivelada aos animais irracionais.
O preconceito é estimulado por fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e outros em busca da borracha, do ouro, da madeira, da cassiterita, dos diamantes, e de campos para a criação de gado em Rondônia.

Processos de dominação

Para melhor dominá-los (e justificar os ataques), eles usam as mentiras inventadas pelos europeus desde os tempos do descobimento do Brasil: as de que os índios são "vagabundos", "ladrões", "preguiçosos e bêbados".
No passado índios que sobreviviam aos assaltos ou às doenças transmitidas pelos "brancos" contras as quais não têm imunidade orgânica - como a gripe, por exemplo - eram escravizados. Os homens para trabalhos forçados. As mulheres eram submetidas a abusos sexuais.
O "aculturamento", especialmente através da "evangelização" ou transformação de índios em "cristãos", tem sido outra forma secular de dominação e o lado não sangrento do genocídio, pois vai desligando os povos de suas próprias tradições espirituais, culturais e destruindo sua identidade nacional.
A escravidão, nos tempos atuais, ocorre de outras formas, facilitada pelo "aculturamento". Através do álcool, da prostituição e do aliciamento de lideranças indígenas por quadrilhas de contrabandistas de minérios e de madeira.
Corrompidos pelo dinheiro, muitos caciques trocam sua cultura pela do consumismo do "branco" - ganham carros do ano mas não têm permissão para entrar na sociedade dos consumidores. A fronteira se limita às cercanias dos bares de quinta categoria e dos bordéis.
Alguns aculturados vencem heroicamente as dificuldades causados pelos preconceitos e se tornam até profissionais de nível superior, respeitados pela comunidade dos não índios.

Silêncio das elites

A gripe, o sarampo, a malária, a catapora e a tuberculose dos "brancos" contribuiram para o genocídio, dizimando milhares de índios. Em março passado, o jornal "O Estadão do Norte", de Porto Velho, noticiou que a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) estaria causando nova mortandade nas aldeias.
A contaminação de índios pelo vírus da Aids seria consequência de violências sexuais ou através da prostituição de índios com "brancos".
Ainda não está clara a posição oficial das autoridades de Rondônia ou do governo federal do Brasil havia sobre o assunto.
Em 500 anos de conquista as elites procuram silenciar o passado para assegurar seus interesses e privilégios no próximo milênio, em detrimento do bem estar dos povos indígenas e da maioria da população brasileira.
Os sobreviventes nunca foram e jamais serão indenizados. Até hoje são-lhes negados os direitos fundamentais à terra e a um futuro autônomo como povos étnica e culturalmente distintos.
Desesperançados, moralmente destruídos, os guaranis que habitam o sul do Brasil, adotaram o costume do suicídio quando se tornam adultos.
Adriano Karipuna, o último Karipuna, que estudar Direito. Mas teme afastar-se da aldeia e deixar que o resta de seu povo esqueça sua própria história. "Aí sim estaremos extintos" - disse.

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