quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Mazdeismo/Zoroastrismo: história, religião e filosofia.



Simbolo do Zoroastrismo. A chama sagrada (Avarkhvarsh, o fogo radiante).

Sobre o Autor: Paul Du Breuil é hoje o maior especialista do zoroastrismo, da filosofia masdaica e da religião dos parses.

OBSERVAÇÃO: Os reis aquemênidas foram “reis justos”, segundo as Gâthâs, tendo introduzido uma forma de governo humanizado, suscetível de servir de exemplo a toda a nação humana. É preciso compreender que entre os grandes reis Ciro, Dario e Xerxes, a noção de raça, procedia de uma ordem superior e espiritual. Atualmente só os ossetas do Cáucaso representariam a última ilhota dos antigos arianos. Os proto-arianos vindos provavelmente da bacia do Volga, ao norte do Cáspio, como seus predecessores do fim do terceiro milênio. Ora, originados de tribos arianas, isto é, indo-européias, da Rússia meridional, essas faces aquemênidas, persas e medas ofereceram uma morfologia muito diferente daquela da europeia nórdica, dolicocéfala e loira de olhos azuis, como Tácito se divertiu em descrever no seu Germânia, ou como os poetas gregos, de Homero a Eurípides, construíam a imagem dos heróis mitológicos. Isso mostra até que ponto a reinvindicação do termo ariano pelo pangermanismo podia é abusiva. Os arianos, ou primeiros habitantes indo-europeus do Irã interior e exterior, país que tira seu nome desses povos, persas e medas, cimérios e citas, e, a leste, os da Índia bramânica, não teriam mais que um longínquo parentesco étnico com os indo-europeus que fundaram os povos da Europa ocidental.


Zoroastro, segundo ilustração de fieis.

§ A moral do Estado sassânida protegia o casamento, a família, condenava o aborto, encorajava a adoção. O zoroastrismo tradicionalmente monogâmico. As mulheres possuíam uma liberdade até então desconhecida no mundo antigo.

§ Primeiros crentes na ressurreição da alma, os parses estimam que dar o seu corpo aos abutres, após a morte é uma ato de generosidade última de sua vida para com a natureza criada por Ahura Mazda.

§ Somente consideravam fieis masdeianos os filhos de pais parses, não aceitavam casamentos mistos.

§ Ainda bebê a criança parse terá sido previamente apresentada ao templo e marcada com cinza do fogo sagrado na testa.

§ O fogo sagrado do fiel masdeiano deve ser alimentado com madeira de sândalo (Machi).

§ Para os parses o casamento é o ato primordial da vida, os noivos recebem arroz sobre seus corpos em sinal de prosperidade.

§ O masdeismo ignora a reencarnação, crendo em uma única vida terrena e uma única vida eterna no pós-morte.

§ As façanhas da cavalaria persa, que antecipou em um milênio o nascimento da cavalaria europeia. A perenidade desse fenômeno moral na tradição zoroástrica confirma bem que ela foi a fonte da ética cavalheiresca, tal qual se elaborou na cavalaria dos partas e dos sassânidas, muito tempo antes de nossos orgulhosos paladinos da Idade Média saírem formando cruzadas. De resto, Eugene d’Ors não se enganara quando reconheceu a ética de um código de cavalaria na moral zoroástrica.

§ Os parses demonstram também a mais perfeita tolerância para com as outras religiões.

§ O aborto permanece sendo, no parsismo, um crime contra a vida, tão grave como fazer uma colheita antes do tempo, revestindo-se, praticamente, do caráter de um assassinato metafísico.

§ Zoroastro condena as matanças de bois em rituais de sacrifícios, bem como serão severamente rejeitadas também, e vivamente, o êxtase artificial das drogas alucinógenas (haoma, cânhamo).
           
          A carência que se constata no campo do conhecimento do parsismo é agravada pelo fato de que esta etnia está em diminuição demográfica alarmante e que muitos dos seus representantes estão em vias de perder sua identidade cultural.

*Parse: Povo persa do antigo Irã (palavra que tem origem nos povos Indo-arianos) que também era chamado de Pérsia.



Ahura Mazda 

            A obra de Zoroastro nos é dada a conhecer pelas Gâthâs, textos arcaicos que lhe são formalmente atribuídos por textos contemporâneos (Yashts). E pelos textos do Avesta tardio, que reagruparam o conjunto das tradições nas épocas parta, sassânida e pós-sassânida. O termo Zend-Avesta, retomado por Anquetil du Perron e Darmesteter, é impróprio para designar o Avesta, palavra derivada do pálavi apastâk, de onde a forma persa avasta: prescrição, fundamento. Zend significa “conhecimento” no dialeto médio-parta e designava não um livro mas a glosa do texto sagrado. Apastak-u-Zand “Avesta e Zend” foi durante muito tempo e abusivamente atribuído ao conjunto da literatura avéstica e do seu comentário original (Haug). A língua das Gatas originais é do velho iraniano oriental, parente vago do sânscrito dos vedas e de certos velhos dialetos afegãos.

            O que resta do Avesta limita-se apenas a um quarto do Avesta primitivo, que contava com 21 livros (nasks). O conjunto do Avesta compõe-se dos principais textos seguintes, que simplificamos para maior clareza:

GÂTHÂS: composto por 72 hinos.

YAST: 22 hinos de adoração.

VIDEVDÁT: código religioso, dogmas, regras e informações médicas da época parta.

VISPERED: textos litúrgicos.

NIRANGANSTAN: código ritual, liturgia dos mortos.

            Agora seguem os textos mais tardios, redigidos na época sassânida (212/642) ou pós sassânida no século IX sob o Islã.

BAHMAN YASHT: apocalipse pálavi do mundo e de suas idades, que remontam igualmente a tratados avésticos perdidos.

ARTA VIRAF NAMAK: livro da descida de Arta Viraf ao inferno, viagem mítica de um fiel, antigo precursor de Dante.

MAINYO I-KHARD: livro que responde 72 questões doutrinárias zoroástricas.

BUNDAHISN: manual de cosmologia religiosa.

VICITAKIHA I ZATSPRAM: seleções de Zatspram, de tendências zervanita acentuada.

DENKART: análise do Avesta, compreendendo também nasks perdidos do antigo Avesta, que data do século IX.

DASDISTAN I DENIK: relata a respostas de um eminente estudioso, Mihr Xvarset, sobre 92 questões de liturgia e de dogmática.

SRAND GUMANIK VICAR: obra de apologética zoroástrica de Martanfarrux, e de polêmica doutrinária contra as religiões estrangeiras (maniqueísmo, cristianismo, judaísmo e islamismo) e as heresias.

SAYAST NE SAYAST: é um tratado de casuística no tocante às questões de ritual e de orações.

SADDAR: espécie de manual do crente masdiano perfeito.

RIVAYATS: coleção de correspondência em persa entre os parses da Índia e os zartoshtis do Irã, mantida do século XV ao século XVIII, sob a forma de perguntas e reposta sobre o ritual, os costumes, as prescrições, cerimônias, usos, cultos etc.


Fiel orando diante do Fogo Sagrado (Avarkhvarsh).

Idiomas falados pelos fieis masdeianos desde a origem dos escritos com Zoroastro.

AVESTICO à PÁLAVI à PERSIANO à GUJARATI

Origem do Sábio do antigo Irã.

            Hermódoro, Plutarco, Plínio o Velho, fazem remontar a fundação do zoroastrismo e citam Eudóxico, que o faz viver 6.000 anos antes da morte de Platão, e Hermipo diz que Zoroastro compôs dois milhões de versos e que Agonaces, que foi o mestre de Zoroastro, viveu 5.000 anos antes da guerra de Tróia. Plutarco repete que Zoroastro, o Mago, viveu 5.000 anos antes da guerra de Tróia. Heraclito o vê sobrevivente da Atlântida. Da mesma forma, uma cronologia mítica de um ciclo cósmico de seis milênios justifica a datação fabulosa emprestada àquele de quem eles forma o profeta. Esta datação audaciosa teve seus partidários, cujas hipóteses se fundamentaram na tradição hiperbórea, de onde reputava-se vir o povo ARYA (ariano) depois da última época glacial. Pela história, contra a lenda, Zoroastro teria lançado sua pregação pouco antes da seca, que, mais ou menos em -800, começou a desertificar a Ásia central, e ele seria, pois, um contemporâneo dos últimos assírios e dos primeiros aquemênidas, ancestrais de Ciro e Dario.

Bakdhi: a criação de Ormasd (o mito zoroastrico da criação)

“Um príncipe semita de nome Azhi Dahak (forma arabeizada em Zohak) destronou Yima, o primeiro rei dos árias, que acabara de perder sua proteção divina simbolizada pela glória luminosa de Xvarnah. Mas Atar, o Fogo Celeste, salva esta luz divina das mãos tenebrosas do dragão Zohar “de três goelas”. Então o astucioso bandido turaniano Afrasiab também procura apoderar-se da Glória dos povos arianos e, não conseguindo, lança este desafio demoníaco : ‘Pois seja! Eu não consegui apoderar-me da Glória que pertence aos povos arianos e não conseguindo, lança este desafio demoníaco: ‘Pois seja! Mas eu corromperei tudo, grãos e licores, todas as coisas de grandeza, de bondade, de beleza que Ahura-Masda cansa-se de produzir, sempre ardente por criar’ (Yt. 19, 57, 58).


Procissão de Parsis com o Avarkhvarsh, o fogo radiante.

            Zohak, demônio das tempestades, dragão de três cabeças que deseja devastar o mundo preso por mil anos pelas forças da luz, no monte Demavant, onde fica até o fim dos tempos. Libertado por Ahriman para devastar o mundo, o dragão será, então, morto a cacetadas por Karsasp, um dos reis imortais da gesta ariana. O Avesta, por seu lado, enunciará uma diferença radical entre arianos e não-arianos: a religião e a realeza são as melhores que existem, a Boa Religião sendo a dos descendentes de Yima (o primeiro rei dos Árias), e a má a dos povos árabes descendentes de Dahak/Zohak.

           As duas etnias proto-arianas que, sedentarizadas, vão formar as colunas do antigo Irã de onde sairá o império Aquemênida, formam os persas elamizados desde Aquemenes (-700), e Teispes (-675/-640), e os medas, Madaia (Daiku, -715).

           Os proto-arianos vindos provavelmente da bacia do Volga, ao norte do Cáspio, como seus predecessores do fim do terceiro milênio. Ora, originados de tribos arianas, isto é, indo-européias, da Rússia meridional, essas faces aquemênidas, persas e medas ofereceram uma morfologia muito diferente daquela da europeia nórdica, dolicocéfala e loira de olhos azuis, como Tácito se divertiu em descrever no seu Germânia, ou como os poetas gregos, de Homero a Eurípides, construíam a imagem dos heróis mitológicos. Isso mostra até que ponto a reinvindicação do termo ariano pelo  pangermanismo podia ser abusiva.

Várias celebrações diante do Fogo Sagrado (Avarkhvarsh, o fogo radiante).

            Os arianos, ou primeiros habitantes indo-europeus do Irã interior e exterior, país que tira seu nome desses povos, persas e medas, cimérios e citas, e, a leste, os da Índia bramânica, não teriam mais que um longínquo parentesco étnico com os indo-europeus que fundaram os povos da Europa ocidental. Atualmente só os ossetas do Cáucaso representariam a última ilhota dos antigos arianos.

      Zoroastro condena as matanças de bois em rituais de sacrifícios, bem como serão severamente rejeitadas também, e vivamente, o êxtase artificial das drogas alucinógenas (haoma, cânhamo).

         Segundo os Gâthâs, a biografia se relata assim: Zoroastro nasceu de uma rica família de criadores, os Spitama, de casta sacerdotal e herdeira de uma tradição de poetas inspirados. O profeta foi o terceiro filho de Dugdova, que irradiou luz durante sua concepção, e de Purushaspa, nome cuja terminação indica ainda a etimologia de cavalo, que se encontra também no Vishtaspa, sinais de uma antroponímia bem característica do meio de criadores de cavalo do primeiros clãs sedentarizados nos confins das estepes e das regiões irrigadas.

Vida e vocação de Zoroastro

            Plinio afirma, com a lenda masdaica, que Zoroastro veio ao  mundo rindo e que ele ria em cada um de seus aniversários, mas acrescenta que as vibrações do cérebro da criança eram tão fortes que dificilmente se podia pousar a mão em sua cabeça. Desde sua tenra idade Zoroastro foi atacado por mágicos que, enciumados de sua santidade, o arrebataram de seu pai. Dpois, tendo acendido uma enorme chama no deserto, eles ali jogaram o menino, que não sofrerá nenhum mal. Este foi seu terceiro milagre, depois do riso no seu nascimento e depois de ter escapado do gládio do cavi Durasrab. Antes do sétimo e último milagre no qual ele sairá vencedor do veneno, ele foi precipitado, sem danos, nos cascos dos touros e abandonado entre os lobos. Desde a idade dos 7 anos seu pai o confiara a um mestre eminente, Burzin-Curus, com o qual ele fez progressos admiráveis. Aos 15 anos ele já fazia muito de bom e mergulhava em longas meditações. Sua reputação se espalhou tanto entre os humildes como entre os grandes, embora ele denunciasse as crueldades dos carapans e dos cavis, uns por sua magia e suas imolações de bois, outros por sua injustiça e pela proteção que davam aos primeiros. Zoroastro já tinha o hábito de se isolar nas montanhas e ali viver de frutas e de um queijo incorruptível, abstendo-se de toda alimentação animal. Quando completou 20 deixou seus pais e se retirou para meditar numa gruta. Seu pai quis oferecer-lhe bens, mas o Sábio só conservou, em memória dele, o seu custi, o cordão sagrado indo-iraniano. Com a idade de 30 anos impossibilitado de difundir sua doutrina ele foge da Meda, onde nasceu até Seistão e Bactriana, onde Zoroastro se refugia numa montanha vizinha, elevado sítio da Ariana Vaeja, onde seu sucesso na Bactriana, juntoa Vishtaspa.

“Pela sua pregação Zoroastro aparece como um adversário apaixonado da religião ariana tradicional.”

          Durante muitos anos Zoroastro e seu primo Maidiomaha viajaram de aldeia em aldeia para converter chefes de tribos em favor de sua causa. Começou então, para o Sábio, um longo retiro de uma dezena de anos, vinte anos segundo Plínio o Velho, tendo como único discípulo consigo seu querido primo Maiodiomaha.

“Ele via, então, o sobrevoo da humanidade por poderosos anjos dirigidos por prodigiosas entidades, cada uma delas respondendo por um domínio, que governavam segundo o Reino de Ahura Masda. Zoroastro as definirá em sete expressões divinas:”

1- SABEDORIA (Masda).

2- BOM PENSAMENTO (Vohu Manah).

3- ORDEM JUSTA (Asha Vahista).

4- REINO DIVINO (Khshatra).

5- DEVOÇÃO (Armaiti).

6- SAÚDE (Haurvatat).

7- IMORTALIDADE (Ameretat).

*Tão intimamente ligados como as sete cores do arco-íris, esses seres sagrados identificados mais tarde como os “arcanjos” do zoroastrismo antes  dos da tradição bíblica são unicamente os atributos personificados de Masda e seus principais modos de atividade entre os homens e na natureza.

“Arquétipos supremos do Deus único Ahura Masda, foi ele que, antes de tudo, pensou o mundo, ele que pôs a felicidade na luz celeste... Tu fizeste aparecer divinamente o Soberano universal.”

(Y.31.7).


           Zoroastro casou com a filha de Frashaoshtra (membro da corte do rei Vishtaspa, que recorreu a seu irmão Jamaspa para introduzir Zoroastro na corte), que lhe deu três filhos: Isatvastar, Urvatatnar e Quirshid-Chichar, e três filhas: Freni, Trithi e Puruchista.

      Na corte de Vishtaspa, Zoroastro percorreu, sem cessar, as regiões vizinhas a pé, a cavalo, camelo ou iaque, para difundir a fé masdaica, durante 30 anos. Zoroastro e seu benfeitor erigiram altares de fogo por toda parte e os templos do fogo.

      Para Zoroastro, Deus não é somente a fonte  da luz física do sol e dos astros cintilantes. Ele é o apelo secreto que desperta na consciência toda luz moral e espiritual.

      Com a divisão do povo ária em Índia e em Irã no segundo milênio, ergue-se também uma oposição dos deuses e dos demônios. Os deuses hindus, tornam-se demônios no mazdeismo como daevas da corte Ahrimaniana.


ATAR: fogo primordial, o Polo da Luz essencial que precede e engendra os fogos estelares do cosmos. Que no principio do mazdeismo fora criado pelo próprio Ahura-Mazda, mas depois de interpretações teológicas distintas de Zoroastro, que colocaram Ahura-Mazda além do universo e somente o veste. O que permanece é a ‘luz’ do grande deus masdeano torna-se, para o Autor de Gâthâs, sinônimo de ‘pensamento puro’.

            O deus único de Zoroastro torna-se o menos objetivado e o menos formal de todos os deuses, situando Ahura Masda isento de todas as trevas e de toda implicação direta no conflito cósmico. Ahura Masda  (Ormasd em pálavi) domina o duelo dos dois Espíritos: SPENTA MAINYU (Espírito Santo) e AHRA MAINYU (Espírito do Mau; Ahriman – Y. 45.2), seu irmão gêmeo YEMA, combate do qual Ahura Masda não participa diretamente no espaço-tempo desdobrado por ele com parapeito e armadilha contra o Espírito Mau, Ahriman, nome pelo qual é mais conhecido. A criação ideal, portanto permanece puro de todo o mal de toda a eternidade, pois é por livre-arbítrio que um dos dois Espíritos primitivos, o antigo Ahriman, mergulhou numa via tenebrosa (Y.30.3). Ahura Masda/Ormasd só aparece como criatura espiritual pela virtual existência da matéria erigida em suporte do Reino divino, KHSHATRA. Ahura Masda não podia manter Ahrima no Reino que por definição, não pode conter a mínima parcela tenebrosa. Conserva-lo seria o risco de eternizar a ameaça ahrimaniana. Aprisioná-lo no espaço-tempo limitaria a atividade deletéria. Eis por que a criação material GETE tornada necessária pela má escolha e a obstinação do Mau Espírito, o espaço-tempo se tornou um gigantesco campo de batalha no qual os elementos puros devem lutar contra os elementos impuros.



“Ormazd criou antes o universo espiritual, depois fez o universo material e misturou o espiritual ao material.”

            Uma grande confusão, em virtude do sincretismo operado pelos magos, entre o zoroastrismo e o zervanismo, acabou atribuindo a Zoroastro a paternidade do dualismo. No zervanismo, Ormazd, ele próprio e não o Espírito Santo, fica diretamente oposto a Ahriman. Ormazd e Ahriman se veem engendrados pelo deus Zervan, o tempo divinizado e ilimitado AKARANA, deus de origem caldéia, ignorado por Zoroastro mas importante na teologia dos magos. Dualismo radical que, a partir de agora, vai marcar abusivamente o zoroastrismo legalitário dos magos, ao passo que os verdadeiros zoroastrianos permanecerão essencialmente monoteístas até os nossos dias.

“Ahura Masda/Ormazd revela-se o único Mestre do mundo, pois foi ele quem criou o espaço-tempo para que o Espírito Mau nele se aprisione e diante dele se proste até o fim dos tempos.”

            Zoroastro era iconoclasta, ele derruba todos os ídolos antropomórficos e zoomórficos, substituindo-os por uma ética universal na qual os ritos anteriores são estigmatizados, como tantos outros erros.

            O problema do bem e do mal não está exposto de maneira simplista, senão à primeira vista. No espírito avéstico é o bem que aumenta a vida, é o mal que lhe cria obstáculos e que faz crescer a entropia do mundo. O bem, virtude suprema de Masda, corresponde, no plano físico, á luz das estrelas e do Sol, que permite e faz crescer a vida. As trevas se identificam com o mal, não somente no que respeita à ausência, mas no que respeita à recusa de luz. Este ato negador leva ao CONGELAMENTO ESPIRITUAL. O bem se desenvolve pela foça centrífuga dos pensamentos, das palavras e das boas ações, Humata, Hukhta, Huvarshta, isto é, dos pensamentos que se pretendem elevados e generosos. O mal se manifesta em todo egocentrismo e na vontade de dividir maus pensamentos, más palavras, más ações, Dushmata, Duzukukta, Duzvarshta.

Spenta Mainyu (O Espírito Santo de Ahura Mazda lutando com Ahrima, o espírito do mal. 

            Para Zoroastro os homens são seres dotados de livre-arbítrio que podem escolher livremente entre a luz e a mentira e Ahriman é a mentira viva, o mais temível dos pecados do antigo Irã. Assim, a busca da verdadeira felicidade depende da única liberdade real de uma vida transfigurada pela fé e pela vontade, que libertam o homem da mentira cósmica. Segundo a sabedoria avesteana, a própria origem da doença e da morte deriva da intrusão, na criação do Ormazd, de 99.999 doenças lançadas por Ahriman, “O Portador da Morte”. O papel do Espírito Santo e da humanidade consiste, pois, em curar o mundo da moléstia ahrimaniana.

            Depois da morte os Justos (Ashavantes) vão para a GARO-DEMANA, a Casa dos Cânticos extáticos, enquanto os servidores de Ahriman vão para a DRUJO-DEMANA, a casa da Mentira, na qual eles habituaram suas almas. Existe ainda o HAMESTAGAN (Púrgatorio), destinado as almas iguais em boas e más ações. SRAOSHA, anjo psico-esplendor, acompanha a alma do morto durante os três dias que precedem sua passagem pela PONTE CHINVAT.

            Os reis aquemênidas foram “reis justos”, segundo as Gâthâs, tendo introduzido uma foram de governo humanizado, suscetível de servir de exemplo a toda a nação humana, suscetível de servir de exemplo a toda a nação humana. É preciso compreender que entre os grandes reis Ciro, Dario e Xerxes, a noção de RAÇA, procedia de uma ordem superior e espiritual.

            Quando Alexandre, o Grande, invadiu a Pérsia ele queimou os livros da Lei. Ele matou os sábios homens e os eruditos do país. Ele semeou o ódio entre os grandes. Alexandre também violou o túmulo de Ciro, acreditando poder encontrar ouro. Diferente dos gregos as tradições orientais não separavam a teologia das ciências, fé da razão. Em Persépolis os gregos pilharam a biblioteca real, cuja riqueza só era ultrapassada pela de Alexandria. Os livros persas e notadamente os do primeiro Avesta, contendo toda a ciência persa da astronomia e da medicina, serviram por sal vez à ciência helênica. O incêndio de Persépolis teria sido acidental ou ateado pela vingança grega e seu ciúme pela antiguidade da cidade Santa dos grandes reis sobre o Partenon?

Zoroastro.

            Não se sabe se foi em Persépolis ou em Marakanda (Samaracanda), que foi queimado o primeiro Avesta que continha, originalmente, vinte e um nasks (livros).

            Os dois grandes símbolos do mazdeismo são Hvarekshaeta, o sol glorioso, e Avarkhvarsh, o fogo radioso.

            A partir de 641d.C, a Síria, o Egito e a Pérsia acabaram, praticamente, nas mãos dos árabes. Yazdagird III (632-642 d.C) é derrotado pelos árabes, com a queda do último rei sassânida masdaíco do Irã, os treze séculos de uma glória que os gregos não puderam ofuscar viram o primeiro império do mundo desmoronar.

“Quando é incerto se uma ação é justa ou injusta, abstém-te” (Saddar dos Guebros masdaícos/Os Guebros ou a tolerância, escrito por Voltaire, louvando as regras morais desse povo).

            A fé zoroástrica repousa na esperança do milagre profundo de transfiguração do mundo pelo esforço e pela metamorfose interior do homem. A pretensão deriva de que o orgulho humano procede, precisamente, de uma origem metafísica. Zoroastro espera dos humanos que se conduzam como adultos espirituais e que trabalhem para sua própria salvação, graças a esta faculdade de consciência colocada em nossa alma. Uma má escolha, como a original de Ahriman, que se perpetua na obstinação e na burrice, conduz necessariamente a consequências nefastas. Contudo, a boa escolha, o bom pensamento, a boa palavra, a boa ação (Yt.31).

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

10 lições da Finlândia para a educação brasileira


         Os finlandeses têm reconhecidamente um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Confira 10 itens que fizeram a diferença por lá. A questão é saber se funcionariam no Brasil.

“Educação faz parte da nossa cultura”, explica a diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi. A diretora chega ao Brasil como representante de um dos sistemas educacionais mais reconhecidos do mundo, com alunos se destacando nas primeiras posições da principal avaliação internacional de estudantes, o Pisa.

         Jaana veio ao Brasil com um discurso otimista: segundo ela, é possível revolucionar o ensino de um país em algumas décadas. Afinal, é isto que a Finlândia fez e continua fazendo desde 1970.

     Há quarenta anos, o país reviu suas prioridades e revolucionou o sistema que, hoje, é exemplo mundial apontado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ) e pela ONU, com o Índice de Educação Global, no qual a Finlândia integra o primeiro lugar.

      No Seminário Internacional sobre o Sistema de Educação do país, que aconteceu nesta quinta-feira em São Paulo, a diretora do “MEC finlandês” reiterou a  receita do sucesso educacional, conhecido pela liberdade e flexibilidade que concede a alunos e professores.

     As lições de lá não necessariamente podem ser replicadas por aqui, por diferenças que vão de escala à cultura. Muitas questões, como as horas em salas de aulas ou o poder dado aos professores, dividem especialistas brasileiros. Mas nenhum educador ou agente público pode se dar ao luxo de ignorar o que um sistema de excelência faz.

Confira abaixo 10 visões da Finlândia de como se deve fazer educação pública:

1. A educação tem de ser igual e gratuita a todos

           Jaana Palojärvi é veemente ao afirmar que as escolas na Finlândia oferecem a todos ensino de qualidade e gratuito. Por lá, apenas 2% das instituições de ensino são particulares, e mesmo estas são subsidiadas pelo governo. Além disso, a diretora defende que o padrão de ensino é o mesmo em todas as escolas finlandesas e, por isso, as crianças passam a frequentar a escola do bairro, que está mais próxima de onde elas vivem. Um princípio de igualdade que equaliza oportunidades.

2. “Mantenha as coisas simples”

          Quando perguntada qual o principal conselho que ela teria para os educadores brasileiros, Jaana hesitou, mas definiu: “foco nos níveis mais locais”.

           Na Finlândia, a educação fica ao encargo do município e, mais do que isso, do professor. É ele, após muito treinamento, que decide como passar o conteúdo. Cada escola é livre para criar seu próprio material de ensino. Para Jaana, isso faz toda a diferença, já que motiva os professores e incentiva novos modos de ensino, que acomodem as necessidades de cada criança.

“Tem de prestar atenção na realidade da sala de aula. É lá que a mudança acontece”, disse.

3. Valorização do professor

“O professor é a primeira pessoa na vida do aluno”, explica a diretora. Em seu país, eles podem não ter os maiores salários (ganham uma remuneração média em relação a outros setores), mas a carreira de professor é uma das mais populares. E por quê?

O professor na Finlândia é bem preparado.

Ele precisa ser graduado e ter um mestrado.

Passa ainda por treinamento específico para dar aulas e tem plano de carreira.

           Nesse contexto, faz sentido que ele tenha a palavra final dentro da sala de aula. Para o governo finlandês, isso faz toda a diferença, já que estimula o professor a inovar e torna a profissão mais inspiradora.

         A diretora ressaltou, no entanto, a importância da educação obtida pelo próprio professor para que ele se torne autoridade máxima. "Nós demos o preparo e, agora, temos de confiar neles", explica. Esse quadro de preparo, oferta de oportunidade e consequente confiança nem sempre se repete no Brasil.

“Não é o dinheiro, eles não fazem pelo dinheiro”, explica Jaana. Na Finlândia, não existe bônus financeiro para professores com melhor desempenho. Aliás, tal estímulo financeiro, para eles, é inconcebível.

4. A quantidade de dinheiro não importa

           Enquanto no Brasil há projetos propondo o aumento da verba do PIB destinada a gastos com ensino, na Finlândia o movimento foi contrário. Por lá, apenas 6% do PIB é dedicado à educação. E mesmo assim eles lideram as avaliações internacionais junto com a Coreia do Sul.

         Jaana afirma que a questão não é a quantidade de dinheiro separada para alguma coisa, mas como você organiza o dinheiro que usa. Lá, há menos burocracia para se alterar a maneira como se gasta o dinheiro investido. Em poucos anos a máquina administrativa foi alterada para que o investimento, embora não o maior do planeta, estivesse entre os melhores em destinação.

5. A quantidade de horas de estudo não importa

            A Finlândia não tem escolas de período integral – e os alunos não têm muita lição de casa. Segundo Jaana, “a qualidade do ensino existe na sala de aula, e isso se alcança com bons professores”. O sistema básico e obrigatório de educação também segue essa linha de raciocínio e só começa com a criança aos sete anos: “nós acreditamos que nossas crianças têm de ser crianças. Elas não têm de aprender a ler ou escrever antes dessa idade”, explica a diretora.

           No Brasil, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado pelo governo federal no ano passado, foi criticado por prever que as crianças estejam aptas a ler e efetuar operações matemáticas básicas já com oito anos.

6. Atenção aos alunos que podem apresentar mais dificuldades

     Na Finlândia, o foco não está no aluno que vai melhor. Pelo contrário, os professores tentam identificar aqueles que podem ter problemas, para conseguir mantê-los no sistema.

7. Valorização das diferentes formas de aprendizagem

       Existem crianças mais visuais, outras aprendem melhor com música, outras se podem usar das mãos para compreender um novo conceito. Na Finlândia, os modelos pedagógicos sustentam diferentes estilos de ensino, segundo a diretora. O foco não é tanto em conteúdo, mas em análise e apoio de diferente métodos.

8. Menos tecnologia, mais ensino.

        Ao contrário do que se pode imaginar, tecnologia não é supervalorizada na Finlândia. Segundo Jaana, os professores até usam novos recursos tecnológicos, mas eles não são tão importantes. “São só ferramentas, não são o conteúdo, que é a chave de tudo”, explica.

9. Nada de testes

      Esqueça Enem, vestibular, Enade... Na Finlândia não há provas nacionais e cada professor está livre para avaliar seus alunos como bem entender. “Nós não acreditamos muito em testes, estamos mais interessados em aprender”, explica a diretora. Com professores menos empenhados em provas, eles passam seu tempo individualizando métodos de ensino ou criando novos.

10. Valorização das artes

       Enquanto por aqui a preocupação maior é trazer mais meninas para as áreas das Exatas, lá é exatamente o contrário. As escolas finlandesas já têm aulas de artes e música no currículo básico, e a carga horária delas deve aumentar ainda mais, tentando atrair também a atenção dos meninos mais matemáticos das salas. "A cada dez anos, muda tudo em Física. Muda tudo em Química. Por isso o conteúdo não é tão importante, mas ter jovens criativos e comunicativos é essencial", opina Jaana.