sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Luís XIV e o Estado todo-poderoso

O Rei-Sol colocava o destino da França e a perenidade da função real acima de sua própria pessoa. Seu reino foi o apogeu da monarquia absoluta.


Reunido com os secretários e conselheiros, Luís XIV toma ele mesmo todas as decisões, de 26 de fevereiro a 23 de abril de 1672, óleo sobre tela, Escola Francesa, 1672.

A morte de Jules Mazarin em 9 de março de 1661 marca o nascimento do absolutismo de Luís XIV. O próprio rei anunciou a morte do cardeal na manhã seguinte. Ele reuniu todos os oito ministros, que esperavam ansiosamente o nome do sucessor de Mazarin. Para surpresa geral, o rei voltou-se para o chanceler Séguier e declarou solenemente: “Senhor, eu lhe pedi que se reunisse com meus ministros e secretários de Estado para dizer que até agora eu deixei o falecido senhor cardeal conduzir os assuntos de Estado; já é hora que eu próprio governe. Vocês me auxiliarão com seus conselhos, quando eu lhes pedir.” Note-se que ele nunca pronunciou a famosa frase “O Estado sou eu”; não passa de uma lenda. Em seguida, proibiu os ministros de expedir qualquer coisa sem sua ordem.

Para Luís XIV, a monarquia só podia ser absoluta. Sua mãe inculcou-lhe o gosto pela grandeza real e por uma etiqueta rígida e lhe transmitiu profundos sentimentos religiosos. Mazarin lhe dispensou uma educação política prática, fazendo-o assistir aos conselhos desde a idade de 12 anos. Com a morte de seu mentor, instaurou-se uma monarquia administrativa, dirigida pelo ministro Jean-Baptiste Colbert. O rei viu aí o meio de restaurar sua autoridade e, assumindo a direção, inserir-se no projeto do cardeal Mazarin.

Luís XIV dirigia a França com menos de 50 mil agentes reais. Entre eles, os ministros e seus gabinetes, os conselheiros de Estado, os mestres de solicitações, os intendentes e seus funcionários e os magistrados. Todos lhe deviam fidelidade, dedicação e eficiência. No alto da administração, um chanceler, responsável pela Justiça, um controlador-geral dirigindo as Finanças e quatro secretários de Estado encarregados da Guerra, da Marinha, dos Assuntos Estrangeiros e da Casa do rei.

A mudança teve um quê de continuidade. Mazarin deixou ao rei, com 23 anos, sua equipe de brilhantes colaboradores: Le Tellier (Guerra), Lionne (Assuntos Estrangeiros), Fouquet (Finanças), ao lado de quem o cardeal colocou um homem seu, Jean-Baptiste Colbert, que substituiu Fouquet a partir de setembro e depois se tornou o controlador-geral das Finanças reais em 1665. Era então ministro de Estado e acumulava cargos: fazia sozinho o trabalho de seis ministros! Esses homens talentosos, provenientes da burguesia do comércio ou da toga, formavam clãs familiares cujas rivalidades eram úteis ao rei.

Era tempo de colocar o reino em movimento, em todos os domínios. O controle dos corpos intermediários do Estado e a vigilância da administração provincial se impunham. O instrumento da reforma escolhido por Luís XIV e Colbert foi a Câmara de Justiça de novembro de 1661, cujos trabalhos duraram até 1669. Foram emitidas muitas condenações contra financistas acusados de desonestidade. Nas províncias, os intendentes inspecionavam e controlavam, repartiam a talha (impostos) e verificavam as dívidas das paróquias. Os governadores de província viam seu poder se reduzir. Os parlamentares deviam apenas registrar as decisões re-ais. O soberano trabalhava sem descanso, consagrando mais de oito horas por dia aos assuntos do reino. Sua dedicação e sua coragem surpreenderam seus contemporâneos. Quando Colbert lhe perguntou se ele devia fazer relatórios longos ou curtos, o rei respondeu: “Longos; o detalhe de tudo.”

Durante seu reinado, participou de todos os conselhos, decidindo soberanamente sobre a política que cada ministro deveria seguir. Esses costumes não eram novidade, sobretudo depois de Francisco I e de Henrique IV, mas Luís XIV organizou, hierarquizou e conduziu a especialização dos conselhos, fixou os dias de sessão e retomou de uma vez por todas o próprio mecanismo do regime. Contudo, seu governo permaneceu coletivo.

As relações com seus ministros eram muitas vezes tempestuosas. Luís XIV deixou em suas memórias apreciações muito pessoais sobre eles: “Não temos nada a ver com anjos, mas com homens a quem o poder excessivo dá quase sempre alguma tentação de usá-lo”. Desconfiava muito também dos prelados e pessoas da Igreja: “Tenho uma regra (...) a de jamais colocar um eclesiástico em meu Conselho, e menos ainda um cardeal”.

Soberano absoluto, Luís XIV não governou sozinho. Os órgãos governamentais estavam fechados a sua volta. No alto figurava o Conselho de Estado, o órgão do governo onde eram abordados “os assuntos de maior importância”. Tratava-se nele, em pequeno comitê, dos grandes assuntos internos ou externos do reino. Até 1661, encontravam-se ali príncipes, duques e marechais. Agora, o rei convocava alguns colaboradores escolhidos com todo cuidado, nunca mais de cinco membros, que, sozinhos, tinham o título de ministros de Estado: o chanceler, o superintendente das Finanças e os quatro secretários de Estado.

Catarina de Médici era realmente maquiavélica?


Ela não mediu esforços para se manter no poder: manipulou os filhos, conspirou e, pior de tudo, contribuiu para o massacre de protestantes, certo? Errado!

A regente, mãe de três reis da França, pregava uma política de tolerância e de pacificação religiosa. Florentina, filha de Lourenço II de Médicis, desposou muito jovem o filho de Francisco I, o futuro Henrique II. Na morte de seu marido, num torneio, em 1559, enquanto o luto real era marcado pelo branco, ela decidiu vestir somente preto, daí a alcunha “viúva negra”. A partir de então, ocupou um lugar preponderante nos destinos do reino.

O breve reinado de seu filho Francisco II testemunhou a eclosão dos problemas religiosos e o recurso à violência para solucioná-los. Perante um partido católico intransigente, que desejava erradicar o protestantismo, Catarina se posicionou, com o chanceler Michel de L’Hospital, ao lado do partido dos políticos que buscavam, antes de tudo, manter a coesão do Estado e a autoridade monárquica. A morte de Francisco II em 1560 e a menoridade de Carlos IX permitiram que se tornasse regente, tomando as rédeas do poder. Desde então, ela multiplicou os atos de conciliação. Os Estados Gerais foram convocados em Orléans e, em 1561, deu-se o colóquio de Passy, afim de tentar reconciliar os reformados e os católicos. Em 17 de janeiro de 1562, ela chegou a promulgar um edito autorizando a liberdade de culto aos protestantes, desde que suas cerimônias se realizassem fora das cidades.

Essa política de concórdia fracassou diante da intransigência dos dois partidos. A primeira guerra religiosa eclodiu com o massacre de Wassy, em 1562 – e foi seguida de sete outras até 1598. Catarina de Médicis tentou restabelecer a paz para salvaguardar a herança de seus filhos e a unidade do reino, objetivo alcançado em 1563, com o edito de Amboise, que autorizou o culto protestante e estipulou que ninguém deveria ser perturbado por suas opiniões religiosas. Esse edito de paz servirá de modelo a todos os que seriam assinados em seguida: os conflitos, contudo, não cessaram. As tréguas foram alternadas com períodos de tensão e guerras abertas. Foi durante uma delas, na noite de 23 a 24 de agosto de 1572, que aconteceu o Massacre de São Bartolomeu, que deveria visar somente os chefes protestantes. Viu-se no episódio a mão de Catarina, ainda que as responsabilidades não estejam claramente determinadas.

Assim nasceu, ainda durante a vida de Catarina, a lenda de uma mulher austera, maquiavélica, que não recuava perante nada para se manter no poder. Essa italiana, que conservara ainda um sotaque muito pronunciado, seria para sempre considerada uma estrangeira, favorável demais aos protestantes para os católicos e não tolerante o bastante para os reformados. 

Notre-Dame: 850 anos


Catedral testemunhou as mudanças na vida de Paris e o avanço das técnicas de arquitetura para chegar a 2013 em clima de celebração.

As comemorações do 850º aniversário da catedral de Notre-Dame de Paris ocorrerão até 24 de novembro. A atração principal foi o Dia Mundial do Órgão, em 6 de maio. Mais de 850 concertos ecoaram as obras do repertório de Notre-Dame nos locais de culto e nas salas de concerto do mundo todo. Em razão dos diferentes fusos horários, o evento se estendeu por 24 horas, passando, inclusive, por São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A catedral está em festa. Os novos sinos – oito na torre norte, fabricados em Valledieu-les-Poêles, no Manche, e um novo bordão, batizado Marie, na torre sul, fundido na Holanda – tocaram pela primeira vez em 23 de março para a solenidade do Domingo de Ramos. Notre-Dame reencontrou sua “paisagem sonora” – termo empregado pelos especialistas em sinos–, essa musicalidade que a caracterizava no final do século XVIII e que contribuiu para seu renome. Um espaço de cerca de 1.200m2, batizado Caminho do Jubileu, foi construído na esplanada. Essa estrutura gigante, dominada por uma torre provisória de 13 metros de altura, que inclui uma arquibancada, estende-se até os portais, onde o público pode assistir aos espetáculos e aos jogos de luz da fachada. Na esplanada, estandes acolhem exposições que ressaltam as diferentes corporações de ofício necessárias à construção e à manutenção de Notre-Dame, dos canteiros aos fabricantes de órgãos, mas também ações de solidariedade em favor dos mais necessitados. A esplanada, ampliada no século XVII, foi, depois das reformas empreendidas no Segundo Império pelo barão Haussmann, liberada de qualquer habitação. A cripta arqueológica, recentemente renovada, mostra, por meio de uma nova cenografia interativa, os vestígios descobertos quando das escavações realizadas nos anos 1960 e a construção, em 3D, da catedral.

TEMPLO DE JÚPITER Mas voltemos no tempo... Na época galo-romana, um templo pagão dedicado a Júpiter foi erguido no local. Em seguida, foi substituído por uma basílica paleocristã com cinco naves. Teria sido construída no século IV, depois modificada, ou dataria do século VI, tendo sido reparoveitadas as pedras de outras construções. Os especialistas nada sabem com exatidão. Seja como for, para construir essa catedral dedicada a Santo Estêvão, a maior da Gália Franca, com 70 metros de comprimento e 36 metros de largura – dimensões excepcionais para a época –, foi preciso nivelar o trecho sudeste da muralha, erguida no Baixo Império (século III). Sua fachada ocidental se encontrava então mais a oeste que a atual Notre-Dame.

O conjunto episcopal dos tempos merovíngios, do qual Saint-Étienne é a igreja principal, compreende também a basílica de Notre-Dame (sob a Notre-Dame de Paris), o batistério Saint-Jean-le-Rond, na rua Cloître-Notre-Dame – que hoje não existe mais – e a basílica Saint-Germain-le-Vieux, no canto sudeste do atual Comissariado de Polícia.

Em meados do século XII, a igreja de Saint-Étienne foi demolida. O bispo Maurice de Sully (por volta de 1120-1196) e o capítulo decidiram construir uma outra, mais comprida, mais alta, mais iluminada, possível graças às recentes técnicas de cruzamento de ogivas e de arcobotantes. Uma arte nova que os italianos do Renascimento chamaram “gótica” em referência aos godos, esses bárbaros!

Vários grandes edifícios religiosos já haviam sido construídos: a abadia Saint-Denis, por iniciativa do abade Suger (por volta de 1140), depois as catedrais de Noyon (a partir de 1145), de Senlis (1153), de Laon e de Sens (1160). Mas esse projeto implicava outras transformações, um verdadeiro canteiro urbano, que acarretaria a destruição de várias residências e a expropriação dos habitantes. O bispo, amigo de Luís VII, que apoiava seu projeto, desejava construir uma esplanada, passarela entre os mundos profano e sagrado, e traçar uma nova via através do labirinto de ruelas margeadas por casas com estruturas de madeira: a rua Neuve-Notre-Dame, com 6 metros de largura, por meio da qual os materiais de construção, depois os peregrinos e as procissões, teriam acesso ao edifício. Durante os 36 anos de seu episcopado, o bispo de Paris não recuaria diante de nenhum obstáculo para concluir sua obra-prima monumental.

Em 1163, a primeira pedra de Notre-Dame de Paris foi colocada na presença do papa Alexandre III. Quatro campanhas de edificação se sucederiam, conduzidas por quatro arquitetos diferentes cujos nomes não chegaram até nós. Os 20 primeiros anos foram dedicados à construção do coro e de seus dois deambulatórios. Em 11 de maio de 1182, o altar-mor foi enfim consagrado. Foram necessários oito anos, de 1182 a 1190, para serem erguidas as três estruturas da nave, as naves laterais e as tribunas. Em 1190, o bispo Maurice de Sully pôde celebrar em sua catedral os funerais de uma jovem rainha da França, Isabel de Hainaut, esposa de Filipe Augusto, morta aos 20 anos ao dar à luz. Foi enterrada no coro de Notre-Dame. Sua sepultura – uma das raras que escaparam do vandalismo revolucionário – foi redescoberta em 1858 pelos operários de Viollet-le-Duc.

EM 1225, FACHADA JÁ ERGUIDA De 1190 a 1225, as fundações da fachada e as duas primeiras estruturas da nave foram erguidas. Até a metade do século XIII, as obras compreendiam a galeria alta, as duas torres, as janelas altas, que foram modificadas e ampliadas, e as capelas laterais da nave entre os contrafortes dos arcobotantes. Estes últimos foram concebidos para permitir o escoamento das águas de chuva na parte superior da catedral. Em 1240, sob o reino de São Luís, a torre sul já estava concluída e, dez anos mais tarde, a torre norte. A catedral foi considerada pronta. As reformas posteriores seriam trabalhos de embelezamento, manutenção ou restauração. Do fim do século XIII ao início do XIV, os nomes dos arquitetos, dessa vez, chegaram até nós. Jean de Chelles executou o prolongamento do transepto: ao norte, com a criação do portal do claustro e da rosácea norte, e ao sul com o portal Saint-Étienne e a rosácea sul. Oferecida por São Luís, ela representa o Cristo triunfante no céu. Dez anos separam as duas rosáceas, que têm o mesmo diâmetro: 12,9 metros.

Seu sucessor, Pierre de Montreuil, reformou as capelas do coro e da abside, e iniciou a substituição dos grandes arcobotantes de 15 metros de vão. Por seu lado, Pierre de Chelles edificou o púlpito e as primeiras capelas da abside. Elas foram concluídas por Jean Ravy, que deu início à construção do claustro de pedra historiado, em torno do coro e do santuário. Seu sobrinho Jean le Bouteiller e depois Raymond du Temple deram continuidade aos trabalhos. Estamos na segunda metade do século XIV.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Grandes cientistas e a fé


James Clerk Maxwell (1831-1879), um físico que teve sua biografia publicada pela prestigiosa editora John Wiley com o título O homem que mudou tudo, escreveu [23]: "Penso que os cientistas assim como outras pessoas, precisam aprender de Cristo, e acho que os cristãos cujas mentes dedicam-se à ciência são chamados a estudá-la para que sua visão da glória de Deus possa ser tão extensa quanto possível." Muitos cientistas viveram vidas e carreiras compatíveis com esse pensamento de Maxwell. Como exemplo, cito oito cientistas homenageados pelo SI (o Sistema Internacional de Unidades), conhecidos também por sua profissão da fé cristã. Leia mais...

Muitos cientistas que professa(ra)m a fé cristã falaram ou escreveram sobre sua fé. Vários cientistas não cristãos também se manifestaram sobre fé e / ou sobre religião. A seguir são reproduzidas (apenas) algumas das citações de cientistas bastante conhecidos. Ao final da página encontram-se informações sobre as referências de onde as citações foram obtidas.

Isaac Newton (1643-1727), matemático e físico
"Devemos crer em um Deus e não ter outros deuses além dele. Ele é eterno, onipresente, onisciente, onipotente, criador de todas as coisas, sábio, justo, bom e santo. Devemos amá-lo, temê-lo, honrá-lo e confiar nele, orar a ele, dar-lhe graças, louvá-lo e santificar seu nome, cumprir seus mandamentos e dispor de tempo para honrá-lo em culto." [1]


Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), matemático, engenheiro, filósofo e diplomata
"A verdadeira felicidade consiste no amor a Deus, porém num amor sem preconceitos, cujo fogo arde na luz do conhecimento. Este tipo de amor gera a alegria com boas ações, que dá apoio à virtude e, tendo Deus como centro, eleva o humano ao divino." [1]

Leonhard Euler (1707-1783), matemático e físico
"A verdadeira felicidade pode ser encontrada somente em Deus, todos os outros prazeres nada mais são do que uma máscara vazia e são capazes de produzir apenas uma satisfação momentânea." [2]

Alessandro Volta (1745-1827), físico
"Submeti as verdades fundamentais da fé a um estudo minucioso. Li as obras dos apologetas e de seus adversários, avaliei as razões a favor e contra e assim obtive argumentos relevantes que tornam a religião (bíblica) tão digna de confiança ao espírito científico que uma alma com pensamentos nobres ainda não pervertida por pecado e paixão não pode senão abraçá-la e afeiçoar-se a ela. Peço a Deus que minha profissão de fé, que me foi solicitada e que eu forneço com alegria, escrita de próprio punho e por mim assinada, possa ser apresentada a todos, pois não me envergonho do Evangelho." [1]


Wilhelm von Humboldt (1767-1835), linguista, cofundador da primeira universidade de Berlim
"Os mistérios de Deus não são compreendidos; são adorados." [1]

Karl Friedrich Gauss (1777-1855), matemático e físico
"Existem questões a cuja resposta eu daria um valor infinitamente maior do que às matemáticas, por exemplo questões sobre ética, sobre nosso relacionamento com Deus, sobre nosso destino e nosso futuro. Para a alma existe uma satisfação de espécie superior, para a qual dispenso o que é material" [1]


Friedrich Rückert (1788-1866), filólogo, pioneiro da orientalística na Alemanha
"Fé é uma necessidade do coração. Ausência de fé não preenche lacunas. Onde se lançou fora a fé proliferará a superstição." [3] 

           
Augustin Louis Cauchy (1789-1857), matemático e físico
"Sou um cristão, isto significa: creio na divindade de Jesus Cristo juntamente com Tycho Brahe, Copérnico, Descartes, Newton, Fermat, Leibniz, Pascal, Grimaldi, Euler, Guldin, Boscowitsch, Gerdil, com todos os grandes astrônomos, todos os grandes pesquisadores das ciências naturais, todos os grandes matemáticos dos séculos passados. E se porventura me perguntarem pela razão, terei prazer em explicá-la. Verão que minha convicção é resultado de estudo cuidadoso e não de preconceitos." [1]


Michael Faraday (1791-1867), físico e químico
"Eu confio em certezas. Eu sei que meu Redentor vive, e porque Ele vive eu também viverei." [4]


Karl Ernst von Baer (1792 - 1876), biólogo, pai da embriologia
"O bondoso Criador colocou quatro desejos no homem, pelos quais podemos dizer que este é segundo a imagem de Deus: a fé, a consciência, o desejo de saber, o sentido pela estética." (citação resumida) [1]


           
Justus von Liebig (1803 - 1873), químico, patrono da Universidade de Giessen, Alemanha
"O conhecimento da natureza é o caminho para a admiração do Criador." [1]


Alexis de Tocqueville (1805 - 1859), cientista político e historiador
"O povo, se quiser ser livre, há de ter convicções religiosas. Em não tendo fé, servirá." [5]


James Prescott Joule (1818-1889), físico
"Após conhecer e obedecer à vontade de Deus, o próximo alvo deve ser conhecer algo dos Seus atributos de sabedoria, poder e bondade evidenciados nas obras de Suas mãos." [6]


Louis Pasteur (1822-1895), microbiólogo e químico
"Quanto mais eu estudo a natureza mais fico impressionado com a obra do Criador. Nas menores de suas criaturas Deus colocou propriedades extraordinárias..."
"Proclamo Jesus como filho de Deus em nome da ciência. Meu espírito científico, que dá grande valor à relação entre causa e efeito, compromete-me a reconhecer que, se ele não o fosse, eu não mais saberia quem ele é. Mas ele é o filho de Deus. Suas palavras são divinas, sua vida é divina, e foi dito com razão que existem equações morais assim como existem equações matemáticas." [1]


James Clerk Maxwell (1831-1879), físico e matemático
"Juntamente com a Assembléia de Westminster e todos que a precederam eu creio que 'o fim principal do homem é glorificar a Deus e apreciá-lo para sempre.'" [7]

John William Strutt, Lord Rayleigh (1842-1919), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1904
"Muitas pessoas excelentes temem a ciência como tendendo ao materialismo. Não é surpreendente que tal apreensão exista, pois, infelizmente, há escritores, falando em nome da ciência, que se fixaram a fomentá-la. É verdade que entre os homens de ciência, como em outros ramos, pontos de vista pouco refletidos podem ser encontrados a respeito das coisas mais profundas da natureza; mas que as crenças a que Newton, Faraday e Maxwell aderiram toda uma vida seriam incompatíveis com o hábito científico da mente é, sem dúvida, uma proposição que eu não preciso me delongar em refutar." [8]


           
Ruy Barbosa de Oliveira (1849-1923), filólogo e cientista político
"Nunca senti pelas vilanias humanas mais enjoos e pela sorte de nossa terra mais desânimo. Felizmente a fé em Deus se me vai acendendo, à medida que se me apaga a confiança nos homens. No meio de tantos desconfortos e iniquidade tenho-me entregado estes dias exclusivamente à leitura do Evangelho, a eterna consolação dos malferidos nos grandes naufrágios." [9]

"Nem o ateísmo reflexivo dos filósofos, nem o inconsciente ateísmo dos indiferentes são compatíveis com as qualidades de ação, resistência e disciplina essenciais aos povos livres. Os descrentes, em geral, são fracos e pessimistas, resignados ou rebeldes, agitados ou agitadores. Mas ainda não basta crer: é preciso crer definida e ativamente em Deus, isto é, confessá-lo com firmeza, e praticá-lo com perseverança." [9]


Max Planck (1858-1947), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1919
"... desde a infância a fé firme e inabalável no Todo Poderoso e Todo Bondoso tem profundas raízes em mim. Decerto Seus caminhos não são nossos caminhos; mas a confiança Nele nos ajuda a vencer as provações mais difíceis." [1]

"Religião e ciência natural combatem unidos numa batalha incessante contra o ceticismo e o dogmatismo, contra a descrença e a superstição. E a palavra de ordem nesta luta sempre foi e para todo sempre será: em direção a Deus!" [10]

"A prova mais imediata da compatibilidade entre religião e ciência natural, mesmo sob análise detalhada e crítica, é o fato histórico de que justamente os maiores cientistas de todos os tempos, homens como Kepler, Newton, Leibniz, estavam imbuídos de profunda religiosidade." [10]


Roberto Landell de Moura (1861- 1928), pioneiro do rádio
"Eu sempre vi nas minhas descobertas uma dádiva de Deus. E como, além disso, sempre trabalhei para o bem da humanidade, tentando provar, ao mesmo tempo, que a religião não é incompatível com a ciência, folgo em ver hoje realizado na prática utilitária, aquilo que foi meu sonho de muitos dias, muitos meses, muitos anos." [11]


George Washington Carver (1864-1943), botânico, agrônomo
"Quando eu trabalhava em projetos que atendiam a uma real necessidade humana, forças trabalhavam através de mim que me surpreendiam. Frequentemente eu adormecia com um problema aparentemente insolúvel. Ao acordar, a resposta estava lá. Por que, então, devemos nós crentes em Cristo nos surpreender com aquilo que Deus pode fazer com um homem de boa vontade em um laboratório?" [12]

Herbert George Wells (1866-1946), historiador e escritor
"Como historiador preciso admitir que este pobre pregador da Galileia inevitavelmente é o centro da história." [1]

André Siegfried (1875-1959), educador e cientista político
"Nossa visão espiritual e não apenas puramente racional do homem..., nós a devemos à tradição judaica, que teve no Evangelho um desdobramento tão grandioso. Os profetas de Israel, aqueles brilhantes e devotos líderes do seu povo, plantaram no nosso espírito a sede de justiça que caracteriza socialmente o Ocidente." [1]


Albert Einstein (1879-1955), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1921
"A todo cientista minucioso deve ser natural algum tipo de sentimento religioso, pois não consegue supor que as dependências extremamente sutis por ele vislumbradas tenham sido pensadas pela primeira vez por ele. No universo incompreensível revela-se uma razão ilimitada. A opinião corrente de que sou ateu baseia-se num grande engano. Quem julga deduzi-la de minhas teorias científicas, mal as compreendeu. Entendeu-me de forma equivocada e presta-me péssimo serviço..." [13]


Friedrich Dessauer (1881-1963), físico, pai da engenharia biomédica
"No fundo o ideal do homem cristão é a superação heroica de tudo o que rebaixa..., naturalmente não apenas por força própria, que é insuficiente, mas com ajuda da graça (de Deus)." [14]


Arthur Holly Compton (1892-1962), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1927
"Para mim, a fé começa com a constatação de que uma inteligência suprema chamou o universo à existência e criou o homem. Não me é difícil crer isso, pois é inegável que onde há um plano, há também inteligência - um universo ordenado e em desdobramento atesta a verdade da declaração mais poderosa que jamais foi proferida: 'No princípio Deus criou'." [15]


Arnold Joseph Toynbee (1889-1975), historiador
"E agora, quando olhamos para a outra margem, um único vulto ergue-se das águas e preenche todo o horizonte. É o Salvador - Deus encarnado no homem Jesus de Nazaré." [1]


Werner Heisenberg (1901-1976), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1932
"O primeiro gole do copo das ciências naturais torna ateu; mas no fundo do copo Deus aguarda." [16]


Walter Heinrich Heitler (1904-1981), físico, recebedor da Medalha Max Planck de 1968
"Natureza definitivamente não pode ser discutida de modo completo em termos científicos sem incluir também a indagação por Deus." [17]

Nevill Mott (1905-1996), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1977
"Os milagres da história humana são aqueles em que Deus falou aos homens. O supremo milagre para os cristãos é a ressurreição. Alguma coisa aconteceu àqueles poucos homens que conheciam Jesus que os levou a acreditar que Jesus estava vivo, com tal intensidade e convicção que esta fé permanece a base da igreja cristã dois mil anos depois." [18]


Carlos Chagas Filho (1910-2000), médico, membro da Acad. Bras. Ciências
"Estou procurando mostrar que não há incompatibilidade entre a verdade científica e a revelação: são duas coisas que tratam de espaços diferentes. Uma trata da realidade da vida, a outra trata do transcendental. E a Bíblia, que é um livro muito interessante de ser lido (principalmente Isaías), não procura ensinar à gente nada de ciência, e sim uma ordem moral. ... a Bíblia não quer ensinar como é que se fez o céu, mas quer ensinar como é que se vai ao céu. Trata-se de um preceito teológico muito importante, relativo à questão de graça: a pessoa acredita ou não. Agora, como eu respeito as pessoas que não creem, quero também que elas respeitem a sinceridade de minha fé." [19]


Wernher von Braun (1912-1977), pioneiro da exploração espacial
"Minhas experiências com ciência conduziram-me a Deus. Desafiam a ciência a provar a existência de Deus. Mas precisamos realmente acender uma vela para ver o sol?" [20]


Charles Townes (1915-), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1964
"Você pode perguntar: onde exatamente Deus entra em tudo isto? Talvez minha narrativa possa lhe dar algumas respostas, mas para mim a pergunta quase não faz sentido. Se você crê em Deus, não existe um 'onde' em particular. Ele sempre está presente... Para mim Deus é pessoal e também onipresente. Uma grande fonte de força, Ele fez uma enorme diferença para mim." [16]


Arthur L. Schawlow (1921-1999), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1981
"... eu encontro uma necessidade por Deus no universo e em minha própria vida ... Somos afortunados em termos a Bíblia, e especialmente o Novo Testamento, que nos fala de Deus em termos humanos muito acessíveis, embora também nos deixe algumas coisas difíceis de entender." [18]


Antony Hewish (1924-), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1974
"Eu creio em Deus. Não faz o menor sentido para mim supor que o universo e nossa existência são apenas um acidente cósmico, que a vida emergiu por processos aleatórios em um ambiente que apenas por acaso tinha as propriedades certas." [16]
"Como um cristão, começo a compreender o que é a vida através da fé num Criador... revelado por um homem nascido há cerca de 2000 anos." [16]


John Polkinghorne (1930- ), físico, teólogo, ex-presidente do Queen's College, Cambridge
"Eu creio apaixonadamente na teoria quântica, mas tal crença não ameaça mudar minha vida de forma significativa. Não posso crer em Deus, no entanto, sem saber que devo ser obediente a Sua vontade para mim, à medida que ela se torna conhecida a mim. Deus não está aí apenas para satisfazer minha curiosidade intelectual, ele está aí para ser honrado e respeitado e amado como meu Criador e Salvador. Cuidado! Deixe-me fazer um aviso teológico de saúde, ou melhor, uma promessa: 'Ler a Bíblia pode mudar sua vida.'" [21]


Arno Allan Penzias (1933-), ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1978
"Eu olho para Deus através das obras de suas mãos e estas obras implicam intenções. Destas intenções recebo uma impressão do Todo Poderoso." [16]



terça-feira, 22 de outubro de 2013

O Holocausto Comunista


O holocausto comunista Vencedora do prêmio Pulitzer, Anne Applebaum mergulhou nos arquivos secretos da URSS para mostrar os bastidores de um regime assassino.
 
A jornalista Anne Applebaum começou a desconfiar que alguma coisa estava errada quando percebeu um número crescente de jovens usando camisetas com símbolos soviéticos, em especial a foice e o martelo. Foi aí que ela se perguntou por que as pessoas toleram e até aceitam um regime cruel como o comunismo da União Soviética enquanto desprezam veementemente o nazismo.

Ex-correspondente da revista The Economist na Europa Oriental, Anne teve acesso aos arquivos oficiais, até então secretos, do comunismo soviético. Entrevistou sobreviventes e analisou documentos até desembocar no livro Gulag, a History (“Gulag, uma História”, inédito no Brasil ), que devassa a máquina de matar montada pelo stalinismo. O livro narra a história dos campos de trabalho soviéticos e descreve o dia-a-dia desses lugares – e todas as atrocidades cometidas em nome da foice e do martelo. Com Gulag, Anne ganhou o Pulitzer de 2004, mais importante prêmio do jornalismo. De Washington, onde é colunista e integrante do conselho editorial do jornal The Washington Post, a jornalista falou com a Super.

O que exatamente era o Gulag?

É uma abreviação em russo para “Administração Central dos Campos”. Um nome burocrático para o órgão que administrava todos os campos de trabalho.

Quem foi o responsável pela criação desses campos?

Os czares já tinham pequenas colônias de trabalho forçado. De certa forma, a União Soviética se construiu sobre essa tradição. Stálin sempre admirou a utilização de trabalho forçado por Pedro, o Grande, durante a construção de São Petersburgo. Mas o gulag era um fenômeno bem diferente, bem maior, com milhões de pessoas. O maior campo, Kolyma, era seis vezes mais extenso que a França. O gulag se tornou parte considerável da economia soviética e ícone central da ideologia do regime. Cidades inteiras foram construídas pelos prisioneiros, assim como quase todas as estradas da Sibéria, aeroportos e campos de petróleo.

É possível comparar o gulag a um campo de concentração nazista?

O gulag durou muito mais tempo, atravessando ciclos de enorme crueldade e relativa humanidade. Os campos nazistas duraram menos e tiveram menos variações: simplesmente se tornaram cada vez mais cruéis até que os aliados venceram a guerra. O gulag tinha vários tipos de campos, desde as letais minas de ouro de Kolyma, onde 3 milhões de pessoas morreram, até os “luxuosos” institutos secretos, nos arredores de Moscou, onde cientistas prisioneiros construíam armas para o Exército Vermelho.

A definição de “inimigo” era muito mais enganosa que a definição de “judeu” na Alemanha nazista. Salvo pequenas exceções, nenhum judeu poderia mudar seu status e escapar com vida do nazismo. Enquanto milhões de prisioneiros soviéticos temiam morrer – e milhões morreram –, não existia nenhuma categoria particular cuja morte era garantida. Alguns poderiam provar seu valor e trabalhar em empregos confortáveis, como engenheiros ou geólogos, em que tinham a integridade preservada.

Os campos de concentração eram verdadeiras fábricas de cadáveres. Pouquíssimas pessoas faziam trabalhos forçados – a maioria das vítimas era mandada diretamente para as câmaras de gás e depois cremada. Esse tipo de assassinato não teve um equivalente soviético. Mas, é claro, a União Soviética encontrou maneiras de matar milhões de cidadãos. Normalmente, eles eram levados até florestas, recebiam um tiro na cabeça e terminavam em túmulos coletivos. A polícia secreta usava “emanações exaustivas”, espécie primitiva de gás mortal, como os nazistas faziam antes de ter as câmaras de gás. Prisioneiros também morriam por negligência. Eram mandados para cortar árvores durante o inverno e morriam de frio. Trancados em celas punitivas, morriam de fome. Doentes eram largados em hospitais sem aquecimento e comida. Os campos soviéticos não foram criados para produzir cadáveres em massa – no entanto, acabaram produzindo.

Você disse que as definições de “inimigo” no regime soviético eram elásticas. Qual era, então, a razão que a polícia secreta encontrava para prender pessoas?

Era possível ser preso por qualquer razão. Durante ondas de terror maciças, o regime prendeu todo mundo que parecia suspeito. Se alguém contava uma piada política, ia para a cadeia. Se fosse descendente de estrangeiros, também. A maioria dos presos eram trabalhadores e camponeses de origem russa. Nem todos tinham praticado crimes políticos. Milhões eram chamados de presos criminais. Só que chegar atrasado ao trabalho, por exemplo, era considerado crime pelas autoridades.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Civilizações perdidas da Amazônia


Há 2.000 anos, essas cidades de até 50 hectares eram dotadas de muros, praças e centros cerimoniais, e estavam ligadas por uma densa rede de estradas.

Os primeiros relatos dos colonizadores europeus que navegaram pela região amazônica davam conta da existência de cidades douradas e de mulheres guerreiras. Falavam também de grandes tribos ao longo dos rios. Gaspar de Carvajal, padre que integrou a primeira expedição ao Amazonas, chefiada, em 1542, por Francisco Orellana, descreveu-as assim: “Não há distância de um tiro de balestra entre a última construção de uma aldeia e a primeira de outra. E nossos barcos navegam 5 léguas entre o início e o fim de cada aldeia”. O capitão Altamiro, da expedição de Aguirre, em 1559, arriscou um cálculo para estimar a população local. “Fomos recebidos por não menos que 300 canoas e em cada uma vinham dez índios.” Durante séculos esses relatos foram tomados como pura fantasia, até pela ciência.

De duas décadas para cá, porém, descobertas arqueológicas não deixam dúvidas de que a região abrigou cidades muito maiores do que as que foram descobertas pelos europeus, que mantinham entre si relações de poder e hierarquia, faziam alianças, comercializavam e, é claro, guerreavam. O indício mais recente dessas civilizações foi descoberto pelo arqueólogo Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. Em seu trabalho, publicado em outubro na revista americana Science, Heckenberger conta que localizou no Alto Xingu, nordeste do Mato Grosso, vestígios de grandes agrupamentos ligados por estradas e com construções sofisticadas, como pontes e barragens defensivas. “A complexa rede de comunicação entre as aldeias comprova a existência de uma grande civilização”, diz.

Carlos Fausto, antropólogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, co-autor do estudo, conta que foram mapeados 19 sítios arqueológicos da época pré-Cabral. “Algumas aldeias chegavam a ter 500 metros quadrados e abrigavam entre 7500 e 15000 habitantes”, afirma. Com o auxílio de satélites GPS (sigla em inglês para Sistema de Posicionamento de Global), o trabalho mapeou os caminhos que ligavam as aldeias. Eles tinham entre 10 e 50 metros de largura e até 5 quilômetros de extensão. “Pudemos localizar intervenções na paisagem original, como aterros, valas, barreiras de contenção”, afirma o pesquisador Heckenberger.

As cidades se pareciam com as aldeias atuais: as residências ficavam em torno de uma praça central, que servia como área para práticas religiosas. “No entorno dos povoamentos, encontramos fossos com até 3 metros de profundidade que, provavelmente, serviam para proteger os habitantes.” A conclusão derruba a teoria de que a Amazônia foi uma floresta virgem, intocada.

A pesquisa no Alto Xingu mostra apenas uma das várias sociedades complexas daquela região. “Elas existiam em outras partes da Amazônia, na Bolívia, no trecho do rio Amazonas quase inteiro, no médio e baixo Orinoco e em outras áreas”, afirma Michael Heckenberger. “Em 1492, a Amazônia era provavelmente uma área de enorme variabilidade cultural, com grupos regionalmente interligados.”

Berço do Brasil

Provas das complexas sociedades amazônicas não são propriamente novidade. A civilização marajoara, que prosperou entre os séculos 2 e 12, na ilha de Marajó, e a tapajônica, que ocupou a região de Santarém (ambas no Pará) até o século 16, são dois exemplos conhecidos. No geral, em todas houve grandes intervenções humanas na paisagem.

Gêngis Khan: A Fúria Mongol


Numa tribo nômade de uma das regiões mais remotas do mundo, nasceu aquele que lideraria um dos mais eficientes exércitos já reunido. Impiedoso e violento, ele conquistou o maior império que um só homem já dominou. Seu nome é Temudjin, ou Gêngis Khan.

O ano é 1215. Zhongdu, capital do Império Jin, cai na segunda tentativa de invasão pelos mongóis. Um ano antes, um pesado tributo foi pago e os bárbaros das estepes se foram. Desta vez, porém, nem os muros de pedra com 12 metros de altura, nem a chuva de setas despejada pelos mais de mil arqueiros postados no alto das torres foi capaz de deter o cerco. Quem não fugiu se arrependeu. A cidade foi saqueada e destruída. Seus habitantes foram mortos ou escravizados. Zhongdu, mais tarde rebatizada como Pequim, foi mais uma vítima da máquina de guerra comandada por Gêngis Khan.
Em seus 72 anos de vida, o líder mongol amealhou o maior império em extensão que um único homem já conquistou, da costa do Oceano Pacífico ao Mar Cáspio. Seus descendentes chegaram à Europa e ao Golfo Pérsico. “É a carreira militar mais fulminante da história. É como se um chefe de uma tribo indígena brasileira conquistasse hoje a América do Sul”, afirma Mario Bruno Sproviero, professor de Língua, Literatura e Cultura Chinesas da Universidade de São Paulo. A comparação faz todo sentido. Além de dispersos geograficamente, os mongóis não possuíam leis escritas, na verdade não tinham sequer escrita. Não conheciam a agricultura e seus modos eram pouco civilizados mesmo para os padrões da época.

Não tomavam banho, comiam carne crua e viviam infestados de piolhos e outros parasitas. Na guerra, eram impiedosos: pilhavam seus vizinhos, matavam os homens com crueldade ímpar, raptavam as mulheres e escravizavam seus filhos.

Mas nem só o terror construiu o império de Gêngis Khan. Ele foi um líder carismático, com profundo senso de justiça. Atos de bravura conquistavam seu coração e os guerreiros mais valentes, mesmo entre os inimigos, eram recompensados com posições de comando em suas tropas. Por outro lado, os traidores eram castigados com a morte. O líder era grato até o último fio de sua barba aos amigos e respeitava a religião alheia, incorporando cristãos, budistas e muçulmanos em seus quadros. Valorizava o conhecimento a seu modo: entre os prisioneiros, aqueles que tinham profissões ou alguma habilidade eram enviados para Caracorum, fortaleza militar que servia de capital para os mongóis. Como escravos, que fique claro, mas vivos.

Temudjin, seu nome verdadeiro, nasceu por volta de 1165, à beira do Rio Onon, no noroeste da Mongólia, uma vastidão de terras planas e clima árido, ocupada pelos turcos até o século 12. Ali viviam diversas tribos nômades, organizadas em clãs. Entre as mais importantes estavam os tártaros, os caraítas, os merquitas, os naimanos, os quirquizes, os oirates e, é claro, os mongóis. Aos 8 anos de idade, após a morte se seu pai, Yesugai, envenenado pelos tártaros, Temudjin e sua família foram abandonados com poucas posses e alguns cavalos. Eles viviam da caça de pequenos animais, dos peixes do Rio Onon, da coleta de frutos e do leite das éguas. Aos 15 anos, Temudjin já almejava assumir a liderança da família, então composta pela mãe, três irmãos, a segunda esposa de seu pai e dois meio-irmãos. Um deles, Bekter, também era candidato ao posto de chefe do grupo. Temudjin sabia que nas estepes, a única forma de se livrar da concorrência era eliminá-la. Durante uma pescaria, ele matou o meio-irmão com uma flechada.

O jovem Temudjin não parou mais de eliminar quem tivesse a coragem, ou o azar, de cruzar seu caminho. Os laços familiares entre tribos e clãs tornavam constantes as rivalidades: mulheres, butins ou cavalos, eles só precisavam de um motivo, às vezes nem isso, para acender velhas vinganças.

Aos 18 anos, Temudjin entrou numa dessas refregas com os merquitas (leia quadro na página 39). Ele tinha poucas posses e nenhuma força fora de seu clã, e para enfrentar seus inimigos pediu ajuda a Toghrul, líder dos poderosos caraítas, e ao amigo Jamuka, influente chefe militar de um clã aliado. Juntos, eles reuniram cerca de 40 mil homens e, sob a liderança de Temudjin, derrotaram os merquitas. Naquela imensidão inóspita, porém, as alianças eram como os períodos do dia, não como as estações do ano. E aquele que era seu irmão pela manhã podia tornar-se seu pior inimigo ao cair da noite. Temudjin e Jamuka eram amigos desde crianças e chegaram a dividir a mesma ger (uma espécie de cabana leve, típica dos povos nômades) para enfrentar os invernos mais rudes. Agora adultos, ambos almejavam a mesma coisa: tornar-se o líder das estepes. Com a vitória sobre os merquitas, Temudjin havia conquistado a admiração de seus comandados e, portanto, mais poder que o amigo.

E, entre os mongóis, sempre que havia uma crise: havia uma guerra. Jamuka reuniu 30 mil homens de 13 tribos diferentes e atacou Temudjin, em 1187. Quem morreu atingido por flechas envenenadas ou golpes de lança foi considerado um sujeito de sorte. Os naimanos a comando de Jamuka ferveram os líderes das tropas de Temudjin em caldeirões. Os mongóis, que eram xamanistas, acreditavam que ao cozinhar seus inimigos, seus espíritos nunca iriam assombrá-los. Jamuka amarrou as cabeças de dois soldados mortos em seu cavalo e desfilou pelo campo de batalha. Uma mensagem de horror ao líder rival, que conseguira escapar.

A derrota obrigou Temudjin a quase dez anos de exílio, tempo que passou na China. Para voltar, ele só tinha uma alternativa: promover outra guerra. Com a ajuda do velho aliado, Toghrul, ele liquidou os tártaros, dando início a uma época de terror que lhe daria fortuna e fama entre as outras tribos. Temudjin tornou-se cada vez mais temido e poderoso. Em mais uma uma reviravolta, ele virou-se contra Toghrul e assumiu o controle dos caraítas.

Faltava agora acertar as contas com Jamuka. Catorze anos depois, eles voltaram a se encontrar e, dessa vez, o exército de Temudjin derrotou a força mais poderosa com que havia cruzado até então. Quando Jamuka percebeu que a batalha estava perdida, escapou acompanhado apenas por alguns de seus homens. Durante a fuga, sua escolta mudou de lado: Jamuka foi atacado e preso. Como Temudjin estava ficando muito poderoso e Jamuka cada vez mais isolado, seus homens decidiram se juntar ao vencedor, imaginando que ao entregar seu líder, ganhariam a gratidão do inimigo. Mas, para Temudjin, a traição era um ato imperdoável, mesmo quando isso o beneficiava. Ele prendeu todos e ordenou que fossem decapitados. Jamuka foi poupado para que visse a morte de seus traidores. Depois disso, também foi executado.

O soberano infinito

Após a morte de Jamuka, Temudjin era o líder de fato dos mongóis. Faltava tornar-se líder de direito. Em 1206, o ano do Tigre, um Kuriltai (uma espécie de assembléia), foi convocado entre os mandatários das dezenas de tribos que viviam nas estepes. À beira do Rio Onon, eles se reuniram e declararam que Temudjin passaria a ser chamado Chingis Khan (Gêngis é a versão persa do nome, que ficou famosa por terem sido eles os primeiros a relatarem sua história), que significa “soberano do oceano”. Não se sabe exatamente qual o significado do título, considerando que os mongóis não tinham lá muita intimidade com a água salgada. A explicação mais provável é a de que sendo o oceano a maior coisa que eles conheciam, chamar seu líder assim era compará-lo a algo sem fim, eterno. O soberano infinito.

O líder militar deixou momentaneamente a espada de lado para compilar uma série de leis chamada Yasak que, entre outras coisas, instituíam o serviço militar obrigatório a partir dos 15 anos e a condenação à morte em casos de furto e adultério. Pela primeira vez na história dos mongóis, um líder estava acima de todos os chefes tribais e de suas tradições e leis orais.

No ano seguinte, Gêngis Khan retomou suas campanhas militares, desta vez, levando suas ambições a lugares mais distantes. Sua motivação era conquistar terras para pastagens, saquear e fazer escravos. Era a única forma que conheciam de adquirir riquezas. Não comercializavam, não tinham muito o que vender a não ser cavalos. Seus cavalos, aliás, eram o ponto forte de seu exército, que além da excelente técnica para combate sobre montaria não possuía nenhuma outra característica peculiar. Não era especialmente bem armado nem utilizava estratégias inovadoras. No entanto, seus homens eram muito organizados e disciplinados. Generais e soldados comiam a mesma comida, usavam as mesmas roupas e armas. Isso fazia com que as lideranças fossem respeitadas. O avanço rápido e arrasador se deve, acima de tudo, ao terror que Gêngis Khan impunha em seus adversários. A matança provocada por suas tropas não se limitava ao campo de batalha. Os mongóis não negociavam rendição ou tratados de paz.

Quando entravam em combate, não poupavam nobres ou governantes e assassinavam populações inteiras, como aconteceu com os tártaros. Depois, destruíam tudo que não podiam carregar. A fama de implacável fez com que muitas cidades que estavam em seu caminho preferissem se render, pagar tributos e entregar mulheres e escravos, a correr o risco acabar sendo massacradas.

Em 1207, quando Gêngis Khan iniciou a longa campanha na China, seu nome já era conhecido. Foram sete anos até que chegasse às muralhas de Zhongdu. Com quase 1 milhão de habitantes, a capital dos Jin – que dominavam o norte da China, dividida após a queda da dinastia Tang – era cercada por imensos muros e centenas de postos protegidos por arqueiros. Ligações subterrâneas de abastecimento permitiram que a cidade resistisse até o ano seguinte. Em 1215, no entanto, Khan conseguiu romper o cerco e invadiu a cidade. Lá, sua tropa destruiu aquilo cuja utilidade não conhecia, ou seja, quase tudo. As mulheres foram levadas.

Os homens com habilidades especiais, como os artesãos, foram escravizados, e os demais sumariamente assassinados. Um massacre.

As incursões na China não aplacaram o apetite Gêngis Khan por novas conquistas. Pelo contrário. Em 1217, após sufocar uma rebelião dos caraquitais, ele entrou em choque com império muçulmano de Khwarazm – uma das possessões turcas na região que havia composto a Pérsia e que se estendia do Mar de Aral ao norte do Golfo Pérsico, na Ásia Central. Na época, esse era o maior poderio militar do continente asiático. No início, as relações entre Gêngis Khan e sultão Maomé II foram boas. Mas não seriam assim por muito tempo. Maomé acusou os mongóis de saquearem caravanas turcas que voltavam da China e, em represália, matou os embaixadores mongóis. Foi a gota d’água. Liderado pelo próprio Khan, um enorme exército de 200 mil homens invadiu o território Khawarazm. As cidades que resistiam acabaram como Bocara (no atual Uzbequistão), dizimada por uma série de incêndios. Os mongóis tomaram grande parte da região que corresponde hoje ao Irã e Turcomenistão.

Em Samarcanda, um dos mais prósperos centros urbanos da época, e onde morava o sultão, as baixas foram menores. A população teve de pagar um pesado tributo, mas 30 mil membros do exército derrotado foram mortos. Gêngis Khan destacou dois de seus melhores generais para capturarem o sultão, mas ele nunca seria pego, pois morreu doente em um esconderijo. Na perseguição, porém, os mongóis invadiram várias cidades do Reino da Rússia.

Laços de sangue

Gêngis Khan morreu no nordeste da China, em 1227, de causas desconhecidas. As especulações vão desde malária a ferimentos provocados por uma queda do cavalo. Sabe-se apenas que seu último desejo foi atendido. Seus restos mortais foram levados para a região onde nasceu e ali foram sepultados.

Mas nem a morte colocou fim às conquistas militares que Gêngis Khan iniciou. Tolui, o filho mais novo, obedeceu a tradição de seu povo e assumiu a regência. Dois anos depois, um Kuriltai foi convocado para que o escolhido por Gêngis, Ogodai (seu terceiro filho), ascendesse ao trono dos então poderosos mongóis.

A conquista da Rússia se concretizaria apenas na campanha iniciada em 1236. O novo Khan enviou o sobrinho Batu, neto de Gêngis Khan, para a Rússia, que na época era dividida em pequenos principados. Batu conquistou Moscou e Kiev, em 1240, e partiu para a Hungria e a Polônia. No ano seguinte, sem reforços e esgotado, o exército mongol voltou com a notícia da morte de Ogodai. Batu se estabeleceu no sul da Rússia e fundou a Horda de Ouro. O reinado ganhou este nome porque a sede do governo às margens do Rio Volga era uma enorme tenda recoberta com fios de ouro. Horda em mongol é tenda. Para os ocidentais, a palavra ganharia um novo significado, mais apropriada para designar o comportamento dos descendentes de Gêngis Khan: bando de malfeitores.

Na China, os combates prosseguiram ininterruptamente desde a tomada de Zhongdu. A região só seria definitivamente controlada, juntamente com a Península Coreana, em 1234, sob a liderança de Ogodai. O enorme império, no entanto, não sobreviveria ao seu tamanho e às divisões entre os descendentes de seu fundador. Tolui obteve a China. Batu, filho de Jochi, o primogênito de Gêngis, que morreu um ano antes do pai, ficou com a Rússia. Chagatai, o segundo da escadinha, ficou com cidades importantes como Samarcanda e Bocara. Mas não se pode datar exatamente o fim do império fundado por Khan, pois, se a oeste, suas terras seriam parcialmente conquistadas pelo líder turco Tamerlão, no século 14, a leste, o neto de Khan, Kublai, fundou a dinastia Yuan, que governou a China até a metade do século 14 e cuja influência sobreviveu aos anos.

Se a morte de Gêngis Khan não chegou a ser um alívio para seus opositores, também não o foi para os aliados. A última de suas histórias sobre a terra tornou-se uma lenda. Conta-se que para esconder o local do sepultamento (segundo a tradição mongol, quando um túmulo é violado, o espírito do morto deixa de proteger sua família), todos os coveiros e até aqueles que cruzaram o cortejo foram assassinados. Os soldados que executaram a tarefa permaneceram ao lado da tumba até que a vegetação cresceram à sua volta, ocultando a sua localização. Na volta para casa, os próprios guardas também foram mortos. O episódio é narrado no livro The Secret History of the Mongols (A História Secreta dos Mongóis, sem tradução em português), uma compilação de histórias sobre a vida de Gêngis Khan, escrito por autor desconhecido logo após a morte do líder.

Tamanho segredo se manteve preservado por oito séculos. Em 2001, um grupo de arqueólogos americanos anunciou a descoberta de um complexo de 20 túmulos de pedra a 321 quilômetros de Ulan Bator, capital da República Popular da Mongólia. Como eles estão próximos da região onde Gêngis Khan teria nascido e onde seu pai foi enterrado, há grandes chances de que ele realmente tenha sido enterrado no local. Mas a exploração do sítio arqueológico e a confirmação de que se trata do túmulo do órfão pobre que tornou-se o imperador de meio mundo, ainda depende da autorização do governo da Mongólia.

Mulheres e cavalos

Em toda a história de Gêngis Khan as mulheres raramente são citadas. Nas estepes, até um cavalo valia mais que uma companheira. Ele era mais do que o melhor amigo do homem, era um indispensável instrumento em batalhas, tanto para o combate, como para a fuga. O quadrúpede também era necessário no pastoreio, segunda atividade econômica dos mongóis, precedido, é claro, pela pilhagem. Homens e cavalos nunca se separavam. Já as mulheres eram deixadas para trás nos acampamentos, enquanto os homens passavam longos períodos de batalha ou caça. Por isso, perder a mulher para uma outra tribo era comum. Arrumar uma também não era lá muito difícil, naqueles dias. Os casamentos eram acertados entre os pais quando os noivos ainda eram crianças, no entanto, a forma mais simples de conquistar a companhia feminina era usar a força. Fosse nas guerras, quando os homens podiam incorporar novas esposas, ou simplesmente seqüestrando as jovens de outras tribos, uma prática corriqueira entre as tribos nômades.