sábado, 23 de novembro de 2013

"É possível acreditar em Deus usando a razão", afirma William Lane Craig.


William Lane Craig: "Sem Deus, não é possível explicar a existência de valores e deveres morais objetivos"

O filósofo e teólogo defende o cristianismo, a ressurreição de Jesus e a veracidade da Bíblia a partir de construção lógica e racional, e se destaca em debates com pensadores ateus

"Se você acha que a religião é um conto de fadas, não acredite. Mas se o cristianismo é a verdade — como penso que é — temos que acreditar nele independente das consequências. É o que as pessoas racionais fazem, elas acreditam na verdade. A via contrária é o pragmatismo. 'Isso Funciona? Não importa se é verdade, quero saber se funciona'"

Quando o escritor britânico Christopher Hitchens, um dos maiores defensores do ateísmo, travou um longo debate nos Estados Unidos, em abril de 2009, com o filósofo e teólogo William Lane Craig sobre a existência de Deus, seus colegas ateus ficaram tensos. Momentos antes de subir ao palco, Hitchens — que morreu em dezembro de 2011. aos 62 anos — falou a jornalistas sobre a expectativa de enfrentar Craig.

"Posso dizer que meus colegas ateus o levam bem a sério", disse. "Ele é considerado um adversário muito duro, rigoroso, culto e formidável", continuou. "Normalmente as pessoas não me dizem 'boa sorte' ou 'não nos decepcione' antes de um debate — mas hoje, é o tipo de coisa que estão me dizendo". Difícil saber se houve um vencedor do debate. O certo é que Craig se destaca pela elegância com que apresenta seus argumentos, mesmo quando submetido ao fogo cerrado.

O teólogo evangélico é considerado um dos maiores defensores da doutrina cristã na atualidade. Craig, que vive em Atlanta (EUA) com a esposa, sustenta que a existência de Deus e a ressurreição de Jesus, por exemplo, não são apenas questões de fé, mas passíveis de prova lógica e racional. Em seu currículo de debates estão o famoso químico e autor britânico Peter Atkins e o neurocientista americano Sam Harris (veja lista com vídeos legendados de Craig). Basta uma rápida procura no Youtube para encontrar uma vastidão de debates travados entre Craig e diversos estudiosos. Richard Dawkins, um dos maiores críticos do teísmo, ainda se recusa a discutir com Craig sobre a existência de Deus.

Em artigo publicado no jornal inglês The Guardian, Dawkins afirma que Craig faz apologia ao genocídio, por defender passagens da Bíblia que justificam a morte de homens, mulheres e crianças por meio de ordens divinas. "Vocês apertariam a mão de um homem que escreve esse tipo de coisa? Vocês compartilhariam o mesmo palco que ele? Eu não, eu me recuso", escreveu. Na entrevista abaixo, Craig fala sobre o assunto.

Autor de diversos livros —  entre eles Em Guarda – Defenda a fé cristã com razão e precisão (Ed. Vida Nova), lançado no fim de 2011 no Brasil, — Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, Alemanha. O filósofo esteve no Brasil para o 8º Congresso de Teologia da Editora Vida Nova, em Águas de Lindóia, entre 13 e 16 de março. Durante o simpósio, Craig deu palestras e dedicou a última apresentação a atacar, ponto a ponto, os argumentos de Richard Dawkins sobre a inexistência de Deus.

Perfil

Nome: William Lane Craig

Profissão: Filósofo, teólogo e professor universitário na Universidade de Biola, Califórnia.
Nascimento: 23 de agosto de 1949

Livros destacados: Apologética Contemporânea – A veracidade da Fé Cristã; Em Guarda, Defenda a fé cristã com razão e precisão; ambos publicados no Brasil pela editora Vida Nova.

Principal contribuição para a filosofia: Craig foi responsável por reformular o Argumento Cosmológico Kalam (variação do argumento cosmológico que defende a existência de uma primeira causa para o universo) nos seguintes termos: 1) Tudo que começa a existir tem uma causa de existência. 2) O universo começou a existir. 3) Portanto, o universo tem uma causa para sua existência.

Informações pessoais: William Lane Craig é conhecido pelo trabalho na filosofia do tempo e na filosofia da religião, especificamente sobre a existência de Deus e na defesa do teísmo cristão. Escreveu e editou mais de 30 livros, é doutor em filosofia e teologia em universidades inglesa e alemã e desde 1996 é pesquisador e professor de filosofia na Universidade de Biola, na Califórnia. Atualmente vive em Atlanta, nos EUA, com a esposa. Craig pratica exercícios regularmente como forma de combater a APM (Atrofia Peronial Muscular) uma doença degenerativa do sistema nervoso que lhe causou atrofiamento dos nervos das mãos e pernas. Especialista em debates desde o ensino médio, o filósofo passa a maior parte do tempo estudando.

Por que deveríamos acreditar em Deus?

Porque os argumentos e evidências que apontam para a Sua existência são mais plausíveis do que aqueles que apontam para a negação. Vários argumentos dão força à ideia de que Deus existe. Ele é a melhor explicação para a existência de tudo a partir de um momento no passado finito, e também a para o ajuste preciso do universo, levando ao surgimento de vida inteligente. Deus também é a melhor explicação para a existência de deveres e valores morais objetivos no mundo. Com isso, quero dizer valores e deveres que existem independentemente da opinião humana.

Se Deus é bondade e justiça, por que ele não criou um universo perfeito onde todas as pessoas vivem felizes?

Acho que esse é o desejo de Deus. É o que a Bíblia ensina. O fato de que o desejo de Deus não é realizado implica que os seres humanos possuem livre-arbítrio. Não concordo com os teólogos que dizem que Deus determina quem é salvo ou não. Parece-me que os próprios humanos determinam isso. A única razão pela qual algumas pessoas não são salvas é porque elas próprias rejeitam livremente a vontade de Deus de salvá-las.

Alguns cientistas argumentam que o livre-arbítrio não existe. Se esse for o caso, as pessoas poderiam ser julgadas por Deus?

Não, elas não poderiam. Acredito que esses autores estão errados. É difícil entender como a concepção do determinismo pode ser racional. Se acreditarmos que tudo é determinado, então até a crença no determinismo foi determinada. Nesse contexto, não se chega a essa conclusão por reflexão racional. Ela seria tão natural e inevitável como um dente que nasce ou uma árvore que dá galhos. Penso que o determinismo, racionalmente, não passa de absurdo. Não é possível acreditar racionalmente nele. Portanto, a atitude racional é negá-lo e acreditar que existe o livre-arbítrio.

O senhor defende em seu site uma passagem do Velho Testamento em que Deus ordena a destruição da cidade de Canaã, inclusive autorizando o genocídio, argumentando que os inocentes mortos nesse massacre seriam salvos pela graça divina. Esse não é um argumento perigosamente próximo daqueles usados por terroristas motivados pela religião?

A teoria ética desses terroristas não está errada. Isso, contudo, não quer dizer que eles estão certos. O problema é a crença deles no deus errado. O verdadeiro Deus não ordena atos terroristas e, portanto, eles estariam cometendo uma atrocidade moral. Quero dizer que se Deus decide tirar a vida de uma pessoa inocente, especialmente uma criança, a Sua graça se estende a ela.

Se o terrorista é cristão o ato terrorista motivado pela religião é justificável, por ele acreditar no Deus ‘certo’?

Não é suficiente acreditar no deus certo. É preciso garantir que os comandos divinos estão sendo corretamente interpretados. Não acho que Deus dê esse tipo de comando hoje em dia. Os casos do Velho Testamento, como a conquista de Canaã, não representam a vontade normal de Deus.

O sr. está querendo dizer que Deus também está sujeito a variações de humor? Não é plausível esperar que pelo menos Ele seja consistente?

Penso que Deus pode fazer exceções aos comandos morais que dá. O principal exemplo no Velho Testamento é a ordem que ele dá a Abraão para sacrificar seu filho Isaque. Se Abraão tivesse feito isso por iniciativa própria, isso seria uma abominação. O deus do Velho Testamento condena o sacrifício infantil. Essa foi uma das razões que o levou a ordenar a destruição das nações pagãs ao redor de Israel. Elas estavam sacrificando crianças aos seus deuses. E, no entanto, Deus dá essa ordem extraordinária a Abraão: sacrificar o próprio filho Isaque. Isso serviu para verificar a obediência e fé dele. Mas isso é a exceção que prova a regra. Não é a forma normal com que Deus conduz os assuntos humanos. Mas porque Deus é Deus, Ele tem a possibilidade de abrir exceções em alguns casos extremos, como esse.

O sr. disse que não é suficiente ter o deus certo, é preciso fazer a interpretação correta dos comandos divinos. Como garantir que a sua interpretação é objetivamente correta?

As coisas que digo são baseadas no que Deus nos deu a conhecer sobre si mesmo e em preceitos registrados na Bíblia, que é a palavra d’Ele. Refiro-me a determinações sobre a vida humana, como “não matarás”. Deus condena o sacrifício de crianças, Seu desejo é que amemos uns ao outros. Essa é a Sua moral geral. Seria apenas em casos excepcionalmente extremos, como o de Abraão e Isaque, que Deus mudaria isso. Se eu achar que Deus me comandou a fazer algo que é contra o Seu desejo moral geral, revelado na escritura, o mais provável é que eu tenha entendido errado. Temos a revelação do desejo moral de Deus e é assim que devemos nos comportar.

O sr. deposita grande parte da sua argumentação no conteúdo da Bíblia. Contudo, ela foi escrita por homens em um período restrito, em uma área restrita do mundo, em uma língua restrita, para um grupo específico de pessoas. Que evidência se tem de que a Bíblia é a palavra de um ser sobrenatural?

A razão pela qual acreditamos na Bíblia e sua validade é porque acreditamos em Cristo. Ele considerava as escrituras hebraicas como a palavra de Deus. Seus ensinamentos são extensões do que é ensinado no Velho Testamento. Os ensinamentos de Jesus são direcionados à era da Igreja, que o sucederia. A questão, então, se torna a seguinte: temos boas razões para acreditar em Jesus? Ele é quem ele diz ser, a revelação de Deus? Acredito que sim. A ressurreição dos mortos, por exemplo, mostra que ele era quem afirmava.

Existem provas que confirmem a ressurreição de Jesus?

Temos boas bases históricas. A palavra ‘prova’ pode ser enganosa porque muitos a associam com matemática. Certamente, não temos prova matemática de qualquer coisa que tenha acontecido na história do homem. Não temos provas, nesse sentido, de que Júlio César foi assassinado no senado romano, por exemplo, mas temos boas bases históricas para isso. Meu argumento é que se você considera os documentos do Novo Testamento como fontes da história antiga, — como os historiadores gregos Tácito, Heródoto ou Tucídides — o evangelho aparece como uma fonte histórica muito confiável para a vida de Jesus de Nazaré. A maioria dos historiadores do Novo Testamento concorda com os fatos fundamentais que balizam a inferência sobre a ressurreição de Cristo. Coisas como a sua execução sob autoridade romana, a descoberta das tumbas vazias por um grupo de mulheres no domingo depois da crucificação e o relato de vários indivíduos e grupos sobre os aparecimentos de Jesus vivo após sua execução. Com isso, nos resta a seguinte pergunta: qual é a melhor explicação para essa sequência de acontecimentos? Penso que a melhor explicação é aquela que os discípulos originais deram — Deus fez Jesus renascer dos mortos. Não podemos falar de uma prova, mas podemos levantar boas bases históricas para dizer que a ressurreição é a melhor explicação para os fatos. E como temos boas razões para acreditar que Cristo era quem dizia ser, portanto temos boas razões para acreditar que seus ensinamentos eram verdade. Sendo assim, podemos ver que a Bíblia não foi criação contingente de um tempo, de um lugar e de certas pessoas, mas é a palavra de Deus para a humanidade.

O textos da Bíblia passaram por diversas revisões ao longo do tempo. Como podemos ter certeza de que as informações às quais temos acesso hoje são as mesmas escritas há 2.000 anos? Além disso, como lidar com o fato de que informações podem ser perdidas durante a tradução?

Você tem razão quanto a variedade de revisões e traduções. Por isso, é imperativo voltar às línguas originais nas quais esses textos foram escritos. Hoje, os críticos textuais comparam diferentes manuscritos antigos de modo a reconstruir o que os originais diziam. O Novo Testamento é o livro mais atestado da história antiga, seja em termos de manuscritos encontrados ou em termos de quão próximos eles estão da data original de escrita. Os textos já foram reconstruídos com 99% de precisão em relação aos originais. As incertezas que restam são trivialidades. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, ele diz: “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Mas alguns manuscritos dizem: “Estas coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo se cumpra”. Não temos certeza se o texto original diz ‘vosso’ ou ‘nosso’. Isso ilustra como esse 1% de incerteza é trivial. Alguém que realmente queira entender os textos deverá aprender grego, a língua original em que o Novo Testamento foi escrito. Contudo, as pessoas também podem comprar diferentes traduções e compará-las para perceber como o texto se comporta em diferentes versões.

É possível explicar a existência de Deus apenas com a razão? Qual o papel da ciência na explicação das causas do universo?

A razão é muito mais ampla do que a ciência. A ciência é uma exploração do mundo físico e natural. A razão, por outro lado, inclui elementos como a lógica, a matemática, a metafísica, a ética, a psicologia e assim por diante. Parte da cegueira de cientistas naturalistas, como Richard Dawkins, é que eles são culpados de algo chamado ‘cientismo’. Como se a ciência fosse a única fonte da verdade. Não acho que podemos explicar Deus em sua plenitude, mas a razão é suficiente para justificar a conclusão de que um criador transcendente do universo existe e é a fonte absoluta de bondade moral.

Por que o cristianismo deveria ser mais importante do que outras religiões que ensinam as mesmas questões fundamentais, como o amor e a caridade?

As pessoas não entendem o que é o cristianismo. É por isso que alguns ficam tão ofendidos quando se prega que Jesus é a única forma de salvação. Elas pensam que ser cristão é seguir os ensinamentos éticos de Jesus, como amar ao próximo como a si mesmo. É claro que não é preciso acreditar em Jesus para se fazer isso. Isso não é o cristianismo. O evangelho diz que somos moralmente culpados perante Deus. Espiritualmente, somos separados d’Ele. É por isso que precisamos experimentar Seu perdão e graça. Para isso, é preciso ter um substituto que pague a pena dos nossos pecados. Jesus ofereceu a própria vida como sacrifício por nós. Ao aceitar o que ele fez em nosso nome, podemos ter o perdão de Deus e a limpeza moral. A partir disso, nossa relação com Deus pode ser restaurada. Isso evidencia por que acreditar em Cristo é tão importante. Repudiá-lo é rejeitar a graça de Deus e permanecer espiritualmente separado d’Ele. Se você morre nessa condição você ficará eternamente separado de Deus. Outras religiões não ensinam a mesma coisa.

A crença em Deus é necessária para trazer qualidade de vida e felicidade?

Matrix e sua filosofia pós-moderna.


"Você já teve um sonho, Neo, em que você estava tão certo de que era real? E se você fosse incapaz de se acordar desse sonho? Como saberia a diferença entre o mundo do sonho e o real?"
 (Morfeu questionando Neo, Filme Matrix).

Se vivemos em um mundo que nada mais é do que uma Matrix ilusória, então faço minhas as palavras do poeta João Cabral de Melo Neto, em O Artista Inconfessável: "Fazer o que seja é inútil. Não fazer nada é inútil. Mas entre fazer e não fazer mais vale o inútil do fazer"!

Se vivemos em um mundo inverossímil e somos todos apenas parte de um programa de computador, então desabafo indignado: triste sorte a nossa, homens desgraçados que somos, será que não nascemos para alguma coisa melhor?

Se a filosofia pós-moderna, o hinduísmo, o budismo e a trilogia Matrix estão corretos em afirmarem que o nosso mundo é irreal, então, meus queridos irmãos, o niilismo* está em alta, Deus morreu, a realidade está em crise e eu também não estou lá muito bem!

*Niilismo: é um termo e um conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo (literatura, arte, ciências humanas, teorias sociais, ética e moral). É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “por que”. Os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". "Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro".

A filosofia pós-moderna 

No filme Matrix os homens e todo o nosso mundo não passam de um software, um programa de computador, uma mera ilusão.

Ninguém sabe por certo quando a pós-modernidade começou. Alguns afirmam que sua origem foi no início do século XX, outros dizem que foi na metade do século XX e outros asseguram que foi no início da década de 1980.

Porém, uma coisa é certa: diversos analistas culturais afirmam que, apesar de não sabermos quando esta era começou, estamos de fato vivendo em uma sociedade pós-moderna. Mas, o que é pós-modernidade?

O termo "pós-modernidade" é de ampla definição e foi cunhado pelo famoso historiador britânico Arnold Joseph Toynbee (1889-1975) na década de 1940, quando escrevia os seus doze volumes intitulados Um Estudo da História. Toynbee era um filósofo católico, porém influenciado pelo hinduísmo.

Segundo Toynbee, a pós-modernidade se caracteriza especialmente pela decadência da cultura ocidental, do cristianismo e de tudo o que é absoluto. Resumindo, no pós-modernismo, morre o cristianismo e sua única verdade absoluta (Jesus Cristo) e tudo passa a ser relativo.

Alguns filósofos franceses também se debruçaram sobre o tema da pós-modernidade, entre eles, Jean-François Lyotard, Michel Maffesoli e Jean Baudrillard (cujo livro Simulacro e Simulação aparecem rapidamente no filme Matrix).

Baudrillard afirma que nos tempos pós-modernos ocorrerá o "domínio do simulacro" onde será possível a substituição do mundo real por uma versão simulada tão eficaz quanto a realidade. Em outras palavras, a simulação cria um perfeito simulacro da realidade, como um sonho tão vívido que, ao "acordarmos", não conseguimos distinguir entre ilusão e verdade.

A trilogia Matrix

A trilogia Matrix está em plena sintonia com a filosofia pós-moderna, com o hinduísmo, com o budismo, entre outras visões de mundo.

A série Matrix é uma fantástica aventura cibernética, recheada de superefeitos especiais, onde a Terra foi totalmente dominada por máquinas dotadas de inteligência artificial, que passaram a ter controle sobre a raça humana. Os homens e todo o nosso mundo não passam de um software, um programa de computador, uma mera ilusão. Resumindo, nessa trilogia, nosso complexo mundo físico, com todos os seus ecossistemas, e nosso sofisticado corpo humano não passam de uma realidade virtual, como um joguinho de computador, semelhante ao The Sims, Sim City ou Age of Empires.


Matrix também tem uma forte analogia com o cristianismo. Existe uma trindade benigna no filme, composta por Trinity ("Trindade", em inglês), Morfeu ("deus dos sonhos" na mitologia grega. Ele faz o papel de João Batista ao preparar o caminho para o "escolhido" e o de Deus Pai ao assumir a figura paterna de todos que já foram libertos da ilusão) e Neo (do grego "novo". Esse é o "escolhido" e um substituto para Jesus Cristo).

Na primeira aparição de Neo ficamos logo sabendo qual será sua função na trilogia. Choi, um cliente de Neo, chega ao quarto de Neo com alguns amigos para pagar e receber uma encomenda. Ele lhe agradece de uma maneira que passa a ser quase uma profecia sobre o futuro de Neo: "Aleluia. Você é meu Salvador, cara. O meu Jesus Cristo pessoal".

No primeiro filme da série, há mais de dez referências a Neo como o "eleito" ou o "escolhido". No primeiro episódio, Neo morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus (isso faz você se lembrar de quem?).

Em Matrix Reloaded, o segundo episódio da série, há uma cena rápida de mais ou menos vinte segundos, quando Neo sai de um elevador na "Cidade de Zion" ("Sião", em inglês) e é abordado por pessoas de várias faixas etárias, muitas com trajes orientais e trazendo oferendas nas mãos. Trinity lhe diz: "Eles precisam de você". Duas mães se aproximam de Neo fazendo alguns pedidos especiais sobre seus filhos. Neo é querido, respeitável e um solucionador de problemas.

Neo move-se com uma rapidez incrível (mais rápido do que o Super-Homem ou qualquer projétil), salva pessoas prestes a serem mortas, tem uma força incomum, tem capacidade para mover objetos sem tocá-los e, a exemplo de Jesus Cristo, também ressuscitou uma pessoa amada. Pronto: "Neo é o nosso melhor amigo e o nosso salvador", essa é uma das mensagens sutis que a trilogia passa nas suas entrelinhas.

Porém, a principal mensagem da trilogia é um novo conceito da "verdade". Nessas películas cinematográficas, a "verdade" é que este mundo é apenas uma matrix ilusória. Observe um diálogo entre Morfeu e Neo e veja o que é a "verdade":

Neo: O que é Matrix?

Morfeu: Você quer saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte [...] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.

Neo: Que verdade?

Morfeu: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.

Quando Neo vai consultar o oráculo, ele encontra um menino em trajes budistas que consegue entortar colheres sem tocá-las. Observe no diálogo o que é a "verdade":

Menino: Não tente dobrar a colher. Não vai ser possível. Em vez disso, tente apenas perceber a verdade.

Neo: Que verdade?

Menino: Que a colher não existe.

Neo: A colher não existe?

Menino: Então verá que não é a colher que se dobra, apenas você.

Para a série Matrix, a "verdade" é que tudo é niilismo e ficamos sem saber quem é o Criador e quem é a criatura.

O cristianismo

Cristo é real (Colossenses 2.17). Não existe faz-de-conta e nem ilusão em Cristo Jesus. Digo mais: a realidade de Cristo é dura, cruenta e exigiu derramamento de sangue na cruz para a remissão dos nossos pecados.

O evangelista João escreveu: Jesus "estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens" (João 1.2-4).

Analise bem o que está escrito nessa passagem. Jesus não é apenas o Criador de todas as coisas juntamente com Deus Pai, mas especialmente Jesus é VIDA. Pense bem: sem a vida, só resta a morte. O período compreendido entre o nascimento e a morte, que chamamos de existência, pertence ao Senhor Jesus Cristo. O fato de vivermos, o prazer de termos sinais vitais, é fruto do maravilhoso Jesus. Desculpe a redundância, mas a existência só existe porque Jesus existiu primeiro. Afirmar que Jesus é uma razão para viver é minimizar o Seu senhorio, é pouco. Verdadeiramente, Jesus é a razão para viver. Jesus é o único "show da vida"!

Analisemos outra passagem bíblica sobre a soberania e o senhorio de Jesus Cristo: "Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. E ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus" (Colossenses 1.15-20).

Pense bem no que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, está afirmando sobre Jesus Cristo: todas as coisas subsistem por causa de Cristo.

Todo o mundo visível e o invisível – ambas as dimensões (a física e a espiritual) existem por causa de Cristo. Os hadrons e quarks subsistem pelo poder dEle. Sem Jesus, todas as coisas cairiam aos pedaços. A vida (o nosso próximo batimento cardíaco e a nossa próxima respiração) está nas mãos do Senhor Jesus Cristo. Jesus é o máximo e detém um poder inigualável. Jesus é o verdadeiro "espetáculo do planeta Terra"!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Arqueologia Proibida: A História Oculta Da Raça Humana



By Michael A. Cremo and Richard L. Thompson Published by BBT Science Books, 1996. ISBN: 0-89213-294-9. Hardbound, 952 pages.

INTRODUÇÃO

Em 1979, pesquisadores em Laetoli, Tanzania, em um sítio da África Oriental descobriram pegadas em depósitos de cinza vulcânica com idade superior a 3,6 milhões de anos. Mary Leakey e outros disseram que as pegadas eram indistingüíveis das humanas atuais. Para estes cientistas, isso apenas significa que os ancestrais do homem de 3,6 milhões de anos atrás tinham pés incrivelmente modernos.

Mas, de acordo com outros cientistas, como o antropólogo físico R.H. Tuttle da Universidade de Chicago, ossos fósseis dos australopithecos conhecidos de 3,6 milhões de anos atrás demonstram que eles tinham pés que eram claramente próximos dos pés de um macaco. Assim, são incompatíveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo da edição de março de 1990 da revista ‘Natural History’, Tuttle confessou que “estamos frente a um mistério”. Parece admissível, portanto, considerar a possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram - que criaturas com corpos humanos anatomicamente modernos, que combinassem com seus pés humanos anatomicamente modernos, existiram há 3,6 milhões de anos atrás na África Oriental. Talvez, como sugerido na ilustração da página oposta, eles coexistiram com criaturas simiescas. Intrigante como possa parecer essa possibilidade arqueológica, as idéias atuais sobre a evolução humana a proíbem.

Pessoas sensatas irão alertar para a consideração da existência de humanos anatomicamente modernos há milhões de anos com base, simplesmente, nas pegadas de Laetoli. Mas há mais evidências. Durante as últimas décadas, cientistas na África descobriram ossos fósseis que parecem consideravelmente humanos. Em 1965, Bryan Patterson e W. W. Howells acharam um úmero (osso do braço) surpreendentemente moderno em Kanapoi, Kenya. Os cientistas avaliaram sua idade em 4 milhões de anos.

Henry M. McHenry e Robert S. Corruccini, da Universidade da Califórnia, disseram que o úmero de Kanapoi era “dificilmente distinguível do osso de um Homo sapiens atual”. Similarmente, Richard Leakey disse que o fêmur ER 1481 do Lago Tukana, Kenya, achado em 1972, era indistinguível do de um humano moderno. Os cientistas normalmente associam o fêmur ER 1481, que tem cerca de 2 milhões de anos, ao pré-humano Homo habilis. Mas, desde que o ER 1481 foi achado isoladamente, não se pode descartar a possibilidade de que o resto do esqueleto fosse, também, anatomicamente moderno. De forma interessante, em 1913 o cientista alemão Hans Reck descobriu, em Olduvai Gorge, Tanzania, um esqueleto humano completo, anatomicamente moderno, em um estrato de mais de um milhão de anos, gerando décadas de controvérsias.Aqui, novamente, alguns nos alertarão para que não exagerarmos o valor de alguns poucos e controversos exemplos em contraste com a grande quantidade de evidências não controversas demonstrando que os humanos atuais evoluíram de criaturas simiescas bastante recentemente - por volta de 100.000 anos para cá, na África, e na visão de alguns, em outras partes do mundo também. Mas acontece que não esgotamos nossas fontes com as pegadas de Laetoli, o úmero de Kanapoi e o fêmur ER 1481. Pelos últimos oito anos, Richard Thompson e eu, com a assistência de nosso pesquisador Stephen Bernath, acumulamos um extenso corpo de evidências que desafia as teorias atuais sobre a evolução humana. Algumas dessas evidências, como as pegadas de Laetoli, são bem recentes. Mas boa parte delas foi registrada por cientistas no século dezenove e começo do século vinte. E, como você pode ver, nossa discussão sobre essas evidências podem constituir um livro muito grande.

Sem mesmo olhar para esse antigo conjunto de evidências, alguns assumirão que deve haver algo errado com ele - que foi convenientemente descartado há muito pelos cientistas, por razões muito boas. Richard e eu checamos bem essa possibilidade. Concluímos, no entanto, que a qualidade dessas evidências controversas não é melhor ou pior que as supostamente não controversas, usualmente citadas em favor das atuais teorias sobre a evolução humana.

Mas “Arqueologia Proibida” é mais do que um bem documentado catálogo de fatos não usuais. É, também, uma crítica sociológica, filosófica e histórica ao método científico, da forma como é aplicado à questão das origens da humanidade. Não somos sociólogos, mas nossa abordagem é similar à praticada pelos adeptos da sociologia do conhecimento científico (SSK), como Steve Woolgar, Trevor Pinch, Michael Mulkay, Harry Collins, Bruno Latour, and Michael Lynch.

Cada um desses estudiosos tem uma perspectiva única da SSK, mas todos provavelmente concordariam com o seguinte enunciado programático. As conclusões dos cientistas não correspondem de forma idêntica as estados e processos de uma realidade objetiva natural. Ao invés, tais conclusões refletem os reais processos sociais dos cientistas, mais do que o que acontece na natureza/meio ambiente.

A abordagem crítica que fazemos em “Arqueologia Proibida” também assemelha-se à usada pelos filósofos da ciência, como Paul Feyerabend, que afirma que a ciência alcançou uma posição por demais privilegiada no campo intelectual, e por historiadores da ciência, como J. S. Rudwick, que explorou em detalhes a natureza da controvérsia científica. Como Rudwick, em “A Grande Contovérsia Devoniana”, usamos a narrativa para apresentarmos nosso material, que engloba não uma mas muitas controvérsias - controvérsias há muito resolvidas, não resolvidas ainda e em formação. Para isso foram feitas muitas citações de fontes primárias e secundárias, e fornecidas descrições detalhadas das reviravoltas dos complexos debates paleoantropológicos. Para os que trabalham com disciplinas relacionadas com as origens da humanidade e antiguidade, “Arqueologia Proibida” provê um bem documentado compêndio de relatórios livres das muitas referências atuais, não facilmente conseguido de outra forma.

Um dos últimos autores a discutir o tipo de relatório achado em “Arqueologia Proibida” foi Marcellin Boule. Em seu livro “Fossil Men” (1957), Boule traz uma conclusão decididamente negativa. Mas, ao examinar os relatórios originais, percebemos que o ceticismo de Boule não é justificado. Em “Arqueologia Proibida”, fornecemos material oriundo de fontes primárias que irão permitir aos leitores atuais formarem suas próprias opiniões sobre as evidências que Boule desacreditou. Também introduzimos vários casos que Boule deixou de mencionar.

Das evidências que colhemos, concluímos algumas vezes em linguagem desprovida do experimentalismo ritual, que as hipóteses atualmente dominantes sobre as origens do homem necessitam de uma drástica revisão. Também concluímos que um processo de filtragem de conhecimentos deixou os estudiosos com uma coleção de fatos radicalmente prejudicada e incompleta.

Antecipamos que muitos estudiosos acharão em “Arqueologia Proibida” um convite a discursos produtivos sobre (1) a natureza e tratamento das evidências no campo das origens do homem e (2) as conclusões que podem ser mais logicamente alcançadas a partir de tais evidências.

No primeiro capítulo da Parte I, pesquisamos a história e o atual estado em que se encontram as idéias sobre a evolução do homem. Também discutimos alguns dos princípios epistemológicos que usamos em nosso estudo nesse campo. Principalmente, estamos interessados em duplo padrão no tratamento das evidências. Identificamos dois principais corpos de evidências. O primeiro é um conjunto controverso (A), que demonstra a existência de humanos anatomicamente modernos no ‘não muito confortável’ passado distante. O segundo é um conjunto de evidências (B) que pode ser interpretado como comportando as atuais visões dominantes de que o homem evoluiu bem recentemente, de 100.000 anos para cá, na África, e talvez em outros lugares.Também identificamos padrões empregados na avaliação das evidências paleoantropológicas. Depois de um estudo detalhado, descobrimos que se estes padrões forem aplicados igualmente para A e B, então devemos aceitar a ambos ou rejeitar a ambos. Se aceitarmos tanto A quanto B, então temos evidências colocando humanos anatomicamente modernos vivendo há milhões de anos atrás, coexistindo com humanóides simiescos. Se rejeitarmos a ambos, eliminamos a possibilidade de usarmos a base fática disponível para formularmos qualquer hipótese sobre as origens do homem e a antiguidade. Historicamente, um significativo número de cientistas profissionais já aceitou as evidências do grupo A. Mas um grupo mais influente, que aplicou padrões mais rígidos a A do que a B, estabeleceu a rejeição de A e a preservação de B como dominante. Esse uso de padrões diferenciados para a aceitação ou rejeição de evidências constitui um filtro de conhecimentos que obscurece a verdade sobre a evolução humana. No corpo da Parte I (Capítulos 2-6), checamos a vasta quantidade de evidências controversas que contradiz as idéias correntes sobre a evolução do homem. Narramos em detalhes como elas foram sistematicamente suprimidas, ignoradas ou esquecidas, mesmo sendo qualitativamente (e quantitativamente) equivalentes às atualmente aceitas. Quando falamos em supressão de evidências, não nos referimos a cientistas conspiradores levando a cabo um plano satânico para enganar o público.

Ao contrário, falamos sobre a existência de um processo sociológico de filtragem de conhecimento que aparenta ser bem inócuo mas que tem, em verdade, um substancial efeito cumulativo. Certas categorias de evidências simplesmente desapareceram, em nossa opinião injustificadamente.

O Capítulo 2 trata de ossos anormalmente antigos e conchas que exibem marcas e sinais de ruptura intencional. Até hoje, cientistas consideram tais ossos e conchas como uma importante categoria de evidências, e muitos sítios arqueológicos foram estabelecidos com base apenas nesse tipo de achado.Nas décadas posteriores à apresentação da teoria de Darwin, numerosos cientistas descobriram ossos animais quebrados ou com incisões, e conchas sugerindo que humanos que usavam ferramentas ou precursores dos humanos existiram no Pliosceno (2-5 milhões de anos atrás), no Miosceno (5-25 milhões de anos atrás), e até antes. Ao analisar os ossos e conchas, os descobridores cuidadosamente consideraram e estabeleceram explicações alternativas - como a ação de animais ou pressão geológica - antes de concluir que os humanos eram os responsáveis. Em alguns casos, ferramentas de pedra foram achadas juntamente com os ossos e conchas. Um exemplo particularmente impressionante nesta categoria é um concha exibindo uma rude, porém reconhecível, face humana esculpida em sua superfície externa. Registrada pelo ologista H. Stopes à Associação Britânica para o Avanço da Ciência em 1881, essa concha, de uma formação rochosa do Pliosceno, na Inglaterra, tem mais de 2 milhões de anos.

De acordo com os padrões aceitos, humanos capazes de tal nível de artifício não chegaram à Europa antes de 30.000 ou 40.000 antos atrás. Além disso, eles nem mesmo surgiram em seu berço, a África, antes de 100.000 anos atrás. Em relação às evidências do tipo reportado por Stopes, Armand de Quatrefages escreveu em seu livro “Hommes Fossiles et Hommes Sauvages” (1884): “As objeções feitas à existência do homem no Pliosceno e Miosceno parecem ser habitualmente mais relacionadas a considerações teóricas do que à observação direta”.

As mais rudimentares ferramentas de pedra, as eoliths (“as pedras da aurora”) são o assunto do Capítulo 3. Esses instrumentos achados em contextos geológicos inesperadamente antigos, inspiraram prolongados debates no final do século dezenove e começo do século vinte.

Para alguns, as eoliths não eram sempre facilmente reconhecíveis como ferramentas. As eoliths não tinham forma simétrica. Ao contrário, a borda de uma lasca de pedra natural era quebrada para fazê-la servir para uma determinada tarefa, como raspar, cortar ou talhar. Freqüentemente a ponta ostentava sinais do uso. Os críticos disseram que as eoliths resultaram de eventos naturais, como o rolar no fundo de rios. Mas os defensores da outra tese ofereceram contra-argumentos convincentes no sentido de que as forças naturais não poderiam causar o gasto similar ao conseguido na pedra lascada - unidirecional em apenas um lado da pedra. No final do século dezenove, Benjamin Harrison, um arqueologista amador, descobriu eoliths no Platô de Kent, no sudeste da Inglaterra. Evidências geológicas sugerem que as eoliths foram produzidas em meados ou no final do Ploisceno, por volta de 2 a 4 milhões de anos atrás. Entre os que apoiavam a tese decorrente da descoberta de Harrison estavam Alfred Russell Wallace, co-fundador com Darwin da teoria da evolução pela seleção natural; Sir John Prestwich, um dos mais eminentes geologistas ingleses; e Ray E. Lankester, um diretor do Museu Britânico (História Natural). Embora Harrison tenha descoberto a maior parte de suas eoliths em depósitos superficiais de cascalho do Pliosceno, ele também descobriu muitas em níveis mais abaixo, durante uma escavação financiada e dirigida pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Além das eoliths, Harrison achou, em vários lugares no Platô de Kent, ferramentas de pedra mais avançadas (paleoliths) de antigüidade plioscênica similar.

No começo do século vinte, J. Reid Moir, um membro do Instituto Real de Antropologia e presidente da Sociedade de Pré-História da Anglia Oriental, descobriu eoliths (e ferramentas de pedra mais avançadas) na formação inglesa de Red Crag. As ferramentas tinham por volta de 2 a 2,5 milhões de anos. Algumas das ferramentas de Moir foram achadas nos leitos de detritos de Red Crag e poderiam ter entre 2,5 e 55 milhões de anos.

Os achados de Moir ganharam o apoio de um dos maiores críticos das eoliths, Henri Breuil, então considerado como uma das mais proeminentes autoridades em ferramentas de pedra antigas.

Outro patrocinador foi o paleontologista Henry Fairfield Osborn, do Museu Americano de História Natural de Nova Iorque. E, em 1923, uma comissão internacional de cientistas viajou até a Inglaterra para investigar as principais descobertas de Moir e as consideraram genuínas. Mas, em 1939, A. S. Barnes publicou um artigo de muita influência, no qual analisava as eoliths descobertas por Moir e outras em termos do ângulo de quebra observado. Barnes afirmava que seu método podia distinguir entre o processo de lascar feito por humanos do produzido por forças naturais. Desde então, os cientistas têm usado o método de Barnes para negar a manufatura por homens de outras ferramentas de pedra. Mas, em anos recentes, autoridades em ferramentas de pedra, como George F. Carter, Leland W. Patterson e A. L. Bryan têm contestado a metodologia de Barnes e sua aplicação. Isso sugere a necessidade de reexame das eoliths européias. Significativamente, ferramentas de pedra muito antigas, da África, como aquelas dos níveis mais baixos de Olduvai Gorge, aparentam serem idênticas às eoliths européias rejeitadas. Ainda assim, são aceitas pela comunidade científica sem questionamentos. Isso se dá, provavelmente, porque elas se encaixam e ajudam a apoiar a teoria da evolução do homem atualmente aceita.

Mas outras manufaturas eolíticas de antigüidade inesperada continuam a encontrar forte oposição. Por exemplo, na década de 1950, Louis Leakey descobriu ferramentas de pedra de mais de 200.000 anos em Calico, nos sul da Califórnia. De acordo com a visão padrão, os humanos não penetraram nas regiões subárticas do Novo Mundo antes de aproximadamente 12.000 anos atrás. Os cientistas acabaram por responder à descoberta de Calico, previsivelmente, afirmando que, ou eram produto das forças naturais, ou não tinham realmente 200.000 anos. Mas há razões suficientes para se concluir que as descobertas de Calico são artefatos de produção genuinamente humana. Embora a maior parte das ferramentas fossem rudes, algumas, inclusive uma em forma de bico, eram mais avançadas.

No Capítulo 4, discutimos uma categoria de implementos que chamamos de paleoliths rudes. No caso das eoliths, a parte lascada localiza-se perfeitamente na borda trabalhada de um pedaço de pedra naturalmente quebrada. Mas os fabricantes dos paleoliths rudes deliberadamente golpearam as rochas, lascando, então, os pedaços até alcançar formas reconhecíveis como ferramentas. Em alguns casos, rochas inteiras foram lascadas até formarem ferramentas. Como vimos, as paleoliths brutas são encontradas juntamente com as eoliths. Mas, nos sítios discutidos no Capítulo 4, as paleoliths são dominantes no conjunto. Na categoria das paleoliths brutas, incluímos ferramentas do Miosceno (5 a 25 milhões de anos) achadas no final do século dezenove por Carlos Ribeiro, chefe do Instituto de Pesquisa Geológica de Portugal. Em uma conferência internacional de arqueologistas e antropologistas, em Portugal, um comitê de cientistas investigou um dos sítios onde Ribeiro havia achado as ferramentas. Um dos cientistas achou um peça de pedra mais avançada que os melhores espécimes de Ribeiro. Comparável às peças aceitas como do final do Pleistoceno, do tipo Mousterian, estava firmemente encravada em conglomerado do Miosceno, em circunstâncias tais que confirmavam sua antigüidade mioscênica. Paleoliths brutas também foram achadas em formações mioscênicas em Thenay, França. S. Laing, um escritor de ciências inglês, escreveu: “Em seu conjunto, a evidência desses implementos do Miosceno parece ser bastante conclusiva, e as objeções parecem não se situarem de outra forma a não ser como simples relutância em admitir a grande antigüidade do homem”.

O texto prossegue enumerando evidências da manipulação, por parte do establishment, das convicções dos homens acerca de sua própria história.

O pensamento livre, a dignidade do ser humano, a verdade, enfim, se expressou através dos signatários da DECLARAÇÃO DE VENEZA.

DECLARAÇÃO DE VENEZA

Comunicado final do Colóquio “A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento” Veneza, 7 de março de 1986.

Os participantes do colóquio “A Ciência Diante das Fronteiras do Conhecimento”, organizado pela UNESCO, com a colaboração da Fundação Giorgio Cini (Veneza, 3-7 de março de 1986), animados pôr um espírito de abertura e de questionamento dos valores de nosso tempo, ficaram de acordo sobre os seguintes pontos:

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A cidade de Paris: da Antiguidade à atualidade.


Do vilarejo galo-romano à cidade do século XXI, Paris viveu profundas mudanças ao longo dos séculos. Capital política, econômica e artística, ela mantém, apesar da ação do tempo e da história, um patrimônio arquitetônico único, que faz dela uma das cidades mais visitadas do mundo e a porta de entrada da França para diversos turistas.

Lutécia, o vilarejo da antigüidade : Os primeiros ocupantes das margens do rio Sena ali se instalaram há cerca de 2.000 anos. No entanto, estavam longe de ocupar todo o território atual da cidade de Paris: o vilarejo em que viviam se limitava à île de la Cité e à margem esquerda do rio, não muito longe do jardim de Luxemburgo.


As grandes mudanças da Idade Média

Os primeiros limites da cidade se impõem por volta do ano de 1200, com a construção de um muro ao seu redor e do castelo do Louvre. Cidade mais populosa da Europa no século XIV, ela viveu em seguida um declínio relativo, posto que os reis passaram a ter mais interesse pelos vilarejos próximos do rio Loire.


França tem uma extensa história na qual estao inseridas personalidades impressionantes da História da Europa. tais como Luís XIV, Napoleao Bonaparte, Clodoveo, Rei dos Francos, Charles de Gaulle entre outros.

A história de Paris remonta-se aos Parisi, um povo gaulês da época pré-romana que lutou contra a ocupação do Império de Júlio César. A cidade foi fundada por volta de 300 Anos Antes de Cristo. Esta primeira colonização realizou-se na Ilha de Cité, rodeada pelo Rio Sena, um lugar ideal sobretudo para a defesa da Cidade.

Posteriormente, os romanos finalmente tomaram a cidade e chamaram-na de Lutetia, e estenderam-na para a outra margem do Rio Sena. Com a caída dos romanos, a cidade toma atualmente o seu nome com o reinado de Clodoveo, o Rei dos Francos, que permaneceriam nesta terra durante séculos. A vitória frente aos romanos teve lugar nos finais do Século V e princípios do Século VI. Paris começou a sua expansão e viveu séculos de tranquilidade e prosperidade até que nos finais do século IX foi atacada pelos normandos.

No século XI foram os Capetos que ficam com o comando e trono de França e o controlo de Paris, sendo que é Filipe Augusto que a converte, no século XII, a capital de França. Passaram por aqui reis como Carlos V, Enrique IV e Luís XIII que construíram, ao longo dos tempos, muralhas e edifícios emblemáticos, chegando depois Luís XIV, já no século XVIII.

Com Luís XIV, Luís XV e Luís XVI começa-se a construir o momento histórico na história francesa, tendo com Luís XVI acontecido um dos marcos mais importantes da história da França, a tomada da Bastilha, acontecimento que derrubou a Monarquia e instaurou a República.

Depois, um golpe de Estado de Napoleão Bonaparte muda o rumo da França, da República para o Império. Durante a época de Napoleão, a cidade de Paris sofrer uma mudança importante, sendo que os edifícios mais antigos foram derrubados para outros mais modernos serem construídos. Durante a segunda metade do Século XIX, a cidade também começou a ser um centro de atenção europeia, com numerosas exposições e eventos artísticos.

Vercingetórix: herói legendário da guerra dos Gauleses.


Vercingetórix (72 a.C. - 46 a.C.), chefe do povo dos Avernos, herói legendário da guerra dos Gauleses, foi, como seu nome em língua celta indica, "o grande rei dos guerreiros". Conseguiu reunir ao redor de si a maior parte dos povos que constituíam a Gália, até lá dividida entre diversos povos rivais, e dirigir durante dez meses a unidade da resistência contra as legiões de César, na  época o maior exército do mundo, submetendo César a uma derrota esmagadora na Gergóvia, antes de ser vencido em Alésia.

Quando César invade a Gália, em 58 a.C., o pai de Vercingetórix, Celtill, que preparava-se para assumir a liderança da Gália contra os romanos, foi assassinado pela aristocracia averna, que desconfiava que ele havia a intenção de tornar-se rei. Depois de sua morte, Vercingetórix serve o exército de César como aliado durante seis anos, antes de juntar-se novamente a seu povo no início da primeira rebelião gaulesa, em Cenabum (Orléans), em 52 a.C., um motim geral que conseguiu liderar.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Agentes de fronteira da Stasi tinham ordens para matar fugitivos


Documento da polícia secreta da Alemanha Oriental mostra que agentes não deveriam hesitar em utilizar armas de fogo contra fugitivos mesmo que entre eles houvesse crianças.

Um documento que se tornaram público mostram que agentes de fronteira da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, tinham ordens de atirar para matar contra fugitivos do regime comunista alemão. O documento foi encontrado nos arquivos regionais da cidade de Magdeburg e tem data de 1º de outubro de 1973.

"Não hesite em utilizar armas de fogo mesmo que a fuga pela fronteira ocorra ao lado de mulheres e crianças, o que traidores já utilizaram com freqüência", está escrito no documento, que é dirigido a agentes da Stasi que agiam incógnitos entre guardas da fronteira na região de Magdeburg e tinham por missão identificar soldados que estivessem dispostos a fugir.

Em muitos casos, as tentativas de fuga aconteciam com a família. Historiadores calculam que mais de 2,8 mil soldados tenham desertado e fugido para a Alemanha Ocidental. Já o número de pessoas que foram mortas durante tentativas de fuga é impreciso e varia entre 270 e 780.

A revelação da existência do documento foi feita pelo jornal Magdeburger Volksstimme e ocorreu às vésperas do aniversário de 46 anos (2007) da construção do Muro de Berlim.

Controvérsia

O achado provocou controvérsias na imprensa alemã. Um porta-voz do escritório responsável pela administração dos arquivos da Stasi, Andreas Schulze, confirmou a informação do jornal e apresentou o documento como sendo a primeira prova de que havia uma ordem do governo da Alemanha Oriental para matar fugitivos.

Após vários relatos na imprensa de que um texto praticamente igual já havia sido tornado público em 1997, numa antologia publicada pelo historiador Matthias Judt, os responsáveis pelos arquivos da Stasi reconheceram neste domingo que a descoberta de Magdeburg não é inédita.

Stasi: a polícia secreta da Alemanha Oriental - Oito histórias inacreditáveis.


Ministério para Segurança do Estado.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim, os alemães ainda se espantam com as histórias e técnicas da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental. Veja abaixo 8 exemplos de como o governo comunista vigiava e perseguia seus próprios cidadãos por Texto Vanessa Vieira 

1. Um espião para cada 60 moradores

Se houve uma nação que materializou o Estado onisciente descrito por George Orwell no livro 1984, esta nação foi a Alemanha Oriental. No país comunista, o Ministério para Segurança do Estado, mais conhecido como Stasi, representava o papel de Big Brother, o Grande Irmão de Orwell, munido de câmeras e escutas para espionar todos os cidadãos. Para vigiar a população e evitar movimentos organizados contra a política comunista aliada à União Soviética, a polícia secreta da República Democrática da Alemanha adotou meios que ainda hoje impressionam. "Absolutamente nada era sagrado para a polícia secreta. Pequenos buracos eram perfurados nas paredes de apartamentos e de hotéis para que a Stasi filmasse seus suspeitos. Até os banheiros eram penetrados pelos voyeurs comunistas", afirma o escritor e jornalista Joseph Koehler em seu livro Stasi: the Untold Story of the East German Secret Police ("Stasi: a história não contada da polícia secreta da Alemanha Oriental", sem edição no Brasil).

Os alemães orientais estavam acostumados à ostensiva vigilância por meio de microfones camuflados, câmeras fotográficas, vídeos e milhares de colaboradores. Agentes eram colocados em tempo integral nas fábricas para reportar tudo o que acontecia. Em cada condomínio de apartamentos, havia um responsável por anotar e relatar toda a rotina - que visitas cada morador recebeu, se algum visitante passou a noite no local. Essa estrutura de vigilância exigia muitos, muitos funcionários.


Em 1989, a Stasi empregava 90 mil agentes e mantinha 175 mil informantes para monitorar 17 milhões de habitantes. Ou seja, havia um espião para cada 63 habitantes. Alguns especialistas, levando em conta os colaboradores ocasionais, estimam que um em cada 6 alemães orientais passava informações à Stasi. É um número maior até mesmo que a polícia secreta anterior, a temível Gestapo dos tempos nazistas, que tinha cerca de 40 mil oficiais para vigiar 80 milhões de pessoas. O resultado de tamanha vigilância é que 6 milhões de pessoas, ou mais de um terço da população, tinham sua ficha nos enormes arquivos da Stasi.

Mais do que os números, o que chama atenção é a constatação de que amigos, colegas de trabalho, de faculdade e até familiares delatavam seus pares. As razões para colaborar eram diversas - iam desde a fidelidade na ideologia comunista à coação e à ameaça, passando pelo oferecimento de privilégios, como promoções e permissões para viajar, ou mesmo o bom e velho pagamento em dinheiro, na melhor tradição capitalista.

Muitos cidadãos só descobriram que eram espionados depois da queda do Muro, consultando os arquivos que restaram. A deputada federal Vera Lengsfeld descobriu que a polícia sabia até que marca de sabonete ela usava. Informações repassadas por 49 informantes que a monitoravam - entre eles o próprio marido dela, pai de seus dois filhos. Vera acabou encarcerada na prisão de Hohenschönhausen, hoje transformada em museu. História parecida com a do ator Ulrich Muehe, protagonista do filme A Vida dos Outros, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007, que ilustra as páginas desta reportagem. Muehe, morto há três anos de câncer no estômago, também descobriu que sua ex-mulher havia repassado informações sobre ele durante os 6 anos de seu casamento.

2. O quebra-cabeças de 600 milhões de peças

A maior parte das informações que se tem sobre a Stasi vem da própria instituição. Como era uma organização muito burocrática, produzia relatórios em série sobre as observações de milhares de informantes alemães e estrangeiros. Se toda a documentação produzida pela polícia secreta fosse enfileirada, alcançaria facilmente a distância de 110 quilômetros.

A Stasi bem que tentou se livrar de parte dessa montanha de papel dias antes da queda do Muro. Nas cidades menores, documentos começaram a ser queimados. Nas cidades maiores, para não chamar atenção, os agentes optaram por picotar freneticamente pilhas e pilhas de papéis. O material rasgado foi armazenado em 17 200 sacolas, que seriam descartadas. Mas acabou sendo descoberto quando os quartéis da Stasi foram invadidos pela população. Os arquivos destruídos representam apenas 5% do total de documentação produzido pela polícia secreta durante sua existência. Apenas esses pedaços de papel se constituem num quebra-cabeças de mais de 600 milhões de peças - os fragmentos de documentos produzidos durante 4 décadas. Entre eles, há cartas feitas de papéis de diferentes texturas, fotografias, folhas de carbono, recortes de jornal.

Dois funcionários gastaram 8 meses para organizar os papéis de apenas uma das 17 200 sacolas. O trabalho foi recompensado com o levantamento de provas de que a Alemanha Oriental abrigou terroristas, financiou programas de doping e praticou espionagem industrial contra os vizinhos europeus, além de revelar o nome de vários informantes - entre religiosos, intelectuais e altos funcionários da Alemanha Ocidental.

Hoje, para trazer à luz os tempos escuros da polícia secreta, os alemães empreendem um gigantesco esforço para remontar os papéis cortados. Não restam dúvidas de que o material merece ser examinado. O grande desafio é como fazê-lo de forma produtiva e rápida. No ritmo de uma sacola anual por funcionário, estimava-se que seriam necessários 700 anos para concluir a missão.

Desde 2006, um supercomputador, ainda em teste, tenta reunir os fragmentos com as mesmas características - como tipo de papel, cor e padrão de escrita - para facilitar a montagem do quebra-cabeças. Para colocar o sistema em funcionamento em larga escala, serão necessários US$ 30 milhões.

3. Catálogo de cheiros

No museu da Stasi Runde Ecke, em Leipzig, ficam em exposição fileiras de potes de vidro contendo flanelas amarelas. São parte de uma coleção de milhares de amostras de cheiro coletadas pelos agentes da Stasi para identificar e rastrear suspeitos de agir contra os interesses do governo. "Era uma forma primitiva de conseguir provas científicas contra supostos infratores, numa época em que o exame de DNA não estava disponível", diz Jonathan Zatlin, professor de História Moderna da Alemanha na Universidade de Boston.

Se encontrassem panfletos jogados no chão, pincéis usados para afixar cartazes ou latas de spray de pichação, os agentes depositavam flanelas sobre esses objetos para obter as amostras de cheiro. O pano era guardado dentro de um pote de vidro. Quando a Stasi encontrava algum suspeito de ser o responsável pela ação, procurava, secretamente, obter uma amostra de cheiro para comparar com a recolhida anteriormente. Uma das táticas era chamar o suspeito para uma conversa na delegacia. Ao sentar-se na cadeira, a pessoa impregnava, sem saber, uma flanela escondida no assento. Cães eram usados para farejar as duas amostras e dar sinal caso elas coincidissem. "Em 1988, a Stasi mantinha 26 cães treinados para farejar e rastrear pessoas e outros 15 para diferenciar amostras de cheiro", diz a pesquisadora Kristie Macrakis.

Outra técnica desenvolvida pelos cientistas a serviço da Stasi foram perfumes feitos com substâncias como almíscar e hormônios de plantas para facilitar o monitoramento de dissidentes. A essência era aplicada nos pneus do carro da pessoa a ser seguida. Assim, cães podiam rastrear carros e sujeitos facilmente - a distância ou no meio de uma multidão.

4. Radiação para seguir suspeitos

Logo depois da queda do Muro de Berlim, correu na Alemanha a lenda de que os agentes oficiais usavam radiação para marcar e monitorar suspeitos. Com a abertura dos arquivos confidenciais da Stasi, essa aparente lenda urbana foi revelada como verdadeira. Até 1989, mais de 1 000 pessoas foram vigiadas dessa forma. A radiação era borrifada, com um spray, sobre o cidadão suspeito de ser um dissidente, ou pelo uso de alfinetes impregnados de radiação, escondidos em casacos e maletas. Com isso, o suspeito seria identificado por aparelhos que contam o nível de raios gama. Em vez de apitar, os aparelhos vibravam sempre que o suspeito irradiado se aproximava. Um dos átomos instáveis mais usados era o scandio 46, que permanece ativo por mais de 80 dias.

Para monitorar carros, usavam-se balas de chumbo impregnadas com prata radioativa. As balas eram disparadas contra o pneu do veículo a uma distância de 25 metros. A partir daí, era possível seguir o carro a centenas de metros, mesmo no tráfego de Berlim. O césio 137 marcava carros suspeitos de atravessar a fronteira entre as duas Alemanhas. "Por ser muito penetrante, o césio é mais perceptível aos contadores de radiação, mesmo que o alvo esteja protegido por paredes de concreto", diz Kristie Macrakis, historiadora da Universidade Estadual de Michigan, nos EUA.

Essas ferramentas foram criadas pelo programa Cloud, liderado pelo físico nuclear Franz Leuteriz nos laboratórios técnicos da Stasi. Na década de 1970, 100 operações com radiação eram realizadas por ano pela Stasi, afirma o físico Klaus Becker no estudo Uso ilegal de fontes de radiação pelo governo. Suspeita-se que a prática esteja ligada à morte, por câncer, de dissidentes que haviam sido espionados quando o muro estava em pé.


5. A polícia da paranoia

A abertura dos arquivos da Stasi frequentemente provoca surpresas. Não por trazerem à luz fatos inesperados de biografias, mas por revelarem a mesquinhez de algumas ações da Stasi. Diversas tinham como único objetivo intimidar e desacreditar pessoas disseminando a paranoia.

Uma das vítimas foi o escritor, psicólogo e ativista Jürgen Fuchs. Foi o que revelou um documento de setembro de 1982, narrando o que vinha sendo feito para colocá-lo sob pressão. Fuchs recebia chamadas anônimas durante a madrugada; táxis e ambulâncias apareciam em seu apartamento durante o dia ou à noite, reuniões e serviços comerciais eram marcados em seu nome sem que ele soubesse. Depois de ler seus arquivos, a também ativista Ulrike Poppe descobriu que agentes haviam sido escalados para missões como roubar o carrinho de bebê da filha dele ou esvaziar os pneus de sua bicicleta. "Após banir o uso de violência física, mais comum nos anos 50, a Stasi usou essa tática contra os investigados, tanto para desacreditá-los aos olhos de seus amigos e colegas, quanto para fazê-los duvidar de sua própria sanidade", afirma o historiador Konrad Jarausch, professor da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Outras técnicas para instaurar o estado de paranoia consistiam em invadir a casa do dissidente trocando objetos de lugar, segui-lo ou plantar mentiras entre seu círculo de amigos. "Vazava-se a informação de que a pessoa recebia privilégios do governo, ou que teria delatado um amigo ou que traía seu cônjuge. Destruíam-se relacionamentos até a vítima ficar isolada", diz o historiador Zatlin. Era uma forma de neutralizar os colaboradores do Ocidente. "Tendo de suportar tanta pressão, alguns sofriam de pânico e colapsos nervosos", diz Zatlin.  

6. Quase tudo era crime

O código criminal da Alemanha Oriental afirmava, em sua introdução, que o objetivo do conjunto de leis era "salvaguardar a dignidade humana, sua liberdade e direitos". Pura ironia. Muitos dos crimes atribuídos a cidadãos da RDA, característicos de regimes totalitários, iam contra esses princípios. Os chamados "crimes de traição" são um bom exemplo disso, já que serviram de amparo legal para prisões de segurança máxima ou de trabalho forçado por infrações como pedir vistos de saída do país ou consultar um consulado ocidental sobre os procedimentos para imigração.

Existem vários exemplos da arbitrariedade da Justiça na interpretação do que era ou não crime. Um rapaz foi apresentado às autoridades por agentes da Stasi após afirmar que as fortificações na fronteira entre as duas Alemanhas eram "um absurdo". No tribunal, ele admitiu assistir a programas ocidentais na TV e falar sobre eles com amigos. Foi condenado por "propaganda hostil" a um ano e meio de trabalho forçado.

Por ter pendurado um cartaz na janela do apartamento em protesto depois que o governo negou seu visto de saída, um jovem foi sentenciado com um ano e dez meses na penitenciária por "interferência nas atividades do Estado". Uma carta escrita a um amigo ocidental pedindo assistência para emigrar legalmente e outra, com o mesmo conteúdo, enviada ao chefe de Estado da RDA, renderam a seu autor uma pena de 4 anos, por "estabelecimento de contatos ilegais e calúnia pública". Dava cadeia até mesmo frequentar a igreja (parasitismo social) e reclamar de problemas da cidade, como buracos de rua (incentivo ao negativismo social).


Reunião do Congresso Stasi.

Os documentos disponíveis até o momento mostram que 40 mil pessoas foram condenadas por crimes políticos durante a existência da Alemanha Oriental. Mas o Centro de Coleta de Evidência Documental, entidade que há anos reúne material sobre a repressão na Alemanha Oriental, acredita que esse número poderia chegar a 300 mil. Por trás das condenações estava a ação de colegas, vizinhos e amigos que trabalhavam como informantes.